sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Uma taça octadecágono rara em faiança da fábrica da Cerâmica da Madalena, de Leiria

Nem sempre quem vende velharias, tralhas e traquitanas, nas feiras que por aí vão ocorrendo se apercebem de algumas peças que estão a vender, ou mesmo do valor estimativo que as mesmas terão em função da sua origem, proveniência ou raridade.


(Taça de duas asas da Cerâmica da Madalena, de Leiria)

Tudo isto a propósito de uma pequena peça em faiança, uma taça de duas asas, qual “azeitoneira”, qual “saladeira individual”, ou simplesmente uma pequena “taça de duas asas”, multifacetada, com 18 lados e logo com a figura geométrica de um octadecágono, de fabrico da Fábrica de Cerâmica da Madalena, de Leiria.


(Interessante decoração no extra-dorso da aba com filetes)

Trata-se de uma interessante e rara peça em faiança, atendendo ao modelo, à sua geometria, à sua decoração – simplesmente três filetes, na face exterior da aba, com degradação de espessura e de cor, da base para a bordadura, de um castanho-escuro a um amarelo-torrado.


(Taça com figura geométrica de um octadecágono)

O filete de bordadura acompanha o desenvolvimento geométrico da mesma, sendo que na zona das asas (pegas), o segundo filetes é interrompido e o filete superior, em amarelo-torrado decora a asa, que for sua vez tem a figura geométrica de um meio dodecágono.


(Tardoz da peça com o carimbo monocromático da Cerâmica da Madalena)

A peça possui uma única cor, acastanhada, mascarada, de tons mais escuros.

A origem do fabrico, da Fábrica de Cerâmica da Madalena, de Leiria, também não deixa de ser interessante, para não dizer intrigante.


(Marca da Cerâmica da Madalena)

Não é mais de que uma peça de louça de uso doméstico, não muito frequente, de provável fabrico das décadas de 40 ou 50, do século XX, de qualidade média-alta, de custo acessível e procurada, neste caso específico, pela classe média-alta da zona de Leiria.


(Outra vista do tardoz da peça)

Em suma, as famílias com um melhor poder de compra poderiam ter peças ou serviços em louça mais fina, em faiança, que não em porcelana, da Vista Alegre, da SP – Sociedade de Porcelanas de Coimbra ou mesma da Electro cerâmica do Candal, de Vila Nova de Gaia, a preço significativamente mais elevado.


(Vista de perfil da taça e da sua interessante decoração) 

Corresponde a uma decoração simples, filetes, apoiada nas linhas geométricas simples e inovadoras das peças, à data.


(Vista geral da Peça)

Esta fábrica de faianças, Cerâmica da Madalena só produziu louça de uso doméstico até 1968, tendo nesse mesmo ano enveredado pela produção de louça sanitária, em detrimento da louça doméstica.



Fontes:


2) – “Cerâmica – Reflexo de um Cultura” – Exposição representativa da indústria cerâmica da região de Leiria; Catálogo de Exposição; de Paulo Bártolo, Lina Durão e Telma Margarida Ferreira; CDRSP – Centro para o Desenvolvimento Rápido e Sustentado do Produto. IPL – Instituto Politécnico de Leiria; Câmara Municipal de Leiria e FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia; 2012.

3) – http:issuu.com/lina.durao/docs/catalogo_final?e=1347856/3258826;



6) – “História da Industria na região de Leiria - Cerâmica” Editor Jorlis –Edições e Publicações, Lda.; Edição do Jornal de Leiria; Maio de 2014;


domingo, 13 de dezembro de 2015

O PRATO DO MENINO – FAIANÇA FALANTE – FÁBRICA DE CERÂMICA LUSITÂNIA DE COIMBRA



(Prato Falante da Fábrica de Cerâmica Lusitânia de Coimbra)

A propósito da faiança falante:

A faiança falante constitui uma interessante variante da faiança, com particular e especial interesse, em função dos “ditos” ou “dizeres”, ou do modo como foi escrita, à época, ou como se pronunciava, constituindo sempre uma cativante atenção.

Os “dizeres” são simples, ingénuos, cativantes, ao gosto popular ou da oralidade (pronuncia), por vezes até invulgares, mas sempre interessantes.

Esta faiança falante remonta já a épocas bastante antigas de fabricação, provavelmente a meados do século XVIII, e quase todas as fábricas de faianças recorreram à sua produção, em especial as de Coimbra.

