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domingo, 1 de janeiro de 2017

ESPLÊNDIDO PRATO EM FAIANÇA, DE COIMBRA? DE ALCOBAÇA?


Para começar o Ano de 2017 e após um prolongado interregno de colocação de postagens no blogue, eis que apresentamos um esplêndido prato em Faiança, que com uma interessante decoração, que o veio a tornar prato de pendurar ou de decoração, através do orifício efectuado com uma roca na aba, para tal.

(FIG. 1 - A nossa Peça - Fabrico de Coimbra ?)

Presumimos que tenha sido fabricado no final do século XIX, ou mais provavelmente na primeira metade do século XX, em… aí o grande mistério, e que torna a peça ainda mais interessante por tal incógnita, tal como a maioria das faianças não marcadas, que não se conseguem descobrir ou indicar com rigor a sua data de fabrico e onde foi fabricada.

Vamos então à peça.

Um prato covo ou sopeiro, de diâmetro mais pequeno que o habitual, mas perfeitamente identificado aos que faziam às épocas já indicadas.

(FIG. 2 - O Filete de bordadura e a decoração da Aba)

Vidrado na cor de grão, com um filete largo, na bordadura da aba, em cor-de-rosa esbatido, possuindo sete decorações monocromáticas, repetidas, efectuadas a chapa ou stencil, com as partes terminais sobrepostas ou desalinhadas, conforme a perícia do decorador deste prato.

No fundo do prato uma vistosa e elegante decoração policromática, ao gosto oriental mas com elementos vegetalistas da flora mediterrânica – o arranjo artístico ao gosto do decorador, certamente.

(FIG. 3 - A Beleza da decoração policromática do covo do prato)

Um pagode, com um chapéu chinês, com zimbório de remate, e sobre o mesmo várias aves sobrevoando, uma base de enquadramento, onde assenta o pagode e da qual desenvolve a vegetação arbustiva que encena a imagem, tornando a mesma harmoniosa, no formato e na cor.

A policromia usada: castanho-escuro, vermelho escuro, azul-marinho e verde-ervilha dão a beleza e a animação à cena apresentada, que preenche a quase totalidade do fundo do prato.

Na generalidade a técnica de decoração utilizada foi a chapa recortada ou stencil, somente com alguns apontamentos a pincel, nas folhas na cor verde-ervilha e nas flores na cor azul-marinho enquadradas na base castanha.

(FIG. 4 - O tardoz do prato)

No tardoz denotam-se algumas imperfeições na massa, aquando da moldagem da pasta, algumas imperfeições, faltas e arrepiados no vidrado, bem como as marcas das trempes que a peça voltou ao forno para cozer o vidrado.

(FIG. 5 - O Orifício para pendurar o trato)

Possui um único frete, na bordadura do fundo. Nada mais.

(FIG.6 - As imperfeições do vidrado)

Gostaríamos de completar esta postagem com a indicação da possível época de fabrico e do centro ou fábrica da sua execução, o que também não conseguimos.


1- ONDE E QUEM FABRICOU PEÇAS SEMELHANTES?

O centro Oleiro de Coimbra, com as suas diversas e anónimas fábricas, quer ao longo do século XIX, quer mesmo na primeira metade do Século XX produziram imensas peças semelhantes à que apresentamos, sem marcas e consequentemente não identificadas.

Mas as fábricas que surgiram no final do século XIX e nas primeiras três décadas do século XX no centro Oleiro de Alcobaça, também produziram peças muito semelhantes, pois que, afim e ao cabo, as produções copiavam-se, ou mesmos eram os artistas e decoradores que até mudavam de fábricas, para fábricas, o que ainda torna mais difícil indicar uma origem de fabrico, com algum rigor.

As mínimas diferenças que possam haver, ou as subtilezas que possam distinguir um fabrico de outro nem sempre são identificadas, por leigos como nós.
Vamos tentar sistematizar algumas ideias e identificar algumas particularidades dos vários fabricos.


2- FAIANÇA DE COIMBRA

A Faiança de Coimbra, para este tipo de peças, de uso quotidiano e utilitário, recorria com muito frequência ao motivo Casario, com predominância em policromia, com cores deslumbrantes.

Já usava o verde-ervilha ou o verde inventado por Vandelli.

A textura da peça era geralmente fina, leve e com uma pintura cuidada, sendo que a decoração tinha com frequência inspiração em motivos orientais.

