quarta-feira, 20 de maio de 2015

A importância de S. J. Benchaya na Faiança Portuguesa - F. L. S.


1. Em jeito de preâmbulo:

Já diversas peças de faiança, de fabrico da Fabrica de Louça de Sacavém, nos passaram pelas mãos e em apreciação, com um curioso carimbo verde circular com as indicações “S. J. BENCHAYA”, “FABRIQUÉ AU PORTUGAL” e “CASA BLANCA”.




Correspondem a peças produzidas em Portugal e que foram importadas para comercialização em Marrocos, pelo importador S. J. Benchaya.

Agora, na presença, de mais duas, uma uma tigela gomada, de decoração manual e simples, a duas tonalidades, e de um prato de covo acentuado, com decoração policromática, com um arranjo floral e um trecho de campo com uma esbelta ave, foi o mote para esta análise, da importância do marroquino J. S. Benchaya na Faiança Portuguesa.


2. Procurando enquadramento:

As décadas de 30 e 40 do século passado corresponderam a uma fase de grande expansão da Fábrica de Louça de Sacavém, pois à época era reconhecida a qualidade dos produtos que fabricada.

Tanto pobres como ricos, ambos tinham e utilizavam peças da Fábrica de Louça de Sacavém, e nas ruas, nos prédios e nos estabelecimentos, quer fossem talhos, padarias, leitarias, farmácias, tabernas ou outros; todos utilizavam materiais e peças produzidas pela Fábrica de Louça de Sacavém.

O mercado era vasto, a nível nacional; para além dos particulares eram os hotéis do continente, mas também os da Madeira, Açores, Angola e Moçambique.

Havia  também destino certo para o norte de África – Casa Blanca; com a Casa S. J. Benchaya; mas até para o Brasil foi exportada louça, tal como para todo o mundo e em especial para as colónias inglesas, com as embalagens do chá Lipton.

Na verdade, na década de 30 e mesma na de 40, do século passado, Marrocos era o principal mercado de exportação para a faiança nacional, em especial a da Fábrica de Louça de Sacavém, com quem tinha estabelecido um protocolo comercial.

Digamos que era o distribuidor da louça da Fábrica de Louça de Sacavém em Marrocos. Refira-se que habitualmente essas peças não possuíam qualquer marca identificando o fabrico ou possuíam uma marca, discreta, incisiva na pasta que identificava a Fábrica de Louça de Sacavém, uma indicação alfanumérica, “GO52”, no prato que apresentamos, e “SACAVEM”.

Foram produzidos, cremos; serviços, bem como peças avulsas, como pratos, malgas, tigelas, saladeiras, … em que a decoração, variada, em motivos e em cores, mas dedicada a esse mercado.

(Malga antiga com carimbo S. J. Benchaya - Fonte Internet - CustoJusto)

(Malga antiga com carimbo S. J. Benchaya - Fonte Internet - CustoJusto)
(Carimbo S. J. Benchaya em malga antiga - Fonte Internet - CustoJusto)
Contudo, algumas dessas peças foram comercializadas em Portugal, por razões que não conseguimos ainda desvendar, sendo que essas peças se encontram, ainda com alguma frequência em casas antigas, principalmente a sul do país, em especial no Alentejo e no Algarve.

O citado carimbo verde só era aplicado nessas que se destinavam exclusivamente ao mercado marroquino, para a casa comercial de S. J. Benchaya, em Casa Blanca, desconhecendo-se assim qual a justificação para a sua comercialização à época no mercado nacional a sul. Eventualmente sobras de encomendas, mas por que razão só comercializadas no sul do país?


3. S. J.  Benchaya, quem era?

Consta que o marroquino S. J. Benchaya era um industrial judeu estabelecido na cidade de Casa Blanca, com uma ampla visão para o negócio e consequentemente para a possibilidade de enriquecer.

