1. Introito
Existe uma faiança decorativa, “tipo Louça
de Alcobaça”, com algumas semelhanças à produzida por Raul da Bernarda, na década de 30, do século passado, com
interessante e intensa decoração policromática, com aplicação dos fortes azuis
que tanto nos deslumbram.
Trata-se de faianças da C.B.L., ou seja
da Cerâmica Bombarralense, Limitada, do Bombarral, que frequentemente é
confundida com as faianças de Alcobaça, dada a sua semelhança.
Recentemente estivemos em casa de pessoa
amiga que possui uma interessante colecção destas faianças, conseguida e
organizada pelo seu falecido pai, pela qual ficámos deslumbrados e tecemos
algumas considerações, quer em relação à decoração, quer em relação à
tonalidade das cores.
E então não é que num gesto de puro afecto que somos presenteados com um prato decorativo, de asas, tipo prato de
torradas
.
Logo pensamos, o reconhecimento deste
gesto vai ser uma publicação no blogue acerca das Faianças produzidas pela
C.B.L. – Bombarral.
2.
Historiando: Cerâmica e Jorge Monteiro
A Cerâmica C.B.L., do Bombarral, foi uma
das duas importantes cerâmicas desta localidade, mais propriamente a primeira a
ser fundada.
A Cerâmica Bombarralense Limitada
(C.B.L.) foi fundada em 1944, vindo a encerrar em 1954. Foi constituída por
escritura de 18 de Fevereiro 1944, em que se declarava estar a C. B. L.
"destinada ao fabrico de louça doméstica, artística e azulejos", e tinha
como seu capital inicial a quantia de 60.000$00, cujo capital social estava
distribuído por três parcelas de 20.000$00, em nome de José Luiz de Barros,
Joaquim Amador Maurício e Jorge de Almeida Monteiro.
O grande impulsionador e dinamizador da
fábrica foi Jorge de Almeida Monteiro, que nasceu em 1908, na citada localidade
do Bombarral e que viria a falecer em 1983.
O mesmo exerceu as funções de director técnico cuja produção se centrava em modelos que evocavam elementos decorativos
de outros séculos, bem como ao recorrente e intenso azul que se aplicava na
faiança de Alcobaça.
A família de Jorge Monteiro dedicava-se
ao pequeno comércio, sendo que seu pai, Custódio de Almeida Monteiro, possuía uma
loja de vidros e louças.
Jorge Monteiro frequentou, nas Caldas da
Rainha, a então denominada Escola Primária Superior e a Escola Industrial e
Comercial. Começou por frequentar um curso comercial, que não chegou a
concluir, tendo mais tarde optado por se matricular no curso de cerâmica.
Em 1938, com 30 anos, casou com a jovem
Atalanta Judicibus, filha de um tal Evaristo Judicibus, que possuía uma
tipografia, tendo ido o casal viver para a Nazaré.
Jorge Monteiro desenvolve o seu trabalho
entre a loja do pai e a tipografia do sogro, fazendo ainda trabalhos de reparação
de mobiliário, com o recurso ao cobre e à madeira, bem assim como
desenvolvendo-se como artista, criando peças em cobre martelado.
Por volta de 1940 ou 1941, um
reconhecido ceramista e escultor, à época, Alberto Morais do Vale, que era o director da Escola Caldense, organizou no Bombarral um curso de artes plásticas,
no qual Jorge Monteiro participou.
Como resultado desta participação, Jorge
Monteiro, obteve o estímulo para projectar a fundação de uma fábrica de
cerâmica, o que viria a acontecer em 1944, com a C.B.L. – Cerâmica
Bombarralense, Limitada, que se dedicou à produção de louça decorativa e
azulejo, a qual viria a encerar em 1954, na sequência de um incêndio e quando
já se encontrava descapitalizada.
