A paixão ou obsessão pela
Louça de Alcântara leva-nos a apresentar outra peça dessa deslumbrante Fábrica,
de que tão pouco se sabe – um prato covo, perfeitíssimo, imaculado, com o
motivo “Pássaros”? “Pardais” ?, não sabemos.
Prato em faiança fina, tal
como o próprio carimbo no tardoz do mesmo a indica, de muito boa qualidade de
execução, com uma interessante decoração monocromática a, negro, com motivos vegetalistas,
de duas espécies, pássaros, borboleta e insecto.
É uma decoração estampada,
fora dos habituais padrões, não demonstrando qualquer influência inglesa, antes
pelo contrário, uma decoração inovadora, à época, influenciada pelas novas
linhas temáticas da arte.
A decoração é contínua de
aba a aba, atravessando todo o covo do prato, com uma organização perfeita na
área disponível do mesmo e criando um enquadramento harmonioso da cena
ambientalista apresentada.
Constitui, provavelmente,
uma das primeiras manifestações na cerâmica, em Portugal, da denominada “Arte Nova”, em que os conceitos e ideias
naturalistas eram postos em prática, neste caso específico, a nível da
decoração.
Mais tarde, já no início
do século XIX, este estilo estético, foi ao seu expoente máxima, a nível da
cerâmica nacional, ultrapassando a decoração e influenciando a forma e assim
surgiram muitas peças, nas Caldas da Rainha, em forma de vegetais. Peças
cerâmicas em forma de couves, alfaces, abóboras; de peixes e de outros animais –
quem não conhece a “Louça das Caldas”
?
Não há dúvida que se trata
de uma decoração vegetalista na linha de outros motivos, desta fábrica, tais como:
motivo PAISAGEM, motivo FRAGATA, motivo VARINA?, motivo LEQUE?,
motivo ESTIO?, motivo CACTOS, motivo PAPOILAS?, motivo PHANTASIA,
motivo ESPIGAS?, motivo CAMPAINHAS, motivo LEQUES, ou motivo SILVAS,
em que se pode considerar que há um elo condutor, a decoração com motivos
vegetalistas, fora dos habituais padrões de estampagem com influência anglo-saxónica
e em que a decoração se desenvolvia sem os preconceitos de aba e covo, mas sim
sobre toda a superfície do prato.
Possui no tardoz do prato
marca monocromática a, negro, com a indicação de “L & C” – (Lopes &
C.ª), “FAIANÇA FINA”, “FABRICA D’ALCANTARA”, , pelo que o seu provável período
de fabricação, segundo a fonte 1), se terá iniciado no ano de 1886, quando a fábrica
passou para a propriedade e gestão de Lopes & C.ª. Não possui qualquer
referencia ou identificação do estilo da decoração.
Segundo palestra dada pelo
Sr. Jaime Regalado em 23 de Janeiro do corrente ano, no Museu de Cerâmica de
Sacavém, a designação de “FAIANÇA FINA”, em substituição de “LOUÇA À INGLEZA”,
começou a ser aplicada provavelmente a partir de 1890.
Trata-se pois de uma peça,
muito provavelmente com cerca, ou mais, de 125 anos, em perfeito estado de conservação,
sem qualquer cabelo, nem qualquer outra falha – uma peça de faiança da Fábrica
de Louça de Alcântara imaculada!
Em suma podemos considerar
uma peça rara!
Fontes:
1) – “Cerâmica Portuguesa e
Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e
Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial
Presença – 3ª Edição – 1987;
4) - “Cerâmica Portuguesa – Marcas da Cerâmica
Portuguesa”, de José Queirós, 2ª Edição, II Volume, (1ª reedição em
fac-simile), José Ribeiro – Editor e Livraria Estante Editora, Aveiro – 1987;
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