À época, estamos a falar de finais da década de 20, década de 30 3 inícios da década de 40, do século passado, o mesmo apercebeu-se da procura de peças, objectos e utensílios, por parte das classes locais mais privilegiadas ou com mais possibilidades económicas, dentro de um padrão em consonância com os gostos ou tendências europeias, à época, mas que de alguma forma fossem ao encontro da estética nacional – em suma de peças menos tradicionais, dentro do gosto marroquino, mas com as influências europeias à época.

(Malga - F.L.S. para S. J. Benchaya - Fonte 1)
(Carimbo da Malga - F.L.S. para S. J. Benchaya - Fonte 1)
Uma das procuras era as peças de faiança, mas que em Marrocos não se fabricava este tipo de louça, por falta de matéria-prima adequada, pelo que S. J. Benchaya, viu nas mesmas uma oportunidade de negócio e de enriquecimento, tendo por tal facto estabelecido o acordo comercial com a Fábrica de Louça de Sacavém.

(Prato- F.L.S. para S. J. Benchaya - Fonte 3)
(Prato- F.L.S. para S. J. Benchaya - Fonte 3)
(Prato- F.L.S. e carimbo S. J. Benchaya - Fonte 3)

No sentido de obter maior comercialização e de ir ao encontro do gosto marroquino, à época, S. J. Benchaya cria decorações próprias, originais, ao gosto e dentro do espírito marroquino, mas simultaneamente com características de contemporaneidade europeia.

(Prato Estampado- F.L.S. com carimbo S. J. Benchaya - Fonte 5)

Crê-se que já no início do Século XX, o eventual pai de S. J. Benchaya; M. Benchaya, já tinha estabelecido um acordo comercial com a Fábrica de Louça de Sacavém, para importação de louça utilitária, em faiança, para Marrocos. A confirmar-se esta situação, S. J. Benchaya, mais não fez que desenvolver o acordo comercial da sua família com a Fábrica de Louça de Sacavém.


4. E as peças utilitárias em Marrocos?

Até meados do Século XIX, em termos de utilização de peças utilitárias, em faiança, porcelana ou mesmo barro, Marrocos era um país de elevado contraste: a maioria do seu povo nada utilizava, enquanto as casas e famílias aristocratas usavam porcelanas da China.

Por outro lado não havia qualquer produção nacional, mesmo que de louça tradicional, pelo que em meados desse Século XIX, a partir de 1840, e devido às influências ocidentais, europeias, Marrocos tornou-se ávida de outro tipo de louça, ocidentalizada, burguesa, mais sofisticada e de melhor qualidade que a louça tradicional então produzida e de muito menor custo que a louça do Oriente, o que motivou um aumento de procura da mesma.

Para fazer face a esta crescente procura marroquina, algumas fábricas europeias criaram modelos com decoração “oriental”, para corresponder à mesma. Fábricas, como as francesas Montereau, Gien e Sarreguemines, inundaram o mercado marroquino com pratos, taças, tigelas e outras peças, com decoração de crescentes, luas e estrelas, mas também com a introdução de motivos mais ocidentais.

Mas a fábrica inglesa Spode também comercializou muita louça para Marrocos – digamos foi mais uma das várias fábricas europeias, que originaram a exportação de milhares de peças de cerâmica destinados para uso diário para países muçulmanos, situação ocorrida no período, desde por volta de 1840 até a década de 1930.

Foi pois neste contexto que surgiu S. J. Benchaya, na intenção de criar uma linha de produção mais ao gosto marroquino, com padrões que mais se identificassem com a sua cultura e valores, e rivalizando com os demais exportadores, pelo que optou pela fabricação dessas peças, em faiança, em Portugal, na Fábrica de Louça de Sacavém, dando indicações, modelos de decoração, de desenhos e figuras geométricas ao gosto marroquino e de uma palete de policromia (decoração geométrica em policromia), também ao gosto do país.

