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domingo, 27 de dezembro de 2015

Bule da Fábrica de Louça de Sacavém, Formato Porto, decoração “Bolinhas Azuis”


A Fábrica de Louça de Sacavém foi uma fonte quase inesgotável de peças, com formatos, motivos e decorações, que foi fabricando ao longo dos muitos anos que laborou.

Com paciência, perseverança, de forma metódica e com uma sorte vamos conseguindo arranjar uma ou outra peça, diferente, fora dos padrões habituais, pouco corrente e assim vai aumentando a nossa colecção de peças da F.L.S.

É sempre com renovado prazer que percorremos feiras de antiguidades e de velharias, vamos a leilões, pesquisamos em ajuntadores ou visitamos antiquários, com o desejo de mais uma peça da F.L.S., para a nossa colecção, com motivo, decoração ou formato que não tenhamos. Para além do novo meio de pesquisa, em casa, que é a Internet.

(Bule em faiança da Fábrica de Louça de Sacavém)
Por outro lado, em dias ou épocas especiais, e quando a tradição leva as pessoas a dar uma “prendinha”, a família ou os amigos mais chegados e conhecedores do nosso vício, mimam-nos com mais uma peça de faiança para a nossa colecção.

 Foi o que aconteceu neste Natal, com a minha “velhinha” mãe a presentear-me com uma interessante peça da Fábrica de Louça de Sacavém: Um bule, moldado, com o formato Porto, com decoração “Bolinhas Azuis”, cujo motivo desconhecemos, mas em excepcional estado de conservação, sem a mínima beliscadura;

(O bule visto de cima e a simetria das bolinhas azuis da tampa)
Em termos formais, a presente peça de faiança moldada, possui uma forma globular/cónica, denominada formato “PORTO”, com uma pega lateral em forma de “C” e bico levemente contra-curvado, com rebordo superior circular para encaixe da tampa, cilíndrica, com uma bordadura saliente de encaixe e uma pega cilíndrica, central.

(O bule visto de cima - o bico, a tampa e a asa e a sua filetagem)

No que se refere à decoração, trata-se de uma decoração, simples e interessante, monocroma, azul, cremos estampilhada e manual, constituída por “Bolinhas Azuis” (estampilhadas por aerógrafo – pelo menos a degradação da cor nalgumas pintas a tal nos faz crer) e de filetagem, azul, sobre o vidrado, efectuada manualmente – cremos.

(A beleza do bule, com a tampa aberta, o orifício de respiração)

A decoração apresentada é a seguinte: a tampa do bule possui dois filetes monocromos azuis, entre os quais de desenvolvem oito bolinhas azuis, geometricamente posicionadas. A pega possui simplesmente um filete azul.

(A beleza do bule, visto de perfil)

O bojo do bule possui oito bolinhas de cada lado, entre a asa e o bico, formando cada quatro um losango; na base do bule, um filete azul, entre o bojo e a boca dois filetes, terminando a boca com outro filete azul.

(As bolinhas azuis do bule, dispostas em losango)

A asa possui uma filetagem manual e superiormente três “arranques” de filetes. O bico, de cada um dos lados possui um filete efectuado manualmente e sobre a boca do bico outros três” arranques de filete.

(A filetagem do bico)

(A filetagem da asa)

Cremos tratar-se de peça fabricada na década de 40 ou 50 do século passado, mas com uso ainda regular, nos chás das senhoras, no início da década de 60.

(A base ou o fundo do bule, com os carimbos e marcas)

O carimbo aposto na base do bule é estampada, na cor verde e correspondente ao período de Gilman & Cta. Ou seja o mais longo dos vários períodos de fabricação desta fábrica (1902 – 1970). Por baixo da marca a palavra PORTUGAL e as referências alfanuméricas “L” e “1290”, para além de um “hieroglífico” não identificável. No bordo da base vislumbra-se ainda uma marca, de três triângulos disposta em trevo, cuja interpretação não conseguimos fazer.

(O covo do fundo do bule com os carimbos e a marca)

(O carimbo e as demais referencias alfanuméricas)

(A marca do período de Gilman & Cta. - 1902-1970)

( A marca na pasta - três triângulos - ?)

Através da bibliografia disponível e da consulta on-line, as fontes 1) e 2) são as que mais informações nos dão em relação a estas peças: Bules da Fábrica de Louça de Sacavém.

Especificamente a fonte 2) indica-nos que: “O formato Porto encontra-se referenciado nas tabelas de preços publicadas entre 1932 e 1950, mas a sua produção iniciara-se já, certamente, antes da primeira data e continuou também certamente depois de 1950.

E acrescenta, que: “De acordo com a tabela de Setembro de 1949, este formato fabricava-se em quatro tamanhos  – 8, 10, 18 e 25 decilitros”.

O que apresentamos, corresponde ao tamanho de 25 decilitros.

Mais indica, e com bastante interesse, que: “Ainda segundo a mesma tabela, este formato produzia-se em branco e nas classes A (colorido sem ouro), B (colorido sem ouro) e C (colorido com ouro), com os seguintes preços  – 36$00, 40$00, 45$00 e 55$00, para o tamanho maior, e 13$50, 15$00, 16$50 e 20$00, para o tamanho mais pequeno. Embora tal não se encontre especificado, a diferença de custo entre as classes A e B dever-se-ia, provavelmente, a uma maior ou menor intervenção manual na decoração.

