(O nosso prato da Villeroy & Boch) |
Os pratos em faiança com motivos
orientais, vulgarmente com paisagens chinesas, são interessantes, pois foi um
motivo recorrente de várias fábricas, com principal ênfase para a Fábrica de
Louças de Sacavém com os seus motivo 11 ou pagode chinês, motivo chinês.
(Prato Motivo Chines - site "Leilões") |
(Prato Motivo 11 -Pagode Chinês - site "Coisas") |
(o nosso prato da Fábrica de Louças de Sacavém) |
Também outras fábricas em
Portugal, como a Cesol, reproduziram, copiaram e recriaram este motivo, algo considerado
interessante e decorativo no imaginário popular, para rivalizar com a louça
chinesa – seria assim?
(O nosso prato da Cesol) |
A interessante decoração que
essas peças possuíam e quando com soberba pintura policromática, com a presença
de dourados dava o “brilho” de superior qualidade a essas peças, pelo que
sempre havia uma outra nos antigos lares portuguesas, ou penduradas nas
paredes, como uma peça decorativa ou mesmo dentro do guarda-louça como peça de
estimação e de transmissão de família, dos mais velhos para os mais novos.
(Deslumbrante a decoração policroma, repleta de dourados, no covo do prato) |
Essa tradição já se perdeu e o
valor dado a essas interessantes peças também já se perdeu na actualidade.
Mas a lembrança por esses factos
passados e pelo gosto destas peças requintadas levou-nos há dias a ficar
extasiados por um pequeno prato com exuberante decoração policromática, com
muitos dourados e com uma interessante decoração oriental, na qual não faltava
o pagode, o chinês com o característico chapéu em bico, com os salgueiros e com
interessantes aves orientais, de exuberantes cores.
(A marca do nosso prato "Villeroy & Boch - Wallerfangen - provavelmente do período 1874-1907) |
Prato devidamente identificado
com carimbo monocromo a castanho “VILLEROY & BOCH”, “WALLERFANGEN” e com a
marca na pasta “B4”.
(A gravação na pasta B4) |
Um pouco de história, da Fábrica e dos seus fundadores:
A fábrica Villeroy & Boch –
Wallerfangen foi fundada em 1789 por Nicolas Villeroy (1759-1843), em
Vaudrevange, mais tarde redenominada de Wallerfangen, nas margens do rio Saar, e
encerrou em 1931.
Nicolas Villeroy fundou a sua
primeira fábrica de cerâmicas na cidade francesa de Frauuenberg, em 1785, dedicando-se
a copiar as faianças que François Boch fazia, mas ao aplicar, com sucesso
decorações em utensílios de mesa, com uma avançada técnica de impressão, com
placa de cobre, teve um enorme sucesso na sua produção em série e com boa
rentabilidade.
Por seu lado François Boch, em 1748,
fundou na vila de Audun-le-Tiche, no Ducado de Lorena, uma pequena olaria, em
que os seus filhos, Pierre-Joseph, Dominique e Jean-François o auxiliavam na
produção, em grande parte de peças na cor marrom, devido ao óxido de ferro
abundante na argila da região.
Começou a fabricar louças de
cerâmica, nomeadamente pratos, copos, panelas e terrinas, que tinha formas
simples, mas de excelente qualidade e por isso os seus produtos e ele mesmo se
tornaram conhecidos num curto período de tempo.
Por outro lado a filha de Boch, Cathérine,
casou-se com Pierre Valette, um funcionário da fábrica de faianças de Lunéville
o qual transmitiu à família Boch o segredo da faiança branca.
Esta fábrica de Boch, em
Audun-le-Tiche, localizava-se em plena bacia do rio Saar. No século XVIII,
nesta região do Ducado de Lorraine (região independente entre o Reino da França
e o Sacro Império Germânico) surgiram inúmeras fábricas de cerâmicas.
Depois de o Ducado de Lorraine
perder a sua independência, passou a pertencer à França, e a fábrica foi
transferida, em 1767, para Septfontaines, no Grão Ducado de Luxemburgo, com um
novo nome, Jean-François Boch et Frères, onde iniciou a produção de peças para
o uso quotidiano, notoriamente na cor azul.
Foi pois em Septfontaines, no
Grão Ducado de Luxemburgo, em 1770, que surgiu a primeira decoração, chamada
“Brindille” ou “Alt Luxemburg”, ainda hoje em produção.
