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domingo, 4 de dezembro de 2016

Prato covo em Faiança Azul e Branca de aba recortada


A Faiança Azul e Branca é sempre um misto de contemplação e deslumbramento.
Figura 1 - A nossa peça em apresentação

O formato da peça, a sua decoração, a arte na pintura, a cor e os escorridos do vidrado, permitem-se tecer considerações, explanar conjecturas, mesmo sem saber quem a fabricou, qual a fábrica ou o simples local onde foi produzida, qual a localidade ou mesmo a região da sua manufactura e qual a época de produção.
Figura 2 - A exuberante decoração do fundo do prato com o motivo "Challet" ou "Roselle"

Independentemente de tudo isto, e não indo na fácil leviandade de conjecturar que é fabrico “daqui”, da fábrica “tal” e do período “x”, que se assemelha ao fabrico “y”, será muito mais correto, na nossa óptica, contemplar a e descrever a mesma.
Os segredos que a peça encerra, por si só, para que as aprecia, as gosta de ver ou mesmo coleccionar, cria uma auréola de encanto, de deslumbramento e de entusiasmo para tentar “ver ou ler”, para além da mesma e do seu encanto.
Em que condições foi efectuada? Qual o espírito e devoção de quem a fabricou e a pintou? Em que época, período ou tempo foi efectuada? Quem a teria adquirido? Em que casas andou? Como conseguiu sobreviver até ao presente? O que teria visto e apreciado em todo este tempo até ao presente?
Esta que exibimos hoje, após um longo período de interregno, não por falta de peças para apresentar, mas de tempo para as divulgar, constitui, sem dúvida, uma cativante e interessante peça, com soberba decoração.
Figura 3 - A beleza da decoração do prato

Trata-se de um prato covo, sopeiro, relativamente pequeno – antigamente os pratos, quando utilizados individualmente, eram mais pequenos em diâmetro, pois pratos maiores como malgas ou palanganas, eram usadas para toda a família – todos comiam da mesma “o caldo com a broa”, ou as “sopas”, já que o conduto era colocado sobre uma fatia de pão.
Figura 4 - A decoração da aba do parto

A bordadura da aba é recortada, com uma pequena ondulação, que lhe confere logo uma singela beleza. São lóbulos pequenos e arredondados.
No entanto algo particular, interessante e relativamente raro é a concordância que há entre a aba e o covo, onde se cria uma coroa circular, plana, com um ligeiro relevo junto do covo, o qual por si, tem depois o desenvolvimento habitual até ao fundo do prato
Figura 5 - Pormenor da decoração da aba
.
A decoração também é interessante e intensa, preenchendo bem o prato. Começa com um filete espesso na bordadura a aba, de cor azul, e por outros dois filetes, mais finos, no limite interior da aba, antes de estabelecer a concordância com o covo.
A aba possui interessante decoração, entre os filetes referidos, com várias reservas em forma alongada, dentro das quais se insere uma espessa decoração em azul muito forte, que se pode identificar como um sol a pôr-se no horizonte, com uma sobreposição “areoglifica”, que não conseguimos identificar, nem contextualizar de outra forma. O espaço entre as cartelas é preenchido com ornato em quadrícula, também na cor azul, e irregular, ao jeito e “precisão” da mão do decorador.
Figura 6 - Pormenor da decoração das reservas da aba do prato

O fundo do prato começa também com um largo filete, que delimita a sua soberba e deslumbrante decoração, igualmente em tons de azul forte, o dito azul-manganês.
O motivo é recorrente, assemelhando-se ao dito motivo “Roselle”, ou “Challet”, em que a decoração exibe o alçado principal de uma edificação “apalaçada”, de cobertura com acentuada inclinação, exibindo dois níveis de fenestração, com uma torre, num dos lados, a qual possui vários vãos de fenestração.
Figura 7 - A decoração "Challet" ou "Roselle" no fundo do prato

O “Challlet” possui quatro mastros com bandeiras ou flamas (?), sendo o mesmo ladeado por intensa vegetação com duas frondosas árvores, uma de cada lado, que se iniciam num embasamento de enquadramento.
Figura 8 - Pormenor da Decoração no fundo do prato

