Há peças em faiança, monocromias, em
azul, cor-de-rosa, vinoso ou verde-claro, que são uma incógnita e motivam
muitas leituras ou indicações: do Norte (?), de Coimbra (?), de Vilar de Mouros
(Caminha) (?), dos Açores (?), de José dos Reis (Alcobaça) (?) – enfim, vários
possíveis fabricos!
São peças belas, interessantes na
decoração, deslumbrantes nas composições, em especial nos seus casarios – cada artista
desenvolvia ao seu gosto pessoal a dimensão e a volumetria do conjunto
edificado desenhado.
Neste apontamento de inventário de
mais uma peça, apresenta-se um prato covo, monocromado, em cor-de-rosa, com uma
decoração vegetalista estampilhada na aba e com uma interessante reserva
central com paisagem.
Um conjunto edificado à esquerda, sobre
uma pequena colina, constituído por vários edifícios de um, dois e três pisos,
com telhados de duas águas e estes com as fugas das chaminés e sobre o telhado
mais à direita uma torre com uma cúpula, provavelmente de uma igreja encoberta
pelo mesmo.
À direita desenvolve-se um bosque
com frondosa e altiva vegetação, entre a qual se vislumbra uma ponte, com dois
arcos, pelos quais passa a água que continua, pelo rio fronteiro, onde desliza um enorme e elegante cisne.
A completar esta apresentação
bucólica e romântica, algumas nuvens, ao fundo, sobre o casario.
Faiança sem qualquer marca, caracter alfanumérico ou qualquer “sinal” que a pudesse identificar, pelo que se torna
difícil a atribuição do seu fabrico.
O tardoz do prato possui um esmalte
branco, recordando-nos a louça malegueira, no qual se denotam facilmente as
marcas da trempe, quando foi à cozedura.
Pelo tipo de esmalte branco,
leitoso, pela decoração a cor-de-rosa, pelo motivo da decoração central, pelo
tipo de casario desenhado e pelo seu enquadramento, leva-nos a considerar que
seja fabrico de José dos Reis (dos Santos), do período de Alcobaça, pese embora
nos tivessem dito que era fabrico do “Norte”.
A comparação com outras peças
semelhantes divulgadas na net (em locais de venda e em blogues) permitiu-nos
ajudar na decisão e tornar a mesma mais consistente.
Mas ainda nos persiste uma dúvida,
quanto a data do fabrico: se será de meados do século XIX, no período em que
José dos Reis era mercador em Coimbra, ou de finais desse século, a partir de
1875, quando foi trabalhar para Alcobaça.
Mas pela cor do barro e respectivo vidrado do tardoz, inclinamos-nos para dizer que será de José dos Reis – Alcobaça.
Da fonte (3) registamos a imagem que
a seguir apresentamos e em que as semelhanças da decoração são enormes com a do
prato, que inventariamos: casario de vários pisos, a torre com cúpula por trás
do ultimo telhado à direita e o enquadramento de gracioso arvoredo.
Igualmente da fonte (3) registámos
outro prato, em que as evidências são bastantes: o casario com telhados de duas
águas, a cúpula da torre, as árvores de enquadramento, tudo isto no centro do
covo, e em especial, a estampilhagem na aba do prato, semelhante à do prato em
apreço, confirmando assim a nossa opinião.
Da fonte (6) registamos a imagem de
um prato da colecção de Luís Pereira Sampaio, embora em tons de azul, mas em
que o casario era semelhante, o que nos ajudou a consubstanciar a nossa
opinião, quanto ao fabrico.
Da fonte (2) recolhemos a imagem que
a seguir se apresenta, embora com motivo semelhante, mas com diferencias
perfeitamente notórias e atribuído o seu fabrico a Manuel Ferreira da Bernarda,
continuador no fabrico de peças “semelhantes” às de José dos Reis, após a sua
morte em 1898.
Em suma, uma interessante peça de
faiança da primeira fábrica de faianças de Alcobaça, localizada junto à Ponte
D. Elias, fundada em 1875, por José dos Reis dos Santos, anteriormente com
fabrico em Coimbra.
As características das peças
produzidas em Alcobaça, neste período (1875-1898) assemelhavam-se às de
Coimbra, nomeadamente na estampilhagem das abas com características da produção
da ultima metade de Oitocentos, bem assim como na decoração da reserva central,
com casario, paisagem de enquadramento, com estampilhas e esponjados,
monocromáticos, azul ou cor-de-rosa.
FONTES:
5)
– http://www.trocadero.pt;
6)
- “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente: CeRamiCa PLUS” – Galeria de
Exposições Temporárias – Mosteiro de Alcobaça; 6 de Abril a 4 de Maio 2011;
Município de Alcobaça, 2011.
7)
– “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores
ACD, 2008.
8)
– “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização,
Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da
Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.
9)
– “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria
Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.
Caro Jorge Amaral
ResponderEliminarEm primeiro ligar sugeria-lhe que activasse o menu "seguidores". Assim, as pessoas interessadas em cerâmica, como eu, poderiam ter um conhecimento imediato cada vez que actualizasse o seu blog com novas postagens.
Quanto ao José dos Reis e a sua produção, recomendo-lhe alguma cautela nas fontes que consulta sobre o tema. A Maria Isabel do Léria Rendas e Velharias criou um período coimbrão para o José dos Reis. Não sei onde a Maria Isabel foi buscar essa ideia, nem em que livro ela colheu imagens desse período. Segundo Jorge Pereira Sampaio, na obra Cem anos de Alcobaça, sabe-se que José dos Reis antes de vir para Alcobaça em 1875, era mercador de louça em Coimbra. Mercador quer dizer vendedor, não produtor. Portanto, não conhecemos efectivamente o que este senhor produziu em Coimbra, portanto é melhor é preferível esquecer o período coimbrão de José dos Reis.
Ainda sobre a produção José dos Reis, no post onde mostrei o alguidar, que o Jorge Amaral reproduziu no seu blog, sem ter tido a atenção de me pedir autorização, pretendi mostrar que há uma continuidade entre as produções de José dos Reis e as de Manuel Ferreira da Bernarda. No fundo, queria mais uma vez mostrar, que para a cerâmica não marcada há que ter muita cautela nas atribuições.
Um abraço e parabéns pelo seu blogue, que passarei a seguir atentamente
Caro Luis Y,
ResponderEliminarAgradeço reconhecido os seus esclarecimentos e reparos e vou tomar os mesmos em consideração e corrigir a presente postagem.
Sem dúvida que achei interessante e de valor a sua indicação entre a continuidade de produção das peças de José dos Reis e as de Manuel Ferreira da Bernarda, pelo que tomei a "liberdade" de a reproduzir, fazendo referencia à fonte (sua), pese embora sem lhe ter pedido autorização - as minhas desculpas - erros de principiante!, Mas foi nas melhores das intenções e como já se apercebeu, as suas postagens e os seus ensinamentos têm sido extremamente importantes para tomarmos conhecimento e muito aprender, por isso, o nosso OBRIGADO!
Um abraço
Caro Jorge
ResponderEliminarAceito naturalmente as suas desculpas. Tenho bem presente que quando se coloca uma imagem na net ela torna-se pública, mas é sempre mais simpático pedir autorização, até porque a peça é de um amigo meu, o Manel.
um abraço
Caro Luis Y,
ResponderEliminarObrigada pela sua cordialidade e ajuda. Daqui para a frente irei ter em atenção tal conselho - sabe ? inexperiências de um novato nestas andanças !
As minhas desculpas são extensíveis, também ao seu amigo Manel, que certamente terei oportunidade de lhas pedir pessoalmente.
Um abraço,