A Faiança da Fábrica de Louça de
Alcântara encanta-nos de forma superior, pelo que ciclicamente fazemos uma
revisitação à mesma e apresentamos uma peça, de modo a mantê-la presente.
Todos sabemos, que quando a Fábrica de
Louça de Alcântara iniciou a sua fabricação, em 1885 tinha de rivalizar e concorrer
com a faiança inglesa, da qual teve uma enorme influência, de mais a mais que um
dos seus primeiros proprietários e gestor era inglês, Stringer.
Por tal razão, a qualidade da louça que
começou a produzir era de muito boa qualidade, a dita “faiança à ingleza” e quando passou para a gestão portuguesa,
exclusiva, com Lopes & C.ª, e a
denominada “faiança fina”.
Pese embora tivesse utilizado alguma
estampagem igual ou semelhante à inglesa, a linha diferenciadora e cativante
para impulsionar o seu consumo foi a utilização de estampagem com motivos
próprios e ao gosto nacionalista.
Um desses motivos, e que permitiu a concepção de um prato fabuloso foi o “Motivo
Manuelino”, com um perfeito toque nacionalista, reportando, evidenciando e
enaltecendo a época áurea dos descobrimentos portugueses, aos quais se associa
o estilo Manuelino.
O estilo Manuelino, ou seja o estilo
gótico português, tardio ou
também denominado flamejante cujo expoente
máximo e edificação emblemática é o Mosteiro dos Jerónimos, mandado construir
por D. Manuel I, e destinado a perpetuar o regresso de Vasco da Gama, da Índia,
em 1502.
O exemplar que apresentamos possui o
motivo “Manuelino”, com uma
exuberante decoração na aba do prato, sopeiro, em tom monocromático grená,
decoração essa com a exibição de seis pormenores arquitectónicos do referido
estilo gótico português tardio ou manuelino, alternados com outros seis elementos
decorativos em que exibidos figuras ou bustos com trajes à época.
No centro do covo do prato sopeiro, uma
esfera armilar e envolvendo a mesma uma coroa circular com motivos
vegetalistas, igualmente na cor monocromática grená ou rosa escuro.
A esfera armilar é o motivo
preponderante e mais frequente na arquitectura manuelina, tendo sido a divisa
conferida pelo rei D. João II ao futuro rei D. Manuel I, e mais tarde
considerada como um sinal de afirmação divina para o reinado do citado D.
Manuel.
Possui no tardoz do prato marca
monocromática grená com a indicação de “L & C” – (Lopes & C.ª), “FAIANÇA
FINA”, “FABRICA D’ALCANTARA”, e encaixilhado “MANUELINO”, ou seja o nome do
motivo da peça, pelo que o seu provável período de fabricação, segundo a fonte
1), se terá iniciado no ano de 1886, quando a fábrica passou para a propriedade
e gestão de Lopes & C.ª.
Segundo palestra dada pelo Sr. Jaime
Regalado em 23 de Janeiro do corrente ano, no Museu de Cerâmica de Sacavém, a
designação de “FAIANÇA FINA”, em substituição de “LOUÇA À INGLEZA”, começou a
ser aplicada provavelmente a partir de 1890.
Trata-se pois de uma peça, muito provavelmente
com cerca, ou mais, de 125 anos, em perfeito estado de manutenção, sem qualquer
cabelo, nem qualquer coloração de gordura ou outra.
Pelo motivo, pelo seu estado de
conservação, trata-se de uma peça que podemos considerar rara!
Fontes:
1) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José
Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José
Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987;
4) - “Cerâmica
Portuguesa – Marcas da Cerâmica Portuguesa”, de José Queirós, 2ª Edição, II
Volume, (1ª reedição em fac-simile), José Ribeiro – Editor e Livraria Estante
Editora, Aveiro – 1987;
Caro Jorge Amaral.
ResponderEliminaré realmente um prato de desenho invulgar, ainda para mais na tonalidade em que se apresenta.
na minha colecção tenho dois exemplares de tonalidades azul-claro e azul-escuro, penso que foi produzido também em castanho se não me falha a memória.
um abraço.
Caro Ricardo Ferreira,
EliminarGrande satisfação pela sua visita e pelo seu comentário. Na verdade trata-se de um prato interessantíssimo!
As peças que foram produzidas na Fábrica D' Alcântara são espectaculares.
Boa semana,
Um abraço,
Jorge Amaral Gomes