Cremos que numa primeira fase, S. J. Benchaya, ainda mandou produzir peças, à Fábrica de Louças de Sacavém, com decoração ao gosto do ocidente ou europeu, para concorrer em termos comerciais com as produções de outras fábricas europeias, já citadas e que se encontravam a exportar para Marrocos. Consideramos que o prato que apresentamos é um exemplo disso.


5. Decoração das peças de S. J. Benchaya:

As peças com carimbo S. J. Benchaya apresentam uma decoração particular, pesem embora transmitam alguns traços ocidentais, europeus, mas a gramática decorativa é mais ecléctica. Há um orientalismo geométrico, notário, pese embora com ornamentações que se poderão considerar de raiz marroquina, mas sem deixar de apresentar listas e frisos, algo ao gosto Art Nouveau, da época.

As cores usadas são geralmente fortes e em contraste, e as figuras geométricas predominam, bem como traços, listas e filetes.

É evidente nestas peças da Fábrica de Louça de Sacavém com carimbo S. J. Benchaya, entre 1920 e 1940, destinadas à exportação para Casa Blanca – Marrocos, a tentativa de criar um produto que não fosse pura e simplesmente a interpretação europeia do design islâmico, mas em que se procurou criar modelos influenciados pela cerâmica tradicional marroquina e pela Art Deco Europeia, à época, tendo como base fortes elementos geométricos, com cores fortes.

No entanto, para um melhor conhecimento das peças fabricadas, da sua forma, decoração, motivo e cromia, para além da sua apresentação e evolução temporal, apresentamos um conjunto de imagens das mesmas reproduzidas das fontes citadas.

(Taça monocroma a azul, de flores estilizadas alternadas com reservas
contendo motivos reticulados e contas, com carimbo S. J. Benchaya - Fonte 7)
(Tigela com decoração policroma, com composição geométrica
estilizada a azul e a amarelo  com carimbo S. J. Benchaya - Fonte 7)

(Tamborete com decoração policroma, com motivos geométricos estilizados,
 evidenciando decoração com influência árabe  com carimbo S. J. Benchaya - Fonte 7)
(Pote para gordura (manteiga?) com decoração policroma, com cercadura central de reservas polilobadas,
 com composições florais inseridas, contornadas por dois frisos com motivos reticulados 
com carimbo S. J. Benchaya
 - Fonte 7) 
(Prato decorativo, com decoração policroma de composição floral estilizada, deslumbrante
e com forte influência árabe com carimbo S. J. Benchaya  - Fonte 7) 

Nalgumas peças é perfeitamente notório o que indicámos, ou seja a forma, decoração e cromia ao encontro do gosto e genuinidade marroquina, ou seja decoração e cromia com influência árabe.


6. Voltando às nossas peças:

A nossa tigela, de formato Meia-cana possui uma decoração, simples, efectuada manualmente, constituída por dois filetes finos um na bordadura da boca e outro no covo da base, ambos a preto, e um filete largo, a azul celeste após o filete da bordadura.


Lateralmente de modo a realçar os gomos, linhas curvas e segmentos de linha, a preto.


Pese embora de trate de uma peça, provavelmente, do período de fabrico de 1920 a 1940, o formato desta peça só vem referenciada no Catálogo de Formatos de Loiça Doméstica, da fábrica de Sacavém, de Maio de 1950.

(Tigela formato meia-cana - F.L.S. - anos 50 - Fonte 1)

Por outro lado, na Tabela de Preços da Fábrica de Louça de Sacavém de 1932, este formato não vem referenciado, mas sim os formatos Douro, Francez e Liso, provavelmente porque o mesmo não se destinava ao mercado nacional mas para exportação para Marrocos.

(Tigela formato meia-cana - F.L.S. - anos 50 - Fonte 1)
(Carimbo da Tigela formato meia-cana - F.L.S. - anos 50 - Fonte 1)
(Outras tigelas F.L.S. com carimbo S. J. Benchaya - Fonte 4)

Quanto ao prato, covo de covo acentuado, policromático com interessante decoração, ao gosto ocidental ou europeu, com duas composições, uma simplesmente floral e outra com um trecho da natureza onde sobressai uma interessante e esbelta ave, com uma plumagem deslumbrante. Na bordadura da aba possui um filete na cor azul.