Tal facto deve-se, provavelmente, ao gosto que as pessoas tinham por este tipo de faiança, a qual marcava o “tempo”, as “acções” e as “graças” ou os “desejos” e os “votos”, projectando as mesmas para a sua longevidade, pois havia todo o empenho e dedicação em as preservar:

Quem não queria guardar e prolongar a exibição do seu prato, como:

“Vivam os noivos”;

(Recolha da Fonte 3)

(Recolha da Fonte 3)

(Recolha da Fonte 11)

“Parabéns aos Noivos”,

(Recolha da Fonte 4)

“Amor”; 
 “Amizade”,

(Recolha da Fonte 2)
"Amo-te muito",

(Recolha da Fonte 11)

           “Sou Teu”,
“O prato de Menino”,
“O prato da Menina”

ou pela sua “graça” :

“Esta vida ção dois dias”;
“Não tentes fugir-me”,
"Ilusões de criança",

(Recolha da Fonte 5)

“Não chores que também vais”,
“Num xe xabe”;

(Recolha da Fonte 2)

“Toma lá Pinhões”,
“Menina vamos o Vira”,

(Recolha da Fonte 3)

“Boa Viagem não caias”,

(Recolha da Fonte 3)

“Já cá canta pois comi é”,

(Recolha da Fonte 3)

“És má”,

(Recolha da Fonte 4)

“O Caracol é Vadio”,

(Recolha da Fonte 3)
"Gostas de mim ?"

(Recolha da Fonte 11)

“Talvez te escreva”;
"Está quieto Lulu que é vergonha ficar nu"


(Recolha da Fonte 3)

"O amor é uma cabana"
 

(Recolha da Fonte 3)
“Tu tens cara de sonsinho mas para cá vens de carrinho”


(Recolha da Fonte 3)


ou mesmo circunstanciais:

“A beira do Oceano”
 

(Recolha da Fonte 3)
Uma frase recorrente, pelo menos nas faianças mais recentes, produzidas durante os meados e até final do século XX era “O prato do Menino” ou o “Prato da Menina”, geralmente oferecido pelos padrinhos do menino ou da menina, e que os pais preservavam; ou mesmo adquiridos pelos pais e por vezes pelos avós.


(Prato com frase: O prato de Menino)
Apresentamos agora “O prato do Menino”, de fabrico da Fábrica de Cerâmica Lusitânia, de Coimbra.


(Faiança falante da Fábrica de Cerâmica Lusitânia de Coimbra)

Trata-se de um prato simples, em tons de amarelo com a frase a azul na aba do prato “O prato do Menino”, com uma estampa policroma no covo do prato e outras três, pequenas e diferentes na aba do prato.


(Pormenor da estampa policroma do covo do prato)


(Pormenor de uma das estampas policromadas da aba do prato)


(Pormenor de uma das estampas policromadas
 da aba do prato)

(Pormenor de uma das estampas policromadas
 da aba do prato)

Denotam-se ainda dois filetes, dourados, um na bordadura da aba e outro no limite da aba para o covo.


(O tardoz do prato com o carimbo da FCLC)

No tardoz a marca da Fábrica e do provável período de fabrico - início dos anos 40 do século passado.
 

(A marca da Fábrica de Cerâmica Lusitânia de Coimbra - 3º Período)


A propósito da Fábrica de Cerâmica Lusitânia de Coimbra:

No final da década de 20 do século XX, em Coimbra, a fábrica de cerâmica “Fábrica da Estação Velha” estava em falência, e foi adquirida pela Companhia da Fábrica de Cerâmica Lusitânia, S.A.R.L, de Lisboa e passou a chamar-se Fábrica de Cerâmica Lusitânia de Coimbra.

Dedicava-se ao fabrico de louças sanitárias, azulejos, mosaicos, mas também louça em faiança.

Tal como as demais teve o final inevitável na década de 70 do século passado.


A propósito das marcas da Fábrica de Cerâmica Lusitânia de Coimbra:

Conhecem-se marcas desta fábrica pintadas à mão e marcas impressas com carimbo.

As peças com marcas pintadas à mão são escassas e reportam-se essencialmente a peças decorativas e de ornamentação, produzidas no início da década de 30 do século XX.

Nas peças com marcas impressas conhecem-se três carimbos, do período entre 1929/30, até meados dos anos 40.


(Marca CFCL.1 - Fonte 7)


(Marca CFCL.2 - Fonte 7)


(Marca CFCL.3 - Fonte 7)

Crê-se que a primeira marca tenha sido usada nos anos iniciais da década de 30, a segunda entre os anos 30 e 36 (quando adquiriu a Fábrica de Massarelos e deu outro impulso comercial e publicitário à Companhia) e a terceira, eventualmente a partir do ano de 1940 (quando um dos edifícios da fabrica sofreu um incêndio) e até meados dos anos 40 (1945).