De realçar que em 1803, quando Napoleão
interditou a importação de óxido de chumbo inglês necessário para a fabricação
dos esmaltes, as fábricas iniciaram uma vasta fabricação de peças brancas, sem
decoração, para um mercado cada vez mais empobrecido.
Pouco depois, em 1806, Napoleão bloqueou a entrada na Europa
de todo e qualquer produto inglês, e os irmãos Boch aproveitaram a oportunidade
para reerguer a fábrica, chegando a empregar em 1811 mais de 150 funcionários.
Em 1809 Jean-François Boch desvinculou-se do grupo, comprou
a antiga Abadia de Mettlach, na Alemanha, casou-se com Rosalie Buschmann em
1812 e começou a produzir por conta própria a partir de 1813, com o nome
Boch-Buschmann.
Foi nesta fábrica, onde Boch
montou um sistema muito moderno, à época, e amplamente mecanizado para produção
de utensílios de mesa, em que muitas das máquinas foram projetadas
por Boch.
Na verdade foi com as invenções
das máquinas de Boch que começou uma nova era de fabricação, em que q cerâmica
manual estava agora a ser substituída pela produção industrial.
Hoje, esse edifício barroco ainda
é a sede corporativa da Villeroy & Boch .
Mas os avanços técnicos não eram
a única especialidade da família e Pierre Joseph Boch que
tinha sido introduzido no comércio por seu irmão melhorou muito o sistema de
segurança social dos seus trabalhadores, por fundar a Aliança Antonius, em
Septfontaines durante o ano de 1812.
Como se pode ver a família
Boch estava sempre interessada em novas ideias e em 1829 iniciou um novo
tipo de produto de cerâmica, que foi desenvolvido por Boch na
fábrica em Mettlach.
Este novo material era de uma cor
branca brilhante e extremamente estável, representando de forma intensa a
porcelana e, portanto, chamado de "porcelanato".
O segredo de sua fabricação foi
mantido bem dentro dos muros da empresa, para que nenhum concorrente estava na
posição para produzir qualquer coisa como isto.
Pouco depois, após o Congresso de Viena, parte do território
francês foi retomado pela Alemanha, e as famílias produtoras de cerâmicas que
se encontravam a menos de 20 km umas das outras, não encontrando outra solução senão
efectuar alianças, para a sua sobrevivência em termos de produção de faianças.
Em 1836, no dia 14 de abril, ocorreu a fusão das fábricas de Nicolas Villeroy e de François Boch, nascendo o
grupo VILLEROY & BOCH, com a família Villeroy controlando 60% do novo
negócio.
Em 1843, precisamente no ano em que faleceu Nicolas Villeroy, a empresa
iniciou a diversificação de seus produtos passando a fabricar pequenas peças de
cristais como copos, taças e jarras.
A fabricação de azulejos e de ladrilhos para pavimentos foi
iniciada em 1852, respondendo por mais de 60% da produção da fábrica,
principalmente após a instalação das caldeiras a vapor.
A partir de 1865, a importante obra de canalização do rio
Saar permitiu um rápido escoamento da produção.
A região tornou-se cada vez mais importante e a empresa
viveu um importante progresso. A qualidade da argila melhorou sensivelmente e
quando começaram a juntar caulino à massa, criaram a Porcelana Opaca, conhecida
também como porcelana inglesa.
Em 1872 a empresa iniciou a fabricação de louças sanitárias.
No final deste século, a VILLEROY & BOCH fornecia louças para as principais
Casas Reais Europeias.
Em 1902, após a instalação dos fornos-túnel em todas as
fábricas da região, a produção da empresa alcança um sucesso enorme. Nesta
época, os famosos Grés esmaltados de Mettlach e a faiança em relevo colorida
faziam grande sucesso comercial.
Ainda nesta época, os azulejos em estilo Art Nouveau foram destinados a inúmeras pastelarias
de Paris e Berlim, a estabelecimentos comerciais, fachadas e tetos do Palácio
Imperial de Estrasburgo, estando presentes em todos os transatlânticos da
companhia White Star, entre eles o tão
conhecido TITANIC.
Desde sempre, Villeroy & Boch mostrou
um timing perfeito e o sucesso
alcançado foi muito impressionante, mesmo quando comparado com os padrões de
hoje.
Esteve sempre à procura de uma nova inspiração, novas ideias,
revolucionárias como a do movimento Bauhaus, ao qual Villeroy &
Boch se dedicou durante 1930, cujo estilo se reflectiu em toda a gama
de produtos.
Àquela época, Villeroy & Boch empregava
cerca de 10.000 operários, mas a recessão teve o seu preço e por volta de 1931
a fábrica em Wallerfangen (1790-1931) encerra definitivamente.
Depois de 1935, a sociedade
Villeroy & Boch foi dissolvida e
todas as fábricas foram tratadas como empresas individuais com um escritório em
geral em Mettlach.
Com o início da Segunda Guerra Mundial, as outras fábricas
da empresa passam para o controle das autoridades nazistas e são destinadas
exclusivamente para a produção de munições.
Com o final do conflito, e após inúmeros bombardeamentos, as
máquinas estavam destruídas. Foram necessários oito meses somente para retirar
os escombros. As fábricas situadas no leste da Alemanha foram expropriadas.
Nas décadas seguintes a empresa retomou o crescimento,
intensificou as exportações para o Japão e Estados Unidos nos anos 70 e focou
sua linha de produtos também em peças em cristais, faqueiros em aço inox e
porcelanas para casas de banho.
Em 1987 grupo VILLEROY & BOCH tornou-se numa sociedade anónima e ainda hoje os membros da família fazem parte dos conselhos de
administração.
E as marcas da fábrica Villeroy & Boch – Wallerfangen:
As marcas conhecidas desta fábrica são as seguintes:
Marca 01
(Marca 01) |
Crê-se que marca foi usada entre 1881 e 1889, e em que as
“pétalas” que saem da base poderiam indicar o ano de fabricação (neste caso
seria 1885).
Marca 02
(Marca 02) |
Crê-se que marca, selo da Tinta "Mercury" , foi usada entre 1874 e 1909.
Marca 03
(Marca 03) |
Marca 04
(Marca 04) |
Crê-se que marca, "Mercury"
Ink carimbo, foi usada entre 1874 e 1909.
Marca 05
(Marca 05) |
Marca 06
(Marca 06) |
Marca 07
(Marca 07) |
Crê-se que marca, com “GERMANY” , foi igualmente usada entre 1836 e 1931.
Marca 08
(Marca 08) |
Crê-se que marca, com “KLEO” e “GESCHUTZT” , usada por volta de 1880, para peças com modelo KLEO (?).
Marca 09
(Marca 09) |
(Prato com o motivo "TIMOR" |
(Pormenor da decoração do motivo "TIMOR") |
Marca 10
(Marca 10) |
Crê-se que marca, com o modelo “BERTHA” , foi igualmente por volta de 1930.
(Pequena travessa em losango com o motivo "BERTHA" |
Em suma, um prato em faiança, policromático, deslumbrante de
uma das mais afamadas fábricas do Velho Continente: Villeroy & Boch.
(A nossa peça, da Villeroy & Boch, provavelmente do período de 1874.1907) |
Fontes:
Saudações Jorge Amaral!
ResponderEliminarA primeira publicação no meu blog, em 2011, foi uma bacia e um gomil da Villeroy & Boch!
Louça linda, e quase centenária.
Caso deseje dar uma olhadela, eis o link: https://tempoguaranaderolha.blogspot.com.br/2011/09/bacia-e-jarra-villeroy-boch.html
Abraço!
Caro C. Deveikis,
ResponderEliminarObrigada pela visita e pelo comentário - oportunissimo!
Já efectuei uma visita á sua postagem, que me referiu e a sua peça, é muito bela, tal como são a generalidade das peças da Villeroy & Boch.
Fiquei também satisfeito pois confirmam-se, mutuamente, as datas indicadas e os respectivos carimbos.
O carimbo da peça que apresentei reporta-se a Wallerfangen, fábrica que encerrou por volta de 1931, tendo a produção sido deslocada para outra fábrica a de Mettlach, crê-se que a partir de 1935.
O carimbo da sua peça é desta fábrica, pese embora já fosse fabricada anteriormente noutras fábricas da empresa, como refere que o fabrico deste motivo decorreu entre provavelmente 1890 e 1935 - está mais uma vez correcto - o que confirma as indicações que colocou na sua postagem.
Como importante e útil, para todos, a partilha de informação e conhecimentos.
Um abraço.
Jorge Amaral
Consegui aqui no Brasil um lote de uns dez pratos de parede Villeroy & Boch Wallerfangen. Só no seu blog tive a felicidade de encontrar as marcas perfeitamente identificadas e datadas. MUITO OBRIGADO e parabéns.//
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