segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Prato Grande em Faiança de Aradas (Aveiro). Fabrico da Cerâmica Manuel Gonçalves (Vitória)?


Apresentamos mais uma peça em Faiança, um prato grande, ou dito de cozinha, de Aveiro, mais propriamente de uma das Fábricas de Aradas.


Trata-se de um prato grande, covo acentuado com decoração estampilhada monocroma azul, com uma aplicação aerografada na bordadura da aba, em degradação para o interior do covo, na mesma cor.


Possui na aba uma decoração com motivo vegetalista repetido: dez rosas aplicadas a estampilha, com recurso a chapa, monocromas na cor azul.


No limite do covo há dois filetes, o exterior fino e o interior mais espesso, possuindo o covo uma reserva central e circundando a mesma, mais cinco motivos vegetalistas monocromos, iguais aos aplicados na aba, igualmente na cor azul.


A reserva central é também um motivo vegetalista, interessante composição floral, intensamente preenchida e igualmente estampilhada através de stencil (chapa recortada), monocroma, em tom de azul mais forte.


No tardoz do prato, sobre um vidrado esbranquiçado, leitoso somente uma marca monocroma azul circular, tendo na coroa circular exterior as palavras “FAIANÇAS” e “ARADAS” e no círculo interior o Monograma: “CMG”, pensamos estar correcta a nossa leitura.


Presumimos que seja fabrico da Cerâmica de Manuel Gonçalves (Machado Vitória), fábrica que fundou em 1955, em Aradas.

Cremos ser assim, mas não temos a certeza.



Enquadramento desta Fábrica, um pouco de história:

Em 1922,  Manuel Gonçalves da Vitória,   João Gonçalves Vitória Machado, o “Jarreto” e Anunciação de Jesus Gomes, esposa de Manuel Gonçalves da Vitória, fundam a primeira fábrica de louça branca e começam a fabricar louça de "barro branco churro", em 1923, em Aradas.

Consta que o oleiro Manuel da Vitória, trabalhou antes em Coimbra e Viseu, em fábrica de barro branco, quanto ao irmão, João Vitória Machado, também oleiro, desconhecemos os seus antecedentes.

Segundo consta a matéria-prima para esta fábrica, “o barro branco churro”, vinha de Coimbra, de comboio, e era transportada desde o mesmo até à fábrica em carros de bois, nos limites de Aradas, mais propriamente em Leirinhas, numa propriedade de ambas e onde construíram a fábrica.

Manuel Vitória, o irmão mais velho, ficou como gerente da fábrica e o irmão mais novo, João Vitória Machado ficou como responsável da “escrituração”.

Entretanto vieram a surgir divergências entre ambos, que culminaram com a dissolução da empresa em meados de 1930 (Julho).

Consta que em 1931 João Vitória Machado fundou nova fábrica em Aradas, a “Fábrica do Jarreto” e Manuel Vitória veio a fundar outra em 1955.

No entanto há a salientar que a única família de oleiros que perdurou ao longo dos anos, em Aradas, e quase até à actualidade foi a família Vitória.

Os filhos de ambos, Licínio Gonçalves Vitória, Ilídio Gonçalves Vitória e António Gonçalves Vitória Machado, primos entre si, vieram a fundar em Outubro de 1970 a Cerâmica Primos Vitória

Aqui fica o carimbo, para que se consiga confirmar o seu fabrico!


Fontes:


domingo, 28 de dezembro de 2014

Bule de chá, modernista, da Fábrica de Loiça de Sacavém, com recuperação kirsch

Há peças de loiça utilitária, em faiança, de valor decorativo menor, mas que por diversas razões ou motivos nos cativam também.


Tal é o caso de um Bule, de faiança moldada, sem qualquer decoração, na cor verde seco, de forma globular/cónica, formato “PORTO”, com uma pega lateral em forma de “C” e bico levemente contra-curvado, com rebordo superior circular para encaixe da tampa, mas sem a mesma.


No fundo da base possui a marca estampada a preto, da Fábrica de Loiça de Sacavém correspondente ao período de fabrico de 1902-1970, isto é, da administração Gilman & Cta., com as indicações “SACAVÉM” e “PORTUGAL” e um símbolo ou marca figurativa, igualmente estampado a preto, um trevo de três folhas, para além de uma gravação na massa “C”.
 
 Presumimos que seja dos anos 50/60 do século passado.