A pasta, pelo que se consegue identificar era geralmente na cor de grão, ou alaranjada, em função da mistura de barros que faziam e o vidrado era geralmente amarelado (cor de grão).

(FIG 7 - A decoração do fundo do prato)


3- FAIANÇA DE ALCOBAÇA DE JOSÉ DOS REIS DOS SANTOS (1875-1898)

O motivo da decoração era predominantemente o Casario, o País e por vezes o Chalé, com pinturas monocromáticas, em tons de azul, rosa ou manganés.

As técnicas de decoração eram o estampilhado, o esponjado, mais o habitual pincel.

Quer em termos de decoração, pintura e vidrado, havia cuidado e dedicação no fabrico.


4- FAIANÇA DE ALCOBAÇA DE MANUEL FERREIRA DA BERNARDA JÚNIOR (1900-1930)

Fabrico percursor do anterior, tinha muitas semelhanças com o mesmo, pese embora com outros motivos de decoração, que não só o Casario, mas também como motivos zoomórficos.

A decoração era efectuada em policromia e em que os artistas e decoradores repetiam os mesmos temas, sem grandes variações e sem muita perfeição.

Tratava-se de uma louça com linhas (formas) e composições estéticas (motivos de decoração e cores) mais para as sociedades rurais.


5- FAIANÇA DE ALCOBAÇA DE RAUL DA BERNARDA (1931-2008)

Raúl da Bernarda era filho de Manuel Ferreira da Bernarda Júnior, e quando iniciou a sua actividade, independente do pai, pelo menos na sua fase inicial de produção repetiu os motivos e as decorações que eram realizadas na fábrica do pai, por vezes só identificadas, quando passaram a ser marcadas ou assinadas.


6- FAIANÇA DE ALCOBAÇA DE OLARIA DE ALCOBAÇA LDA. (OAL) (1927-1987)

Esta fábrica de produção foi fundada por Silvino Ferreira da Bernarda, também filho de Manuel Ferreira da Bernarda Júnior e por António Vieira Natividade e Joaquim Vieira Natividade e que também no seu início de fabrico produziu louça igual às anteriormente citadas.

Era uma produção de louça, na continuidade, do que o seu pai produzia, com o recurso aos habituais processos de estampilhagem, esponjado e a pincel, já com motivos vegetalistas incorporados, em policromia, pelo que se assemelhavam, facilmente, à louça de fabrico de Coimbra.


7- E ENTÃO?

Em suma, pode-se dizer, com alguma segurança, que as formas e os motivos decorativos usados eram copiados das peças que melhor se vendiam, por corresponderam aos gostos de quem as compravam ou de quem as podiam comprar e vários fabricavam igual ou semelhante e daí a impossibilidade de agora se indicar o seu provável fabrico e época de execução.

(FIG. 8 - O esplêndido prato, de Coimbra ? ou de Alcobaça?)


FONTES:

1) – “ Cem anos de Louça em Alcobaça”, de Jorge Pereira de Sampaio e Luís Peres Pereira, 2008;

2) – “Faiança de Alcobaça, de 1875 a 1950” – S. l. Jorge M. Rodrigues Ferreira, de Jorge Pereira de Sampaio, Estar Editora, Coleção Fundamental, 1997 ;

3) - “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente: CeRamiCa PLUS” – Galeria de Exposições Temporárias – Mosteiro de Alcobaça; 6 de Abril a 4 de Maio 2011; Município de Alcobaça, 2011.

4) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

5) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

6) – “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

7) – “A Loiça de Alcobaça”, de João da Bernarda, Edições ASA, 1ª Edição, Porto - Outubro de 2001.

8) – “A Faiança de Raul da Bernarda & F.os, Lda. – Fundada em 1875 – ALCOBAÇA”, de Jorge Pereira de Sampaio, Edição Particular da Fábrica Raul da Bernarda & F.os, Lda., Alcobaça, Outubro, 2000.


domingo, 4 de dezembro de 2016

Prato em Faiança de Alcobaça, de José dos Reis (dos Santos)


Prato em faiança, com vidrado na cor de grão, com decoração interessante: um simples filete largo, na cor azul, a meio da aba e uma decoração a duas cores no fundo do prato, com traços ao gosto oriental.

FIG.1 - PRATO EM FAIANÇA DE ALCOBAÇA

Trata-se de uma decoração estampilhada, a nível do casario acastelado, com cúpulas e zimbórios de índole oriental e da vegetação com árvores também orientais, tudo em tons de cor-de-rosa; e esponjada, com o embasamento, na cor verde seco, esponjado.

