Mostrar mensagens com a etiqueta Cantão Popular. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Cantão Popular. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 13 de março de 2015

PRATO EM CANTÃO POPULAR, DE SÃO ROQUE – AVEIRO – COM MARCA

Apresentamos hoje um prato raso moldado, de formato circular, de aba pouco elevada, com decoração monocromática azul, motivo “Cantão Popular”, com marca de fabrico – São Roque – Aveiro.


Possui carimbo monocromático castanho de formado e configuração não habitual, para identificar a fábrica em causa.


A maioria das peças estão marcadas com carimbo circular, dentro dele algo que se assemelha a um “8”, como alguns dizem, mas mais não é de que a cabaça alusiva a São Roque. Razão pela qual também existem alguns carimbos também com um bastão.


Existem peças semelhantes da mesma fábrica, com decoração idêntica, mas com o carimbo habitual desta fábrica.


Trata-se, por tal motivo uma peça interessante, por ser pouco vulgar a aposição deste carimbo.


Como sabemos a Fábrica de Faianças S. Roque, em Aveiro, que foi criada em 1955 pelo ceramista João “Lavado” (João Marques de Oliveira) (1905-?), então sócio da Fábrica de Louças e Azulejos de S. Roque, vulgarmente conhecida por Fábrica de S. Roque, esta fundada nos finais da década dos 20, por Manuel da Silva e Justino Pereira Campos, localizada no canal de São Roque.

A fábrica, Faianças S. Roque, apresentou as suas últimas contas a 27 de Dezembro de 2001, tendo o seu encerramento e dissolução sido registado em Outubro de 2002 e publicado em Diário da República, no mês de Dezembro do mesmo ano.

Esta fábrica, Faianças S. Roque, dedicou-se exclusivamente à produção de louças decorativas e utilitárias, tendo produzido bastante louça decorada com escorridos. Existem várias peças marcadas que exibem combinações de cores: castanho, amarelo, verde e preto nesses escorridos.


Como não podia deixar de ser, e a exemplo de outras fábricas de Aveiro, também produziu peças com decoração do motivo “Cantão Popular”, com um conjunto de imagens, símbolos e arranjos ao gosto do artista, marcando a diferença para as demais e criando um estilo próprio, não faltando o habitual ondulado na parte interior da aba, a canelura, antes da faixa ou largo filete que delimita o covo da aba.


Por outro lado o habitual largo filete no limite da aba foi substituído por dois filetes, relativamente espaçados, com uma interessante decoração arrendada entre eles, com reservas decoradas com dois elementos, um dos quais parece ser uma viola e o outro um barril deitado (?).


No covo, o motivo da decoração, pese embora com os habituais elementos simbólicos, os mesmos são bastante diferentes dos correntemente utilizados à época ou em épocas anteriores, encontrando-se muito ocidentalizados e com a representação das nuvens, do horizonte e da água de modo, mais simples e estilizada.

As edificações representadas também possuem uma imagem mais ocidentalizada do que as que habitualmente decoram este motivo.


Em suma mais uma versão de “Cantão Popular”, esta das Faianças de São Roque.

Crê-se que se trata de um fabrico por volta da década de 50 do século passado - mas sem certezas.

FONTES:


domingo, 15 de fevereiro de 2015

PRATO GRANDE EM FAIANÇA, FABRICO DO NORTE (?); MOTIVO CANTÃO POPULAR.

O motivo “Cantão Popular” é uma obsessão que temos a nível da faiança, devido à diversidade da sua decoração, à incógnita do seu fabrico, às tonalidades de azul aplicadas, às suas semelhanças e diversidades, enfim devido à sua beleza.


Apresentamos agora um grande prato, partido, colado, gateado com dez “agrafos” já muito enferrujados, enfim estimado.


Cremos tratar-se de um fabrico do Norte, provavelmente do final do século XIX, ou início do XX, assemelhando-se um pouco ao que se diz, ser fabrico “Miragaia”, mas sem certezas….