A recuperação kirsch deste bule foi a aplicação e utilização de uma tampa metálica, de perfeito encaixe no rebordo do mesmo. Tampa pesada, com pega circular central e com um padrão alegórico de decoração vegetalista, em baixo relevo, na coroa circular da mesma e entre dois espinhados, um junto ao bordo e outro junto à pega, com traça da Média Ásia ou mesmo Oriental.


Foi, sem dúvida, que esta recuperação kirsch de um bule em faiança da Fábrica de Louça de Sacavém que nos encantou.


Não está em causa o valor da peça, quer em termos de decoração ou de coleccionismo, mas o facto de até onde chega a imaginação para a recuperação de uma peça utilitária em faiança e o sentido de comercialização da mesma!



FONTES:

1) – “150 Anos – 150 Peças – Fábrica de Loiça de Sacavém” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Março de 2006;


2) - “Dicionário de marcas de Faiança” de Filomena Simas e Sónia Isidro – Edição Estar Editora - Lisboa – 1996;

TIGELA RARA, DE MOTIVO DESCONHECIDO, DA FÁBRICA DE LOIÇA DE SACAVÉM

TIGELA RARA, COM COMPOSIÇÕES EVOCATIVAS AO NORTE, DE MOTIVO DESCONHECIDO, DA FÁBRICA DE LOIÇA DE SACAVÉM


Tigela em Faiança, da Fábrica de Loiça de Sacavém, com o formato “FRANCÊS”, com a marca estampada, na cor verde, de Gilman & Cta., SACAVÉM, PORTUGAL, correspondente ao período de fabrico de 1902-1970, mais especificamente ao sub-período 1921-1970.


Trata-se de uma peça moldada, em forma de calote, assente numa base circular, mais pequena, arredondada e com canelura.


Possui decoração monocroma, na cor verde, sobre fundo branco, por técnica de estamparia, com duas composições diferentes, dispostas simetricamente no bojo exterior.


O motivo decorativo de uma das composições com uma cena campestre e de ruralidade leva-nos a pensar no motivo “LAVOURA”, mas comparando com peças identificadas com este motivo, facilmente concluímos que não é.

Por outro lado, e comparando com outras peças com cenas de “TRABALHO AGRÍCOLA”, de um serviço particular, encomendado à FLS por Estêvão António D’ Oliveira, por volta de 1878-1880, também facilmente concluímos que não se trata do mesmo motivo.

Estamos pois perante um motivo ainda não catalogado!

Este motivo apresenta um carro de bois, com seis varais e com uma carga de feno ou milho, provavelmente, puxado por uma junta de vacas (vêem-se as tetas) eventualmente barrosãs (pela exibição dos cornos) com o agricultor, de vara e barrete, em frente às mesmas, mas não se conseguindo descortinar o jugo que alinhava os dois animais pelas cabeças.




Em função do tipo dos meãos das rodas, pode-se considerar que se trata de um carro de bois do Norte de Portugal, do Minho ou mesmo mais do Nordeste, o que vai ao encontro da raça do bovino, identificada.



A outra composição, bucólica e fluvial apresenta um rio, que presumimos ser o rio Douro, com a exibição de quatro barcos rabelos, dois próximos, de fácil percepção e dois mais afastados.




O mais próximo, sem a vela quadrada alçada, apresenta um carregamento de pipas, deitadas no barco, o qual possui dois vultos à frente e quatro atrás que movimentam o remo longo à popa – a espadela, para fazer navegar o barco, provavelmente do Alto Douro, rio Douro abaixo, com destino ao Porto.


O outro barco, um pouco mais afastado, com velas içadas, leva igualmente um carregamento de pipas, com um vulto à frente e três atrás, à espadela.


No horizonte vê-se a silhueta dos montes e no cimo de um,  uma quinta onde se lê “SANDEMAN” e “QUINTA”, a Quinta do Seixo, na margem sul do Rio Douro, no Cima-Corgo, onde se produz o Vinho do Porto, mundialmente conhecido e apreciado, SANDEMAN.



Em suma, trata-se de duas composições que enaltecem o Norte de Portugal, o Rio Douro, o Vinho do Porto e a sua agricultura.


Que motivo será?; “NORTE”?;  “PORTO”; “DOURO”?


