quinta-feira, 18 de setembro de 2014

TRAVESSA OITAVADA DA FABRICA DE LOUÇA DE SACAVÉM


O motivo “Estátua” ou “Cavalinho” foi fabricado em Portugal, a larga escala, com várias estampagens, por várias fábricas de faiança.

Tal motivo corresponde ao inglês “Grecian Statue”, que foi fabricado, a partir de 1840, essencialmente em 2 fábricas, a “Wood & Brownfield” e a “C & J Shaw”, mas também na  “Browfields (Guild) Pottery Society Ltd”, na “John Thomas Hudden”, na “Thomas & John Carey – John Carey & Sons”.

Em Portugal, em especial a Fábrica de Louça de Sacavém, a Fábrica de Massarelos, a Corticeira do Porto e a Fábrica das Devesas do Porto, produziram imensa faiança; com este motivo, desde pratos a travessas, passando pelos serviços de chá e café a outras mais peças utilitárias.

Tudo isto a propósito de mais uma peça que vamos apresentar: uma grande travessa oitavada ou octogonal, em faiança da Fábrica de Louça de Sacavém, motivo “estátua” ou “cavalinho”, com estampagem, cor verde.


Estampa com cavaleiro com chapéu de penas e adornos diferentes do habitual da estampa 1, da FLS, com castelos diferentes dos habituais, um rio, com um barco à vela.


Com exuberantes cercaduras vegetalistas e adornos florais, com castelos ou palácios.

 
 

Trata-se de uma peça com intensa decoração estampada, na aba, com cercaduras vegetalistas inserindo-se nas mesmas castelos e palácios.
 


 
Os adornos florais são intensos, interessantes e bastante trabalhados, sem dúvida uma das melhores estampagens que foram aplicadas em todo o período de fabrico deste motivo.
 



 
Os conjuntos edificados, apalaçados e os seus enquadramentos são cuidados e interessantes.
 


Como referência habitual não podia faltar a presença da água – lago ou rio -e o respetivo barco e no horizonte, os revelos orográficos em forma de picos.
 

Por outro lado também se identifica com facilidade os remates da estampagem, em que se denotam as não concordâncias entre as suas extremidades, bem como os pontos não vidrados das trempes utilizadas aquando da cozedura após a estampagem.


 
 Possui no verso uma marca estampada na paste, na cor verde, usada no período que medeia entre 1870 e 1880 e também uma marca gravada na pasta, com a ancora e parte da corda entrelaçada e a indicação SACAVÉM, para além de possuir ainda uma estampagem de uma imagem figurativa constituída por dois círculos entrelaçados, na mesma cor verde, também habitual na louça de Sacavém dos períodos em causa.
 

 
Mas dado que as Faianças com o motivo "Cavalinho" ou "Estatua" são sempre uma revelação a nível da estampagem, vamos apresentar um pequeno conjunto delas, de modo a se identificar tais variantes, muitas delas em comercialização na internet.

 
Esta com formato oitavado, ou octogonal é diferente da “Estatua 1” e da “Estatua 2” de Sacavém, já que possui um cavaleiro com chapéu de penas e adornos diferentes dos habituais, as colunas clássicas à direita do cavaleiro também são diferentes e em maior quantidade.
 
Por outro lado, os palácios também são diferentes dos habituais, um deles numa pequena ilha, terminando a maioria deles com cúpulas, a fábrica vê-se à mesma ao fundo da paisagem, mas antes há um rio, onde circula um barco à vela.
 
 
A cercadura da travessa é simples, só com estampagem de grinaldas e sem qualquer motivo de palácios.
 
No verso possui um marca circular gravada na massa nada nítida, pese embora se assemelhe a uma marca de Sacavém, será?
 
Mas as demais louças com este motivo possuem estampagens diferentes, senão vejamos:

Travessa da F. L. de Sacavém, do período da Real Fábrica de Sacavém.
Particularidade: a decoração da aba é rica com quatro motivos de palacetes.
 
(Imagens do blog: JP Antiguidades e Velharias)
 

Travessa da F. L. de Sacavém, do período da Real Fábrica de Sacavém.
Particularidade: a figura equestre aparente ser uma amazona com o cabelo apanhado a apontar para a frente e a olhar para trás – paisagem com uma ponte e muitos palácios, muito diferente do habitual
(Imagens do site: olx Mafamude.olx.pt)
 
Travessa oval com o motivo cavalinho ou estátua, desconhecendo-se o fabrico
Particularidade: a figura equestre aparente ser uma figura real – a paisagem é semelhante à da travessa que apresentamos
(Imagens do site: olx maia-maia.olx.pt)
 
Travessa octogonal da F.L.S. do período da Real Fábrica - 1885
Particularidade: a figura equestre está do lado esquerdo – a paisagem é também diferente do habitual
(Imagens do site: Travessas – Mercado Antigo)
 
Travessa octogonal da F.L.S. do período da Real Fábrica - 1885
Particularidade: a figura equestre aparente ser uma figura real – a paisagem é semelhante à da travessa que apresentamos, esta com aba rica em decoração de palacetes)
(Imagens do site: Travessas – Mercado Antigo)
 
Travessa octogonal da F.L.S. do período da Real Fábrica - 1885
Particularidade: a figura equestre aparente olhar para trás – a paisagem é diferente da corrente, apresentando uma ponte).
(Imagens do site: Travessas – Mercado Antigo)
 
Travessa octogonal da F.L.S. do período da Real Fábrica - 1885
Particularidade: a figura equestre está do lado esquerdo e aparenta estar a olhar para trás – a paisagem é também diferente do habitual
(Imagens do site: Travessas – Mercado Antigo)
 
Travessa octogonal da F.L.S. do período da Real Fábrica - 1885
Particularidade: a figura equestre está do lado esquerdo e aparenta estar a olhar para trás – a paisagem é também diferente do habitual
(Imagens do site: Travessas – Mercado Antigo)
 
Travessa octogonal da F.L.S. do período de 1870
Particularidade: a figura equestre está do lado esquerdo e aparenta estar a olhar para trás – a paisagem é também diferente do habitual
(Imagens do site: JP Antiguidades e Velharias)

 
Travessa da F. L. de Sacavém, provavelmente do período de 1870-1880
(Imagens do blog: Velhariasdoluís)
 
Muitas mais variantes de estampagens em travessas com o motivo “estátua” ou “cavalinho” há, mas a apresentação de mais tornar-se-ia fastidioso.
FONTES:
3) – “Fábrica de Louça de Sacavém – Contribuição para o estudo da indústria cerâmica em Portugal 1856-1974” de Ana Paula Assunção, Coleção História da Arte – Edições INAPA – 1997;
4) – “150 Anos – 150 Peças – Fábrica de Loiça de Sacavém” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Março de 2006;
5) – “Porta aberta às memórias” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2008;
6) - “Porta aberta às memórias” – 2ª edição, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2009;
7) – “Dicionário de marcas de Faiança” de Filomena Simas e Sónia Isidro – Edição Estar Editora - Lisboa – 1996;
 

 
 
 

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