Prato com formato interessante, com covo acentuado, sopeiro não seria, pois em Marrocos não de come sopa, e raso não seria igualmente necessário, pois à época, não comiam conduto, pelo que o prato teria a formato apropriado para se comer o célebre couscous, eventualmente com carne de ovino, com a característica gordura a saber ou com aroma a ranço, comida essa simplesmente com as mãos. 

Outras peças similares identificadas na Internet:

(Prato estampado monocroma da F.L.S. com carimbo S. J. Benchaya - Fonte 4)
(Carimbo S. J. Benchaya no prato estampado monocroma da F.L.S. com  - Fonte 4)
(Prato fundo, motivo floral, policroma da F.L.S. com carimbo S. J. Benchaya - Fonte 1)
(Carimbo S. J. Benchaya em Prato fundo, motivo floral, policroma da F.L.S.  - Fonte 1)
(Prato fundo F. L. S. com carimbo S. J. Benchaya - Fonte Internet - OLX)
( Carimbo S. J. Benchaya em prato fundo F. L.S. - Fonte Internet - OLX)

7. Carimbos das peças comercializadas por S. J. Benchaya:

Conhecem-se dois carimbos, diferentes, para as peças que eram comercializadas por S. J. Benchaya, ambos monocromáticos verdes, mas um com forma elíptica com as indicações “S. J. BENCHAYA”, superiormente e “CASA BLANCA”, inferiormente, com um pequeno elemento separador central.

(Marcas específicas da F.LS - S. J. Benchaya.- Fonte 8) 

O outro, mais conhecido e que pensamos ser o último, mais moderno, com uma forma circular, com a indicação superior a acompanhar o círculo “S.J.BENCHAYA” e inferiormente “FABRIQUÉ AU PORTUGAL”, e no centro “CASA BLANCA”, com uma pequena composição geométrica colocada superior e inferiormente à mesma.

(Marcas específicas da F.L.S. - S. J. Benchaya - Fonte 8)


8. Em laia de conclusão:

Aqui fica um pequeno apontamento sobre a influência e a importância que o marroquino S. J. Benchaya teve para a faiança portuguesa, especificamente, para a Fábrica de Louça de Sacavém. 


Fontes:


2) – “A Cerâmica Portuguesa”, de Pinto Basto, João Theodoro Ferreira, Sociedade de Geografia de Lisboa, Tipografia da Empreêsa do Anuário Comercial, 1935;




6) - Fábrica de Louça de Sacavém – Contribuição para o estudo da indústria cerâmica em Portugal 1856-1974” de Ana Paula Assunção, Coleção História da Arte – Edições INAPA – 1997;

7) – “150 Anos – 150 Peças – Fábrica de Loiça de Sacavém” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Março de 2006;

8) – “Porta aberta às memórias” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2008;

9) - “Porta aberta às memórias” – 2ª edição, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2009;

10) – “Primeiras peças da produção da Fábrica de Loiça de Sacavém: O Papel do Coleccionador”, de Ana Paula Assunção, Carlos Pereira e Eugénia Correia, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – 2003;

11) – “História da Fábrica de Loiça de Sacavém”, de Ana Paula Assunção e Jorge Vasconcelos Aniceto, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Julho de 2000;

12) – “Roteiro das Reservas”, de Ana Paula Assunção, Carlos Pereira e Joana Pinto, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – 2000 (?);


quinta-feira, 14 de maio de 2015

FAIANÇA D’ ALCÂNTARA, MOTIVO PORTO: UM LOTE INTERESSANTE



Há dias felizes, como se costuma dizer!


Há algum tempo atrás numa das nossas deambulações por uma das muitas feiras de velharias, de antiguidades e de “lixo”, que se realizam; num pano de chão e entre várias peças de faiança, de porcelana e de quinquilharia diversa, vimos duas boas peças de loiça da Fábrica de Alcântara.


