domingo, 29 de maio de 2016

Prato da Fábrica de Louças de Sacavém, Motivo 1207


A presente postagem reporta-se a mais um prato sopeiro de fabrico da Fábrica de Louças de Sacavém, com um motivo “1207”, do período “GILMANS & C.ª”, (1905-1973), com interessante decoração monocroma, a verde-seco, estampada na aba, com três motivos vegetalistas, repetitivos, que cremos serem brincos de princesa

(A peça que se está a apresentar)

No covo do prato possui igualmente uma decoração monocroma a verde-seco, de outro arranjo vegetalista, que presumimos tratar-se igualmente de um ramo de brincos de princesa.
 
(A decoração da aba do prato) 

(A decoração do covo do prato)
O tardoz do prato, com um único frete, exibe a habitual composição configuração das peças fabricadas durante o período citado

(O tardoz do prato)

Presume-se que seja fabrico da década 30 ou 40 do século passado e possui no tardoz o carimbo, na cor verde-seco, correspondente ao período citado e identificação do motivo “1207” superiormente ao carimbo; com marcas na pasta alfanuméricas: “FF” e uma estrela, sob a mesma.

(O carimbo e o registo do modelo do prato)


(Para além do carimbo, do registo do motivo, as marcas alfanuméricas na pasta FF e a "estrelinha")

FONTES:

1) – “Fábrica de Louça de Sacavém – Contribuição para o estudo da indústria cerâmica em Portugal 1856-1974” de Ana Paula Assunção, Coleção História da Arte – Edições INAPA – 1997;

2) – “150 Anos – 150 Peças – Fábrica de Loiça de Sacavém” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Março de 2006;

3) – “Porta aberta às memórias” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2008;

4) - “Porta aberta às memórias” – 2ª edição, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2009;




8) – http://velhariastralhasetraquitanas.blogspot.pt

quinta-feira, 26 de maio de 2016

PRATO DE COZINHA, FABRICO DE COIMBRA?

PRATO DE COZINHA, FABRICO DE COIMBRA?

As peças em faiança com textura, de acabamento imperfeito e com decoração simples, aplicada com chapa ou cartão, dita estampilhada, quando de generosas dimensões são deveras interessantes.


E lá temos os pratos de cozinha ou as ditas palanganas - para além de muitas mais designações (fonte 7).

Hoje apresentamos um interessante prato de cozinha, com decoração vegetalista, policromada aplicada por estampilhagem, com retoques e complementos efectuados à mão pelo decorador.


A decoração da aba do prato possui um largo filete na bordadura na cor vermelho, dito “sangue-de-boi” e na transição da aba para o covo possui outro filete, igualmente largo, mas na cor amarelo-ocre, entre ambas uma decoração vegetalista, estampilhada, repetida dez vezes, na cor negra, com bolbos na cor verde-escuro, efectuados à mão, com o pincel do decorador.


A circundar a base do covo um outro filete num vermelho mais vivo e como preenchimento do círculo do covo um interessante arranjo floral, estampilhado, na cor verde-seco, com flores, flores e gavinhas. Completo esse arranjo os bolbos e algumas rosáceas, decoradas manualmente pelo pincel do artista, com círculos preenchidos em amarelo forte e outros, vazados, em vermelho escuro, tal como elementos raiados.

O gosto, a arte e empenho singelo, despretensioso do artista está aqui evidenciado.

Como são interessantes, estas simples peças em faiança, utilitárias, de uso doméstico, que com o passar dos anos passaram a peças decorativas, com valor sentimental, e que agora tanto as apreciamos e desejamos ter, coleccionando-as.


Estas peças em faiança, resistentes, anonimamente apresentadas, sem qualquer marca ou carimbo da sua origem de fabrico ou época - outra coisa não seria de esperar, pois não era dado valor a uma peça quotidiana, de uso continuado – criam-nos dúvidas e pomo-nos a adivinhar a sua origem, a sua época de fabrico comparando-as com outras e procurando bibliografia que nos passa ajudar a caracteriza-la.

É este desafio que nos agarra mais ainda às faianças.


Em relação a esta peça cremos ter como origem de fabrico a região de Coimbra, pelo tipo da massa (pasta) utilizada, sua cor amarelada; pela decoração e cores aplicadas e pela singeleza do vidrado e da sua cor leitosa.

