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domingo, 4 de dezembro de 2016

Prato covo em Faiança Azul e Branca de aba recortada


A Faiança Azul e Branca é sempre um misto de contemplação e deslumbramento.
Figura 1 - A nossa peça em apresentação

O formato da peça, a sua decoração, a arte na pintura, a cor e os escorridos do vidrado, permitem-se tecer considerações, explanar conjecturas, mesmo sem saber quem a fabricou, qual a fábrica ou o simples local onde foi produzida, qual a localidade ou mesmo a região da sua manufactura e qual a época de produção.
Figura 2 - A exuberante decoração do fundo do prato com o motivo "Challet" ou "Roselle"

Independentemente de tudo isto, e não indo na fácil leviandade de conjecturar que é fabrico “daqui”, da fábrica “tal” e do período “x”, que se assemelha ao fabrico “y”, será muito mais correto, na nossa óptica, contemplar a e descrever a mesma.
Os segredos que a peça encerra, por si só, para que as aprecia, as gosta de ver ou mesmo coleccionar, cria uma auréola de encanto, de deslumbramento e de entusiasmo para tentar “ver ou ler”, para além da mesma e do seu encanto.
Em que condições foi efectuada? Qual o espírito e devoção de quem a fabricou e a pintou? Em que época, período ou tempo foi efectuada? Quem a teria adquirido? Em que casas andou? Como conseguiu sobreviver até ao presente? O que teria visto e apreciado em todo este tempo até ao presente?
Esta que exibimos hoje, após um longo período de interregno, não por falta de peças para apresentar, mas de tempo para as divulgar, constitui, sem dúvida, uma cativante e interessante peça, com soberba decoração.
Figura 3 - A beleza da decoração do prato

Trata-se de um prato covo, sopeiro, relativamente pequeno – antigamente os pratos, quando utilizados individualmente, eram mais pequenos em diâmetro, pois pratos maiores como malgas ou palanganas, eram usadas para toda a família – todos comiam da mesma “o caldo com a broa”, ou as “sopas”, já que o conduto era colocado sobre uma fatia de pão.
Figura 4 - A decoração da aba do parto

A bordadura da aba é recortada, com uma pequena ondulação, que lhe confere logo uma singela beleza. São lóbulos pequenos e arredondados.
No entanto algo particular, interessante e relativamente raro é a concordância que há entre a aba e o covo, onde se cria uma coroa circular, plana, com um ligeiro relevo junto do covo, o qual por si, tem depois o desenvolvimento habitual até ao fundo do prato
Figura 5 - Pormenor da decoração da aba
.
A decoração também é interessante e intensa, preenchendo bem o prato. Começa com um filete espesso na bordadura a aba, de cor azul, e por outros dois filetes, mais finos, no limite interior da aba, antes de estabelecer a concordância com o covo.
A aba possui interessante decoração, entre os filetes referidos, com várias reservas em forma alongada, dentro das quais se insere uma espessa decoração em azul muito forte, que se pode identificar como um sol a pôr-se no horizonte, com uma sobreposição “areoglifica”, que não conseguimos identificar, nem contextualizar de outra forma. O espaço entre as cartelas é preenchido com ornato em quadrícula, também na cor azul, e irregular, ao jeito e “precisão” da mão do decorador.
Figura 6 - Pormenor da decoração das reservas da aba do prato

O fundo do prato começa também com um largo filete, que delimita a sua soberba e deslumbrante decoração, igualmente em tons de azul forte, o dito azul-manganês.
O motivo é recorrente, assemelhando-se ao dito motivo “Roselle”, ou “Challet”, em que a decoração exibe o alçado principal de uma edificação “apalaçada”, de cobertura com acentuada inclinação, exibindo dois níveis de fenestração, com uma torre, num dos lados, a qual possui vários vãos de fenestração.
Figura 7 - A decoração "Challet" ou "Roselle" no fundo do prato

O “Challlet” possui quatro mastros com bandeiras ou flamas (?), sendo o mesmo ladeado por intensa vegetação com duas frondosas árvores, uma de cada lado, que se iniciam num embasamento de enquadramento.
Figura 8 - Pormenor da Decoração no fundo do prato

Em termos de decoração parece-nos que foram usadas três técnicas, o ”stencil” ou chapa recortada, para efectuar as árvores e eventualmente o beirado do “challet”; o esponjado, para efectuar o embasamento de enquadramento do “challet”, bem como assim o sombreado de parte do mesmo e a vegetação no horizonte; finalmente o pincel, com a decoração manual, onde o decorador evidenciou os seus dotes e gostos, imprecisões e desalinho do pincel e da sua mão.
Figura 9 - Tardoz do prato

Em termos de materiais, denota-se que a pasta é ligeiramente cor de grão, espessa, e por isso, um prato pesado para o tamanho; o vidrado é leitoso, com alguns arrepiados e escorrências (no tardoz), para além de algumas esborratadelas a azul, das mãos ou do apoio quanto o decorador esteve a pintar o prato.
Figura 10 - Pormenor do tardoz do prato

Resumindo trata-se de uma interessante peça em faiança azul e branca, pouco vulgar em termos de formato, com decoração característica e identificada, já com muitos anos…., e digna de se apreciar.
Independentemente do que se disse inicialmente, e caso não indicássemos algo em relação ao fabrico, origem e época de peça, considerariam, eventualmente, uma postagem incompleta.
Figura 11 - Mais uma imagem do magnifico prato em apresentação

Sem mais delongas, alvitram-se as seguintes indicações: fabrico do Norte, de alguma das muitas fábricas existentes no Porto ou em Gaia, sugerir alguma, não nos atrevemos; do período que poderá variar entre o final do século XIX e inícios do século XX, será?

FONTES:

1) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

2) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

3) – “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

4) – “Cerâmica Artística Portuense dos Séculos XVIII e XIX”, Vasco Valente, Livraria Fernando Machado – Porto, 

5) – “Cerâmica Portuense – Evolução Empresarial e Estruturas Edificadas”, Teresa Soeiro, Jorge Fernandes Lacerda, Silvestre Lacerda, Joaquim Oliveira, Edição Portugália, Nova série, volume XVI, 1995.

6) – “Fábrica de Louça de Miragaia”, Museu Nacional Soares dos Reis, Edição IMC, Lisboa, 2008.

7)- https:// velhariastralhasetraquitanas.blogspot.pt/2015/04/travessa-em-faiança-azul-e-branca-motivo-“roselle”-fabrico-do-norte-?-imitação-de-miragaia-?.html;

8) - https://velhariastralhasetraquitanas.blogspot.pt/2015/03/travessa-em-faianca-motivo-casario-de.html;


9) - https://velhariastralhasetraquitanas.blogspot.pt/search/label/Motivo%20%22ROSELLE%22.html;