No entanto, há relatos históricos de que a
Cerâmica Bombarralense chegou a estabelecer durante algum tempo, um núcleo
experimental de cerâmica contemporânea, onde alguns ceramistas, escultores e
pintores, eventualmente, poderão ter criado, algumas peças.
Deste modo, esta fábrica teve um papel
importante à época pois foi também e para além da sua fabricação foi um ponto
de encontro artístico e político. Nomes das artes, como o pintor Júlio Pomar
(n.1926), Alice Jorge (1924 – 2008), Hernâni Lopes, Stella de Brito, David de Sousa,
a ceramista Maria Barreira (1910 – 2014) e Vasco Pereira da Conceição (1914 –
1992), foram alguns dos que o frequentam. O ambiente cultural e estético vivido
era fortemente influenciado pelo neorrealismo.
Por outro lado no início da década de
50, António Dias Coelho faz experiências de cerâmica nesta Cerâmica. E foi em 1944,
que o jovem pintor de cerâmica, Ferreira da Silva, vindo de Coimbra com 16
anos, principiou a sua carreira artística.
Evidenciando a importância desta fábrica
e o seu mentor Jorge Monteiro há a referir que este esteve presente nas
Exposições Gerais de Artes Plásticas da Sociedade Nacional de Belas Artes,
entre 1949 e 1954, ou seja até ao ano de encerramento daquela.
3.
Caracterização da Faiança da C.B.L.
A Faiança da C.B.L. – Bombarral
integra-se perfeitamente no conjunto das louças denominadas como “Louça de
Alcobaça”, quer pela sua composição, quer pela sua policromia, quer pela palete
de cores aplicadas.
Na verdade, tratam-se de peças em que a
cor de fundo é o azul claro e a decoração a azul-escuro, amarelo-torrado,
vermelho, verde, castanho e violeta.
Cercaduras com filetes em azul-escuro,
com filete em amarelo-torrado, intercalado; com cercadura de arranjos
esquematizados, com azuis carregados e bem cozidos, que dão um reflexo notório
à peça, enaltecendo a sua imagem.
A composição floral do fundo do prato
tem uma forma e expressão mais simples de tratamento, com cor
monocromática azul, menos fortes, mas mantendo os habituais tons.
As composições florais habitualmente
exibidas apresentam interessantes arranjos florais com a interposição de
arranjos geométricos com reservas de linhas vermelhas entre-cruzadas, em perfeita sintonia e com uma beleza abrangente e cativante em termos de decoração policromática.
As marcas no verso das peças, todas
manuais, identificam o fabrico da peça “C.B.L.”, identificam o local
“BOMBARRAL”, cultivam o marketing “MADE IN PORTUGAL” e identificam o pintor da
mesma. Na nossa peça “A.L.”- quão gostaríamos de descobrir e depois dar a
conhecer quem teria sido o pintor artístico desta peça de faiança.
Para uma melhor identificação da
composição dos arranjos apresentados e da composição cromática da Cerâmica
C.B.L, apresentamos algumas peças, cujas imagens foram recolhidas na NET e que
ilustram tais referências.
4.
Em jeito de conclusão
A faiança da C.B.L. – Cerâmica Bombarralense,
Lda. teve um significativo relevo e importância na época em que laborou, sendo
a fábrica mais a sul, da região de Alcobaça a fabricar a denominada “Louça de
Alcobaça”, com padrões decorativos policromáticos bastante elaborados e com
tonalidades de azul bastante fortes e outras cores também fortes que se
assemelhavam a decorações da Vistal
ou Vestal, bem assim como de Raul da Bernarda.
Oportunamente voltaremos a falar desta
fábrica, com outras peças que temos por catalogar, bem assim como da eventual
obtenção de informações referentes a esta fábrica e que andamos a pesquisar.
Fontes:
2) - Humberto Sousinha Macatrão, "Jorge de Almeida Monteiro".
3) - Jorge
de Almeida Monteiro, 1908-1983. Catalogo das Exposições. Museu Municipal do
Bombarral, 1997
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