Em termos de decoração parece-nos que foram usadas três técnicas, o ”stencil” ou chapa recortada, para efectuar as árvores e eventualmente o beirado do “challet”; o esponjado, para efectuar o embasamento de enquadramento do “challet”, bem como assim o sombreado de parte do mesmo e a vegetação no horizonte; finalmente o pincel, com a decoração manual, onde o decorador evidenciou os seus dotes e gostos, imprecisões e desalinho do pincel e da sua mão.
Figura 9 - Tardoz do prato

Em termos de materiais, denota-se que a pasta é ligeiramente cor de grão, espessa, e por isso, um prato pesado para o tamanho; o vidrado é leitoso, com alguns arrepiados e escorrências (no tardoz), para além de algumas esborratadelas a azul, das mãos ou do apoio quanto o decorador esteve a pintar o prato.
Figura 10 - Pormenor do tardoz do prato

Resumindo trata-se de uma interessante peça em faiança azul e branca, pouco vulgar em termos de formato, com decoração característica e identificada, já com muitos anos…., e digna de se apreciar.
Independentemente do que se disse inicialmente, e caso não indicássemos algo em relação ao fabrico, origem e época de peça, considerariam, eventualmente, uma postagem incompleta.
Figura 11 - Mais uma imagem do magnifico prato em apresentação

Sem mais delongas, alvitram-se as seguintes indicações: fabrico do Norte, de alguma das muitas fábricas existentes no Porto ou em Gaia, sugerir alguma, não nos atrevemos; do período que poderá variar entre o final do século XIX e inícios do século XX, será?

FONTES:

1) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

2) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

3) – “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

4) – “Cerâmica Artística Portuense dos Séculos XVIII e XIX”, Vasco Valente, Livraria Fernando Machado – Porto, 

5) – “Cerâmica Portuense – Evolução Empresarial e Estruturas Edificadas”, Teresa Soeiro, Jorge Fernandes Lacerda, Silvestre Lacerda, Joaquim Oliveira, Edição Portugália, Nova série, volume XVI, 1995.

6) – “Fábrica de Louça de Miragaia”, Museu Nacional Soares dos Reis, Edição IMC, Lisboa, 2008.

7)- https:// velhariastralhasetraquitanas.blogspot.pt/2015/04/travessa-em-faiança-azul-e-branca-motivo-“roselle”-fabrico-do-norte-?-imitação-de-miragaia-?.html;

8) - https://velhariastralhasetraquitanas.blogspot.pt/2015/03/travessa-em-faianca-motivo-casario-de.html;


9) - https://velhariastralhasetraquitanas.blogspot.pt/search/label/Motivo%20%22ROSELLE%22.html;

terça-feira, 5 de maio de 2015

SALADEIRA EM FAIANÇA AZUL E BRANCA COM INTERESSANTE DECORAÇÃO. FABRICO DE COIMBRA?

Saladeira em faiança, azul e branca, peça oval, moldada, gomada e recortada, muito interessante. Decoração monocromática azul sobre o vidrado branco, com decoração simples mas cativante, e interessante, desconhecida.

Em suma, um motivo desconhecido, para o qual, comparativamente à decoração de outras peças se alvitra ser uma decoração simples “da vida” do “labirinto da vida” ou da “evolução da vida”. Uma ingénua e simples decoração, mas muito interessante e deveras intrigante.

Ou será uma simples decoração de linhas entrecortadas e ligadas entre si, somente par criar um conjunto decorativo para encher a saladeira? Um emaranhado de linhas que se unem e formam figuras abstractas, quão células, e dentro delas três segmentos de linhas curvos, a estilização da evolução da vida? Pura imaginação? Devaneio abstraccionista?

Em termos de textura, trata-se de uma peça em barro branco, com esmalte branco e translúcido, apresentando alguns pontos de falha de vidrado e exibindo no tardoz, com um único frete oval, alguns escorridos do vidrado e deixando trespassar a cor de grão da pasta.
Não possui qualquer marca ou carimbo.


Produção provável do final do século XIX ou início do XX, de Coimbra. Também poderá ser fabrico de Aveiro, ou mesmo do Norte, mas encaminhamo-nos mais para Coimbra, pela textura, vidrado e cor aplicada.

