Há
dias felizes, como se costuma dizer!
Há
algum tempo atrás numa das nossas deambulações por uma das muitas feiras de
velharias, de antiguidades e de “lixo”, que se realizam; num pano de chão e
entre várias peças de faiança, de porcelana e de quinquilharia diversa, vimos
duas boas peças de loiça da Fábrica de Alcântara.
Começamos
por perguntar o preço de umas peças em faiança, de fabrico corrente e menos
valorizadas e outras em porcelana, algumas mesmo “chinesices”; por fim
perguntamos o preço das duas interessantes peças em Faiança de Alcântara, uma
travessa de cantos arredondados e uma molheira…
“À, isso é outra loiça, é de Alcântara, tem
mais de cem anos, isso é caro….”, Lá dizia o vendedor, e nós com toda a
calma e tempo lá lhe perguntámos o valor, e na verdade o valor que indicou era
elevado, até um pouco exagerado!
Voltamos-nos
para outras peças de qualidade inferior, mirámos as mesmas, enquanto ela
atendia um casal, que lhe comprou algumas peças.
Voltámos
à carga, como se costuma dizer, e pedimos se ele fazia um preço especial,
gostávamos das peças, mas desconhecíamos que as mesmas “valiam tanto”; na
verdade fez uma razoável atenção no valor, ao que nós contrapusemos outro
valor, metade do valor inicial que tinha indicado, ele subiu um pouco e lá
fizemos negócio!
Negócio
feito e um grande rol de recomendações “tenha
cuidado com essas peças, não as parta, são muito boas,… tenha cuidado não bata
com o saco,…, não o deixe cair”; ao que agradecemos.
E
lá trouxemos uma travessa funda, com covo acentuado, de cantos arredondados e
uma molheira, de interessante silhueta, vista de perfil, ambas com decoração
vegetalista, monocromático azul-escuro, cujo motivo se denomina “PORTO”.
Esta
decoração, por estampagem, para além dos motivos vegetalistas, exibe também
arranjos geométricos com elementos curvos, alternados com arranjos vegetalistas
de pequena dimensão, com simetria e repetição.
A
travessa possui marca gravada na pasta, com o formato circular, com a indicação “LOPES & C.ª – ALCANTARA –
LISBOA”, correspondendo, provavelmente ao período de fabrico entre 1900 e 1917,
tendo em atenção a
palestra dada pelo Sr. Jaime Regalado em 23 de Janeiro do corrente ano, no
Museu de Cerâmica de Sacavém. Não possui qualquer identificação do motivo.
Quanto
à molheira e devido à sua base ser copada e funda, não possuí qualquer carimbo
ou marca gravada na massa que identifique o seu fabrico, período, ou motivo;
mas a sua decoração não deixa dúvidas: Motivo Porto, faiança da Fábrica de
Alcântara.
Noutra
banca mais à frente, melhor, noutro pano no chão e entre faianças de Sacavém,
de Coimbra: Lusitânia e Lufapo, bem como de Aveiro: Aradas e Pinheira, dois
pratos de sobremesa, que imediatamente os identificámos como sendo da Fábrica
d’ Alcântara e do motivo PORTO.
Ambos
com marcas circulares iguais à da travessa no tardoz, mas um, por sinal com um
defeito de fabrico no covo, com uma “nódoa” e falta de vidrado, mas também com
um carimbo monocromático a azul-escuro, com as indicações. “L & C”,
“FAIANÇA FINA”, “FÁBRICA D’ ALCÂNTARA” e “PORTO”, encaixilhado, evidenciando de
forma inequívoca o respectivo motivo.
Peças
provavelmente de fabrico compreendido entre os anos de 1887 a 1900, segundo as
indicações dadas pelo Sr. Jaime Regalado em 23 de Janeiro do corrente ano, na
palestra que deu no Museu de Cerâmica de Sacavém.
No
entanto e dado que um dos pratos possui o carimbo e a marca gravada na pasta,
dá-nos, provavelmente a indicação que se trata mais especificamente de fabrico
do ano de 1900 ou 1901, quanto postavam conjuntamente o carimbo e a marca
referidas.
Em
suma, um dia de sorte, que conseguimos reunir um pequeno lote (quatro peças):
uma travessa de cantos arredondados, uma molheira com um interessante formato e
dois pratos de sobremesa, todos do Motivo “Porto” da Fábrica d’ Alcântara.
Como
sabemos as peças mais frequentes são os pratos, que rasos ou covos, pelo que
estas peças, nos deram uma satisfação especial, razão de as apresentarmos em
conjunto.
FONTES:
1) – “Cerâmica Portuguesa e
Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e
Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial
Presença – 3ª Edição – 1987;
4) - “Cerâmica Portuguesa –
Marcas da Cerâmica Portuguesa”, de José Queirós, 2ª Edição, II Volume, (1ª
reedição em fac-simile), José Ribeiro – Editor e Livraria Estante Editora,
Aveiro – 1987;
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