SINGELA
SALADEIRA COM MOTIVO VEGETALISTA DA FÁBRICA DO OUTEIRO DE ÁGUEDA
1. A nossa peça:
Apresentamos uma simples mas
interessante saladeira, com uma decoração vegetalista policromática no covo da
mesma, completada por um filete fino a separar o covo da aba e na bordadura
desta dois filetes, um fino, interior, na cor negra e outro, largo, exterior na
cor verde-escuro.
A composição da decoração é constituída
por dois ramos entrelaçados, com folhas verdes e frutos ou flores vermelhas
.
Na aba verificam-se as falhas de vidrado
devido às trempes utilizadas na cozedura.
Trata-se de uma peça rodada, de pasta
clara, que permitiu uma boa moldagem e que possui um vidrado homogéneo e
uniforme de especto leitoso.
Peça utilitária, de uso doméstico
corrente, muito simples, de traço despretensioso, contrastando com a faiança
decorativo, muito elaborada em termos de decoração, com exuberante policromia,
com uma palete de cores variada e de tons suaves
No tardoz possui o carimbo na cor negro,
com disposição em semi-círculo “OUTEIRO ÁGUEDA”.
Trata-se pois de uma peça produzida na
Fábrica de Louças do Outeiro, em Águeda, unidade fundada por António de Souza
Carneiro, em 1923; uma das várias fábricas instaladas nesta localidade.
2.
Um pouco de história e enquadramento:
Outras fábricas que existiram, que se
dedicaram à produção de louça utilitária de uso doméstico, mas também de
decoração foram:
- Cerâmica Progredior,
fundada em 1913;
- Fábrica de Fernando
Ribeiro Guerra, fundada em 1913;
- Guerra & Cruz, Lda., fundada
em 1916;
- Fábrica de Arcanjo de
Figueiredo, fundada em 1922;
- Simões & Antunes,
Lda., fundada em 1924;
Foram fábricas de reduzida dimensão, com
consumo de âmbito regional, restrito, provavelmente com louça não marcada e por
conseguinte não há peças que se consigam identificar pelas mesmas fábricas.
Foi, sem dúvida, a fábrica fundada por
António de Souza Carneiro, em 1923, a mais importante do Outeiro, a qual com a
sua produção, com um consumo e utilização quase a nível nacional; com peças
decorativas de elevada qualidade, todas devidamente marcadas, que continuam a chegar
aos tempos actuais.
O valor artístico das peças produzidas
na Fábrica do Outeiro deveu-se ao recrutamento de alguns pintores da Fábrica de
Vista Alegre e de outros da Empresa de Louça e Azulejo, Lda., de Aveiro.
De entre eles há a salientar nomes como:
Licínio Cunha (?) ou Licínio Pinto da Silva (?) e Francisco Luís Pereira, mais
tarde continuados por A. Pereira (década de 60), Ribeiro ou João Breda, ou
Mandé (?), C. Pinto, M.R., A.S.
Cremos, sem confirmação que esta fábrica
encerrou na década de 60 do século passado, tendo surgido outras mais
recentemente que aproveitaram o nome e fama comercial “OUTEIRO - ÁGUEDA”.
3.
Decoração, motivos:
Há que distinguir as peças de uso comum,
utilitárias, para uso doméstico e as peças para decoração.
Enquanto as mesmas possuem decorações
simples, de fácil execução, policromáticas de cores suaves, as peças
decorativas são soberbamente elaboradas, com decorações trabalhosas e com um
requinte na pintura policromática.
Em termos de decoração, as peças
decorativas produzidas nesta Fábrica, os
motivos mais frequentes eram o galo, o pavão, rabieira (ave: pêga-rabuda, com
uma cauda longa como o cuco ou o estorninho), o pagode chinês, a ala especial
(asa), o botaréu (arcobocante ou contraforte de reforço de um arco ou uma abóbada ogival), a ágata (quartzo de cores vivas e com desenvolvimentos espectaculares); bem como motivos do século XVI, motivos vegetalistas, florais e aves exóticas.
As peças utilitárias e de uso doméstico
são geralmente em fundo branco e policromia em cores suaves; as peças
decorativas, muito procuradas, são habitualmente em fundo preto, que lhe dá uma
singular beleza, com uma decoração aturada em cores fortes, que lhe dão uma
singular beleza.