Uma peça interessante, que cativa, mas que tão pouco sabemos sobre a sua decoração e fabrico. 

sexta-feira, 17 de abril de 2015

TRAVESSA EM FAIANÇA AZUL E BRANCA, MOTIVO “ROSELLE”, FABRICO DO NORTE? IMITAÇÃO DE MIRAGAIA?

As peças em faiança azul e branca, antigas, carcomidas pelo tempo, são um fascínio para todos nós, amantes desta arte decorativa.


E quando a sua decoração é exuberante, com motivo conhecido ou não e com fabrico desconhecido, por não ter qualquer marca ou identificação, colocam-nos a tentar desvendar o mesmo, pelo que ainda maior é o fascínio por essas peças.


Apresentamos hoje uma interessantíssima travessa, em Faiança Azul e Branca, muito antiga, já um pouco “cansada” pelos anos, mas com um motivo que conseguimos identificar “ROSELLE”.

Travessa em faiança portuguesa do final Século XIX, ou início do XX. Peça moldada, de formato oval, recortada, monocroma e vidrada. Apresenta decoração monocromada a azul e branco: paisagem de um casario (chalet) com arvoredo e o que se presume ser um lago, em decoração esponjada, estampilhada e a traço à mão livre a azul.

No limite da aba possui um filete grosso, em azul forte, feito à mão pelo artista, denotando-se a sua imperfeição e traço não firme, o qual é secundado, para o interior, por uma calota esponjada num azul mais claro.


Na continuação da decoração da aba em direcção ao covo da travessa há uma cercadura de cornucópias, que constituem um conjunto decorativo repetitivo e aplicado por estampilhagem – com recurso a uma chapa recortada, num tom forte de azul.

O covo da travessa encontra-se praticamente todo preenchido: à direita, em desenho livre, com partes estampilhadas e esponjadas, o chalet, de vários pisos, com cobertura triangular, de duas águas, de pendentes bastante inclinadas, com duas chaminés decorativas e um vasto arvoredo envolvente; ao centro uma vasta área esponjada que será, provavelmente a representação de um lago, com umas nuvens, altas, no horizonte; e à esquerda, um imponente arvoredo, com trancos e ramos estampilhados, em tom de azul forte e as ramagens esponjadas, algumas com recorte a pincel, em tons de azul mais forte.


Quer no covo da travessa, quer no seu tardoz, denotam-se as três falhas do vidrado devido à aplicação da trempe, quando a peça foi cozer o vidrado.


No tardoz denota-se um esmalte leitoso, por vezes irregular e onde se realça tonalidades azuis, que parecem ter trespassado da decoração da aba e do covo.

Trata-se de uma decoração desenvolvida em Portugal, como interpretação livre e popular, ao gosto do artista e inspirada no motivo inglês, padrão "Roselle", "que é composto por um romântico chalet e uma árvore, que ladeiam um lago, onde se avista ao longe um castelo. Roselle é o nome de uma localidade italiana no Sul de Florença, que era um ponto de escala do chamado Grand Tour", tal como refere o Luís Montalvão, no seu blogue  http://velhariasdoluis.blogspot.pt/; (8).
 
(Caneca inglesa com padrão "Roselle", fabrico da John Meir & Son, apresentada na fonte 8)
Igualmente na mesma fonte (8), é afirmado que: "Em Portugal, segundo aprendi com o mercador veneziano, O Roselle foi copiado pela Fábrica de Massarelos. Foi também adaptado de forma popular por um fabricante que  algumas leiloeiras identificam como Vilar de Mouros e outras por loiça de Coimbra.", o que em certa medida vem confirmar o padrão da nossa travessa.
 
(Travessa em faiança nacional com motivo inspirado no padrão inglês "Roselle", exibida na fonte 8)
O motivo inglês “Roselle” foi produzido pelo fabricante JOHN MEIR & SON, na segunda metade do século XIX, período durante o qual a faiança inglesa dominou o mercado europeu pelo que os seus motivos serviram de inspiração aos fabricantes de todo o continente, e como não podia deixar de ser, a Portugal, reforçada pela “aliança” existente.



Fábricas como Alcântara, Massarelos e outras do Norte, não identificadas, produziram faianças com este motivo. A Fábrica de Massarelos produziu muitas peças com este motivo, por estampagem, das quais várias estão reproduzidas na fonte (14).

