Nas
feiras de velharias aparecem por vezes peças deveras interessantes, ainda não
referenciadas e que fogem aos habituais padrões, havendo por conseguinte
dificuldade acrescida em atribuir o seu fabrico e mesmo o seu motivo.
Isto
a propósito de uma interessante saladeira de bordadura gomada, com decoração
rosa sobre um vidrado branco, brilhante, sugerindo que seja fabrico do centro
do país: Coimbra ou Aveiro – inclinamos-mos mais para Aveiro.
A
decoração é deveras interessante com elementos decorativos, triangulares de
bordadura, efectuados à base de traços ou linhas paralelas e sobrepostas, não
esponjado, mas que mesmo assim nos relembram as decorações das faianças das
olarias de Aveiro.
A
decoração do fundo da saladeira é soberba, pintada à mão, eventualmente com
recurso a “chapa” ou “stencil”, para
estampilhar algumas partes da decoração (cúpula, vãos de fenestração, empena e
telhado da igreja, parte do arvoredo) e induz-nos num “Cantão Popular” já
tardio, em transição para o motivo “País” – será?
Os
pormenores decorativos têm muitos aspectos similares com os do “Cantão Popular”:
um conjunto de edifícios ladeados por árvores; um edifício alto, com cúpula e
com uma bandeirola; outro edifício que dá a ideia de ser uma igreja, com a sua
empena triangular e duas linhas de janelas; o enquadramento esponjado com
linhas horizontais, reforçando a ideia de amplo espaço; as nuvens no horizonte –
céu; e a soberba vegetação, variada (salgueiro? pessegueiro? outras?).
Mas
também poderá ser considerado o motivo “Casario”, não nos parece, pese embora o
mesmo, habitualmente, é apresentado na cor azul, e mais raramente em verde
ervilha; em cor-de-rosa como a saladeira que estamos a apresentar não é
habitual.
A
bandeirola na cúpula do edifício mais alto assemelha-se às bandeirolas que se
colocavam nas decorações de Vilar de Mouros, ou de tal ditas (sendo que neste
caso, a cor predominante é o verde) ou mesmo nas decorações de “Casario” de
José dos Reis (Alcobaça), aqui com os azuis, como cor predominante. Mas a
decoração exibida, o traço o seu conjunto não nos indiciam qualquer um destes
fabricos.
Trata-se
de uma peça de faiança, fina, de barro branco (amarelado); "gateada" (com oito
agrafos) de longa data e com marca gravada na massa – mais uma surpresa!
A
marca gravada na massa é um “X”, ou um “+” – o que constitui mais um enigma!
Consultando
o livro referenciado na fonte 1, na sua secção III- Sinais e marcas
figurativas, na página 137 e na referência 871, temos “P.M. – Vista Alegre (Aveiro). Fabrico de 1895 – Fábrica fundada em 1824
por José Ferreira Pinto Basto-Marca gravada na pasta (oleiro) ”.
Isto
é, a marca figurativa identificada refere-se a porcelana recente (fabrico após 1850),
e nesta caso da fábrica da Vista Alegre!
Ainda
ficamos mais baralhados!
Certezas
– nenhumas.
Ideias
– algumas: faiança fina (?) do centro do país – provavelmente de Aveiro
(fabrico desconhecido) do final do século XIX ou das primeiras décadas do
século XX…… mas a marca figurativa na pasta?
Vamos continuar a pesquisar…
mas, alguém nos pode ajudar a desvendar este mistério?
Ficaríamos muito gratos.
Mais uma prova de como
quão difícil é por vezes a catalogação de peças de cerâmica.
Fontes:
1) - “Cerâmica Portuguesa – Marcas da Cerâmica Portuguesa”, de José Queirós, 2ª Edição, II Volume, (1ª reedição em fac-simile), José Ribeiro – Editor e Livraria Estante Editora, Aveiro – 1987;