segunda-feira, 23 de maio de 2016

Taça em Faiança de Alcobaça da Fábrica de Raul da Bernarda

Taça em Faiança de Alcobaça da Fábrica de Raul da Bernarda


A procura continuada por feiras de velharias leva-nos a encontrar peças interessantes em Faiança.

Há algum tempo atrás, numa dessas feiras, numa banca de chão, e entre muito “lixo”, encontramos uma interessante peça em Faiança de Alcobaça, pintada parcialmente a tinta plástica cor de laranja (? – como é possível – uma manifestação kirsch?), no meio da base da qual se vislumbrava a marca “AB” (?) – certamente “RB” - Raul da Bernarda: uma pequena taça, de bordadura ondulada com interessante decoração policromática, de motivos florais, alternados com cartelas geométricas.


(A nossa peça)

Cremos tratar-se de uma tacinha, peça decorativa, muito ao gosto à época: anos 30 ou 40 do século passado.

A peça cativou-nos, pela sua decoração, pela (raridade) da marca do seu fabrico e pelo entusiasmo que nos criou, ao ter que recuperar a mesma, com uma intensa, demorada, mas cativante, “trabalheira” – é o fascínio pelas faianças que nos proporciona estes períodos de calmaria, repouso e recarga para a actividade profissional e para uma vida mais repleta de harmonia, prazer e felicidade.


(A exuberante decoração da tacinha)

Pequena tacinha, de covo acentuado, com dois filetes, em azul forte, um largo e outro fino, no limite da separação do covo para a aba ondulada, vivamente decorada e com um largo filete azul-escuro na bordadura da mesma.

Decoração floral em cores de azul-escuro, amarelo-ocre, violeta ou roxo e avermelhados, com recorte da decoração a preto. Cartelas alternadas com decoração geométricas, de cruzes e de pontos, tendo tudo a base em azul-claro.


(O tardoz da peça com a sua marca)

No tardoz da peça e entre o único frete, a marca inequívoca da mesma: AB – ALCOBAÇA – PORTUGAL – 100, isto é uma peça de fabrico de António da Bernarda, de Alcobaça, sendo a peça nº 100 de catálogo (modelo ou motivo decorativo – não sabemos).


(A particularidade da marca manual)

Vamos lá então falar da fábrica que produziu esta peça com a marca impressa à mão, RB, a fábrica Raul da Bernarda e Filhos, Lda., a fábrica mais conhecida e com maior longevidade na fabricação de louça de Alcobaça; com início em 1875, pela mão de José dos Reis dos Santos, “negociante” (?) de louças, oriundo da região de Coimbra, e se prolongou até ao início do século XXI, vindo a encerrar, infelizmente, a 28 de Novembro de 2008, por decisão dos credores.

Tal encerramento lançou no desemprego 145 operários, os quais já tinham sido dispensados em Maio de 2008, pese embora já reclamassem ordenados em atraso desde Setembro de 2007 – em suma a agonia da mais antiga fábrica de louça decorativa e utilitária da região de Alcobaça.

Veio a ser declarada insolvente em Maio de 2011, tendo os imóveis ficado na posse do banco de então BES – Banco Espirito Santo, entretanto também insolvente (em Agosto de 2014).

Voltando ao início da fábrica, três anos volvidos após a morte de José dos Reis, em 1900, Manuel Ferreira da Bernarda assume a direcção desta fábrica a qual a partir da década de 30 passa a ser gerida pelo seu filho, Raul da Bernarda, fase em que a fábrica teve imenso desenvolvimento artístico e de produção, tendo tido uma época áurea.

A nossa peça será dessa época, década de 30 ou 40, atendendo nomeadamente à marca apresentada, à indicação “Portugal” e não como mais tarde era indicado “Made in Portugal”; por outro lado, a peça está identificada com o seu número (de modelo ou decoração – não sabemos) e ainda não se encontrava assinada pelo decorador que a pintou, o que mais tarde começou a ser feito.

A particularidade da marca, que mais se assemelha a um “AB” do que a um “RB”, conjugado com as restantes palavras, evidencia a insegurança de quem escreveu esta marca e eventualmente os seus parcos conhecimentos alfabéticos.

Curiosa a situação de alguns anúncios de venda na net de peças com marcas idênticas, cujos anunciantes eventualmente desconhecendo a origem referem como sendo marcadas com a marca “AB”. Exemplo disso é, o anúncio de venda “prato em faiança “AB 151 – Alcobaça” (fonte 12).



Mais uma peça para ficar registada.

FONTES:







7) - “A Faiança de Raul da Bernarda & F.os, Lda. – Fundada em 1875 – ALCOBAÇA”, de Jorge Pereira de Sampaio, Edição Particular da Fábrica Raul da Bernarda & F.os, Lda., Alcobaça, Outubro, 2000.

8) - “A Loiça de Alcobaça”, de João da Bernarda, Edições ASA, 1ª Edição, Porto - Outubro de 2001.

9) - “ Cem anos de Louça em Alcobaça”, de Jorge Pereira de Sampaio e Luís Peres Pereira, 2008;

10) -“Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente: CeRamiCa PLUS” – Galeria de Exposições Temporárias – Mosteiro de Alcobaça; 6 de Abril a 4 de Maio 2011; Município de Alcobaça, 2011.

11) - “Faiança de Alcobaça, de 1875 a 1950”, de Jorge Pereira de Sampaio, Estar Editora, Coleção Fundamental, 1997 (?);


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