Começamos por perguntar o preço de umas peças em faiança, de fabrico corrente e menos valorizadas e outras em porcelana, algumas mesmo “chinesices”; por fim perguntamos o preço das duas interessantes peças em Faiança de Alcântara, uma travessa de cantos arredondados e uma molheira…


À, isso é outra loiça, é de Alcântara, tem mais de cem anos, isso é caro….”, Lá dizia o vendedor, e nós com toda a calma e tempo lá lhe perguntámos o valor, e na verdade o valor que indicou era elevado, até um pouco exagerado!


Voltamos-nos para outras peças de qualidade inferior, mirámos as mesmas, enquanto ela atendia um casal, que lhe comprou algumas peças.

Voltámos à carga, como se costuma dizer, e pedimos se ele fazia um preço especial, gostávamos das peças, mas desconhecíamos que as mesmas “valiam tanto”; na verdade fez uma razoável atenção no valor, ao que nós contrapusemos outro valor, metade do valor inicial que tinha indicado, ele subiu um pouco e lá fizemos negócio!

Negócio feito e um grande rol de recomendações “tenha cuidado com essas peças, não as parta, são muito boas,… tenha cuidado não bata com o saco,…, não o deixe cair”; ao que agradecemos.


E lá trouxemos uma travessa funda, com covo acentuado, de cantos arredondados e uma molheira, de interessante silhueta, vista de perfil, ambas com decoração vegetalista, monocromático azul-escuro, cujo motivo se denomina “PORTO”.

Esta decoração, por estampagem, para além dos motivos vegetalistas, exibe também arranjos geométricos com elementos curvos, alternados com arranjos vegetalistas de pequena dimensão, com simetria e repetição.


A travessa possui marca gravada na pasta, com o formato circular, com a indicação “LOPES & C.ª – ALCANTARA – LISBOA”, correspondendo, provavelmente ao período de fabrico entre 1900 e 1917, tendo em atenção a palestra dada pelo Sr. Jaime Regalado em 23 de Janeiro do corrente ano, no Museu de Cerâmica de Sacavém. Não possui qualquer identificação do motivo.

Quanto à molheira e devido à sua base ser copada e funda, não possuí qualquer carimbo ou marca gravada na massa que identifique o seu fabrico, período, ou motivo; mas a sua decoração não deixa dúvidas: Motivo Porto, faiança da Fábrica de Alcântara.

Noutra banca mais à frente, melhor, noutro pano no chão e entre faianças de Sacavém, de Coimbra: Lusitânia e Lufapo, bem como de Aveiro: Aradas e Pinheira, dois pratos de sobremesa, que imediatamente os identificámos como sendo da Fábrica d’ Alcântara e do motivo PORTO.


Ambos com marcas circulares iguais à da travessa no tardoz, mas um, por sinal com um defeito de fabrico no covo, com uma “nódoa” e falta de vidrado, mas também com um carimbo monocromático a azul-escuro, com as indicações. “L & C”, “FAIANÇA FINA”, “FÁBRICA D’ ALCÂNTARA” e “PORTO”, encaixilhado, evidenciando de forma inequívoca o respectivo motivo.


Peças provavelmente de fabrico compreendido entre os anos de 1887 a 1900, segundo as indicações dadas pelo Sr. Jaime Regalado em 23 de Janeiro do corrente ano, na palestra que deu no Museu de Cerâmica de Sacavém.


No entanto e dado que um dos pratos possui o carimbo e a marca gravada na pasta, dá-nos, provavelmente a indicação que se trata mais especificamente de fabrico do ano de 1900 ou 1901, quanto postavam conjuntamente o carimbo e a marca referidas.


Em suma, um dia de sorte, que conseguimos reunir um pequeno lote (quatro peças): uma travessa de cantos arredondados, uma molheira com um interessante formato e dois pratos de sobremesa, todos do Motivo “Porto” da Fábrica d’ Alcântara.