Na tabela de Janeiro de 1932 este modelo surgia nas quatro medidas, mas apenas em três classes  – branco, colorido sem ouro e colorido com ouro, com os seguintes preços  – 12$50, 16$50 e 18$50, para o tamanho maior, e 4$50, 6$00 e 7$50, para o menor.

Já na tabela de 1938 este modelo só se apresentava em duas classes  – I (colorido sem ouro) e II (colorido com ouro), comercializando-se apenas nos três tamanhos mais pequenos, com os seguintes preços  – 16$90,11$90 e 7$50, para a classe I, e 21$90, 13$10 e 9$30, para a classe II. Na classe I o serviço de 19 peças estava tabelado a 77$50 e na classe II a 93$50. Nesse ano, para este formato, ofereciam-se serviços de 19, 16, 10 e 9 peças.

Como já verificámos a produção de bules pela Fábrica de Loiça de Sacavém, desenvolveu-se sempre ao longo da sua produção, acompanhando a evolução dos formatos e das decorações.

As decorações com motivos geométricos, quer simples, compostas ou estilizadas, com recurso a filetagem, pode ser encontrada com maior incidência na produção das décadas de 30, 40, 50 e mesmo 60, do século passado, da Fábrica de Loiça de Sacavém, com o recurso a diversas técnicas de decoração (pintura manual, estampilhas, decalques, estampas e aerógrafo).

(O nosso bule)

Ainda me recordo no início da década de 60, do século passado, quando havia o chá, com “certas” pessoas, com quem se fazia “cerimónia”, a minha avó ou mesmo a minha mãe iam buscar o serviço de chá “das bolinhas” azuis”, para presentear as visitas com um chá.

Certamente alguns de vós se recordarão desta faiança de Sacavém, infelizmente desaparecida, e que raramente aparece nas feiras de velharias, pois o seu uso intenso, o desgaste pelo tempo e pelas “modernices” veio provocar a sua deterioração e o arremesso para o lixo.

(A beleza do bule)

Coleccionar faianças é conservar com compaixão o seu passado, para que no futuro sejam conhecidas, estudadas e que fique a memória das mesmas, das fábricas que as produziram e dos artífices e operários que durante décadas e séculos trabalharam para as produzir. 

Para que a memória das Artes Decorativas de Portugal perdure.

Mais um pequeno e simples contributo da nossa parte!


Fontes:







7) -  “150 Anos – 150 Peças – Fábrica de Loiça de Sacavém” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Março de 2006;

8) – “Fábrica de Louça de Sacavém – Contribuição para o estudo da indústria cerâmica em Portugal 1856-1974” de Ana Paula Assunção, Colecção História da Arte – Edições INAPA – 1997;

9) – “Porta aberta às memórias” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2008;

10) - “Porta aberta às memórias” – 2ª edição, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2009;

11) – “Primeiras peças da produção da Fábrica de Loiça de Sacavém: O Papel do Coleccionador”, de Ana Paula Assunção, Carlos Pereira e Eugénia Correia, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – 2003;

12) – “História da Fábrica de Loiça de Sacavém”, de Ana Paula Assunção e Jorge Vasconcelos Aniceto, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Julho de 2000;

13) – “Roteiro das Reservas”, de Ana Paula Assunção, Carlos Pereira e Joana Pinto, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – 2000 (?);

14) –“Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987;


domingo, 28 de dezembro de 2014

Bule de chá, modernista, da Fábrica de Loiça de Sacavém, com recuperação kirsch

Há peças de loiça utilitária, em faiança, de valor decorativo menor, mas que por diversas razões ou motivos nos cativam também.


Tal é o caso de um Bule, de faiança moldada, sem qualquer decoração, na cor verde seco, de forma globular/cónica, formato “PORTO”, com uma pega lateral em forma de “C” e bico levemente contra-curvado, com rebordo superior circular para encaixe da tampa, mas sem a mesma.


No fundo da base possui a marca estampada a preto, da Fábrica de Loiça de Sacavém correspondente ao período de fabrico de 1902-1970, isto é, da administração Gilman & Cta., com as indicações “SACAVÉM” e “PORTUGAL” e um símbolo ou marca figurativa, igualmente estampado a preto, um trevo de três folhas, para além de uma gravação na massa “C”.
 
 Presumimos que seja dos anos 50/60 do século passado.



A recuperação kirsch deste bule foi a aplicação e utilização de uma tampa metálica, de perfeito encaixe no rebordo do mesmo. Tampa pesada, com pega circular central e com um padrão alegórico de decoração vegetalista, em baixo relevo, na coroa circular da mesma e entre dois espinhados, um junto ao bordo e outro junto à pega, com traça da Média Ásia ou mesmo Oriental.


Foi, sem dúvida, que esta recuperação kirsch de um bule em faiança da Fábrica de Louça de Sacavém que nos encantou.


Não está em causa o valor da peça, quer em termos de decoração ou de coleccionismo, mas o facto de até onde chega a imaginação para a recuperação de uma peça utilitária em faiança e o sentido de comercialização da mesma!



FONTES:

1) – “150 Anos – 150 Peças – Fábrica de Loiça de Sacavém” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Março de 2006;


2) - “Dicionário de marcas de Faiança” de Filomena Simas e Sónia Isidro – Edição Estar Editora - Lisboa – 1996;