Para melhor identificação do motivo apresentamos algumas imagens de peças inglesas, com este motivo “Roselle”.




Por outro lado, atribui-se com frequência o fabrico de faianças com este motivo a “Vilar de Mouros”, se for em tonalidades verdes e a “Coimbra” ou mesmo “Alcobaça”, se doutras tonalidades.

A nossa travessa não suscita dúvidas, será certamente fabrico de uma das fábricas do Norte, eventualmente próximo de Porto, mas que não conseguimos identificar.

Será uma imitação da decoração de “Miragaia” ? ou de “Santo António do Vale da Piedade” ?

A incógnita mantém-se, mas a peça em faiança Azul e Branca, vale por si só, mesmo sem se conhecer o seu fabrico.


FONTES:

1) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

2) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

3) – “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

4) – “Cerâmica Artística Portuense dos Séculos XVIII e XIX”, Vasco Valente, Livraria Fernando Machado – Porto,

5) – “Cerâmica Portuense – Evolução Empresarial e Estruturas Edificadas”, Teresa Soeiro, Jorge Fernandes Lacerda, Silvestre Lacerda, Joaquim Oliveira, Edição Portugália, Nova série, volume XVI, 1995.

6) – “Fábrica de Louça de Miragaia”, Museu Nacional Soares dos Reis, Edição IMC, Lisboa, 2008.





11) – “Fábrica de Massarelos - Porto, 1763 – 1936”, Coordenação de Mónica Baldaque, Teresa Pereira Viana e Margarida Rebelo Correia, edição do Museu Nacional Soares dos Reis, 1998.



14) – “A Fábrica de Louça de Massarelos – Contributos para a caracterização de uma unidade fabril pioneira”. Volume 1, dissertação de Mestrado em Estudos do Património, de Armando Octaviano Palma de Araújo, Universidade Aberta, Lisboa, 2012.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

TERRINA, EM FAIANÇA AZUL E BRANCA, DO NORTE? DE MIRAGAIA ?

A vida é feita de uma continuidade de acontecimentos, mais ou menos previsíveis e imprevisíveis, e são estes, especialmente, que nos condicionam e nos limitam na forma de actuar, de existir e viver.

Mas, “só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver”, como diz Dalai Lama.

E a viver, vamos continuando a ocupar algum do tempo de ócio com uma das paixões que temos, a Faiança, a sua análise, estudo e divulgação.


Hoje apresentamos uma interessantíssima terrina, em Faiança Azul e Branca, muito antiga, já um pouco “desgastada” e “carcomida” pelos anos.


Uma deslumbrante peça em faiança azul e branca, de fabrico … do Norte? Cremos que sim! Fabrico de ???? A grande incógnita. Não teremos a leviandade de sugerir que seja de “Miragaia” ou de “Santo António de Vale de Piedade” ou de “Darque” ou de outra fábrica.


Trata-se de uma terrina, de forma oval; peça moldada, com tampa de encaixe, em cúpula, com pega elevada, em forma de asa.


A decoração é pintada a azul, sobre fundo branco, possuindo a toda a volta e na tampa uma exuberante paisagem tipo oriental, com edifícios composto com vários corpos, o central, mais alto e mais expressivo, todos ao gosto oriental.


A esta decoração têm-se vindo a denominar como o motivo “País”, ou “País Miragaia”, sendo que é inspirado num motivo inglês largamente produzido pela Fábrica Inglesa Herculaneum Pottery.


Terrina interessante, que cativa o olhar de um qualquer – é o fascínio da Faiança Azul e Branca, mas que sem carimbo ou marca não permite uma identificação concreta da sua origem de fabrico, da fábrica e do período em que foi efectuada.


Sob o vidrado de aspecto leitoso e com alguma porosidade apercebemos-nos de uma pasta amarelada, tipo cor de grão, mas que não nos dá mais pistas para além disso mesmo.


Apesar de tudo, parece-nos que poderá ser uma peça fabricada no século XIX, mais provavelmente na primeira metade, pois consideramos que não apresenta semelhanças ou influências do fabrico da Faiança da Fábrica de Miragaia, do seu segundo período de fabricação, 1822-1850. Será mesmo assim?


