A Fábrica de Louça de Sacavém, dedicou-se
não só à fabricação de louça utilitária, doméstica ou de restauração, mas a uma
grande panóplia de louças, desde a sanitária, à de utilização higiénica, à
decorativa, ao azulejo, às peças decorativas, às…às…, a tanta coisa!
Vamos hoje apresentar um prato
decorativo da Fábrica de Louça de Sacavém do período Gilman & Cta., correspondente
ao intervalo de fabricação de 1921-1970, mas cremos que seja da década de 30,
pelas razões que indicaremos.
Este prato decorativo, branco, com
um filete de cor azul na bordadura da aba, possui uma reserva central no fundo
do prato, dedicado JOSÉ MAIO – a figura central e o motivo deste prato
decorativo, na cor vinhoso.
Figura imponente, homem forte, de “ossos
largos”, tão rude como humilde, tão áspero como dócil, tão bruto como meigo,
com o seu olhar penetrante, corpo firme, patilhas grandes, com o barrete na
cabeça, a casaca de botões e as suas seis medalhas expostas e cremos que também
o colar ao peito, mas que o desgaste da decoração não deixa confirmar.
Completa a decoração três arranjos
florais, de dimensões diferentes, policromáticos, verde, amarelo, castanho claro
e lilás (roxo), que se assemelham a lilases (vou pelo conselho do caro Manel).
Possui no tardoz do covo do prato a marca
estampada, enrugada, na cor verde-claro, correspondente ao período Gilman &
Cta., período de 1921-1970, com as gravações na pasta de “4FC”, e “.ACAVEM”.
Trata-se de um prato raro e de
elevado valor estimativo, pela evocação a JOSÉ MAIO, provavelmente quando se
completou o cinquentenário do seu falecimento.
Não podemos pois deixar de contar um pouco de história
sobre quem foi JOSÉ MAIO e o significado desta evocação.
JOSÉ MAIO, mais propriamente José Rodrigues Maio, mais conhecido como Cego do Maio ou Ti'
Maio foi um pescador poveiro, salva-vidas e herói.
Natural de Póvoa de Varzim, nasceu a 8 de Outubro de 1817,
na Rua dos Ferreiros e faleceu a 13 de Novembro de 1884, na Rua de Poça da
Barca (expansão da Rua da Areia), actual Rua 31 de Janeiro.
Foi a figura mais representativa de Póvoa de Varzim, no
século XIX e era visto como o herói local, razão pela qual quando faleceu, as
Câmaras de Póvoa de Varzim e de Esposende, apresentaram publicamente os votos
de pesar.
Era pescador de sardinha e a sua marca ou sigla era um
meio-sarilho.
Foi condecorado com a mais alta distinção do Estado, o
Colar de Cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e
Mérito e a medalha de ouro da Real Sociedade Humanitária do
Porto, as quais foram colocadas, pessoalmente, pelo Rei D. Luís I, pelas
vidas que salvou no mar de Póvoa de Varzim.
Faz parte da lenda que quando o rei o condecorou, o Cego do
Maio retribuiu o seu presente com um punhado de conchinhas, dizendo: "Tome lá ó Ti' Rei, uns beijinhos para as
suas criancinhas brincarem!"
Deste modo aqui fica mais uma peça rara
da Fábrica de louça de Sacavém inventariada.
FONTES:
3)
– “Fábrica de Louça de Sacavém –
Contribuição para o estudo da indústria cerâmica em Portugal 1856-1974” de
Ana Paula Assunção, Coleção História da Arte – Edições INAPA – 1997;
4)
– “150 Anos – 150 Peças – Fábrica de
Loiça de Sacavém” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de
Loures – Março de 2006;
5)
– “Dicionário de marcas de Faiança” de Filomena Simas e Sónia Isidro – Edição
Estar Editora - Lisboa – 1996;
6)
- “Porta aberta às memórias” – 2ª
edição, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de
2009;
7)
– “Porta aberta às memórias” – Museu
de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2008;
Mais um belo post, simples e elucidativo.
ResponderEliminarOs parabéns, pois a informação parece-me absolutamente correta e está escrita de forma apelativa.
Será que as flores que aparecem na aba, rodeando o herói, serão alusivas ao nome desta figura tão carismática? Os meus lilases florescem em Maio, por exemplo.
Manel
Caro Manel,
EliminarAgradeço as suas palavras, comentários e conselhos.
Também concordo consigo, as flores deverão ser lilases - já corrigi no post.
Cumprimentos,
Jorge Gomes