FONTES:

1) – “Roteiro das Reservas”, Museu de Cerâmica de Sacavém, de Ana Paula Assunção, Carlos Pereira e Joana Pina, Edição Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – data?;

2) – “Itinerário pela Produção da Fábrica de Loiça de Sacavém”, Museu de Cerâmica de Sacavém, de Carlos Pereira, Joana Pina, Graciete Rodrigues e Feliciano David, Edição Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Julho de 2000;

3) – “Fábrica de Louça de Sacavém – Contribuição para o estudo da indústria cerâmica em Portugal 1856-1974” de Ana Paula Assunção, Colecção História da Arte – Edições INAPA – 1997;

4) – “150 Anos – 150 Peças – Fábrica de Loiça de Sacavém” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Março de 2006;

5) – “Dicionário de marcas de Faiança” de Filomena Simas e Sónia Isidro – Edição Estar Editora - Lisboa – 1996;

6) - “Porta aberta às memórias” – 2ª edição, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2009;

7) – “Porta aberta às memórias” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2008;

8) – “Primeiras Peças da Produção da Fábrica de Loiça de Sacavém – O papel do Coleccionador”, Museu de Cerâmica de Sacavém, de Ana Paula Assunção, Carlos Pereira e Eugénia Correia, Edição Museu de Cerâmica de Sacavém – Julho de 2003;

9) – “História da Fábrica de Loiça de Sacavém”, Museu de Cerâmica de Sacavém, de Ana Paula Assunção e Jorge Vasconcelos Aniceto, Edição Museu de Cerâmica de Sacavém – Julho de 2000;

   

domingo, 21 de dezembro de 2014

TAMPA DE TERRINA, EM FAIANÇA AZUL E BRANCA, MIRAGAIA (?)

Como o prometido é devido aqui vai a segunda “prendinha” para os seguidores do nosso blogue, nesta época natalícia, de paz, amizade e confraternização.


Uma interessante tampa de uma terrina, em Faiança Azul e Branca – o que é logo um fascínio, um deslumbramento!

Será Miragaia? Se for é uma maravilha! Um êxtase!

Trata-se de uma tampa de terrina, de forma oval; peça moldada, de encaixe, em cúpula, com pega elevada, em forma de flor.


A decoração é pintada e estampilhada a azul, sobre fundo branco, possuindo dos dois lados da pega uma paisagem tipo oriental, com um edifício composto com vários corpos, o central, mais alto e mais expressivo, encimado por uma cúpula, com zimbório e uma haste com um crescente.


Os restantes edifícios são de menor porte, com telhados de duas águas, enquadrados em vegetação luxuriante tipo oriental.

O edifício maior exibe uma asna triangular e sob a mesma, em zona lateral um arco de volta perfeita.

Sobre a cúpula, sobrevoam duas aves, graciosamente, parecendo interagirem entre si.


Na bordadura da tampa um largo filete na cor azul, e no intervalo entre as duas decorações referidas, um conjunto de cornucópias ou arabescos, espessos e pintados na cor azul.

Na restante área da tampa não decorada estão pintadas o que presumimos serem aves, mas longe, pela sua dimensão relativa.


A pega, em tipo de flor, encontra-se pintada na cor azul.

Têm-se vindo a denominar este motivo como “País”, ou “País Miragaia”, sendo que é inspirado num motivo inglês largamente produzido pela Fábrica Inglesa Herculaneum Pottery.

Peça interessante, que cativa o olhar de um qualquer – é o fascínio da Faiança Azul e Branca, mas que sem carimbo ou marca não permite uma identificação concreta da sua origem fabrico, da fábrica e do período em que foi efectuada.


Apesar de tudo, parece-nos que poderá ser uma Faiança da Fábrica de Miragaia, do seu segundo período de fabricação, 1822-1850.


A assim ser, corresponde ao período de fabricação final de Francisco da Rocha Soares (pai) e à de seu filho, também Francisco da Rocha Soares, em que a produção de peças de faiança, de uso doméstico, imitava, com frequência a decoração da louça inglesa, tão divulgada e valorizada à época.


Eram elementos preponderantes desta decoração, com paisagens estampilhadas na cor azul, os conjuntos edificados, sempre um deles com uma cúpula, a presença de um crescente e o deslumbrante enquadramento de vegetação tipo oriental.


São sem dúvida, estas semelhanças que nos levam a equacionar que a tampa em apreço seja Miragaia, pese embora, a decoração não seja “igual” a outras identificadas e apresentadas em livros que tratam deste tipo de Faianças – mas as semelhanças são muitas.


