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domingo, 4 de dezembro de 2016

Prato em Faiança de Alcobaça, de José dos Reis (dos Santos)


Prato em faiança, com vidrado na cor de grão, com decoração interessante: um simples filete largo, na cor azul, a meio da aba e uma decoração a duas cores no fundo do prato, com traços ao gosto oriental.

FIG.1 - PRATO EM FAIANÇA DE ALCOBAÇA

Trata-se de uma decoração estampilhada, a nível do casario acastelado, com cúpulas e zimbórios de índole oriental e da vegetação com árvores também orientais, tudo em tons de cor-de-rosa; e esponjada, com o embasamento, na cor verde seco, esponjado.

FIG. 2 - PORMENOR DA DECORAÇÃO 

Pelo formato, pela decoração e motivo, e pelas cores poder-se-ia considerar, como sendo faiança de Coimbra, mas também se poderia atribuir a faiança de Alcobaça, dos seus primórdios, finais do século XIX ou início do século XX, do período de José dos Reis (dos Santos).
FIG. 3 -  MARCA IMPRESSA NO TARDOZ DO PRATO

Mas eis que pela análise detalhada do tardoz do prato se verifica que o mesmo se encontra marcado, com um carimbo oval, pese embora sumido, na cor manganés, onde se consegue ler “ALCOBAÇA” e o que presumimos ser, em letras borradas “JOSÉ DOS REIS”.

FIG. 5 - PORMENOR DA MARCA IMPRESSA "ALCOBAÇA", "JOSÉ DOS REIS" ?

Certezas? Dúvidas?

De pesquisa em pesquisa fomos até à fonte 2), em que a páginas 15, encontramos uma imagem de um prato semelhante ao nosso, também em tons de rosa, monocromático, enquanto o nosso é policromático.

FIG. 6 - IMAGEM DA PAG. 15 DA FONTE 2)

O motivo central (torre com cúpula) mais elaborado, é muito semelhante ao do nosso prato – digamos que o nosso com uma estampilhagem (“Stencil”) mais “naif”.

A legenda do mesmo indica “Prato pintada à estampa, “José dos Reis”…marca impressa, Colecção Coronel A. Bivar de Sousa”.

FIG. 7 - VISTA GERAL FRONTAL DO PRATO

Todas estas semelhanças, em especial, a decoração, motivo e cores, e a marca oval impressa, mais nos leva a considerar que se trata na verdade de um prato de faiança de Alcobaça, do período de José dos Reis.

Uma raridade, um prato em faiança com marca impressa, identificando o seu fabrico e consequentemente uma data aproximada do mesmo.

Um prato que passou, na verdade, por diversas mãos, que sem uma análise pormenorizada, foi considerado com menor valor, felizmente, e daí poder ter vindo às nossas mãos.

Na verdade, as peças antigas, entre elas as faianças, devem ser analisadas detalhadamente, com paixão e com descrição.

É essa análise despretensiosa de valor ou de lucro (para quem as comercializa), que permite, com tempo, técnica, ciência e muita paciência analisar todos os pormenores dessas peças e descobrir ou desvendar ínfimos detalhes, efectuar analogias e comparações com outras peças apresentadas em catálogos, livros ou em bibliografia recorrente e reconhecer a real importância da peça e o seu valor como peça de colecção, ou simplesmente identificar com mais certeza a sua origem.

FIG. 8 - PORMENOR DA DECORAÇÃO ESTAMPILHADA E ESPONJADA

É toda esta actividade de ócio que caracteriza um coleccionador, porque coleccionar por coleccionar, é-se um simples ajuntador ou guardador.

Concluindo, com alguma certeza, estamos perante um prato em Faiança de Alcobaça, do período e fabrico de José dos Reis, provavelmente entre 1875 e 1898.

FONTES:

1) – “ Cem anos de Louça em Alcobaça”, de Jorge Pereira de Sampaio e Luís Peres Pereira, 2008;

2) – “Faiança de Alcobaça, de 1875 a 1950” – S. l. Jorge M. Rodrigues Ferreira, de Jorge Pereira de Sampaio, Estar Editora, Coleção Fundamental, 1997 ;

3) - “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente: CeRamiCa PLUS” – Galeria de Exposições Temporárias – Mosteiro de Alcobaça; 6 de Abril a 4 de Maio 2011; Município de Alcobaça, 2011.

4) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

5) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

6) – “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

7) – “A Loiça de Alcobaça”, de João da Bernarda, Edições ASA, 1ª Edição, Porto - Outubro de 2001.

8) – “A Faiança de Raul da Bernarda & F.os, Lda. – Fundada em 1875 – ALCOBAÇA”, de Jorge Pereira de Sampaio, Edição Particular da Fábrica Raul da Bernarda & F.os, Lda., Alcobaça, Outubro, 2000.


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

PALANGANA EM FAIANÇA DE COIMBRA (?), DO INICIO DO SÉCULO XX


Deslumbrante palangana, em faiança, com vistosa decoração vegetalista (floral), policromática, no covo, em tons de verde, azul, vinoso de manganês e amarelo ocre; e com decoração na cercadura na aba, de motivos geométricos, monocromáticos, alertados, a duas cores, azul e vinoso de manganês.


A palangana em apresentação

Com decoração estampilhada (aplicada sobre chapa recortada) e decoração manual, simples, ingénua, ao gosto do artista, cuja conjugação de decorações constitui assim uma peça única.


A decoração estampilhada no covo da palangana

É a originalidade destas peças, ao gosto do artista, que nos cria a sedução pelas mesmas.

Um malmequer com sete corações na cor vinoso de manganés com uma rosácea em azul de cobalto.


Pormenor do Malmequer de sete pétalas em coração

As marcas da trempe, aquando da cozedura do vidrado são perfeitamente visíveis na transição do covo para a aba da palangana.


As marcas da trempe

Peça em faiança, crê-se, de Coimbra (região) e do início do século XIX. As cores aplicadas na decoração do covo e a cercadura de motivos geométricos da aba tal nos indicia tal origem.


O pormenor da cercadura de motivos geométricos estampilhados

Com um diâmetro de aba de 35 cm e uma altura de 7,5 cm, eis a geometria da palangana que apresentamos.


O tardoz da palangana

Como sabemos o termo de designação deste tipo de peças, é bastante discutível, pois as designações são imensas, mas há que ter toda a atenção às respectivas formas cerâmicas:

- taça fruteira: mas com aba mais rebaixada e com a concordância entre o covo e a aba menos acentuada;

- alguidar: em que a aba e a concordância entre o covo e a aba possuem a mesma pendente e não se distinguem, com uma altura superior a 9 cm;


Mais um pormenor da decoração

- bacia: Em que a transição entre o covo e a aba e esta mesma possuem uma única concordância, arredondada, côncava, a partir do covo, com uma altura superior a 9 cm;

- escudela: consideramos ser o mesmo que palangana, mas trata-se de um termo de uso medieval, com uma altura inferior a 7 cm;

- malga: consideramos ser o mesmo que palangana, mas um termo mais característico da zona norte e centro do país, (designação regionalista), com uma altura inferior a 7 cm;


Pormenor da decoração - folhas

- taça: consideramos ser o mesmo que palangana, mas um termo mais usado nas zonas urbanas – em especial, na zona de Lisboa, no século XX (designação regionalista). Há também quem designe simplesmente por taça, toda a palangana que tenha menos de 35 cm de diâmetro de aba, com uma altura superior a 7 cm;

- tigela: consideramos ser o mesmo que palangana, mas um termo mais usado na zona saloia, na periferia de Lisboa, no século XX (designação regionalista), com uma altura superior a 9 cm;


Pormenor dos elementos geométricos da cercadura na aba

- prato de cozinha: consideramos ser o mesmo que palangana, mas um termo mais usado nas zonas urbanas – em especial, na zona de Lisboa, no século XX (designação regionalista), com uma altura inferior a 7 cm;

- outras designações: tigela, cunca; almofa; almofia; conca; cuenco;…, são designações com vocábulos de origem castelhana ou árabe.
 

Perfil do tardoz da palangana e o frete da mesma

Peça esmaltada, com aspecto grosseiro e vidrado escorrido no tardoz junto ao único frete.


A Palangana na sua máxima afirmação

Peça em Faiança, de forte presença, interessantíssima e cativante. Faiança a manter e preservar!


FONTES:

1) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

2) - “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

3) – “Estudo Decorativo, Morfológico e Tecnológico da Faiança de Coimbra”, de Filipa Antunes Formigo, Dissertação de Mestrado, do Instituto Politécnico de Tomar, Tomar, Setembro, 2014.