| (A Sopeira vista de cima) |
Há peças de faiança, que são
encantadoras, pese embora a sobriedade da sua decoração, a rugosidade da sua
execução ou a imperfeição do seu vidrado!
| (Pormenor da decoração estampilhada) |
Tudo a propósito de uma pequena
sopeira (terrina redonda) – peça rodada, com decoração monocromática, azul,
efectuada manualmente e com aplicação de chapa (stencil) – elementos vegetalistas
decorativos do bojo da mesma e na aba da tampa.
| (Pormenor da decoração do bojo) |
Na tampa filete de bordadura largo,
secundado por mais estreito e depois um largo, em tom amarelo, sobre o qual foi
aplicada a decoração vegetalista, em tons de azul. Finalmente outro filete,
mais pequeno, no colo para a pega da tampa, central, elevada, circular e
decorada simplesmente com um filete azul de bordadura.
| (Pormenor das asas) |
A partir da boca da sopeira e em direcção ao bojo, dois filetes largos, monocromáticos, na cor azul, logo a seguir, um
outro, largo, amarelo, e sobre o mesmo aplicada a decoração vegetalista a
stencil (chapa), seguem-se mais três filetes, dois azuis e entre os mesmos, um
outro, largo, na cor amarelo.
| (Vista de perfil - pormenor das asas) |
Finalmente junto à base, mais dois
filetes, no mesmo tom, de azul.
Duas pequenas asas, laterais colocadas
junto à boca da sopeira, mais propriamente, junto ao rebaixo do rebordo para
assentamento da tampa – um simples “cordel, liso, colado”, com uma pincelada de
azul.
Trata-se de uma atraente peça, com
rugosidade de fabrico, de uma pasta amarelada, cor de grão, com decoração
imperfeita, com falhas de pintura, dedadas, esborratadelas, e com elevadas
falhas de vidrado – “pontos negros”, o picado.
O frete da base é espesso e robusto –
talvez o segredo destas peças durarem tanto tempo.
| (Vista do interior da sopeira) |
O craquelê é intenso e notório no
interior e no exterior da peça, demonstrando a significativa diferença entre o
coeficiente de dilatação do vidrado e da chacota.
| (Pormenor do craquelê interior da sopeira) |
Peça fabricada provavelmente na
segunda metade do século XIX, certamente após 1854, dada a aplicação de decoração
com chapa recortada, para efectuar os motivos vegetalistas da tampa e do bojo
da sopeira (decoração estampilhada).
Fabrico?
Inclinamos-nos para ser fabrico do
Norte em detrimento de Coimbra.
| (Pormenor da forma e decoração da tampa da sopeira) |
As peças que com alguma segurança se
atribuem como fabrico de Coimbra, possuem uma pasta mais espessa, são mais
robustas e mais pesadas e possuem uma decoração policromática, com recurso às
cores, azul, verde ervilha, cor-de-rosa, amarelos acastanhados, ou mesmo cor de
laranja.
Por outro lado, as asas do fabrico de
Coimbra são mais elaboradas da que as do Norte, que são mais simples.
| (Fabrico do Norte (?)) |
No que se refere às pegas da tampa, as
do Norte, são geralmente circulares, as de Coimbra são mais “pegas” ou “laços”,
efectuadas com os mesmos “cordões” das asas.
Em suma, a geometria e configuração
volumétrica desta sopeira é mais característica do Norte do que de Coimbra; a
sua decoração, também, será ?
| (Decoração do Norte (?)) |
Aqui fica certeza da sopeira em
faiança repleta de incertezas, quanto à proveniência do seu fabrico e período
de fabrico.
FONTES:
1) - “Cerâmica
Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas
e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial
Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.
2) –
“Cerâmica Portuense – Evolução Empresarial e Estruturas Edificadas”, Teresa
Soeiro, Jorge Fernandes Lacerda, Silvestre Lacerda, Joaquim Oliveira, Edição
Portugália, Nova série, volume XVI, 1995.