Pois também poderíamos equacionar ser uma Faiança da Fábrica de Santo António de Vale de Piedade, de Gaia, mas pelo branco da peça e pelos tons de azul inclinamos-nos mais para que seja de Miragaia.




Contudo, efectuada uma aturada análise comparativa com peças de Faiança de Miragaia, com as respectivas marcas, permite-nos identificar as seguintes diferenças: 

         - na presente peça a cúpula é central, nas peças de Miragaia geralmente localiza-se à direita do conjunto edificado;

         - nesta peça o crescente está na haste sobre a cúpula, nas peças de Miragaia, está sobre outro edifício que não possui cúpula, mas geralmente uma torre;

         - a asna triangular localiza-se sob a cúpula, na nossa peça, nas peças Miragaia, localiza-se num edifício lateral à cúpula,

         - os edifícios de menor porte, à esquerda do da cúpula, na nossa peça possuem duas ordens de fenestração, nas peças de Miragaia possuem quatro ou cinco ordens (pisos);

         - na nossa peça, os telhados dos edifícios de menor porte, à esquerda do da cúpula, evidenciam coberturas de duas águas, nos das peças de Miragaia, tal facto não é evidente e por vezes evidenciam quatro águas ou mesmo uma torre;

         - todas as peças de Miragaia rematam inferiormente com uma palma, em leque, a nossa peça apresenta somente uma vegetação rasteira, com um ligeiro esponjado, para além da qual se avistam os edifícios;

         - as peças de Miragaia exibem todas uma palmeira elevada, geralmente ao lado e superiormente à cúpula, a nossa peça não apresenta a palmeira mas árvores de outra espécie;

         - a nossa peça, sob o edifício da cúpula e no seu plano anterior exibe um arco de volta perfeita, e em todas as peças de Miragaia essa situação não ocorre, sendo exibido o que nos parece um relevo ou obstáculo orográfico irregular;

         - o filete de bordadura, azul, que apresenta a nossa tampa de terrina, não é habitual aparecer nas peças classificadas como de Miragaia, conforme marca ou carimbo que possuam;

         - os arabescos ou cornucópias que a nossa tampa possui, também não identificamos em peças de Miragaia…

Então a nossa peça em Faiança Azul e Branca não é de Miragaia, que pena! De que fábrica será?


Mas é linda.

Aqui fica a “prendinha” para todos os seguidores deste blogue ou para os bem-vindos visitantes! 

Comentário de 06.04.2015:

No seguimento de comentário de Luís Montalvão, do blog http://velhariasdoluis.blogspot.pt/

a nossa tampa de terrina é mais uma das muitas peças inspiradas no motivo "País" ou "País de Miragaia", mas que muito provavelmente, tal como já tínhamos concluído, não será fabrico de Miragaia, mas mais uma imitação.

Na Fonte 7, é apresentada mais uma imitação de Miragaia, em que é afirmado "este prato magnífico, que é uma também uma recriação da série País, que a fábrica Miragaia celebrizou entre 1822 e 1850. Lá encontramos o casario com um edifício de cúpula no centro, envolto em arvoredo e a aba com bordadura de flores".

(Prato com o motivo "País" ou "País de Miragaia", imitação ou recriação de fabrico"Miragaia", exibido na Fonte 7)

Para se comparar com uma peça reconhecida como fabrico de Miragaia, aqui fica a imagem da mesma:

(Travessa da série País de Miragaia do Museu Nacional de Soares dos Reis, inv 103 Cer)
(exibida na Fonte 7)

FONTES:

1) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

2) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

3) – “Faiança Portuguesa – Séculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

4) – “Cerâmica Artística Portuense dos Séculos XVIII e XIX”, Vasco Valente, Livraria Fernando Machado – Porto,

5) – “Cerâmica Portuense – Evolução Empresarial e Estruturas Edificadas”, Teresa Soeiro, Jorge Fernandes Lacerda, Silvestre Lacerda, Joaquim Oliveira, Edição Portugália, Nova série, volume XVI, 1995.

6) – “Fábrica de Louça de Miragaia”, Museu Nacional Soares dos Reis, Edição IMC, Lisboa, 2008.

7) - http://velhariasdoluis.blogspot.pt/2010/02/mais-uma-imitacao-da-serie-pais-de.html;



TRAVESSA OITAVADA, MOTIVO “RAPARIGA”, FAIANÇA DE JOSÉ DOS REIS (?)