Os motivos básicos e repetentes deste motivo estão presentes: o edifício (tipo pagode ou palácio?) ao gosto oriental, com as suas cúpulas características; os vários vãos de fenestração; a vegetação, as nuvens; os espelhos de água…


A característica cercadura da aba do prato: um duplo filete, ladeando uma faixa larga, com espaçamento e afastamento irregular – evidenciando a mão e o traço não firme do seu artista ou a rapidez da sua execução.


Após este duplo filete envolvendo a faixa, aprecia-se uma cercadura com o espinhado pelo exterior, irregular, secundado por uma canelura ondulada já mais próxima do covo.


No limite do covo vê-se, igualmente, um duplo filete ladeando uma faixa larga, tudo na cor azul, mais escura. Vê-se igualmente um borrão nesta decoração, certamente por descuido do seu artista, ou por escorrimento do pincel.


É a configuração desta cercadura e a sua composição que nos leva a considerar ser uma peça de fabrico do Norte.


Por outro lado, a sua textura, o tipo a cor da pasta – cor de grão (visível no tardoz do prato), o tipo de vidrado – leitoso e escorrido, leva-nos a induzir que o seu fabrico seja provavelmente da segunda metade do século XIX ou inicio do XX – será?


Certezas – não se têm, mas o prato é interessantíssimo, por isso, aqui fica o seu registo.


FONTES:

1) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

2) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

3) – “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

4) – “Cerâmica Artística Portuense dos Séculos XVIII e XIX”, Vasco Valente, Livraria Fernando Machado – Porto,

5) – “Cerâmica Portuense – Evolução Empresarial e Estruturas Edificadas”, Teresa Soeiro, Jorge Fernandes Lacerda, Silvestre Lacerda, Joaquim Oliveira, Edição Portugália, Nova série, volume XVI, 1995.

6) – “Fábrica de Louça de Miragaia”, Museu Nacional Soares dos Reis, Edição IMC, Lisboa, 2008.

7) - http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/75570/3/72863.1.pdf; (A Fábrica de Louça de Santo António de Vale de Piedade, em Gaia: arquitetura, espaços e produção semi-industrial oitocentista; LAURA CRISTINA PEIXOTO DE SOUSA, 2013).



segunda-feira, 11 de agosto de 2014

TRAVESSA EM CANTÃO POPULAR NA COR AMARELO-OCRE – INVULGAR – FÁBRICA DE LOUÇAS PINHEIRA – AVEIRO


TRAVESSA EM CANTÃO POPULAR NA COR AMARELO-OCRE – INVULGAR – FÁBRICA DE LOUÇAS PINHEIRA – AVEIRO

As peças em Cantão Popular continuam a merecer a atenção de todos nós, quer pelo fascínio que nos causam, quer pelos mistérios que encerram, começando logo pelo desvendar da fábrica onde foram produzidas, pois a maioria das mesmas não possui qualquer marca ou carimbo.

Quando se fala em Cantão Popular, na generalidade todos associam a cor azul das peças, azul mais forte, menos forte ou mesmo debotado e sempre a ingenuidade na decoração, na maioria ao gosto oriental.

Mas falar de peças de Cantão Popular em amarelo-ocre ou mesmo cor-de-rosa velho é algo não habitual, podendo-se considerar mesmo raro.


Tudo isto a propósito de uma travessa oval, com decoração de Cantão Popular, na cor amarelo-ocre e com carimbo!

Algo invulgar – pois quando vemos qualquer peça de Cantão Popular, mesmo identificando ou presumindo a sua origem de fabrico não resistimos a ver a sua base, tentando desvendar alguma marca ou carimbo, para certificação da sua origem de fabrico.

Com a presente, adotamos procedimento idêntico e logo nos disseram que era de Aveiro, o que também já tínhamos presumido pela sua decoração e composição; mais reforçaram, perante um carimbo na cor azul, que era “Aradas” – ao que nada dissemos, como que aceitando a informação.

 
Na verdade, com a análise detalhada efetuada, à posteriori, facilmente identificamos o carimbo da mesma, como sendo de fabrico da “Louças Pinheira – Aveiro”, quer pelo conhecimento do mesmo, quer por comparação com outras peças.

