As
faianças da fábrica de Alcântara continuam-nos a surpreender diariamente,
conforme se vai descobrindo peças que há muito se encontravam guardadas,
armazenadas, esquecidas e que vêm, agora, à luz do dia.
Tal
facto permite-nos descobrir novas peças, novos motivos, novas decorações e a
reescrever, em parte, o muito que já se disse sobre a fábrica de Alcântara.
Tudo
isto por um par de pratos que “descobrimos” recentemente….
Quando
nos deleitamos a apreciar, a desvendar e a catalogar peças de fabrico de Alcântara,
não podemos deixar de recorrer à fonte principal (1), do Mercador Veneziano.
Um
prato e motivo que sempre nos intrigou foi o denominado motivo “VARINA” (?), em
que para além desta a decoração do prato era completada com motivos do Porto.
Nesse blogue a
descrição desse prato era a seguinte:
“Prato de motivo desconhecido até à data. Espécime decorado em tom monocromado a vermelho, de desenhos
apelativos à cidade do Porto.
No topo do prato estão representados dois
monumentos simbólicos da cidade, mais à esquerda a Torre dos Clérigos e à
direita a Ponte Maria Pia com paisagem cénica para o Rio Douro. Em baixo, a
figura de Varina com cesta à cabeça. Referir ainda que ambos os desenhos
descritos são enquadrados com composições florais de diversos géneros.
Exemplares com o mesmo motivo podem variar, pelo menos, entre a tonalidade
apresentada, verde e castanho.
Relativamente ao período de produção da peça
analisada, devido a não ter acesso à marca de fabrico, não foi possível
precisar uma data concreta da sua produção, no entanto, pelo molde da peça
diria pertencerá aos finais do século XIX.”
Pois
os pratos que “descobrimos” recentemente, na tonalidade verde, apresentam esse
motivo e o mesmo está identificado no respetivo carimbo “INVICTA” – fica pois, a partir de agora identificado e catalogado o
motivo.
Mas
algo mais deslumbrante:
-
o prato de tons mais fortes e de decoração mais nítida, apresenta no tardoz do
seu fundo um carimbo monocromático, verde, com as seguintes indicações: L &
C, FABRICA D’ ALCANTARA, FAIANÇA FINA e INVICTA – o nome do motivo. Possui
igualmente na pasta a marca circular de LOPES & C, ALCANTARA e LISBOA;
-
o prato de tons mais esbatidos e de decoração menos nítida, mais esbatida, mais
imperfeita, em que a varina aparece de menores dimensões e em que os armazéns
na margem do Rio Douro, do lado de Gaia, são em maior número e com melhor
identificação da sua fenestração, no seu tardoz, possui somente a marca
circular na pasta, mas com a seguinte indicação CHAMBERS & C.
Estamos
pois perante dois pratos de Alcântara, com o mesmo motivo “INVICTA”, mas de
períodos diferentes de fabrico.
O
prato com a marca de L & C, poderemos indicar, que provavelmente, o seu
fabrico terá sido entre 1889 (ou 1886-?) a 1901, ou seja, do final do Século
XIX.
O
prato com a marca CHAMBERS & C, poderá, eventualmente o seu fabrico ter
ocorrido entre 1930 (?) a 1934 (?), será?
Interessantíssimo,
dois pratos da mesma fábrica, com o mesmo motivo, mas com apresentações bastante
diferentes, separados temporalmente por 30 anos (?), em que o mais antigo
apresenta melhor acabamento que o mais recente, sendo que este, no seu verso
ainda continua a exibir o triplico “três pontos”, das trempes quando ia cozer o
vidrado.
FONTES:
2)
“Cerâmica
Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação,
Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto,
Editorial Presença – 3ª Edição – 1987
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