(Marca LUFAPO - LUSITANIA-PORTUGAL - Fonte 7)
Aqui reside a dúvida se esta terceira marca se prolongou para além do ano de 45, ou se foi utilizada a marca comum a todas as fábricas desta Companhia: LUFAPO – LUSITANIA - PORTUGAL.


Fontes:

1) - "Louça Tradicional de Coimbra 1869-1965", de António Pacheco; Direcção-Geral do Património Cultural; Coimbra,


3) – http://olx.pt;










PEQUENO PRATO DA OAL – OLARIA DE ALCOBAÇA LIMITADA – MOTIVO RECORRENTE (SALOIA), VARIANTE




As pequenas peças de faiança são mais graciosas, interessantes e cativam-nos mais.
 

(Prato em Faiança de fabrico OAL - motivo "Saloio" - ?)

Por tal motivo e quando surge alguma, com motivo aprazível ou de fabrico reconhecido, não resistimos à sua aquisição e posterior colecção.


(Pequeno prato com decoração policromática, motivo regional "Saloio" - Fonte 2)
Mais uma pequena aquisição dessas: um pequeno prato em faiança, da OAL – Olaria de Alcobaça Limitada, policromático, com decoração rural, interessante, motivo recorrente, de outro já apresentado, (fonte 2), mas com uma variante temática.
 

(Pormenor da decoração policromática - tema "Saloio/a" ?)

Uma camponesa de blusa vermelha, saia azul, avental amarelo e lenço azul na cabeça, com cesto de cor azul, no braço, seguindo à frente do burro, com albarda grená e cilhas amarelas, olhando tristemente para nós, provavelmente, caminhando vagarosamente a caminho de casa, vendo-se a paisagem ao fundo, onde são evidentes as silhuetas de dois montes.
 

(Pormenor dos dois filetes de bordadura da aba da peça)

Para enaltecer o prato, dois filetes de bordadura, o exterior, acastanhado e o interior, na cor amarelada.

Atendendo à natureza de pasta utilizada, ao motivo da decoração e ao tipo de pintura realizada, bem como ao vidrado leva-nos a considerar que será uma peça fabricada na segunda metade dos anos quarenta ou primeiros anos da década de cinquenta, do século passado.
 

(A beleza da peça e a sua exibição em termos cromáticos)
Trata-se de uma decoração, em termos de pintura, de duas naturezas: uma pintura a chapa recortada ou “stencil”, com decoração de todos os elementos a preto e uma decoração manual, a pincel, nas cores amarelo, azul e vermelho, que se limitou a preencher as partes criadas pela chapa recortada, para além do enquadramento do solo e da paisagem, ao gosto do artista.
 

(O tardoz do pratinho e o carimbo inequívoco da OAL)

No tardoz do prato o carimbo, monocromático, na cor castanha, com a Indicação de *Olaria Alcobaça *Alcobaça* e no círculo interior, o logotipo OAL.
 

(O Carimbo da Fábrica OAL)

Trata-se de uma peça utilitária com uma decoração ao gosto popular, bastante utilizado à época da sua fabricação, usada com frequência no fabrico da OAL.

Era o aproveitamento de motivos rurais, definidores de uma época (meados do século XX), com a utilização de cores do gosto popular e decoração simples, mas cativante.

Muitas destas peças, pese embora de textura frágil chegaram até ao presente, pois devido à sua decoração deixaram de ser peças utilitárias, de uso doméstico e comum, passando a ser peças de decoração, geralmente expostas junto às costas dos louceiros para lhes dar uma animação decorativa e cromática.

Fontes:

1) – “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente: CeRamiCa PLUS” – Galeria de Exposições Temporárias – Mosteiro de Alcobaça; 6 de Abril a 4 de Maio 2011; Município de Alcobaça, 2011.


3) – “ Cem anos de Louça em Alcobaça”, de Jorge Pereira de Sampaio e Luís Peres Pereira, 2008;

4) – “Faiança de Alcobaça, de 1875 a 1950”, de Jorge Pereira de Sampaio, Estar Editora, Coleção Fundamental, 1997 (?);


5) - – “A Loiça de Alcobaça”, de João da Bernarda, Edições ASA, 1ª Edição, Porto - Outubro de 2001.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Travessa Oval de esponjados, com os Bombos da Festa – Fabrico de Aveiro (?)


(Travessa oval de esponjados e carimbos, de Aveiro (?)) 
As peças em faiança decoradas a esponjados são sempre um motivo de peculiar interesse, demonstrativos de uma determinada época, e que dado o gosto que houve à mesma, eventualmente pelo seu baixo custo, teve uma significativa utilização.
 

