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domingo, 4 de setembro de 2016

A Tigela “Falante” da VESTAL para o Caldo Verde

A Fábrica de Faianças Artísticas Vestal, inicialmente, VISTAL, produziu intensa e variada faiança, tal como todos sabemos, com uma decoração peculiar e que marcou a sua marca e o seu fabrico: as três flores, a amarela, a rosa avermelhada e a roxa, adornadas com pétalas em verde ervilha, gavinhas em azul-cobalto e apontamentos em vermelho sangue-de-boi, sempre sobre o fundo azul claro e as restantes decorações e filetes em azul-escuro, o dito azul-cobalto.

(Fig. 1 - A Tigela da VESTAL)

Uma curiosa tigela, com soberba decoração, para uma pretensa peça de uso doméstico, quotidiano: uma tigela para comer o caldo verde.

(Fig. 2 - O motivo "FALANTE" na peça)

Possui no interior uma deslumbrante decoração, começando pelo filete da bordadura, em azul muito escuro; segue-se a decoração do dorso interior, côncavo, da tigela com uma continuada decoração floral, em cornucópias, monocromática azul; segue-se uma interessante frase ao gosto popular: “Tijela de caldo verdinho, oh! que rico petisquinho”, e no fundo a habitual decoração policromática com as três rosas (?), a amarela, a vermelha e a roxa, com as folhas a verde alface, e as pintinhas vermelhas.

(Fig. 3 - A decoração exterior)

 No extra-dorso, a pós o filete de bordadura e sobre o fundo em azul claro, mais dois arranjos vegetalistas, sensivelmente simétricas, com as habituais três “rosas” e o prolongamento floral, tudo monocromático, em tons de azul, rematando na base, com um filete amarelo e depois um outro, mais largo, na cor azul-cobalto.

Fig. 4 - O fundo da tigela: frete e marca manual)

 No fundo da base, a marca manualmente colocada: “VESTAL”, “ALCOBAÇA”, “PORTUGAL” e “158” – o número de catálogo da peça.

(Fig. 5 - A marca manual VESTAL)

Resumindo, uma peça interessante, com pretenso uso doméstico, corrente, uma tigela para a sopa, quer seja caldo verde ou outra, com uma soberba decoração interior e exterior, e com uma frase a evidenciar o seu eventual uso, tornando-a assim uma faiança falante, não muito habitual neste tipo de faianças, a não ser os pratos de parede ou expor, com quadras.

(Fig. 6 - A interessante decoração interior da tigela)

Crê-se ser uma peça fabricada na década de 50 ou 60 do século passado.


FONTES:

1) - “Cerâmica de Alcobaça, Duas Gerações”, edição do Museu de Alcobaça, 1992, texto de Jorge A. F. Ferreira Sampaio e Raul J. Silveira da Bernarda.

2) – “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente”; exposição de 6 Abril a 4 de Maio 2011 – Catálogo da exposição, coordenador: Luís Afonso Peres Pereira.

3) – “História da Industria na Região de Leiria – Cerâmica”, Edição Jornal de Leiria, revista integrante da edição n.º 1558, do Jornal de Leiria, em 22.05.2014.


domingo, 13 de dezembro de 2015

O PRATO DO MENINO – FAIANÇA FALANTE – FÁBRICA DE CERÂMICA LUSITÂNIA DE COIMBRA



(Prato Falante da Fábrica de Cerâmica Lusitânia de Coimbra)

A propósito da faiança falante:

A faiança falante constitui uma interessante variante da faiança, com particular e especial interesse, em função dos “ditos” ou “dizeres”, ou do modo como foi escrita, à época, ou como se pronunciava, constituindo sempre uma cativante atenção.

Os “dizeres” são simples, ingénuos, cativantes, ao gosto popular ou da oralidade (pronuncia), por vezes até invulgares, mas sempre interessantes.

Esta faiança falante remonta já a épocas bastante antigas de fabricação, provavelmente a meados do século XVIII, e quase todas as fábricas de faianças recorreram à sua produção, em especial as de Coimbra.