Nesta época natalícia em que as prendinhas fazem parte da nossa vivência, para presentear familiares e amigos, somos também levados por tal atitude a presentear os seguidores do nosso blogue também com umas prendinhas.

Hoje apresentamos a primeira e oportunamente outra mais.


A de hoje corresponde a uma rara travessa oitavada, com o motivo “Rapariga”, como em Portugal foi generalizado, pois mais não é que o motivo inglês “Minerva”, com uma interpretação livre e popular, através de decoração monocromática, a vinoso (cinzento azulado – cor de amora) e ao que presumimos ser uma Faiança de Alcobaça, fabrico de José dos Reis (dos Santos).


Por conseguinte uma peça fabricada, provavelmente, entre 1875 e 1897, e que pelo seu motivo e decoração, se pode considerar, como rara.


É uma faiança monocromática a vinoso (cinzento azulado – cor de amora), com 33,3 x 25,5 x 3,8 cm, moldada, em forma oitavada, a partir de um rectângulo, com covo acentuado e aba ligeiramente côncava, decorada com motivos vegetalistas, em série repetitiva, pintados a estampilha, com recurso a “chapa”, notando-se os “pontos” com falta de vidrado ou danificado pelas trempes quando foi ao forno.


A reserva central é soberba e pouco vulgar, pois possui uma paisagem, com duas deusas gregas, cujo motivo corresponde ao conhecido “Rapariga” da Fábrica de Louça de Sacavém, mas mais não é que o motivo inglês “Minerva”, (Deusa da Sabedoria e das Artes), intensamente produzido em várias fábricas de Inglaterra, em meados do século XIX, mas com maior incidência pela Podmore Walker & Co., e pela Wedgwood.





















A Fábrica de Louça de Sacavém começou a produzir faianças com esta estampa “Rapariga” ou “Minerva” a partir de 1870 e com maior intensidade no período de 1886 a 1894 (período da Real Fábrica de Sacavém), quando os seus proprietários eram ingleses, os Howorth.














O motivo desta travessa é efectuado, parte à estampilha, possui bastantes esponjados e várias pinturas e retoques à mão livre, para acentuar a decoração e vincar o sentido de profundidade da paisagem, nas árvores, nas balaustradas e nas escadas.  

O relevo no horizonte e as nuvens tem um contorno mais escuro e o seu interior foi cheio a pincel – pintura manual, cremos.


Trata-se de uma travessa não marcada, com uma massa de textura fina, de esmaltado leitoso, mais ou menos homogéneo, mas com falhas pontuais do mesmo, semelhante ao que à época se fazia em Coimbra, sob o qual se denota uma massa cor de grão (acastanhada).


Mas pela análise da decoração, do tipo de pintura realizada e da comparação efectuada com outras peças, atribuídas a José dos Reis, apresentadas, nomeadamente no livro “ Cem anos de Louça em Alcobaça”, de Jorge Pereira de Sampaio e Luís Peres Pereira (2008), leva-nos a considerar ser uma peça de José dos Reis.


Mas também poderia (ou poderá) ser Coimbra, como já nos disseram, mas cremos, pela decoração, pelos esponjados (que começaram a ser produzidos do segundo lustre do século XIX, cremos), que será, mais provável, Alcobaça (José dos Reis), do que Coimbra. Mas, certezas absolutas, não há!


Possui uma falha antiga na bordadura da aba e encontra-se gateada, transversalmente, com sete “gatos” recentes, sendo perfeitamente visível o consequente “cabelo” que a atravessa de um lado ao outro.

Mas, apesar de tudo isto não deixa de ser uma bela peça, pelo menos para nós…..


Em suma, a raridade da peça, constitui uma “prendinha” para os seguidores deste blogue.


FONTES:


1) – “ Cem anos de Louça em Alcobaça”, de Jorge Pereira de Sampaio e Luís Peres Pereira, 2008;

2) – “Faiança de Alcobaça, de 1875 a 1950”, de Jorge Pereira de Sampaio, Estar Editora, Colecção Fundamental, 1997 (?);

3) - “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente: CeRamiCa PLUS” – Galeria de Exposições Temporárias – Mosteiro de Alcobaça; 6 de Abril a 4 de Maio 2011; Município de Alcobaça, 2011.

4) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

5) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.


6) – “Faiança Portuguesa – Séculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.