FIG. 2 - PORMENOR DA DECORAÇÃO 

Pelo formato, pela decoração e motivo, e pelas cores poder-se-ia considerar, como sendo faiança de Coimbra, mas também se poderia atribuir a faiança de Alcobaça, dos seus primórdios, finais do século XIX ou início do século XX, do período de José dos Reis (dos Santos).
FIG. 3 -  MARCA IMPRESSA NO TARDOZ DO PRATO

Mas eis que pela análise detalhada do tardoz do prato se verifica que o mesmo se encontra marcado, com um carimbo oval, pese embora sumido, na cor manganés, onde se consegue ler “ALCOBAÇA” e o que presumimos ser, em letras borradas “JOSÉ DOS REIS”.

FIG. 5 - PORMENOR DA MARCA IMPRESSA "ALCOBAÇA", "JOSÉ DOS REIS" ?

Certezas? Dúvidas?

De pesquisa em pesquisa fomos até à fonte 2), em que a páginas 15, encontramos uma imagem de um prato semelhante ao nosso, também em tons de rosa, monocromático, enquanto o nosso é policromático.

FIG. 6 - IMAGEM DA PAG. 15 DA FONTE 2)

O motivo central (torre com cúpula) mais elaborado, é muito semelhante ao do nosso prato – digamos que o nosso com uma estampilhagem (“Stencil”) mais “naif”.

A legenda do mesmo indica “Prato pintada à estampa, “José dos Reis”…marca impressa, Colecção Coronel A. Bivar de Sousa”.

FIG. 7 - VISTA GERAL FRONTAL DO PRATO

Todas estas semelhanças, em especial, a decoração, motivo e cores, e a marca oval impressa, mais nos leva a considerar que se trata na verdade de um prato de faiança de Alcobaça, do período de José dos Reis.

Uma raridade, um prato em faiança com marca impressa, identificando o seu fabrico e consequentemente uma data aproximada do mesmo.

Um prato que passou, na verdade, por diversas mãos, que sem uma análise pormenorizada, foi considerado com menor valor, felizmente, e daí poder ter vindo às nossas mãos.

Na verdade, as peças antigas, entre elas as faianças, devem ser analisadas detalhadamente, com paixão e com descrição.

É essa análise despretensiosa de valor ou de lucro (para quem as comercializa), que permite, com tempo, técnica, ciência e muita paciência analisar todos os pormenores dessas peças e descobrir ou desvendar ínfimos detalhes, efectuar analogias e comparações com outras peças apresentadas em catálogos, livros ou em bibliografia recorrente e reconhecer a real importância da peça e o seu valor como peça de colecção, ou simplesmente identificar com mais certeza a sua origem.

FIG. 8 - PORMENOR DA DECORAÇÃO ESTAMPILHADA E ESPONJADA

É toda esta actividade de ócio que caracteriza um coleccionador, porque coleccionar por coleccionar, é-se um simples ajuntador ou guardador.

Concluindo, com alguma certeza, estamos perante um prato em Faiança de Alcobaça, do período e fabrico de José dos Reis, provavelmente entre 1875 e 1898.

FONTES:

1) – “ Cem anos de Louça em Alcobaça”, de Jorge Pereira de Sampaio e Luís Peres Pereira, 2008;

2) – “Faiança de Alcobaça, de 1875 a 1950” – S. l. Jorge M. Rodrigues Ferreira, de Jorge Pereira de Sampaio, Estar Editora, Coleção Fundamental, 1997 ;

3) - “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente: CeRamiCa PLUS” – Galeria de Exposições Temporárias – Mosteiro de Alcobaça; 6 de Abril a 4 de Maio 2011; Município de Alcobaça, 2011.

4) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

5) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

6) – “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

7) – “A Loiça de Alcobaça”, de João da Bernarda, Edições ASA, 1ª Edição, Porto - Outubro de 2001.

8) – “A Faiança de Raul da Bernarda & F.os, Lda. – Fundada em 1875 – ALCOBAÇA”, de Jorge Pereira de Sampaio, Edição Particular da Fábrica Raul da Bernarda & F.os, Lda., Alcobaça, Outubro, 2000.


domingo, 15 de fevereiro de 2015

TAMPA DE TERRINA, EM FAIANÇA DE JOSÉ DOS REIS - ALCOBAÇA

“Vão-se os anéis, ficam os dedos”… vão-se as terrinas ficam as tampas!