Provavelmente das primeiras décadas do século XX – será?, não temos certeza, mas cremos que seja.


A apresentação do prato de cozinha, aqui fica, para que todos apreciem.


FONTES:

1) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

2) - “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

3) – “Estudo Decorativo, Morfológico e Tecnológico da Faiança de Coimbra”, de Filipa Antunes Formigo, Dissertação de Mestrado, do Instituto Politécnico de Tomar, Tomar, Setembro, 2014.






segunda-feira, 23 de maio de 2016

SINGELA SALADEIRA COM MOTIVO VEGETALISTA DA FÁBRICA DO OUTEIRO DE ÁGUEDA

SINGELA SALADEIRA COM MOTIVO VEGETALISTA DA FÁBRICA DO OUTEIRO DE ÁGUEDA


1. A nossa peça:

Apresentamos uma simples mas interessante saladeira, com uma decoração vegetalista policromática no covo da mesma, completada por um filete fino a separar o covo da aba e na bordadura desta dois filetes, um fino, interior, na cor negra e outro, largo, exterior na cor verde-escuro.


(A nossa peça- saladeira)

A composição da decoração é constituída por dois ramos entrelaçados, com folhas verdes e frutos ou flores vermelhas
.
Na aba verificam-se as falhas de vidrado devido às trempes utilizadas na cozedura.

Trata-se de uma peça rodada, de pasta clara, que permitiu uma boa moldagem e que possui um vidrado homogéneo e uniforme de especto leitoso.


(A decoração do covo da saladeira)

Peça utilitária, de uso doméstico corrente, muito simples, de traço despretensioso, contrastando com a faiança decorativo, muito elaborada em termos de decoração, com exuberante policromia, com uma palete de cores variada e de tons suaves

No tardoz possui o carimbo na cor negro, com disposição em semi-círculo “OUTEIRO ÁGUEDA”.


(O Carimbo da nossa peça)

Trata-se pois de uma peça produzida na Fábrica de Louças do Outeiro, em Águeda, unidade fundada por António de Souza Carneiro, em 1923; uma das várias fábricas instaladas nesta localidade.


2. Um pouco de história e enquadramento:

Outras fábricas que existiram, que se dedicaram à produção de louça utilitária de uso doméstico, mas também de decoração foram:

- Cerâmica Progredior, fundada em 1913;
- Fábrica de Fernando Ribeiro Guerra, fundada em 1913;
- Guerra & Cruz, Lda., fundada em 1916;
- Fábrica de Arcanjo de Figueiredo, fundada em 1922;
- Simões & Antunes, Lda., fundada em 1924;

Foram fábricas de reduzida dimensão, com consumo de âmbito regional, restrito, provavelmente com louça não marcada e por conseguinte não há peças que se consigam identificar pelas mesmas fábricas.

Foi, sem dúvida, a fábrica fundada por António de Souza Carneiro, em 1923, a mais importante do Outeiro, a qual com a sua produção, com um consumo e utilização quase a nível nacional; com peças decorativas de elevada qualidade, todas devidamente marcadas, que continuam a chegar aos tempos actuais.


(Uma imagem recorrente da Fábrica do Outeiro)

O valor artístico das peças produzidas na Fábrica do Outeiro deveu-se ao recrutamento de alguns pintores da Fábrica de Vista Alegre e de outros da Empresa de Louça e Azulejo, Lda., de Aveiro.

De entre eles há a salientar nomes como: Licínio Cunha (?) ou Licínio Pinto da Silva (?) e Francisco Luís Pereira, mais tarde continuados por A. Pereira (década de 60), Ribeiro ou João Breda, ou Mandé (?), C. Pinto, M.R., A.S.

Cremos, sem confirmação que esta fábrica encerrou na década de 60 do século passado, tendo surgido outras mais recentemente que aproveitaram o nome e fama comercial “OUTEIRO - ÁGUEDA”.


3. Decoração, motivos:

Há que distinguir as peças de uso comum, utilitárias, para uso doméstico e as peças para decoração. 

Enquanto as mesmas possuem decorações simples, de fácil execução, policromáticas de cores suaves, as peças decorativas são soberbamente elaboradas, com decorações trabalhosas e com um requinte na pintura policromática.

