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sexta-feira, 4 de março de 2016

PRATÃO EM FAIANÇA, EM POLICROMIA, DECORAÇÃO VEGETALISTA COM CONTAS


Os pratos grandes em faiança, por vezes denominados palanganas, devido às suas dimensões, são, geralmente um encanto.


A Cor e interessante decoração ao gosto do Artista
Exemplo disso é o que apresentamos.

Pratão de covo acentuado, com aba estreita com interessante decoração policromática.


Pormenor da decoração da aba
Na bordadura da aba um filete em manganés, um outro, mais largo, na cor ocre, a meio da aba e depois, na mesma, uma decoração policromática com motivo vegetalista, na cor verde, uma flor central, na cor azul, inserido em reserva de contas vermelhas; motivo que se repete onze vezes.


Pormenor do covo do pratão e a sua decoração policromática
No fundo e a delimitar o mesmo um outro filete igualmente na cor manganés; no centro do mesmo dois filetes pouco espaçados, na mesma cor.

A meio, entre estes e o outro filete no limite do fundo, um outro filete, mais largo, na cor ocre, que serve de alinhamento para outras cinco decorações policromáticas, iguais às da aba.


Pormenor das marcas da trempe, aquando do vidrado da peça
Sem dúvida, uma decoração ingénua, mas trabalhosa, que dá cor e “alma” a um pratão desta dimensão.

No fundo e sobre os dois filetes centrais as marcas da trempe quando o prato foi vidrar, o qual, por motivos vamos lá saber porquê, ficou empenado, o que ainda lhe confere agora, mais beleza.


O tardoz do prato
Pelo tardoz, apreciamos um único frete, no limite do fundo do prato, uma pasta amarelada, cor de grão, um vidrado imperfeito, poroso também na cor de grão, as marcas da trempe quando o mesmo foi a vidrar… enfim um pouco da leitura que se faz deste pratão, mas cuja história não conseguimos escrever….


Pormenor do frete, do vidrado e a cor da pasta
Fabrico de Coimbra, do Norte, de onde?


Pormenor da má qualidade do vidra no tardoz
Produzido no final do século XIX, no início do século XX?

Falhas de vidrado (Pormenor)
São estas incógnitas e dificuldades de caracterizar com rigor as peças de faiança, que ainda mais nos motivam a gostar delas e a apreciá-las cada vez mais.

 

Mais uma vez a peça, para se apreciar!

domingo, 24 de janeiro de 2016

Encantadora terrina sopeira em Faiança, Século XIX

(A Sopeira vista de cima)

Há peças de faiança, que são encantadoras, pese embora a sobriedade da sua decoração, a rugosidade da sua execução ou a imperfeição do seu vidrado!

(Pormenor da decoração estampilhada)

Tudo a propósito de uma pequena sopeira (terrina redonda) – peça rodada, com decoração monocromática, azul, efectuada manualmente e com aplicação de chapa (stencil) – elementos vegetalistas decorativos do bojo da mesma e na aba da tampa.

(Pormenor da decoração do bojo)

Na tampa filete de bordadura largo, secundado por mais estreito e depois um largo, em tom amarelo, sobre o qual foi aplicada a decoração vegetalista, em tons de azul. Finalmente outro filete, mais pequeno, no colo para a pega da tampa, central, elevada, circular e decorada simplesmente com um filete azul de bordadura.

(Pormenor das asas)

A partir da boca da sopeira e em direcção ao bojo, dois filetes largos, monocromáticos, na cor azul, logo a seguir, um outro, largo, amarelo, e sobre o mesmo aplicada a decoração vegetalista a stencil (chapa), seguem-se mais três filetes, dois azuis e entre os mesmos, um outro, largo, na cor amarelo.

(Vista de perfil - pormenor das asas)

Finalmente junto à base, mais dois filetes, no mesmo tom, de azul.

Duas pequenas asas, laterais colocadas junto à boca da sopeira, mais propriamente, junto ao rebaixo do rebordo para assentamento da tampa – um simples “cordel, liso, colado”, com uma pincelada de azul.

Trata-se de uma atraente peça, com rugosidade de fabrico, de uma pasta amarelada, cor de grão, com decoração imperfeita, com falhas de pintura, dedadas, esborratadelas, e com elevadas falhas de vidrado – “pontos negros”, o picado.

O frete da base é espesso e robusto – talvez o segredo destas peças durarem tanto tempo.
(Vista do interior da sopeira)

O craquelê é intenso e notório no interior e no exterior da peça, demonstrando a significativa diferença entre o coeficiente de dilatação do vidrado e da chacota.

(Pormenor do craquelê interior da sopeira)

Peça fabricada provavelmente na segunda metade do século XIX, certamente após 1854, dada a aplicação de decoração com chapa recortada, para efectuar os motivos vegetalistas da tampa e do bojo da sopeira (decoração estampilhada).

Fabrico?  

Inclinamos-nos para ser fabrico do Norte em detrimento de Coimbra.

