A vida
é feita de uma continuidade de acontecimentos, mais ou menos previsíveis e imprevisíveis,
e são estes, especialmente, que nos condicionam e nos limitam na forma de
actuar, de existir e viver.
Mas,
“só existem dois dias no ano que nada
pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o
dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver”, como diz Dalai Lama.
E
a viver, vamos continuando a ocupar algum do tempo de ócio com uma das paixões
que temos, a Faiança, a sua análise, estudo e divulgação.
Hoje
apresentamos uma interessantíssima terrina, em Faiança Azul e Branca, muito
antiga, já um pouco “desgastada” e “carcomida” pelos anos.
Uma
deslumbrante peça em faiança azul e branca, de fabrico … do Norte? Cremos que
sim! Fabrico de ???? A grande incógnita. Não teremos a leviandade de sugerir
que seja de “Miragaia” ou de “Santo António de Vale de Piedade” ou de “Darque”
ou de outra fábrica.
Trata-se
de uma terrina, de forma oval; peça moldada, com tampa de encaixe, em cúpula, com
pega elevada, em forma de asa.
A
decoração é pintada a azul, sobre fundo branco, possuindo a toda a volta e na
tampa uma exuberante paisagem tipo oriental, com edifícios composto com vários
corpos, o central, mais alto e mais expressivo, todos ao gosto oriental.
A
esta decoração têm-se vindo a denominar como o motivo “País”, ou “País
Miragaia”, sendo que é inspirado num motivo inglês largamente produzido pela
Fábrica Inglesa Herculaneum Pottery.
Terrina
interessante, que cativa o olhar de um qualquer – é o fascínio da Faiança Azul
e Branca, mas que sem carimbo ou marca não permite uma identificação concreta
da sua origem de fabrico, da fábrica e do período em que foi efectuada.
Sob
o vidrado de aspecto leitoso e com alguma porosidade apercebemos-nos de uma
pasta amarelada, tipo cor de grão, mas que não nos dá mais pistas para além
disso mesmo.
Apesar
de tudo, parece-nos que poderá ser uma peça fabricada no século XIX, mais provavelmente
na primeira metade, pois consideramos que não apresenta semelhanças ou
influências do fabrico da Faiança da Fábrica de Miragaia, do seu segundo
período de fabricação, 1822-1850. Será mesmo assim?
Os
elementos preponderantes desta decoração são as paisagens e os conjuntos
edificados, ao gosto e estilo oriental, na cor azul, com linhas que nos podem
encaminhar para o motivo “País”, mas numa fase mais primária da sua
implementação na faiança em Portugal, sem estampilhagens ou esponjados, mas com
a decoração efectuada manualmente, sem recurso a técnicas “especiais”.
A terrina
em Faiança Azul e Branca de que fabrico será, então? Miragaia? – não cremos. De
que fábrica será?
A
incógnita mantém-se, mas a peça em faiança Azul e Branca, vale por si só, mesmo
sem se conhecer o seu fabrico.
Para
regalo de todos nós aqui fica a apresentação da mesma.
FONTES:
1) – “Faiança Portuguesa Séculos
XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.
2) – “Cerâmica Portuguesa e Outros
Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda
Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial
Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.
3) – “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”,
de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.
4) – “Cerâmica Artística Portuense dos
Séculos XVIII e XIX”, Vasco Valente, Livraria Fernando Machado – Porto,
5) – “Cerâmica Portuense – Evolução
Empresarial e Estruturas Edificadas”, Teresa Soeiro, Jorge Fernandes Lacerda,
Silvestre Lacerda, Joaquim Oliveira, Edição Portugália, Nova série, volume XVI,
1995.
6) – “Fábrica de Louça de Miragaia”, Museu
Nacional Soares dos Reis, Edição IMC, Lisboa, 2008.