Como sabemos as peças mais frequentes são os pratos, que rasos ou covos, pelo que estas peças, nos deram uma satisfação especial, razão de as apresentarmos em conjunto.


FONTES:

1) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987;



4) - “Cerâmica Portuguesa – Marcas da Cerâmica Portuguesa”, de José Queirós, 2ª Edição, II Volume, (1ª reedição em fac-simile), José Ribeiro – Editor e Livraria Estante Editora, Aveiro – 1987;




terça-feira, 12 de maio de 2015

Faiança da Estatuária Artística de Coimbra- período Frutuoso – Belo Jarro


É do conhecimento público o nosso encanto pela Faiança da Estatuária Artística de Coimbra, e em especial pelas do primeiro período, identificado por FRUTUOSO.


Corresponde ao período de fabricação pré constituição da EAC (estatuária Artística de Coimbra) e eventualmente como da primeira fase do fabrico da mesma, período esse, provavelmente entre 1926 e 1943, ou mesmo até 1947.


Foi o período com uma qualidade superior de decoração, acabamento requintado e firmeza na pintura – correspondendo, provavelmente, ao período de melhor qualidade e com maior requinte de decoração da Estatuária Artística de Coimbra.


Havia gosto e prazer em fazer bem, com uma decoração policromática interessante, harmoniosa e que preenchia a peça de forma cativante, é perfeita a sintonia entre a forma da peça e a sua decoração, com uma palete de cores fascinante, sobressaindo, como não podia deixar de ser os tons fortes de azul.


…Sabe, naquele tempo, pelos pigmentos utilizados, pelas misturas efectuadas e pela cozedura em fornos, a lenha, conseguiam-se os azuis, que nunca mais se conseguem,…”, isto dizia-me há tempos um “grande” coleccionador de faianças, da Estatuária de Coimbra e de Louça de Alcobaça. Sou “forçado” a concordar, pois peças com estas cores já não se conseguem fazer.


Apresentamos agora uma interessante e bela peça, correspondente ao n.º 10 de catálogo (que interessante deveria ser o catálogo), um jarro prismático octogonal assimétrico, (os lados da base não são todos de igual dimensão), com ligeiro estrangulamento para a boca, com um singelo reperfilamento para o bico, com uma asa, contraposta, de desenvolvimento harmonioso.


Este jarro está soberbamente decorado, em policromia, com cores muito fortes, em especial o azul (cobalto), mas também com vermelhos fortes, amarelos-torrados, verdes fortes, verdes secos, verdes ervilha e amarelos, para além da base da peça, com uma cor de vidrado azul claro, celeste, que estabelece o contraste e acentua as outras cores.


A decoração é simplesmente vegetalista, com vários arranjos, possuindo nas duas maiores faces laterais, uma exuberante flor, em cada uma, com uma exuberante coroa com pétalas vermelhas escuras e os estames amarelos; o pedúnculo floral em verde seco, assemelhando-se a uma gerbera, será?


Todas as outras faces laterais encontram-se decoradas com grinaldas florais, policromáticas. A asa, o bordo da boca e o bico possuem também interessantes arranjos florais decorativos. Todas as arestas das faces laterais, bordadura da boca, do bico, ilhargas da asa e bordo da base encontram-se decoradas com um filete grosso na cor azul forte.


Possui na base a marca manual de “10” – número de catálogo da peça, “ESTATUÁRIA”, “COIMBRA” e “FRUTUOSO” – identificação do fabrico e da época e “LA” – a assinatura do seu fabricante – artista da decoração.



