Algo que nos intrigava há já algum
tempo era a existência de pratinhos em Faiança, decorados com motivos
vegetalistas, com “rendas”, interessantes, com marcas do seu fabrico, mas o
qual se desconhecia.
A fonte (1) há já bastante tempo que
vem exibindo os pratinhos, que a seguir se apresenta, policromados, com
decoração floral simples, desenvolvida em círculos concêntricos, desde a aba e
em todo o covo, possuindo no limite da aba uma cercadura, constituída por um ou
vários filetes, completados com pequenos semicírculos ou simples borrões,
geralmente azuis.
Trata-se de uma faiança com
ornamentação na cor azul-cobalto, ou roxo-manganês e por vezes com apontamentos
noutras cores sob o esmalte branco, leitoso, com decoração vegetalista, à base
de flores, de folhagem de árvores ou arbustos.
A grande incógnita é a sua marca, um
“logo” constituído por um “A”, sob o mesmo um “V” e no losango formado pelos
mesmos, um “L”…. Que fabrico seria?
A marca que exibem, desenhada
manualmente, apresenta a cor a manganês ou vinoso, sobre um vidrado escorrido,
leitoso, em que a pasta apresenta uma cor amarelada, cor de grão, evidenciando uma qualidade inferior, com menor
quantidade de caulino.
Dado que a marca nunca foi
identificada até ao momento, também ninguém se atreveu a sugerir um fabrico, … do
Norte, de Coimbra, de Alcobaça, de…?, mas na verdade, pela sua apresentação
levasse a sugerir que fosse fabrico de Coimbra – mas sem certezas.
Os
meus pratos:
Pela decoração da aba, desenho miúdo abstracto com motivos florais, intercalados com “rendas” – a imaginaria
transposição para a cerâmica da arte da renda de bilros e os seus motivos –
animais e aves intercaladas entre ramos e flores; e pela cor azul forte –
pigmentos bastante densos - cobalto, poder-se-á considerar que há alguma
semelhança com a faiança de Coimbra, dita de “Brioso”.
Provavelmente seguidores mais recentes
daqueles do século XVIII, talvez de meados do Século XX.
Notam-se as marcas das trempes na
aba, bem assim como no tardoz, para além de algumas imperfeições da pasta e
“borrões” da pintura usada na decoração. O vidrado é imperfeito, escorrido,
baço, com pouco brilho e nota-se a cor de grão da pasta.
Foi através de aturada pesquisa e
mais especificamente pela fonte (10), que se fez luz!
Trata-se de uma reprodução de
faiança produzida numa fábrica de louça decorativa em Condeixa, de Coimbra.
São, na verdade de peças interessantes,
mesmo sendo reproduções livres e ao gosto do artista de outras peças mais
antigas, mas em que o imaginário, a dedicação e o empenho desses “artistas” da
cerâmica decorativa, está patente na qualidade das mesmas.
No presente caso, reproduzem-se o
que costuma ser designado como pratos “de rendas”, sendo já raras e preciosas
peças salvas da destruição das frágeis peças de louça decorativa, produzidas –
em meados do Sec. XX – na fábrica que foi fundada em Condeixa, por Armando Vaz
Lameiro, e daí a marca “AVL” – as iniciais do seu nome.
Cremos que inicialmente as peças
eram “assinadas” somente com “A.V.L.”, “COIMBRA” e as iniciais do pintor, por
exemplo, J.G., como o prato que está exibido na fonte (10) e pertença da colecção do Dr. José Machado Lopes.
Pela análise detalhada comparativa efectuada entre o tardoz deste prato e os que apresentamos, verificamos que o frete e as
moldagens são muito semelhantes, o que nos leva a concluir que se trata de
produção da referida fábrica.
Os pratinhos apresentados na fonte
(1) crêem-se ser de produção mais recente que a dos nossos pratinhos,
eventualmente das décadas de 60 ou 70 do século passado, em função do motivo e
da própria decoração.
Em suma, trata-se de mais uma
produção de faiança decorativa inspirada em peças existentes em museus, tal
como o Museu Machado de Castro, com decorações ditas “de Briosos” do século
XVIII, como a Fábrica Viúva Alfredo de Oliveira VAO Coimbra, a qual iniciou a
sua produção no início da década de 30 do século passado a qual se prolongou,
pese embora com variações e alterações de decoração, até início da década de 70,
assim cremos.
Fontes:
2) – “Faiança Portuguesa Séculos
XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.
3) – “Cerâmica Portuguesa e Outros
Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda
Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial
Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.
4) – “Faiança Portuguesa – Seculos
XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos,
1985
5) – “Cerâmica de Coimbra: do século XVI –
XX”, de Alexandre Nobre Pais, João Coroado, António Pacheco, Edições Inapa,
2007.
7) – “Louça Tradicional de Coimbra – 1869-
1965, de António Pessoa, Ipt – Instituto Politécnico de Tomar.