Tal facto deve-se, provavelmente, ao gosto que as pessoas tinham por este tipo de faiança, a qual marcava o “tempo”, as “acções” e as “graças” ou os “desejos” e os “votos”, projectando as mesmas para a sua longevidade, pois havia todo o empenho e dedicação em as preservar:

Quem não queria guardar e prolongar a exibição do seu prato, como:

“Vivam os noivos”;

(Recolha da Fonte 3)

(Recolha da Fonte 3)

(Recolha da Fonte 11)

“Parabéns aos Noivos”,

(Recolha da Fonte 4)

“Amor”; 
 “Amizade”,

(Recolha da Fonte 2)
"Amo-te muito",

(Recolha da Fonte 11)

           “Sou Teu”,
“O prato de Menino”,
“O prato da Menina”

ou pela sua “graça” :

“Esta vida ção dois dias”;
“Não tentes fugir-me”,
"Ilusões de criança",

(Recolha da Fonte 5)

“Não chores que também vais”,
“Num xe xabe”;

(Recolha da Fonte 2)

“Toma lá Pinhões”,
“Menina vamos o Vira”,

(Recolha da Fonte 3)

“Boa Viagem não caias”,

(Recolha da Fonte 3)

“Já cá canta pois comi é”,

(Recolha da Fonte 3)

“És má”,

(Recolha da Fonte 4)

“O Caracol é Vadio”,

(Recolha da Fonte 3)
"Gostas de mim ?"

(Recolha da Fonte 11)

“Talvez te escreva”;
"Está quieto Lulu que é vergonha ficar nu"


(Recolha da Fonte 3)

"O amor é uma cabana"
 

(Recolha da Fonte 3)
“Tu tens cara de sonsinho mas para cá vens de carrinho”


(Recolha da Fonte 3)


ou mesmo circunstanciais:

“A beira do Oceano”
 

(Recolha da Fonte 3)
Uma frase recorrente, pelo menos nas faianças mais recentes, produzidas durante os meados e até final do século XX era “O prato do Menino” ou o “Prato da Menina”, geralmente oferecido pelos padrinhos do menino ou da menina, e que os pais preservavam; ou mesmo adquiridos pelos pais e por vezes pelos avós.


(Prato com frase: O prato de Menino)
Apresentamos agora “O prato do Menino”, de fabrico da Fábrica de Cerâmica Lusitânia, de Coimbra.


(Faiança falante da Fábrica de Cerâmica Lusitânia de Coimbra)

Trata-se de um prato simples, em tons de amarelo com a frase a azul na aba do prato “O prato do Menino”, com uma estampa policroma no covo do prato e outras três, pequenas e diferentes na aba do prato.


(Pormenor da estampa policroma do covo do prato)


(Pormenor de uma das estampas policromadas da aba do prato)


(Pormenor de uma das estampas policromadas
 da aba do prato)

(Pormenor de uma das estampas policromadas
 da aba do prato)

Denotam-se ainda dois filetes, dourados, um na bordadura da aba e outro no limite da aba para o covo.


(O tardoz do prato com o carimbo da FCLC)

No tardoz a marca da Fábrica e do provável período de fabrico - início dos anos 40 do século passado.
 

(A marca da Fábrica de Cerâmica Lusitânia de Coimbra - 3º Período)


A propósito da Fábrica de Cerâmica Lusitânia de Coimbra:

No final da década de 20 do século XX, em Coimbra, a fábrica de cerâmica “Fábrica da Estação Velha” estava em falência, e foi adquirida pela Companhia da Fábrica de Cerâmica Lusitânia, S.A.R.L, de Lisboa e passou a chamar-se Fábrica de Cerâmica Lusitânia de Coimbra.

Dedicava-se ao fabrico de louças sanitárias, azulejos, mosaicos, mas também louça em faiança.

Tal como as demais teve o final inevitável na década de 70 do século passado.


A propósito das marcas da Fábrica de Cerâmica Lusitânia de Coimbra:

Conhecem-se marcas desta fábrica pintadas à mão e marcas impressas com carimbo.