Os elementos preponderantes desta decoração são as paisagens e os conjuntos edificados, ao gosto e estilo oriental, na cor azul, com linhas que nos podem encaminhar para o motivo “País”, mas numa fase mais primária da sua implementação na faiança em Portugal, sem estampilhagens ou esponjados, mas com a decoração efectuada manualmente, sem recurso a técnicas “especiais”.


A terrina em Faiança Azul e Branca de que fabrico será, então? Miragaia? – não cremos. De que fábrica será?


A incógnita mantém-se, mas a peça em faiança Azul e Branca, vale por si só, mesmo sem se conhecer o seu fabrico.

Para regalo de todos nós aqui fica a apresentação da mesma.

FONTES:

1) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

2) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

3) – “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

4) – “Cerâmica Artística Portuense dos Séculos XVIII e XIX”, Vasco Valente, Livraria Fernando Machado – Porto,

5) – “Cerâmica Portuense – Evolução Empresarial e Estruturas Edificadas”, Teresa Soeiro, Jorge Fernandes Lacerda, Silvestre Lacerda, Joaquim Oliveira, Edição Portugália, Nova série, volume XVI, 1995.

6) – “Fábrica de Louça de Miragaia”, Museu Nacional Soares dos Reis, Edição IMC, Lisboa, 2008.


domingo, 21 de dezembro de 2014

TAMPA DE TERRINA, EM FAIANÇA AZUL E BRANCA, MIRAGAIA (?)

Como o prometido é devido aqui vai a segunda “prendinha” para os seguidores do nosso blogue, nesta época natalícia, de paz, amizade e confraternização.


Uma interessante tampa de uma terrina, em Faiança Azul e Branca – o que é logo um fascínio, um deslumbramento!

Será Miragaia? Se for é uma maravilha! Um êxtase!

Trata-se de uma tampa de terrina, de forma oval; peça moldada, de encaixe, em cúpula, com pega elevada, em forma de flor.


A decoração é pintada e estampilhada a azul, sobre fundo branco, possuindo dos dois lados da pega uma paisagem tipo oriental, com um edifício composto com vários corpos, o central, mais alto e mais expressivo, encimado por uma cúpula, com zimbório e uma haste com um crescente.


Os restantes edifícios são de menor porte, com telhados de duas águas, enquadrados em vegetação luxuriante tipo oriental.

O edifício maior exibe uma asna triangular e sob a mesma, em zona lateral um arco de volta perfeita.

Sobre a cúpula, sobrevoam duas aves, graciosamente, parecendo interagirem entre si.


Na bordadura da tampa um largo filete na cor azul, e no intervalo entre as duas decorações referidas, um conjunto de cornucópias ou arabescos, espessos e pintados na cor azul.

Na restante área da tampa não decorada estão pintadas o que presumimos serem aves, mas longe, pela sua dimensão relativa.


A pega, em tipo de flor, encontra-se pintada na cor azul.

Têm-se vindo a denominar este motivo como “País”, ou “País Miragaia”, sendo que é inspirado num motivo inglês largamente produzido pela Fábrica Inglesa Herculaneum Pottery.

Peça interessante, que cativa o olhar de um qualquer – é o fascínio da Faiança Azul e Branca, mas que sem carimbo ou marca não permite uma identificação concreta da sua origem fabrico, da fábrica e do período em que foi efectuada.


Apesar de tudo, parece-nos que poderá ser uma Faiança da Fábrica de Miragaia, do seu segundo período de fabricação, 1822-1850.


A assim ser, corresponde ao período de fabricação final de Francisco da Rocha Soares (pai) e à de seu filho, também Francisco da Rocha Soares, em que a produção de peças de faiança, de uso doméstico, imitava, com frequência a decoração da louça inglesa, tão divulgada e valorizada à época.


Eram elementos preponderantes desta decoração, com paisagens estampilhadas na cor azul, os conjuntos edificados, sempre um deles com uma cúpula, a presença de um crescente e o deslumbrante enquadramento de vegetação tipo oriental.


São sem dúvida, estas semelhanças que nos levam a equacionar que a tampa em apreço seja Miragaia, pese embora, a decoração não seja “igual” a outras identificadas e apresentadas em livros que tratam deste tipo de Faianças – mas as semelhanças são muitas.