(Decoração complementar, a pincel, ao gosto do decorador)

Atendendo à sua fabricação, simples e sem esmeros de qualidade de produção ou de decoração, as peças que ficaram para a posterioridade não são muitas e as que ficam enfermam de sinais de desgaste, de uso ou de manuseamento, faltando o vidrado por fadiga, possuindo “cabelos” e alguns tais que motivaram a aplicação de “gatos”, de “dentadas” nas bordaduras da peça, enfim de sinais que demonstram a idade das peças.
 

(Pormenor da decoração a pincel - Bombos e Arraial)

Os esponjados são de vários tipos e a sua apresentação configura processos e meios de execução diferentes. Há os esponjados puros e simples, há os “carimbos” que mais não são que esponjados aplicados com “rolhas” de cortiça, que criam decorações circulares.
 

(Pormenor - "Os Bombos da Festa")

Os esponjados foram utilizados por quase todas as fábricas de faianças, desde os meados - finais do século XIX, até meados do século XX, quer como decoração complementar e de integração ou composição em decorações ou motivos característicos, por exemplo “Cantão Popular”, entre muitos outros.
 

(Pormenor dos esponjados - a verde seco e azul e dos "carimbos" a amarelo)

Mas existem peças simples, em que a única decoração são esponjados, esponjados e filetes ou faixas, esponjados e carimbos, etc, e esponjados, carimbos e outros elementos decorativos à época, como é o caso da peça que apresentamos.

São peças simples, ingénuas, de decoração fácil, ao gosto do decorador e aos gostos da época.
 

(Pormenor da banda ou faixa na bordadura da aba da travessa)

Estas peças, de esponjados eram fabricadas nas várias fábricas de Aveiro, no Norte, e segundo consta na Fábrica da Corticeira (pese embora tenhamos algumas dúvidas, pois cremos que não se produziu tanto como se faz crer e se refere, pese embora na parte final da sua produção tenha, eventualmente, adaptado tal estilo, ao gosto da decoração das faianças da época, para conseguir ter concorrência entre as demais e sobreviver financeiramente, numa época que já agonizava), para além de outras.
 

(Conjunto de Pormenores identificativos e característicos da peça)
Este tipo de peças, eventualmente fabricadas com predominância nas fábricas de Aveiro, em meados do século passado, com a decoração de esponjados, escorridos e circulares – a “aplicação da rolha”, policromados (azuis, amarelos-ocre, avermelhados ou cor de rosas); esponjados esverdeados e com remates em triângulos, ou “bicos”, na cor azul, junto à bordadura, ou com faixas de remate, ou filetes largos – no presente caso uma faixa larga cor-de-rosa velho.

Trata-se de uma decoração simples e rápida de efetuar, com a execução manual ao gosto de decorador da aplicação dos esponjados, com uma esponja provavelmente do mar e dos “círculos”, com uma rolha, para além de outras decorações, ao pincel, como é a do presente caso com uma soberba decoração de um tema recorrente das Festas do Norte, os Bombos da Festa e a Decoração do Arraial, de forma tão simples e deveras ilustrativa exemplificada na presente peça.
 

(O tardoz do travessa e o pormenor da "aranha" rústica aplicada à mesma para pendurar)

A rapidez e o “descuido” colocado na decoração destas peças “baratas” e de uso utilitário comum e frequente, justificava que habitualmente no tardoz ou base das mesmas, aparecessem borrões coloridos, correspondendo a alguns dos dedos do decorador, sujos de tinta da decoração efectuada, ou outras situações de evidente descuido no seu fabrico, o que não se passa na presente peça, pois, devido à sua decoração, soberba, a travessa oval, deixou de ser uma peça de uso utilitário, para ser uma peça decorativa de pendurar – o que é evidente e demostrativo através da “aranha” artesanal que a mesma tinha, que preservamos e exibimos.

Esta peça, muito pouco corrente, para não dizer rara, possui uma interessante decoração alusiva às Festas e Romarias do Norte, em duas situações emblemáticas das mesmas, as suas decorações, 0s “Arcos das Festas” e a animação cultural ao gosto popular “Os Bombos”.  


(Travessa de Esponjados, Carimbos e decoração a pincel, de Coimbra (?))


Aqui fica o registo de mais uma interessante peça de faiança, provavelmente de uma das fábricas de Aveiro, com uma decoração esponjada falante.

Fontes:

- As recorrentes habituais; sem nenhuma em específico;

- Os conhecimentos pessoais, ao correr do tec