Hoje apresentamos mais uma tampa de terrina, deveras interessante: pequena, monocromática, na cor vinoso (cor de amora).


Trata-se de uma tampa de terrina, de forma rectangular de cantos arredondados; peça moldada, de encaixe, em cúpula, com pega elevada, de interessante configuração.

A decoração é pintada por estampilhagem e esponjado a cor de amora (vinoso), sobre fundo branco, possuindo dos dois lados da pega uma paisagem tipo “Casario e Árvores”, com um conjunto de edifício, um deles com uma cúpula, possuindo este e outro à sua esquerda, uma mastro com uma bandeira.


O terceiro edifício, de menor porte, com telhados de duas águas, possui um
óculo na empena, estando todos enquadrados em vegetação luxuriante, em que os troncos foram efectuados por estampilhagem, com recurso a “stencil” (chapa recortada) e a folhagem a técnica de esponjado.


Na bordadura da tampa uma cercadura vegetalista estampilhada, assemelhando-se a uma grinalda, terminando junto ao bordo com a aplicação de um esponjado


Trata-se de uma tampa de travessa não marcada, com uma massa de textura fina, de esmaltado leitoso, mais ou menos homogéneo, mas com falhas pontuais do mesmo.


Peça interessante, que cativa o olhar de um qualquer – é o fascínio da Faiança de José dos Reis (dos Santos), de Alcobaça, que mesmo sem carimbo ou marca, permite-nos considerar que será desse fabrico, e do seu período de fabricação, provavelmente, entre 1875 e 1898.


Pela análise da decoração, do tipo de pintura realizada e da comparação efectuada com outras peças, atribuídas a José dos Reis, apresentadas, nomeadamente no livro “ Cem anos de Louça em Alcobaça”, de Jorge Pereira de Sampaio e Luís Peres Pereira (2008), leva-nos a considerar, sem quaisquer dúvidas, ser uma peça de José dos Reis.


FONTES:

1) – “ Cem anos de Louça em Alcobaça”, de Jorge Pereira de Sampaio e Luís Peres Pereira, 2008;

2) – “Faiança de Alcobaça, de 1875 a 1950”, de Jorge Pereira de Sampaio, Estar Editora, Coleção Fundamental, 1997 (?);


3) - “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente: CeRamiCa PLUS” – Galeria de Exposições Temporárias – Mosteiro de Alcobaça; 6 de Abril a 4 de Maio 2011; Município de Alcobaça, 2011.

4) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

5) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

6) – “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

7) – “A Loiça de Alcobaça”, de João da Bernarda, Edições ASA, 1ª Edição, Porto - Outubro de 2001.


8) – “A Faiança de Raul da Bernarda & F.os, Lda. – Fundada em 1875 – ALCOBAÇA”, de Jorge Pereira de Sampaio, Edição Particular da Fábrica Raul da Bernarda & F.os, Lda., Alcobaça, Outubro, 2000.

domingo, 21 de dezembro de 2014

TRAVESSA OITAVADA, MOTIVO “RAPARIGA”, FAIANÇA DE JOSÉ DOS REIS (?)

Nesta época natalícia em que as prendinhas fazem parte da nossa vivência, para presentear familiares e amigos, somos também levados por tal atitude a presentear os seguidores do nosso blogue também com umas prendinhas.

Hoje apresentamos a primeira e oportunamente outra mais.


A de hoje corresponde a uma rara travessa oitavada, com o motivo “Rapariga”, como em Portugal foi generalizado, pois mais não é que o motivo inglês “Minerva”, com uma interpretação livre e popular, através de decoração monocromática, a vinoso (cinzento azulado – cor de amora) e ao que presumimos ser uma Faiança de Alcobaça, fabrico de José dos Reis (dos Santos).


Por conseguinte uma peça fabricada, provavelmente, entre 1875 e 1897, e que pelo seu motivo e decoração, se pode considerar, como rara.


É uma faiança monocromática a vinoso (cinzento azulado – cor de amora), com 33,3 x 25,5 x 3,8 cm, moldada, em forma oitavada, a partir de um rectângulo, com covo acentuado e aba ligeiramente côncava, decorada com motivos vegetalistas, em série repetitiva, pintados a estampilha, com recurso a “chapa”, notando-se os “pontos” com falta de vidrado ou danificado pelas trempes quando foi ao forno.