Pois também poderíamos equacionar ser uma Faiança da Fábrica de Santo António de Vale de Piedade, de Gaia, mas pelo branco da peça e pelos tons de azul inclinamos-nos mais para que seja de Miragaia.




Contudo, efectuada uma aturada análise comparativa com peças de Faiança de Miragaia, com as respectivas marcas, permite-nos identificar as seguintes diferenças: 

         - na presente peça a cúpula é central, nas peças de Miragaia geralmente localiza-se à direita do conjunto edificado;

         - nesta peça o crescente está na haste sobre a cúpula, nas peças de Miragaia, está sobre outro edifício que não possui cúpula, mas geralmente uma torre;

         - a asna triangular localiza-se sob a cúpula, na nossa peça, nas peças Miragaia, localiza-se num edifício lateral à cúpula,

         - os edifícios de menor porte, à esquerda do da cúpula, na nossa peça possuem duas ordens de fenestração, nas peças de Miragaia possuem quatro ou cinco ordens (pisos);

         - na nossa peça, os telhados dos edifícios de menor porte, à esquerda do da cúpula, evidenciam coberturas de duas águas, nos das peças de Miragaia, tal facto não é evidente e por vezes evidenciam quatro águas ou mesmo uma torre;

         - todas as peças de Miragaia rematam inferiormente com uma palma, em leque, a nossa peça apresenta somente uma vegetação rasteira, com um ligeiro esponjado, para além da qual se avistam os edifícios;

         - as peças de Miragaia exibem todas uma palmeira elevada, geralmente ao lado e superiormente à cúpula, a nossa peça não apresenta a palmeira mas árvores de outra espécie;

         - a nossa peça, sob o edifício da cúpula e no seu plano anterior exibe um arco de volta perfeita, e em todas as peças de Miragaia essa situação não ocorre, sendo exibido o que nos parece um relevo ou obstáculo orográfico irregular;

         - o filete de bordadura, azul, que apresenta a nossa tampa de terrina, não é habitual aparecer nas peças classificadas como de Miragaia, conforme marca ou carimbo que possuam;

         - os arabescos ou cornucópias que a nossa tampa possui, também não identificamos em peças de Miragaia…

Então a nossa peça em Faiança Azul e Branca não é de Miragaia, que pena! De que fábrica será?


Mas é linda.

Aqui fica a “prendinha” para todos os seguidores deste blogue ou para os bem-vindos visitantes! 

Comentário de 06.04.2015:

No seguimento de comentário de Luís Montalvão, do blog http://velhariasdoluis.blogspot.pt/

a nossa tampa de terrina é mais uma das muitas peças inspiradas no motivo "País" ou "País de Miragaia", mas que muito provavelmente, tal como já tínhamos concluído, não será fabrico de Miragaia, mas mais uma imitação.

Na Fonte 7, é apresentada mais uma imitação de Miragaia, em que é afirmado "este prato magnífico, que é uma também uma recriação da série País, que a fábrica Miragaia celebrizou entre 1822 e 1850. Lá encontramos o casario com um edifício de cúpula no centro, envolto em arvoredo e a aba com bordadura de flores".

(Prato com o motivo "País" ou "País de Miragaia", imitação ou recriação de fabrico"Miragaia", exibido na Fonte 7)

Para se comparar com uma peça reconhecida como fabrico de Miragaia, aqui fica a imagem da mesma:

(Travessa da série País de Miragaia do Museu Nacional de Soares dos Reis, inv 103 Cer)
(exibida na Fonte 7)

FONTES:

1) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

2) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

3) – “Faiança Portuguesa – Séculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

4) – “Cerâmica Artística Portuense dos Séculos XVIII e XIX”, Vasco Valente, Livraria Fernando Machado – Porto,

5) – “Cerâmica Portuense – Evolução Empresarial e Estruturas Edificadas”, Teresa Soeiro, Jorge Fernandes Lacerda, Silvestre Lacerda, Joaquim Oliveira, Edição Portugália, Nova série, volume XVI, 1995.

6) – “Fábrica de Louça de Miragaia”, Museu Nacional Soares dos Reis, Edição IMC, Lisboa, 2008.

7) - http://velhariasdoluis.blogspot.pt/2010/02/mais-uma-imitacao-da-serie-pais-de.html;