As peças com marcas pintadas à mão são escassas e reportam-se essencialmente a peças decorativas e de ornamentação, produzidas no início da década de 30 do século XX.

Nas peças com marcas impressas conhecem-se três carimbos, do período entre 1929/30, até meados dos anos 40.


(Marca CFCL.1 - Fonte 7)


(Marca CFCL.2 - Fonte 7)


(Marca CFCL.3 - Fonte 7)

Crê-se que a primeira marca tenha sido usada nos anos iniciais da década de 30, a segunda entre os anos 30 e 36 (quando adquiriu a Fábrica de Massarelos e deu outro impulso comercial e publicitário à Companhia) e a terceira, eventualmente a partir do ano de 1940 (quando um dos edifícios da fabrica sofreu um incêndio) e até meados dos anos 40 (1945).


(Marca LUFAPO - LUSITANIA-PORTUGAL - Fonte 7)
Aqui reside a dúvida se esta terceira marca se prolongou para além do ano de 45, ou se foi utilizada a marca comum a todas as fábricas desta Companhia: LUFAPO – LUSITANIA - PORTUGAL.


Fontes:

1) - "Louça Tradicional de Coimbra 1869-1965", de António Pacheco; Direcção-Geral do Património Cultural; Coimbra,


3) – http://olx.pt;










sábado, 12 de setembro de 2015

AMOR – Prato Covo em Faiança “Falante”

AMOR, carinho e saudações o que desejamos e transmitimos a todos, após este interregno de postagens.


A vida, as suas vicissitudes, os acontecimentos condicionam-nos e por vezes interrompemos os nossos hobbies, mas logo que possível retomamos os mesmos.


É o que acontece com esta nova postagem, e é com AMOR que nos dirigimos a todos os amantes das faianças, aos visitantes do blogue, aos nossos amigos.


Recomeçamos com um interessante prato em Faiança, decorada em policromia, com cores alegres, com uma interessante cercadura ornamental com decoração geométrica, estampilhada (com aplicação de chapa recortada para pintura), na aba, na cor azul celeste e com uma vistosa decoração no covo.


Uma minhota, talvez de Viana, com o seu traje característico: uma saia rodada, larga na base, rosa pálido, com um debrum na cor preto. Sobre a mesma um avental amarelo, com listas verticais pretas e na base do mesmo, bordada a palavra AMOR. Uma camisa bufada, na cor azul, com punhos apertados e peitoril ou colete amarelo, com decoração no coz a verde, com atilho e pendente. A gola é preta. Completa um lenço verde na cabeça e uns tamancos pretos.


Com enquadramento de base duas palmas na cor verde-escuro.


Prato em Faiança com vidrado leitoso, deixando perceber no tardoz a cor da pasta, que é cor de grão, bem como as imperfeições do vidrado e os vincos das trempes, quando foi cozer e possuindo um único frete, na bordadura da base.



A beleza e a simpatia pelo prato e o AMOR ao mesmo, levou que os seus antigos proprietários o tenham tratado com todo o carinho e tenha sido um preto decorativo, de pendurar, com uma “aranha” muito pouco vulgar, mas interessante, a qual preservamos e mostramos


Para além disso o motivo da decoração do covo indicia uma figura minhota, o que corrobora a nossa opinião de ser um prato de fabrico do Norte.


Trata-se, cremos de um prato dos finais do século XIX ou princípio do século XX.

Fabrico de Aveiro, não é de certeza, pois os motivos, as cercaduras eram diferentes; as cores mais esbatidas e no tardoz, possuíam, geralmente, dois fretes.


Por outro lado, cremos que as cercaduras ornamentais de Coimbra eram mais elaboradas, mais trabalhadas, com figuras geométricas com simetrias (visão de caleidoscópio), e daí pensarmos ser fabrico do Norte.


Quer seja do Norte, ou eventualmente de Coimbra, é com muito AMOR que o apresentamos.



FONTES:

1) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.


2) - “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.