quarta-feira, 22 de junho de 2016

Prato em Faiança-Motivo Oriental, ”chinoiserie”, da Villeroy & Boch, período 1874-1907


(O nosso prato da Villeroy & Boch)

Os pratos em faiança com motivos orientais, vulgarmente com paisagens chinesas, são interessantes, pois foi um motivo recorrente de várias fábricas, com principal ênfase para a Fábrica de Louças de Sacavém com os seus motivo 11 ou pagode chinês, motivo chinês.


(Prato Motivo Chines - site "Leilões")


(Prato Motivo 11 -Pagode Chinês - site "Coisas")


(o nosso prato da Fábrica de Louças de Sacavém)

Também outras fábricas em Portugal, como a Cesol, reproduziram, copiaram e recriaram este motivo, algo considerado interessante e decorativo no imaginário popular, para rivalizar com a louça chinesa – seria assim?


(O nosso prato da Cesol)
A interessante decoração que essas peças possuíam e quando com soberba pintura policromática, com a presença de dourados dava o “brilho” de superior qualidade a essas peças, pelo que sempre havia uma outra nos antigos lares portuguesas, ou penduradas nas paredes, como uma peça decorativa ou mesmo dentro do guarda-louça como peça de estimação e de transmissão de família, dos mais velhos para os mais novos.


(Deslumbrante a decoração policroma, repleta de dourados, no covo do prato)

Essa tradição já se perdeu e o valor dado a essas interessantes peças também já se perdeu na actualidade.

Mas a lembrança por esses factos passados e pelo gosto destas peças requintadas levou-nos há dias a ficar extasiados por um pequeno prato com exuberante decoração policromática, com muitos dourados e com uma interessante decoração oriental, na qual não faltava o pagode, o chinês com o característico chapéu em bico, com os salgueiros e com interessantes aves orientais, de exuberantes cores.


(A marca do nosso prato "Villeroy & Boch - Wallerfangen - provavelmente do período 1874-1907)

Prato devidamente identificado com carimbo monocromo a castanho “VILLEROY & BOCH”, “WALLERFANGEN” e com a marca na pasta “B4”.


(A gravação na pasta B4)


Um pouco de história, da Fábrica e dos seus fundadores:

A fábrica Villeroy & Boch – Wallerfangen foi fundada em 1789 por Nicolas Villeroy (1759-1843), em Vaudrevange, mais tarde redenominada de Wallerfangen, nas margens do rio Saar, e encerrou em 1931.


(A imagem de marca de Villeroy & Boch)
Nicolas Villeroy fundou a sua primeira fábrica de cerâmicas na cidade francesa de Frauuenberg, em 1785, dedicando-se a copiar as faianças que François Boch fazia, mas ao aplicar, com sucesso decorações em utensílios de mesa, com uma avançada técnica de impressão, com placa de cobre, teve um enorme sucesso na sua produção em série e com boa rentabilidade.

Por seu lado François Boch, em 1748, fundou na vila de Audun-le-Tiche, no Ducado de Lorena, uma pequena olaria, em que os seus filhos, Pierre-Joseph, Dominique e Jean-François o auxiliavam na produção, em grande parte de peças na cor marrom, devido ao óxido de ferro abundante na argila da região.


(Olaria de Boch, em 1748 em Audun-le-Tich - Pintura)
Começou a fabricar louças de cerâmica, nomeadamente pratos, copos, panelas e terrinas, que tinha formas simples, mas de excelente qualidade e por isso os seus produtos e ele mesmo se tornaram conhecidos num curto período de tempo.

Por outro lado a filha de Boch, Cathérine, casou-se com Pierre Valette, um funcionário da fábrica de faianças de Lunéville o qual transmitiu à família Boch o segredo da faiança branca.

Esta fábrica de Boch, em Audun-le-Tiche, localizava-se em plena bacia do rio Saar. No século XVIII, nesta região do Ducado de Lorraine (região independente entre o Reino da França e o Sacro Império Germânico) surgiram inúmeras fábricas de cerâmicas.

Depois de o Ducado de Lorraine perder a sua independência, passou a pertencer à França, e a fábrica foi transferida, em 1767, para Septfontaines, no Grão Ducado de Luxemburgo, com um novo nome, Jean-François Boch et Frères, onde iniciou a produção de peças para o uso quotidiano, notoriamente na cor azul.


(O Grão Ducado do Luxemburgo e a importância para as Faianças de Boch et Frères) 

Foi pois em Septfontaines, no Grão Ducado de Luxemburgo, em 1770, que surgiu a primeira decoração, chamada “Brindille” ou “Alt Luxemburg”, ainda hoje em produção.


(A decoração "Brindille")

De realçar que em 1803, quando Napoleão interditou a importação de óxido de chumbo inglês necessário para a fabricação dos esmaltes, as fábricas iniciaram uma vasta fabricação de peças brancas, sem decoração, para um mercado cada vez mais empobrecido.

Pouco depois, em 1806, Napoleão bloqueou a entrada na Europa de todo e qualquer produto inglês, e os irmãos Boch aproveitaram a oportunidade para reerguer a fábrica, chegando a empregar em 1811 mais de 150 funcionários.

Em 1809 Jean-François Boch desvinculou-se do grupo, comprou a antiga Abadia de Mettlach, na Alemanha, casou-se com Rosalie Buschmann em 1812 e começou a produzir por conta própria a partir de 1813, com o nome Boch-Buschmann.


(A Abadia de Mettlach e a produção de faianças de Boch-Buschmann)

Foi nesta fábrica, onde Boch montou um sistema muito moderno, à época, e amplamente mecanizado para produção de utensílios de mesa, em que muitas das máquinas foram projetadas por Boch.

Na verdade foi com as invenções das máquinas de Boch que começou uma nova era de fabricação, em que q cerâmica manual estava agora a ser substituída pela produção industrial. 

Hoje, esse edifício barroco ainda é a sede corporativa da Villeroy & Boch . 

Mas os avanços técnicos não eram a única especialidade da família e Pierre Joseph Boch que tinha sido introduzido no comércio por seu irmão melhorou muito o sistema de segurança social dos seus trabalhadores, por fundar a Aliança Antonius, em Septfontaines durante o ano de 1812.

(Pierre Joseph Boch e o sistema de segurança social "Aliança Antonius")

Como se pode ver a  família Boch estava sempre interessada em novas ideias e em 1829 iniciou um novo tipo de produto de cerâmica, que foi desenvolvido por Boch na fábrica em Mettlach. 

Este novo material era de uma cor branca brilhante e extremamente estável, representando de forma intensa a porcelana e, portanto, chamado de "porcelanato". 

O segredo de sua fabricação foi mantido bem dentro dos muros da empresa, para que nenhum concorrente estava na posição para produzir qualquer coisa como isto.

Pouco depois, após o Congresso de Viena, parte do território francês foi retomado pela Alemanha, e as famílias produtoras de cerâmicas que se encontravam a menos de 20 km umas das outras, não encontrando outra solução senão efectuar alianças, para a sua sobrevivência em termos de produção de faianças.

Em 1836, no dia 14 de abril, ocorreu a fusão das fábricas de Nicolas Villeroy e de François Boch, nascendo o grupo VILLEROY & BOCH, com a família Villeroy controlando 60% do novo negócio.

(Nicolas Villeroy)

Em 1843, precisamente no ano em que faleceu Nicolas Villeroy, a empresa iniciou a diversificação de seus produtos passando a fabricar pequenas peças de cristais como copos, taças e jarras.


(1843 - Inicio da produção de cristais)

A fabricação de azulejos e de ladrilhos para pavimentos foi iniciada em 1852, respondendo por mais de 60% da produção da fábrica, principalmente após a instalação das caldeiras a vapor.


(1852 - Inicio da produção de ladrilhos para pavimentos)

A partir de 1865, a importante obra de canalização do rio Saar permitiu um rápido escoamento da produção.

A região tornou-se cada vez mais importante e a empresa viveu um importante progresso. A qualidade da argila melhorou sensivelmente e quando começaram a juntar caulino à massa, criaram a Porcelana Opaca, conhecida também como porcelana inglesa.

Em 1872 a empresa iniciou a fabricação de louças sanitárias. No final deste século, a VILLEROY & BOCH fornecia louças para as principais Casas Reais Europeias.


(1872 - Inicio da produção de louças sanitárias)

Em 1902, após a instalação dos fornos-túnel em todas as fábricas da região, a produção da empresa alcança um sucesso enorme. Nesta época, os famosos Grés esmaltados de Mettlach e a faiança em relevo colorida faziam grande sucesso comercial.

Ainda nesta época, os azulejos em estilo Art Nouveau foram destinados a inúmeras pastelarias de Paris e Berlim, a estabelecimentos comerciais, fachadas e tetos do Palácio Imperial de Estrasburgo, estando presentes em todos os transatlânticos da companhia White Star, entre eles o tão conhecido TITANIC.

Desde sempre, Villeroy & Boch mostrou um timing perfeito e o sucesso alcançado foi muito impressionante, mesmo quando comparado com os padrões de hoje. 

Esteve sempre à procura de uma nova inspiração, novas ideias, revolucionárias como a do movimento Bauhaus, ao qual Villeroy & Boch se dedicou durante 1930, cujo estilo se reflectiu em toda a gama de produtos. 


(1932 - Faianças na linha "modernista" Bauhaus)

Àquela época, Villeroy & Boch empregava cerca de 10.000 operários, mas a recessão teve o seu preço e por volta de 1931 a fábrica em Wallerfangen (1790-1931) encerra definitivamente.

Depois de 1935, a sociedade Villeroy & Boch  foi dissolvida e todas as fábricas foram tratadas como empresas individuais com um escritório em geral em Mettlach.

Com o início da Segunda Guerra Mundial, as outras fábricas da empresa passam para o controle das autoridades nazistas e são destinadas exclusivamente para a produção de munições.

Com o final do conflito, e após inúmeros bombardeamentos, as máquinas estavam destruídas. Foram necessários oito meses somente para retirar os escombros. As fábricas situadas no leste da Alemanha foram expropriadas.

Nas décadas seguintes a empresa retomou o crescimento, intensificou as exportações para o Japão e Estados Unidos nos anos 70 e focou sua linha de produtos também em peças em cristais, faqueiros em aço inox e porcelanas para casas de banho.

Em 1987 grupo VILLEROY & BOCH tornou-se numa sociedade anónima e ainda hoje os membros da família fazem parte dos conselhos de administração.


E as marcas da fábrica Villeroy & Boch – Wallerfangen:

As marcas conhecidas desta fábrica são as seguintes:

Marca 01


(Marca 01)


Crê-se que marca foi usada entre 1881 e 1889, e em que as “pétalas” que saem da base poderiam indicar o ano de fabricação (neste caso seria 1885).


Marca 02


(Marca 02)

Crê-se que marca, selo da Tinta "Mercury" , foi usada entre 1874 e 1909.


Marca 03


(Marca 03)

Crê-se que marca, "Mercury" Selo da Tinta, foi usada entre 1874 e 1909.


Marca 04


(Marca 04)

Crê-se que marca, "Mercury" Ink carimbo, foi usada entre 1874 e 1909.


Marca 05


(Marca 05)

Crê-se que marca, “Made in Saar Basin” , foi usada entre 1920 e 1931.


Marca 06


(Marca 06)

Crê-se que marca, “Depor /  Gesetzlich Geschützt “ , foi usada, provavelmente, entre 1920 e 1931 e indica que é um design protegido.


Marca 07

(Marca 07)

Crê-se que marca, com “GERMANY” , foi igualmente usada entre 1836 e 1931.


Marca 08


(Marca 08)


Crê-se que marca, com “KLEO” e “GESCHUTZT” ,  usada por volta de 1880, para peças com modelo KLEO (?).


Marca 09


(Marca 09)

Crê-se que marca, com o modeloTIMOR” , foi igualmente por volta de 1900. 

Foi aplicada em peças com esta decoração:


(Prato com o motivo "TIMOR"


(Pormenor da decoração do motivo "TIMOR")


Marca 10


(Marca 10)

Crê-se que marca, com o modelo “BERTHA” , foi igualmente por volta de 1930.

Foi aplicada em peças com esta decoração:


(Pequena travessa em losango com o motivo "BERTHA"
Em suma, um prato em faiança, policromático, deslumbrante de uma das mais afamadas fábricas do Velho Continente: Villeroy & Boch.


(A nossa peça, da Villeroy & Boch, provavelmente do período de 1874.1907)



Fontes:










3 comentários:

  1. Saudações Jorge Amaral!
    A primeira publicação no meu blog, em 2011, foi uma bacia e um gomil da Villeroy & Boch!
    Louça linda, e quase centenária.
    Caso deseje dar uma olhadela, eis o link: https://tempoguaranaderolha.blogspot.com.br/2011/09/bacia-e-jarra-villeroy-boch.html
    Abraço!

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  2. Caro C. Deveikis,

    Obrigada pela visita e pelo comentário - oportunissimo!
    Já efectuei uma visita á sua postagem, que me referiu e a sua peça, é muito bela, tal como são a generalidade das peças da Villeroy & Boch.

    Fiquei também satisfeito pois confirmam-se, mutuamente, as datas indicadas e os respectivos carimbos.

    O carimbo da peça que apresentei reporta-se a Wallerfangen, fábrica que encerrou por volta de 1931, tendo a produção sido deslocada para outra fábrica a de Mettlach, crê-se que a partir de 1935.
    O carimbo da sua peça é desta fábrica, pese embora já fosse fabricada anteriormente noutras fábricas da empresa, como refere que o fabrico deste motivo decorreu entre provavelmente 1890 e 1935 - está mais uma vez correcto - o que confirma as indicações que colocou na sua postagem.

    Como importante e útil, para todos, a partilha de informação e conhecimentos.

    Um abraço.
    Jorge Amaral

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  3. Consegui aqui no Brasil um lote de uns dez pratos de parede Villeroy & Boch Wallerfangen. Só no seu blog tive a felicidade de encontrar as marcas perfeitamente identificadas e datadas. MUITO OBRIGADO e parabéns.//

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