(Pormenor da forma e decoração da tampa da sopeira)

As peças que com alguma segurança se atribuem como fabrico de Coimbra, possuem uma pasta mais espessa, são mais robustas e mais pesadas e possuem uma decoração policromática, com recurso às cores, azul, verde ervilha, cor-de-rosa, amarelos acastanhados, ou mesmo cor de laranja.

Por outro lado, as asas do fabrico de Coimbra são mais elaboradas da que as do Norte, que são mais simples.

(Fabrico do Norte (?))

No que se refere às pegas da tampa, as do Norte, são geralmente circulares, as de Coimbra são mais “pegas” ou “laços”, efectuadas com os mesmos “cordões” das asas.

Em suma, a geometria e configuração volumétrica desta sopeira é mais característica do Norte do que de Coimbra; a sua decoração, também, será ?

(Decoração do Norte (?))

Aqui fica certeza da sopeira em faiança repleta de incertezas, quanto à proveniência do seu fabrico e período de fabrico.



FONTES:

1) - “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

2) – “Cerâmica Portuense – Evolução Empresarial e Estruturas Edificadas”, Teresa Soeiro, Jorge Fernandes Lacerda, Silvestre Lacerda, Joaquim Oliveira, Edição Portugália, Nova série, volume XVI, 1995.


sábado, 12 de setembro de 2015

AMOR – Prato Covo em Faiança “Falante”

AMOR, carinho e saudações o que desejamos e transmitimos a todos, após este interregno de postagens.


A vida, as suas vicissitudes, os acontecimentos condicionam-nos e por vezes interrompemos os nossos hobbies, mas logo que possível retomamos os mesmos.


É o que acontece com esta nova postagem, e é com AMOR que nos dirigimos a todos os amantes das faianças, aos visitantes do blogue, aos nossos amigos.


Recomeçamos com um interessante prato em Faiança, decorada em policromia, com cores alegres, com uma interessante cercadura ornamental com decoração geométrica, estampilhada (com aplicação de chapa recortada para pintura), na aba, na cor azul celeste e com uma vistosa decoração no covo.


Uma minhota, talvez de Viana, com o seu traje característico: uma saia rodada, larga na base, rosa pálido, com um debrum na cor preto. Sobre a mesma um avental amarelo, com listas verticais pretas e na base do mesmo, bordada a palavra AMOR. Uma camisa bufada, na cor azul, com punhos apertados e peitoril ou colete amarelo, com decoração no coz a verde, com atilho e pendente. A gola é preta. Completa um lenço verde na cabeça e uns tamancos pretos.


Com enquadramento de base duas palmas na cor verde-escuro.


Prato em Faiança com vidrado leitoso, deixando perceber no tardoz a cor da pasta, que é cor de grão, bem como as imperfeições do vidrado e os vincos das trempes, quando foi cozer e possuindo um único frete, na bordadura da base.



A beleza e a simpatia pelo prato e o AMOR ao mesmo, levou que os seus antigos proprietários o tenham tratado com todo o carinho e tenha sido um preto decorativo, de pendurar, com uma “aranha” muito pouco vulgar, mas interessante, a qual preservamos e mostramos


Para além disso o motivo da decoração do covo indicia uma figura minhota, o que corrobora a nossa opinião de ser um prato de fabrico do Norte.


Trata-se, cremos de um prato dos finais do século XIX ou princípio do século XX.

Fabrico de Aveiro, não é de certeza, pois os motivos, as cercaduras eram diferentes; as cores mais esbatidas e no tardoz, possuíam, geralmente, dois fretes.


Por outro lado, cremos que as cercaduras ornamentais de Coimbra eram mais elaboradas, mais trabalhadas, com figuras geométricas com simetrias (visão de caleidoscópio), e daí pensarmos ser fabrico do Norte.


Quer seja do Norte, ou eventualmente de Coimbra, é com muito AMOR que o apresentamos.



FONTES:

1) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.


2) - “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

TRAVESSA EM FAIANÇA AZUL E BRANCA, MOTIVO “ROSELLE”, FABRICO DO NORTE? IMITAÇÃO DE MIRAGAIA?

As peças em faiança azul e branca, antigas, carcomidas pelo tempo, são um fascínio para todos nós, amantes desta arte decorativa.


E quando a sua decoração é exuberante, com motivo conhecido ou não e com fabrico desconhecido, por não ter qualquer marca ou identificação, colocam-nos a tentar desvendar o mesmo, pelo que ainda maior é o fascínio por essas peças.


Apresentamos hoje uma interessantíssima travessa, em Faiança Azul e Branca, muito antiga, já um pouco “cansada” pelos anos, mas com um motivo que conseguimos identificar “ROSELLE”.

Travessa em faiança portuguesa do final Século XIX, ou início do XX. Peça moldada, de formato oval, recortada, monocroma e vidrada. Apresenta decoração monocromada a azul e branco: paisagem de um casario (chalet) com arvoredo e o que se presume ser um lago, em decoração esponjada, estampilhada e a traço à mão livre a azul.