Exemplos de peças utilitárias e de uso doméstico:
(Peça apresentada na Fonte 10) |
(Peça apresentada na Fonte 8) |
(Peça apresentada na Fonte 8) |
(Peça apresentada na Fonte 8) |
(Peça apresentada na Fonte 8) |
(Peça apresentada na Fonte 8) |
(Peça apresentada na Fonte 8) |
(Peça apresentada na Fonte 8) |
(Peça apresentada na Fonte 8) |
(Peça apresentada na Fonte 9) |
(Peça apresentada na Fonte 9) |
(Peça apresentada na Fonte 12) |
Exemplos de peças decorativas:
(Peça apresentada na Fonte 14) |
(Peça apresentada na Fonte 14) |
(Peça apresentada na Fonte 7) |
(Peça apresentada na Fonte 7) |
(Peça apresentada na Fonte 7) |
(Peça apresentada na Fonte 8) |
(Peça apresentada na Fonte 1) |
(Peça apresentada na Fonte 1) |
(Peça apresentada na Fonte 1) |
(Peça apresentada na Fonte 1) |
(Peça apresentada na Fonte 1) |
(Peça apresentada na Fonte 1) |
(Peça apresentada na Fonte 1) |
(Peça apresentada na Fonte 1) |
(Peça apresentada na Fonte 4) |
(Peça apresentada na Fonte 1) |
(Peça apresentada na Fonte 1) |
(Peça apresentada na Fonte 5) |
(Peça apresentada na Fonte5) |
4.
Marca e carimbos:
Em termos de marcação das peças, as
peças decorativas possuem marcas manuais, com indicação do nome ou iniciais do
pintor; as peças utilitárias de uso comum possuem um carimbo, a cor negra, em
forma de semi-circulo “OUTEIRO – AGUEDA” e mais recentemente com um carimbo
“estrelado”, com a indicação “OUTEIRO”.
Exemplos de marcas manuais:
Exemplos de marcas manuais:
(Marca manual - fonte 7) |
(Marca manual - fonte 14) |
(Marca manual - fonte 9) |
(Marca manual - fonte 9) |
(Marca manual - fonte 9) |
(Marca manual - fonte 12) |
(Marca manual - fonte 12) |
Carimbo mais comum, em forma de semi-circulo “OUTEIRO – AGUEDA”:
(O carimbo da nossa peça) |
Carimbo “estrelado”, com a indicação “OUTEIRO”:
(O Carimbo mais recente da Fábrica do Outeiro) |
5.
Azulejaria:
Outras das vertentes, diga-se deveras
importante, foi a produção de painéis de azulejo, azulejaria decorativa,
predominante de painéis alegóricos a santos, com particularidade ao Santo
António, Nossa Senhora de Fátima, S. Gonçalo de Amarante, S. José, S. Manuel,
entre outros, para além de painéis com quadras e painéis identificadores de
casas, quintas e solares e até unidades industriais.
Alguns exemplos de painéis de azulejo alusivos a santos (fonte 16):
Alguns exemplos de painéis de azulejo alusivos a santos (fonte 16):
Alguns exemplos de painéis de azulejo identificadores de lugares, de espaços, de edificações, com quadras (fonte 16):
Os artífices, decoradores e pintores que
mais painéis efectuaram foram Licínio Pinto da Silva e Francisco Luís Pereira
(década de 30); A.C. D’ Oliveira, António Ferreira, entre outros.
Trata-se de um valioso património
artístico espalhado pelo País, que enaltece a grandiosidade desta Fábrica do
Outeiro de Águeda.
FONTES:
3) – “Os
industriais de Cerâmica: Aveiro, 1882-1923, de Manuel Ferreira Rodrigues,
Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração, Aveiro, 1996.
Sou intensamente apaixonado pela louça mais simples, aquelas em que vemos nas pequemas imperfeições o testemunho humano gravado num objeto utilitário anônimo.
ResponderEliminarEm algumas das peças apresentadas, ouço os ecos na produção mais popular de tantas fábricas aqui no Brasil, mesmo que muitas delas tenham sido fundadas por italianos, e não portugueses.
Belíssima postagem! obrigado.
abraços
Caro Fábio Carvalho,
EliminarConcordo totalmente consigo, as peças simples e despretensiosas, de uso utilitário, valem pela sua singeleza e pelos ensinamentos que nos transmitem.
Obrigada pelo seu comentário,
Volte sempre,
Um abraço do tamanho do mar que nos separa.
Nota como incorreta a data em relação ao grande pintor A. Pereira da saudosa Fábrica do Outeiro. Década 50 .
ResponderEliminarDe entre eles há a salientar nomes como: Licínio Cunha (?) ou Licínio Pinto da Silva (?) e Francisco Luís Pereira, mais tarde continuados por A. Pereira (década de 50/ 60), Ribeiro ou João Breda, ou Mandé (?), C. Pinto, M.R., A.S. Obrigado pela discrição.
Cumprimentos
João Pereira
Gostaria de saber mais sobre está fábrica de louça e das suas assinaturas.
ResponderEliminarRecentemente recebi dois jarros em forma de porco e a assinatura manual acaba com M.M.
Fico a aguardar uma resposta abraços