Fontes:
2) – “Cerâmica – artes Plásticas e Artes Decorativas – Normas de Inventário”, Museu Nacional do Azulejo, Ana  Anjos Mântua, Paulo Henriques, Teresa Campos, Instituto dos Museus e Conservação, 1ª Edição, Maio de 2007;
5) – “Cerâmica de Coimbra, do Século XVI-XX”, de Alexandre Nobre Pais, António Pacheco e João Coroado, Edições Inapa, Coleção História da Arte, 2007;

domingo, 10 de maio de 2015

OUTRO PRATO DE ALCÂNTARA, IMACULADO, MOTIVO PÁSSAROS (?) PARDAIS ?


A paixão ou obsessão pela Louça de Alcântara leva-nos a apresentar outra peça dessa deslumbrante Fábrica, de que tão pouco se sabe – um prato covo, perfeitíssimo, imaculado, com o motivo “Pássaros”? “Pardais” ?, não sabemos.
Prato em faiança fina, tal como o próprio carimbo no tardoz do mesmo a indica, de muito boa qualidade de execução, com uma interessante decoração monocromática a, negro, com motivos vegetalistas, de duas espécies, pássaros, borboleta e insecto.
É uma decoração estampada, fora dos habituais padrões, não demonstrando qualquer influência inglesa, antes pelo contrário, uma decoração inovadora, à época, influenciada pelas novas linhas temáticas da arte.
A decoração é contínua de aba a aba, atravessando todo o covo do prato, com uma organização perfeita na área disponível do mesmo e criando um enquadramento harmonioso da cena ambientalista apresentada.
Constitui, provavelmente, uma das primeiras manifestações na cerâmica, em Portugal, da denominada “Arte Nova”, em que os conceitos e ideias naturalistas eram postos em prática, neste caso específico, a nível da decoração.
Mais tarde, já no início do século XIX, este estilo estético, foi ao seu expoente máxima, a nível da cerâmica nacional, ultrapassando a decoração e influenciando a forma e assim surgiram muitas peças, nas Caldas da Rainha, em forma de vegetais. Peças cerâmicas em forma de couves, alfaces, abóboras; de peixes e de outros animais – quem não conhece a “Louça das Caldas” ?
Não há dúvida que se trata de uma decoração vegetalista na linha de outros motivos, desta fábrica, tais como: motivo PAISAGEM, motivo FRAGATA, motivo VARINA?, motivo LEQUE?, motivo ESTIO?, motivo CACTOS, motivo PAPOILAS?, motivo PHANTASIA, motivo ESPIGAS?, motivo CAMPAINHAS, motivo LEQUES, ou motivo SILVAS, em que se pode considerar que há um elo condutor, a decoração com motivos vegetalistas, fora dos habituais padrões de estampagem com influência anglo-saxónica e em que a decoração se desenvolvia sem os preconceitos de aba e covo, mas sim sobre toda a superfície do prato.
Possui no tardoz do prato marca monocromática a, negro, com a indicação de “L & C” – (Lopes & C.ª), “FAIANÇA FINA”, “FABRICA D’ALCANTARA”, , pelo que o seu provável período de fabricação, segundo a fonte 1), se terá iniciado no ano de 1886, quando a fábrica passou para a propriedade e gestão de Lopes & C.ª. Não possui qualquer referencia ou identificação do estilo da decoração.
Segundo palestra dada pelo Sr. Jaime Regalado em 23 de Janeiro do corrente ano, no Museu de Cerâmica de Sacavém, a designação de “FAIANÇA FINA”, em substituição de “LOUÇA À INGLEZA”, começou a ser aplicada provavelmente a partir de 1890.
Trata-se pois de uma peça, muito provavelmente com cerca, ou mais, de 125 anos, em perfeito estado de conservação, sem qualquer cabelo, nem qualquer outra falha – uma peça de faiança da Fábrica de Louça de Alcântara imaculada!
Em suma podemos considerar uma peça rara!

Fontes:
1)“Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987;


4) - “Cerâmica Portuguesa – Marcas da Cerâmica Portuguesa”, de José Queirós, 2ª Edição, II Volume, (1ª reedição em fac-simile), José Ribeiro – Editor e Livraria Estante Editora, Aveiro – 1987;