No limite da aba possui um filete grosso, em azul forte, feito à mão pelo artista, denotando-se a sua imperfeição e traço não firme, o qual é secundado, para o interior, por uma calota esponjada num azul mais claro.


Na continuação da decoração da aba em direcção ao covo da travessa há uma cercadura de cornucópias, que constituem um conjunto decorativo repetitivo e aplicado por estampilhagem – com recurso a uma chapa recortada, num tom forte de azul.

O covo da travessa encontra-se praticamente todo preenchido: à direita, em desenho livre, com partes estampilhadas e esponjadas, o chalet, de vários pisos, com cobertura triangular, de duas águas, de pendentes bastante inclinadas, com duas chaminés decorativas e um vasto arvoredo envolvente; ao centro uma vasta área esponjada que será, provavelmente a representação de um lago, com umas nuvens, altas, no horizonte; e à esquerda, um imponente arvoredo, com trancos e ramos estampilhados, em tom de azul forte e as ramagens esponjadas, algumas com recorte a pincel, em tons de azul mais forte.


Quer no covo da travessa, quer no seu tardoz, denotam-se as três falhas do vidrado devido à aplicação da trempe, quando a peça foi cozer o vidrado.


No tardoz denota-se um esmalte leitoso, por vezes irregular e onde se realça tonalidades azuis, que parecem ter trespassado da decoração da aba e do covo.

Trata-se de uma decoração desenvolvida em Portugal, como interpretação livre e popular, ao gosto do artista e inspirada no motivo inglês, padrão "Roselle", "que é composto por um romântico chalet e uma árvore, que ladeiam um lago, onde se avista ao longe um castelo. Roselle é o nome de uma localidade italiana no Sul de Florença, que era um ponto de escala do chamado Grand Tour", tal como refere o Luís Montalvão, no seu blogue  http://velhariasdoluis.blogspot.pt/; (8).
 
(Caneca inglesa com padrão "Roselle", fabrico da John Meir & Son, apresentada na fonte 8)
Igualmente na mesma fonte (8), é afirmado que: "Em Portugal, segundo aprendi com o mercador veneziano, O Roselle foi copiado pela Fábrica de Massarelos. Foi também adaptado de forma popular por um fabricante que  algumas leiloeiras identificam como Vilar de Mouros e outras por loiça de Coimbra.", o que em certa medida vem confirmar o padrão da nossa travessa.
 
(Travessa em faiança nacional com motivo inspirado no padrão inglês "Roselle", exibida na fonte 8)
O motivo inglês “Roselle” foi produzido pelo fabricante JOHN MEIR & SON, na segunda metade do século XIX, período durante o qual a faiança inglesa dominou o mercado europeu pelo que os seus motivos serviram de inspiração aos fabricantes de todo o continente, e como não podia deixar de ser, a Portugal, reforçada pela “aliança” existente.



Fábricas como Alcântara, Massarelos e outras do Norte, não identificadas, produziram faianças com este motivo. A Fábrica de Massarelos produziu muitas peças com este motivo, por estampagem, das quais várias estão reproduzidas na fonte (14).

Para melhor identificação do motivo apresentamos algumas imagens de peças inglesas, com este motivo “Roselle”.




Por outro lado, atribui-se com frequência o fabrico de faianças com este motivo a “Vilar de Mouros”, se for em tonalidades verdes e a “Coimbra” ou mesmo “Alcobaça”, se doutras tonalidades.

A nossa travessa não suscita dúvidas, será certamente fabrico de uma das fábricas do Norte, eventualmente próximo de Porto, mas que não conseguimos identificar.

Será uma imitação da decoração de “Miragaia” ? ou de “Santo António do Vale da Piedade” ?

A incógnita mantém-se, mas a peça em faiança Azul e Branca, vale por si só, mesmo sem se conhecer o seu fabrico.


FONTES:

1) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

2) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

3) – “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

4) – “Cerâmica Artística Portuense dos Séculos XVIII e XIX”, Vasco Valente, Livraria Fernando Machado – Porto,

5) – “Cerâmica Portuense – Evolução Empresarial e Estruturas Edificadas”, Teresa Soeiro, Jorge Fernandes Lacerda, Silvestre Lacerda, Joaquim Oliveira, Edição Portugália, Nova série, volume XVI, 1995.

6) – “Fábrica de Louça de Miragaia”, Museu Nacional Soares dos Reis, Edição IMC, Lisboa, 2008.





11) – “Fábrica de Massarelos - Porto, 1763 – 1936”, Coordenação de Mónica Baldaque, Teresa Pereira Viana e Margarida Rebelo Correia, edição do Museu Nacional Soares dos Reis, 1998.



14) – “A Fábrica de Louça de Massarelos – Contributos para a caracterização de uma unidade fabril pioneira”. Volume 1, dissertação de Mestrado em Estudos do Património, de Armando Octaviano Palma de Araújo, Universidade Aberta, Lisboa, 2012.