A decoração, com motivos orientais habituais lá possui a ponte com os três arcos, mas sem figurantes; o Palácio do Mandarim e o Pagode, mais os lagos que envolvem os mesmos e os salgueiros e demais vegetação, alguma bastante estilizada, na cor amarelo-ocre e preto, envolta num largo filete no limite do covo com a aba da travessa, em amarelo-ocre; e num fino filete preto.

 

A decoração da aba da travessa também é rica e intensa, preenchendo na totalidade a mesma, com alternância de motivos: cobertura do pagode, salgueiros, outros motivos vegetalistas, apontamentos de lagos, etc., ora na cor amarelo-ocre, ora pretos; rematando a aba um filete de largura mediana na cor amarelo-ocre. 


Há faianças em Cantão Popular carimbadas e por conseguinte, identificando de forma inequívoca a sua origem de fabrico, por exemplo as que apresentamos a seguir, tentendo contribuir para a identificação dos vários fabricos conhecidos.

1.Lusitânia (Coimbra) (1):




- em tons de azul claro;

- com filete triplo de bordadura da aba, dois finos e o central mais largo;

- com o espinhado pelo exterior da aba e a bordadura em ziguezague pelo interior;

 
2. Cavaco (Gaia) (1):



 
- em tons de azul escuro, muito forte;

- com filete duplo de bordadura da aba, um largo pelo exterior e um fino pelo interior;

- com o espinhado pelo exterior da aba e a bordadura em ziguezague pelo interior;

 

2.1 outro prato de fabrico Cavaco – Gaia (2):



 

Características marcantes que se mantêm:

- em tons de azul escuro, muito forte;

- com filete duplo de bordadura da aba, um largo pelo exterior e um fino pelo interior;

- com o espinhado pelo exterior da aba e a bordadura em ziguezague pelo interior;

Características diferenciadoras:

- decoração do covo com edifício com arquitetura mais ocidental;


2.2 outro prato de fabrico Cavaco – Gaia:



Características marcantes que se mantêm:

- em tons de azul escuro, muito forte;

- com filete duplo de bordadura da aba, um largo pelo exterior e um fino pelo interior;

- com o espinhado pelo exterior da aba e a bordadura em ziguezague (canelura) pelo interior;


2.3 travessa oval de fabrico Cavaco – Gaia:


 
Características marcantes que se mantêm:

- em tons de azul escuro, muito forte;

- com filete duplo de bordadura da aba, um largo pelo exterior e um fino pelo interior;

- com o espinhado pelo exterior da aba e a bordadura em ziguezague (canelura) pelo interior;
 

2.3 travessa oitavada de fabrico Cavaco – Gaia:

 
Características marcantes que se mantêm:

- em tons de azul escuro, muito forte;

- com filete duplo de bordadura da aba, um largo pelo exterior e um fino pelo interior;

- com o espinhado pelo exterior da aba e a bordadura em ziguezague (canelura) pelo interior;
 

3. Fábrica da Pinheira  (Louças Pinheira) – Aveiro (1):

 

 
- em tons de azul escuro;

- com filete duplo de bordadura da aba, um largo pelo exterior e um fino pelo interior;

- com o espinhado pelo interior da aba e a bordadura em ziguezague pelo exterior; (a principal diferença entre os fabricos do Norte e do Sul – sendo uma característica específica do fabrico de Aveiro).

 
3.1 Outro prato, em amarelo-ocre e preto de “Aveiro”, com características da Fábrica da Pinheira (4):


 
Características marcantes que se mantêm:

- com filete duplo de bordadura da aba, um largo pelo exterior (em amarelo ocre) e um fino pelo interior (preto);

- com o espinhado pelo interior da aba e a bordadura em ziguezague pelo exterior;

- decoração habitual, ao gosto oriental, (aqui nas cores amarelo ocre e preto);

 
3.2 A nossa travessa oval, em amarelo-ocre e preto de “Aveiro”, com características da Fábrica da Pinheira:




Características diferenciadoras:

- soberba decoração na aba, mas sem o espinhado e a bordadura em ziguezague, mas com um filete fino na bordadura da aba e um largo na base da aba, na separação com o covo.

