Prato em faiança, com vidrado na cor de
grão, com decoração interessante: um simples filete largo, na cor azul, a meio
da aba e uma decoração a duas cores no fundo do prato, com traços ao gosto
oriental.
FIG.1 - PRATO EM FAIANÇA DE ALCOBAÇA |
Trata-se de uma decoração estampilhada,
a nível do casario acastelado, com cúpulas e zimbórios de índole oriental e da
vegetação com árvores também orientais, tudo em tons de cor-de-rosa; e
esponjada, com o embasamento, na cor verde seco, esponjado.
FIG. 2 - PORMENOR DA DECORAÇÃO |
Pelo formato, pela decoração e motivo, e
pelas cores poder-se-ia considerar, como sendo faiança de Coimbra, mas também
se poderia atribuir a faiança de Alcobaça, dos seus primórdios, finais do
século XIX ou início do século XX, do período de José dos Reis (dos Santos).
FIG. 3 - MARCA IMPRESSA NO TARDOZ DO PRATO |
Mas eis que pela análise detalhada do
tardoz do prato se verifica que o mesmo se encontra marcado, com um carimbo
oval, pese embora sumido, na cor manganés, onde se consegue ler “ALCOBAÇA” e o
que presumimos ser, em letras borradas “JOSÉ DOS REIS”.
FIG. 5 - PORMENOR DA MARCA IMPRESSA "ALCOBAÇA", "JOSÉ DOS REIS" ? |
Certezas? Dúvidas?
De pesquisa em pesquisa fomos até à fonte
2), em que a páginas 15, encontramos uma imagem de um prato semelhante ao
nosso, também em tons de rosa, monocromático, enquanto o nosso é policromático.
FIG. 6 - IMAGEM DA PAG. 15 DA FONTE 2) |
O motivo central (torre com cúpula) mais
elaborado, é muito semelhante ao do nosso prato – digamos que o nosso com uma
estampilhagem (“Stencil”) mais “naif”.
A legenda do mesmo indica “Prato pintada
à estampa, “José dos Reis”…marca impressa, Colecção Coronel A. Bivar de Sousa”.
FIG. 7 - VISTA GERAL FRONTAL DO PRATO |
Todas estas semelhanças, em especial, a
decoração, motivo e cores, e a marca oval impressa, mais nos leva a considerar
que se trata na verdade de um prato de faiança de Alcobaça, do período de José
dos Reis.
Uma raridade, um prato em faiança com
marca impressa, identificando o seu fabrico e consequentemente uma data
aproximada do mesmo.
Um prato que passou, na verdade, por
diversas mãos, que sem uma análise pormenorizada, foi considerado com menor valor,
felizmente, e daí poder ter vindo às nossas mãos.
Na verdade, as peças antigas, entre elas
as faianças, devem ser analisadas detalhadamente, com paixão e com descrição.
É essa análise despretensiosa de valor
ou de lucro (para quem as comercializa), que permite, com tempo, técnica, ciência
e muita paciência analisar todos os pormenores dessas peças e descobrir ou
desvendar ínfimos detalhes, efectuar analogias e comparações com outras peças
apresentadas em catálogos, livros ou em bibliografia recorrente e reconhecer a
real importância da peça e o seu valor como peça de colecção, ou simplesmente
identificar com mais certeza a sua origem.
FIG. 8 - PORMENOR DA DECORAÇÃO ESTAMPILHADA E ESPONJADA |
É toda esta actividade de ócio que
caracteriza um coleccionador, porque coleccionar por coleccionar, é-se um simples
ajuntador ou guardador.
Concluindo, com alguma certeza, estamos
perante um prato em Faiança de Alcobaça, do período e fabrico de José dos Reis,
provavelmente entre 1875 e 1898.
FONTES:
1)
– “ Cem anos de Louça em Alcobaça”, de Jorge Pereira de Sampaio e Luís Peres
Pereira, 2008;
2)
– “Faiança de Alcobaça, de 1875 a 1950” – S. l. Jorge M. Rodrigues Ferreira, de
Jorge Pereira de Sampaio, Estar Editora, Coleção Fundamental, 1997 ;
3)
- “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente: CeRamiCa PLUS” – Galeria de Exposições
Temporárias – Mosteiro de Alcobaça; 6 de Abril a 4 de Maio 2011; Município de
Alcobaça, 2011.
4)
– “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores
ACD, 2008.
5)
– “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização,
Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da
Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.
6)
– “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria
Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.
7)
– “A Loiça de Alcobaça”, de João da Bernarda, Edições ASA, 1ª Edição, Porto -
Outubro de 2001.
8)
– “A Faiança de Raul da Bernarda & F.os, Lda. – Fundada em 1875 –
ALCOBAÇA”, de Jorge Pereira de Sampaio, Edição Particular da Fábrica Raul da
Bernarda & F.os, Lda., Alcobaça, Outubro, 2000.