A reserva central é soberba e pouco vulgar, pois possui uma paisagem, com duas deusas gregas, cujo motivo corresponde ao conhecido “Rapariga” da Fábrica de Louça de Sacavém, mas mais não é que o motivo inglês “Minerva”, (Deusa da Sabedoria e das Artes), intensamente produzido em várias fábricas de Inglaterra, em meados do século XIX, mas com maior incidência pela Podmore Walker & Co., e pela Wedgwood.





















A Fábrica de Louça de Sacavém começou a produzir faianças com esta estampa “Rapariga” ou “Minerva” a partir de 1870 e com maior intensidade no período de 1886 a 1894 (período da Real Fábrica de Sacavém), quando os seus proprietários eram ingleses, os Howorth.














O motivo desta travessa é efectuado, parte à estampilha, possui bastantes esponjados e várias pinturas e retoques à mão livre, para acentuar a decoração e vincar o sentido de profundidade da paisagem, nas árvores, nas balaustradas e nas escadas.  

O relevo no horizonte e as nuvens tem um contorno mais escuro e o seu interior foi cheio a pincel – pintura manual, cremos.


Trata-se de uma travessa não marcada, com uma massa de textura fina, de esmaltado leitoso, mais ou menos homogéneo, mas com falhas pontuais do mesmo, semelhante ao que à época se fazia em Coimbra, sob o qual se denota uma massa cor de grão (acastanhada).


Mas pela análise da decoração, do tipo de pintura realizada e da comparação efectuada com outras peças, atribuídas a José dos Reis, apresentadas, nomeadamente no livro “ Cem anos de Louça em Alcobaça”, de Jorge Pereira de Sampaio e Luís Peres Pereira (2008), leva-nos a considerar ser uma peça de José dos Reis.


Mas também poderia (ou poderá) ser Coimbra, como já nos disseram, mas cremos, pela decoração, pelos esponjados (que começaram a ser produzidos do segundo lustre do século XIX, cremos), que será, mais provável, Alcobaça (José dos Reis), do que Coimbra. Mas, certezas absolutas, não há!


Possui uma falha antiga na bordadura da aba e encontra-se gateada, transversalmente, com sete “gatos” recentes, sendo perfeitamente visível o consequente “cabelo” que a atravessa de um lado ao outro.

Mas, apesar de tudo isto não deixa de ser uma bela peça, pelo menos para nós…..


Em suma, a raridade da peça, constitui uma “prendinha” para os seguidores deste blogue.


FONTES:


1) – “ Cem anos de Louça em Alcobaça”, de Jorge Pereira de Sampaio e Luís Peres Pereira, 2008;

2) – “Faiança de Alcobaça, de 1875 a 1950”, de Jorge Pereira de Sampaio, Estar Editora, Colecção Fundamental, 1997 (?);

3) - “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente: CeRamiCa PLUS” – Galeria de Exposições Temporárias – Mosteiro de Alcobaça; 6 de Abril a 4 de Maio 2011; Município de Alcobaça, 2011.

4) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

5) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.


6) – “Faiança Portuguesa – Séculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

domingo, 30 de novembro de 2014

CERAMICA PORTUGUEZA, PADROEIRAS DOS OLEIROS E OUTRAS HISTÓRIAS (JOSÉ DOS REIS - ALCOBAÇA)

Nestes dias cinzentos, frios e chuvosos, apanágio da severidade do Inverno, temos o tempo necessário para consultar alguns livros e relê-los.


Nada melhor que a primeira “Bíblia” da cerâmica – como não podia deixar de ser estamos a referir-nos à “CERAMICA PORTUGUEZA” de José Queiroz, edição de 1907 – Lisboa (1ª Edição), cujo depósito da mesma era na Livraria Coelho, na Rua Augusta, 151 e 153.

Livro que dispensa comentários e que todos já ouviram falar!

O possuir a 1ª edição deste livro é um superior prazer!


Desde logo a sua capa é interessantíssima, fazendo referencia às Padroeiras dos Oleiros Portugueses, as Santas Justa e Rufina.


Consta que Santa Justa e Santa Rufina, irmãs, naturais de Sevilha (Espanha), onde nasceram e faleceram, no ano de 287 (D.C.), pertenciam a um povo pagão, e não prestavam culto a ídolos impostos à época, já que tinham uma inabalável fé cristã.


Pertenciam a uma família pobre, o pai era um oleiro andaluz, cuja sobrevivência era a venda de louça de barro nas feiras.