 

3.3 Outra peça (azeitoneira), de “Aveiro”, fabrico das Louças da Pinheira, com marca diferente (5):



Características diferenciadoras:

- abrangente decoração na aba, sem os habituais espinhado e bordadura em ziguezague, mas com um filete fino na bordadura da aba e um, mais largo, na base da aba, na separação com o covo.

- a decoração da aba é um alternativo de zonas ziguezagueadas, separadas por pontos, de outras zonas com as nuvens e os lagos.

 

4. Fábrica de Aradas – Aveiro (2):

 
 
- em tons de azul claro;

- com uma decoração mais fina, mais industrializada, menos popular;

- sem recurso ao espinhado e à bordadura em ziguezague na aba, mas com uma decoração cruzada;

 
5. Lusitânia – Lisboa (3):




- em tons de azul escuro e claro;

- com filete triplo de bordadura da aba, dois finos e o central mais largo;

- com o espinhado pelo exterior da aba e a bordadura em ziguezague pelo interior, secundada interiormente por um xadrez com círculos;


6. Fábrica de São Roque – Aveiro (3):


 
- em tons de azul médio e claro;

- com três filetes finos na aba, um bordadura, e dois finos na separação entre a aba  e o covo, com elementos decorativos a xadrez, violas e outros, entre os mesmos;

- com uma  canelura (bordadura em ziguezague) pelo interior da aba;

Características diferenciadoras:

- Decoração do covo com edifício com arquitetura mais ocidental, com três pisos;


6.1 Outra Peça de São Roque (Aveiro):



 
 

7. Montargila – Algés – Lisboa (5):

 

 

- em tons de azul médio;

- com dois filetes no limite da aba, um largo pelo exterior e outro fino pelo interior, no separação entre a aba e o covo, igualmente dois filetes, um fino pelo exterior, num azul mais claro e um mais largo, num azul mais escuro.

- entre os dois conjuntos de filetes e pelo limite interior dos da bordadura da aba, um espinhado duplo;

- decoração ao gosto oriental, trabalhada, com motivos com pormenores cuidados, mas também já com alguns edifícios desenhados com traça ocidental;

 
8. Faianças Vitória -Aveiro (1): 


 
 

Características marcantes que se mantêm:

- os habituais elementos decorativos: a ponte, o palácio, as nuvens, os lagos (a água);


9. Faiança de Gaia (???) – Cantão em tons de rosa (6):


Características marcantes que se mantêm:

- os habituais elementos decorativos: a ponte, o palácio, o salgueiro, as nuvens, os lagos (a água);
 
- com dois filetes no limite da base, um largo pelo exterior  (inferior) e outro fino pelo interior (superior), e igualmente dois filetes, um fino e outro mais largo, no limite do bojo.


10. Fábrica de Carritos e Caceira – Figueira da Foz (2):



 
Nota: Só se conhece esta caneca quadrilobada (2) do Museu Municipal Santos Rocha, da Figueira da Foz, cuja respetiva ficha identificativa aponta para a Fábrica de Carritos (localidade), sucessora da Fábrica de Caceira (localidade próxima de da Carritos), dos mesmos proprietários.

Características marcantes que se mantêm:

- os habituais elementos decorativos: a ponte, o palácio, o salgueiro, as nuvens, os lagos (a água);



Em suma, o motivo Cantão Popular reveste-se de características ímpares, quer pela quantidade de fábricas que produziram o mesmo e que ficarão incógnitas para sempre; quer pela diversidade de variantes e estilos adotados; quer mesmo, pela menos usual, aplicação de outras cores que não o azul, tal como o amarelo-ocre da peça apresentada ou mesmo o rosa, de outra peça identificada.

Será que alguma vez se conseguirá efetuar um estudo que sistematize e identifique, de forma mais ou menos concreta, os vários fabricos de Cantão Popular, existente, de Norte a Sul?  


FONTES: