Já se justificava a
apresentação de uma peça em faiança de mais de uma das fábricas de louça de
Lisboa – da Fábrica do Desterro.
(Imagem 1 - A nossa peça) |
Apresentamos um interessante
prato dessa fábrica, com o motivo Primavera, um dos padrões mais conhecidos
desta fábrica, mas devidamente identificado no carimbo aposto no tardoz do
prato.
(Imagem 2 - O tardoz da nossa Peça) |
Prato raso, em que a
decoração vegetalista, monocroma, na cor grená, com três representações
vegetalistas, de flores e ramos, dois iguais em dimensão e outro de maior
dimensão, ocupam parte da aba e que se prolongam até ao covo do prato.
(Imagem 3- A decoração da nossa Peça e os pormenores do remate da Aba) |
O acabamento da aba é
interessantíssimo, com a bordadura recortada em lóbulos e a própria aba em si
com baixos e altos-relevos assentando a beleza do prato.
(Imagem 4 - Um pormenor da Decoração da Peça) |
Em termos de aspecto parece
uma peça “leve” mas quando se pega, nota-se o seu “peso”, característica da
faiança efectuada à época, pese embora com um vidrado muito branco, que dá o “sentido”
de leveza à peça.
(Imagem 5 - O carimbo na Peça - identificando o fabrico e o motivo) |
O tardoz é característico da
época da sua execução e do respectivo fabrico: fundo com dois fretes, um de
bordadura da base e outro a meio, sendo que no círculo central é que se
encontra aposto o carimbo com a marca da fábrica e com a identificação do
motivo da decoração.
(Imagem 6 - O pormenor dos três pontos não vidrados da trempe) |
No tardoz da aba identificam-se
perfeitamente os três conjuntos de três pontos “picados”, vestígios das
trempes, usadas à época e quando a peça, o prato, foi a vidrar.
(Imagem 7 - O Carimbo aposto no tardoz do prato) |
O carimbo, monocroma, grená,
possui o “brasão” desta fábrica, que correspondia ao brasão de armas da casa
onde estava instalada, a sua identificação: “FÁBRICA DO DESTERRO”, “LISBOA” e o
motivo da peça “PRIMAVERA”. Carimbo identificado como sendo de 1987.
Há peças semelhantes á que
apresentamos também na cor verde.
(Imagem 8 - Outro prato idêntico na cor verde - Fonte 1) |
Um
pouco de informação sobre a Fábrica:
Consta que a Fábrica do
Desterro foi fundada em 1889, em Lisboa, na Rua Nova do Desterro, por três
fundadores: Campos, Neves & Branco.
Em 1901 passou para as mãos
do único fundador José das Neves, o qual assumiu a gerência, sozinho, crendo-se
que encerrou definitivamente no início da década de trinta do século XX (por
volta de 1920-1921).
Consta igualmente que teve
um depósito de louças ou armazém na Rua da Prata 293 a 295
(em Lisboa).
Um
pouco de informação sobre o seu fabrico:
Desde a sua fundação e até 1891
produziu peças em faianças e peças em
pó de pedra, ou faiança fina.
(Imagem 9 - Faiança Fina - Bule com o Motivo Primavera - Fonte 4) |
Esta louça era decorada com
motivos a cores, monocromas, e esmaltada com qualidade, semelhante às louças
produzidas pelas fábricas de Sacavém e de Alcântara pelo que foi uma forte concorrente
a estas fábricas.
As estampas que usavam eram
iguais, idênticas e semelhantes às que usavam as referidas fábricas, sendo o
motivo "Cavalinho" (Grece
Statue), um dos recorrentes. (fonte 4).
(Imagem 10 - Prato com o motivo "Cavalinho" ou "Estátua"- Fonte 4) |
(Imagem 11 - Carimbo no prato - motivo "Estátua" - Fonte 4) |
A marca usada tinha o brasão
de armas que pertencia à casa onde estava instalada, propriedade adquirida
pelos fundadores.
Esta fábrica igualmente se dedicou-se
à pintura manual e ao fabrico de painéis de azulejos (fonte 3), de placas, para
além de pratos decorativos.
(Imagem 12 - Painel de Azulejos da Fábrica do Desterro - Lisboa - Fonte 3) |
Um dos motivos mais
interessantes produzidos nesses pratos decorativos foi com a comemoração do
quarto centenário da descoberta do caminho marítimo para a Índia, mas também
outros como um com a decoração de Sintra, mais precisamente do Palácio da Pena,
e com a indicação “CINTRA”.
(Imagem 13 - Prato com o motivo "CINTRA" - Fonte 1) |
Igualmente produziu louça
com decoração publicitária como, por exemplo, ao Armazém de Fazendas Gaspar C.
Jacob, na Rua de Arroyos, 164 (em Lisboa). (fonte 2).
(Imagem 14 - Prato Publicitário - Fonte 2) |
(Imagem 15 - Carimbo do Prato Publicitário - Fonte 2) |
Em 1901 José das Neves ficou
sozinho com a gerência da fábrica tendo passado a produzir sobretudo louça
vermelha.
Desconhecemos se não seria
com o encerramento da Fábrica do Desterro, quando já produzia louça de barro
que se iniciou a Olaria do Desterro, que laborou até finais da década de 60 ou
inicio da de 70 do século passado, quando encerrou.
FONTES:
6)
- http://leriasrendasvelhariasdamaria.blogspot.pt/2015/03/caminhar-por-lisboa-com-o-neto-dei-de.html;
8)
- “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, com
Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e
Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987;
9)
-“Cerâmica Portuguesa – Marcas da Cerâmica Portuguesa”, de José Queirós,
2ª Edição, II Volume, (1ª reedição em fac-simile), José Ribeiro – Editor e
Livraria Estante Editora, Aveiro – 1987;
10)
- “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores
ACD, 2008.
11)
- “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria
Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.
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