Em termos de decoração, as peças decorativas produzidas nesta Fábrica,  os motivos mais frequentes eram o galo, o pavão, rabieira (ave: pêga-rabuda, com uma cauda longa como o cuco ou o estorninho), o pagode chinês, a ala especial (asa), o botaréu (arcobocante ou contraforte de reforço de um arco ou uma abóbada ogival), a ágata (quartzo de cores vivas e com desenvolvimentos espectaculares); bem como motivos do século XVI, motivos vegetalistas, florais e aves exóticas.

As peças utilitárias e de uso doméstico são geralmente em fundo branco e policromia em cores suaves; as peças decorativas, muito procuradas, são habitualmente em fundo preto, que lhe dá uma singular beleza, com uma decoração aturada em cores fortes, que lhe dão uma singular beleza.

Exemplos de peças utilitárias e de uso doméstico:


(Peça apresentada na Fonte 10)

(Peça apresentada na Fonte 8)

(Peça apresentada na Fonte 8)


(Peça apresentada na Fonte 8)


(Peça apresentada na Fonte 8)




(Peça apresentada na Fonte 8)

(Peça apresentada na Fonte 8)



(Peça apresentada na Fonte 8)



(Peça apresentada na Fonte 8)

(Peça apresentada na Fonte 9)


(Peça apresentada na Fonte 9)

(Peça apresentada na Fonte 12)

Exemplos de peças decorativas:



(Peça apresentada na Fonte 14)



(Peça apresentada na Fonte 14)



(Peça apresentada na Fonte 7)

(Peça apresentada na Fonte 7)



(Peça apresentada na Fonte 7)

(Peça apresentada na Fonte 8)

(Peça apresentada na Fonte 1)

(Peça apresentada na Fonte 1)



(Peça apresentada na Fonte 1)



(Peça apresentada na Fonte 1)



(Peça apresentada na Fonte 1)



(Peça apresentada na Fonte 1)



(Peça apresentada na Fonte 1)


(Peça apresentada na Fonte 1)

(Peça apresentada na Fonte 4)



(Peça apresentada na Fonte 1)



(Peça apresentada na Fonte 1)

(Peça apresentada na Fonte 5)



(Peça apresentada na Fonte5)

4. Marca e carimbos:

Em termos de marcação das peças, as peças decorativas possuem marcas manuais, com indicação do nome ou iniciais do pintor; as peças utilitárias de uso comum possuem um carimbo, a cor negra, em forma de semi-circulo “OUTEIRO – AGUEDA” e mais recentemente com um carimbo “estrelado”, com a indicação “OUTEIRO”.

Exemplos de marcas manuais:

(Marca manual - fonte 7)

(Marca manual - fonte 14)

(Marca manual - fonte 9)

(Marca manual - fonte 9)



(Marca manual - fonte 9)

(Marca manual - fonte 12)

(Marca manual - fonte 12)

Carimbo mais comum,  em forma de semi-circulo “OUTEIRO – AGUEDA”:



(O carimbo da nossa peça)

  Carimbo “estrelado”, com a indicação “OUTEIRO”:



(O Carimbo mais recente da Fábrica do Outeiro)


5. Azulejaria:

Outras das vertentes, diga-se deveras importante, foi a produção de painéis de azulejo, azulejaria decorativa, predominante de painéis alegóricos a santos, com particularidade ao Santo António, Nossa Senhora de Fátima, S. Gonçalo de Amarante, S. José, S. Manuel, entre outros, para além de painéis com quadras e painéis identificadores de casas, quintas e solares e até unidades industriais.

Alguns exemplos de painéis de azulejo alusivos a santos (fonte 16):



















Alguns exemplos de painéis de azulejo identificadores de lugares, de espaços, de edificações, com quadras (fonte 16):

























Os artífices, decoradores e pintores que mais painéis efectuaram foram Licínio Pinto da Silva e Francisco Luís Pereira (década de 30); A.C. D’ Oliveira, António Ferreira, entre outros.

Trata-se de um valioso património artístico espalhado pelo País, que enaltece a grandiosidade desta Fábrica do Outeiro de Águeda.


FONTES:



3) – “Os industriais de Cerâmica: Aveiro, 1882-1923, de Manuel Ferreira Rodrigues, Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração, Aveiro, 1996.






9) – www.olx.pt;







16) – www.facebook.com>Fábrica-do-outeiro-Águeda;