Ao que consta, segundo a lenda, estando as mesmas uma vez na sua barraca de venda de louça, viram aproximar-se uma procissão que trazia muitos ídolos, que o povo venerava e respeitava, mas que se recusaram a idolatrar os mesmos. Sendo segundo a lenda, o deus Adónis e a deusa Vénus.


Quebraram-lhes as louças que vendiam e o governador, enfurecido com a postura das mesmas, deteve-as, submeteu-as a medonhos castigos e torturas, levando-as até à morte. Santa Justa foi morta sobre a roda e Santa Rufina estrangulada.

Em sinal da sua coragem e da fé cristã, que nunca renegaram, estas duas irmãs começaram a ser faladas, conhecidas e veneradas pelos oleiros, vindo mais tarde a ser consideradas as suas padroeiras.

Deixemos a lenda e voltemos ao livro:  trata-se de um grande trabalho publicado sobre a cerâmica portuguesa, com um caracter científico, histórico e de elevado impacte em todas as análises e estudos efectuados posteriormente, isto é, após 1907, mantendo ainda a sua fundamental importância e actualidade.

E porque não, mais uma vez rever o que foi escrito em 1907, com base em muitos textos, escritos e informações à época e das décadas anteriores, para tentar desvendar algo mais sobre o Ceramista José dos Reis (dos Santos) fundador de uma cerâmica em Alcobaça, em 1875 (?), após vir de Coimbra, onde era mercador de louça (?) – aqui a dúvida.


Mas vejamos o que nos diz à época (1907) José Queiroz:

“FÁBRICA DE ALCOBAÇA – 187…

            Fundada por José dos Reis, pouco mais ou menos n’esta data. Este Reis faleceu em 1897, tomando o seu lugar na fábrica Manuel ferreira Bernarda Júnior, que a alugou à filha do fundador, três anos depois da morte d’este industrial.

            Produz louça entre ordinária e fina – no género de Coimbra – pintada à mão e estampilhada. Usa, entre outros barros, o branco da localidade.

            Atualmente, dirige a fábrica Joaquim dos Santos (Pequeno). Pintor: Francisco Ferreira. Emprega oito operários.

            Fornece os mercados de Alcobaça e Praia da Nazaré.

            Na fábrica existe um prato datado 15-8-75 e em que se lê o nome da localidade por extenso: Alcobaça.
            Esta peça é pintada a azul, verde, amarelo e roxo, e o tipo de decoração é muito semelhante ao que, no século XVIII, ornamentava as louças Bica do Sapato e de Estremoz”.

Não há mais nenhuma referência a José dos Reis, nem ao período anterior em Coimbra quando era mercador de louça, segundo consta e muito menos como oleiro ou proprietário de uma fábrica de louça.

Noutra passagem, importante, deste livro, é feita uma resenha das fábricas contemporâneas (1800-1900) de Coimbra, em que são referidas, nomeadamente as seguintes:

“ 1800-1889 – José Augusto da Fonseca & Filho – Retiro das Lages. Louça branca.
1810 – 1873 – José António dos Santos – Rua da Moeda. Louça branca.
1810 – 1867 – João Augusto da Fonseca – Rua de João Cabreiro. Louça branca.
1820 – 1870 – Leonardo António Veiga – Rua de Simão de Évora. Louça branca.
1820 – 1887 – Virgílio Marão Pessoa – Terreiro de Santo António. Louça branca.
1835 – 1887 – António Gonçalves de Campos – Rua da Moeda. Louça vermelha.
1840 – 1867 – Adriano Augusto Pessoa – Terreiro de Santo António. Louça vermelha.
1845 – 1903 – Adelino da Cunha Moura – Rua Direita. Louça vermelha.
1863 – 1875 – João António da Cunha – Largo das Olarias. Louça vermelha.
1890 – Adriano Augusto Pessoa – Rua da Moeda. Louça vermelha.
1898 – Cardoso de Ladeiro – Rua de João Cabreiro. Louça vermelha.
1899 – Serrano da Fonseca – Estrada da Beira. Louça Vermelha.”

Concluímos assim não haver qualquer informação, neste livro tão importante, que refira, identifique ou indicie qualquer actividade de José dos Reis, em Coimbra com uma fábrica de louça.


Na verdade até hoje só conseguimos identificar a fabricação de José dos Reis (dos Santos) em Alcobaça e no período entre 1875 e 1897 – (ano do seu falecimento).

Fontes:

1) - “Cerâmica Portuguesa”, de José Queiroz, Depósito: Livraria Coelho, 1ª Edição, Lisboa, 1907;