“Faiança
do Galo”:
(Faiança de Aveiro (?)) |
Na
Faiança portuguesa um dos motivos mais recorrentes e mais ao gosto popular, com
decorações do mais “naif” que encontramos é o motivo “Galo”, geralmente com
decoração policromática.
Cremos
que quase todas as fábricas de Olaria e de Faiança criaram peças, geralmente
pratos, com este motivo, em especial as do Norte, sendo que as fábricas de
Aveiro foram as que mais produziram, segundo cremos.
(Decoração da bordadura da aba, em bicos) |
São
característicos destas peças a decoração em bicos, azul, na bordadura da aba; e
o covo do prato com uma decoração policromada de um galo: com recurso às cores:
ocre, manganês, de preferência e um esponjado na base de enquadramento ao galo,
no presente caso, verde-escuro.
(Decoração da bordadura da aba, em bicos) |
A
delimitação da aba-covo é sempre efectuada através de um filete,
preferencialmente na cor azul, como no presente caso.
(Tardoz do prato pouco cuidado) |
(Pormenor do frete no tardoz do prato) |
(Pormenor das marcas da trempe ao vidrar) |
O
tardoz, de especto menos cuidado, com a apresentação das tradicionais marcas
das trempes aquando da cozedura, possui um frete característico das faianças de
Aveiro: o círculo central de menor diâmetro e um outro circulo externo de maio
relevo, para além “dedadas” e “manchas” de azul, pelo descuido do decorador da
peça.
Faiança de Coimbra (?) Ou de Aveiro mais cuidada (?) |
A
decoração mais simples, sem pormenores e à base de manchas cromáticas é
característico da decoração de Aveiro, pois a de Coimbra era muito mais
cuidada, com mais pormenorização do galo, com recurso a linhas, traços e
voluptas na cor preta para dar movimento e exibição do galo.
Faiança do Norte - Provavelmente da Fábrica Cavaco (Fonte 5) |
Faiança do Norte - Provavelmente da Fábrica Cavaco (Fonte 5) |
Faiança do Norte - Fabrico não atribuído (Fonte 5) |
Faiança de Coimbra - (Fonte 6) |
Faiança de Coimbra - (Fonte 7) |
Faiança do Norte - Provavelmente da Fábrica Cavaco (Fonte 6) |
Faiança do Norte - Provavelmente da Fábrica Cavaco (Fonte 5) |
Os
fabricos do Norte recorriam a decorações mais estilizadas na aba e decalcadas a
chapa (stencil), por vezes com desenhos geométricos.
Mas,
Caldas da Rainha também teve nas suas faianças o motivo Galo, tal como não
poderia deixar de ser a Fabrica de Louça de Sacavém.
Faiança da Fábrica de Louça de Sacavém (Fonte 5) |
E nas faianças ratinhas também apareceu o motivo “galo”.
Admitimos
que este motivo recorrente se deve a dois factos: à popularidade desta ave
doméstica: o GALO e à Lenda do Galo de Barcelos, que faz parte do imaginário e
da tradição popular.
“Lenda
do Galo de Barcelos”:
Recordando,
segundo a lenda do Galo de Barcelos, foi esta ave, já morta e cozinhada, que
demonstrou a inocência de um galego que ia ser condenado injustamente.
Da
lenda se diz que um valioso serviço de mesa, em prata, foi roubado, de casa de
um homem rico de Barcelos, quando este fez uma grande festa, tendo o furto sido
atribuído a um galego, que entretanto apareceu na localidade.
Independentemente
de o mesmo afirmar, e jurar, que se encontrava de passagem, em peregrinação a
Santiago de Compostela, a cumprir uma promessa, tal assim não foi entendido e o
mesmo foi condenado à forca.
Perante
tal decisão o galego apelou para que fosse perante o magistrado que o condenou,
situação que foi aceite. Quando o levaram ao magistrado este estava num lauto
repasto com amigos e mais uma vez clamou pela sua inocência.
Perante
a não-aceitação pelos presentes, o mesmo, apontando para um galo que se
encontrava cozinhado, em cima da mesa disse: “É tão certo eu estar inocente,
como certo é esse galo cantar quando me enforcarem”!
Perante
esta afirmação o magistrado empurrou o prato na mesa e ordenou o imediato
enforcamento do peregrino galego.
Então
não foi que quando o mesmo estava a ser enforcado o galo assado se ergue da
travessa e cantou!
O
magistrado vendo assim o erro que tinha cometido correu imediatamente para a
forca, ao que se deparou que o galego não tinha morrido e antes pelo contrário,
se salvara graças a um nó mal feito.
Logo
foi mandado ser solto e o deixaram ir em paz – e assim ficou a Lenda do Galo de
Barcelos e daí, provavelmente o recorrente motivo do Galo, na Faiança
Portuguesa.
O
Galo de Barcelos, uma das mais importantes tradições populares portuguesas, é o predilecto motivo do artesanato minhoto, foi adoptado por Gil Vicente como seu mascote e é um dos símbolos de Portugal, pese embora com algum decréscimo no
presente século.
Ainda
segundo a lenda, o citado peregrino galego, anos mais tarde voltou a Barcelos e
mandou esculpir um cruzeiro – o Cruzeiro do Senhor do Galo, em louvor da Virgem
Maria e de São Tiago, cruzeiro este que se encontra na actualidade no Museu
Arqueológico de Barcelos.
“Epílogo”:
Trata-se
de um motivo que foi produzido desde os inícios do século XIX até finais do
século XX. O que apresentamos cremos ser de meados do século XX.
Fontes:
1) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José
Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel
Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.
2) – “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de
Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.
3) – “Cerâmica Artística Portuense dos Séculos XVIII e
XIX”, Vasco Valente, Livraria Fernando Machado – Porto,
4) - www.pt.wikipedia.org;
6) - www.leriasrendasvelhariasdamaria.blogspot.pt/;
7) – www.joaopinto.com;
7) – www.joaopinto.com;
9) – www.oficinadaformiga.com;
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