segunda-feira, 6 de outubro de 2014

PRATOS DE ALCANTARA, MOTIVO INVICTA, CARIMBO L&C E MARCA CHAMBERS


As faianças da fábrica de Alcântara continuam-nos a surpreender diariamente, conforme se vai descobrindo peças que há muito se encontravam guardadas, armazenadas, esquecidas e que vêm, agora, à luz do dia.

Tal facto permite-nos descobrir novas peças, novos motivos, novas decorações e a reescrever, em parte, o muito que já se disse sobre a fábrica de Alcântara.

Tudo isto por um par de pratos que “descobrimos” recentemente….
 

 
Quando nos deleitamos a apreciar, a desvendar e a catalogar peças de fabrico de Alcântara, não podemos deixar de recorrer à fonte principal (1), do Mercador Veneziano.

Um prato e motivo que sempre nos intrigou foi o denominado motivo “VARINA” (?), em que para além desta a decoração do prato era completada com motivos do Porto.

Nesse blogue a descrição desse prato era a seguinte:
Prato de motivo desconhecido até à data. Espécime decorado em tom monocromado a vermelho, de desenhos apelativos à cidade do Porto.
No topo do prato estão representados dois monumentos simbólicos da cidade, mais à esquerda a Torre dos Clérigos e à direita a Ponte Maria Pia com paisagem cénica para o Rio Douro. Em baixo, a figura de Varina com cesta à cabeça. Referir ainda que ambos os desenhos descritos são enquadrados com composições florais de diversos géneros. Exemplares com o mesmo motivo podem variar, pelo menos, entre a tonalidade apresentada, verde e castanho.

Relativamente ao período de produção da peça analisada, devido a não ter acesso à marca de fabrico, não foi possível precisar uma data concreta da sua produção, no entanto, pelo molde da peça diria pertencerá aos finais do século XIX.”

Pois os pratos que “descobrimos” recentemente, na tonalidade verde, apresentam esse motivo e o mesmo está identificado no respetivo carimbo “INVICTA” – fica pois, a partir de agora identificado e catalogado o motivo.

Mas algo mais deslumbrante:

- o prato de tons mais fortes e de decoração mais nítida, apresenta no tardoz do seu fundo um carimbo monocromático, verde, com as seguintes indicações: L & C, FABRICA D’ ALCANTARA, FAIANÇA FINA e INVICTA – o nome do motivo. Possui igualmente na pasta a marca circular de LOPES & C, ALCANTARA e LISBOA;

 
- o prato de tons mais esbatidos e de decoração menos nítida, mais esbatida, mais imperfeita, em que a varina aparece de menores dimensões e em que os armazéns na margem do Rio Douro, do lado de Gaia, são em maior número e com melhor identificação da sua fenestração, no seu tardoz, possui somente a marca circular na pasta, mas com a seguinte indicação CHAMBERS & C.


Estamos pois perante dois pratos de Alcântara, com o mesmo motivo “INVICTA”, mas de períodos diferentes de fabrico.




O prato com a marca de L & C, poderemos indicar, que provavelmente, o seu fabrico terá sido entre 1889 (ou 1886-?) a 1901, ou seja, do final do Século XIX.



 
O prato com a marca CHAMBERS & C, poderá, eventualmente o seu fabrico ter ocorrido entre 1930 (?) a 1934 (?), será?

Interessantíssimo, dois pratos da mesma fábrica, com o mesmo motivo, mas com apresentações bastante diferentes, separados temporalmente por 30 anos (?), em que o mais antigo apresenta melhor acabamento que o mais recente, sendo que este, no seu verso ainda continua a exibir o triplico “três pontos”, das trempes quando ia cozer o vidrado.

 
 




 
 
FONTES:


2)Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987





domingo, 5 de outubro de 2014

PRATO EM FAIANÇA DE JOSÉ DOS REIS (ALCOBAÇA)


Há peças em faiança, monocromias, em azul, cor-de-rosa, vinoso ou verde-claro, que são uma incógnita e motivam muitas leituras ou indicações: do Norte (?), de Coimbra (?), de Vilar de Mouros (Caminha) (?), dos Açores (?), de José dos Reis (Alcobaça) (?) – enfim, vários possíveis fabricos!

São peças belas, interessantes na decoração, deslumbrantes nas composições, em especial nos seus casarios – cada artista desenvolvia ao seu gosto pessoal a dimensão e a volumetria do conjunto edificado desenhado.

Neste apontamento de inventário de mais uma peça, apresenta-se um prato covo, monocromado, em cor-de-rosa, com uma decoração vegetalista estampilhada na aba e com uma interessante reserva central com paisagem.

Um conjunto edificado à esquerda, sobre uma pequena colina, constituído por vários edifícios de um, dois e três pisos, com telhados de duas águas e estes com as fugas das chaminés e sobre o telhado mais à direita uma torre com uma cúpula, provavelmente de uma igreja encoberta pelo mesmo.

À direita desenvolve-se um bosque com frondosa e altiva vegetação, entre a qual se vislumbra uma ponte, com dois arcos, pelos quais passa a água que continua, pelo rio fronteiro, onde desliza um enorme e elegante cisne.

A completar esta apresentação bucólica e romântica, algumas nuvens, ao fundo, sobre o casario.

Faiança sem qualquer marca, caracter alfanumérico ou qualquer “sinal” que a pudesse identificar, pelo que se torna difícil a atribuição do seu fabrico.

O tardoz do prato possui um esmalte branco, recordando-nos a louça malegueira, no qual se denotam facilmente as marcas da trempe, quando foi à cozedura.

Pelo tipo de esmalte branco, leitoso, pela decoração a cor-de-rosa, pelo motivo da decoração central, pelo tipo de casario desenhado e pelo seu enquadramento, leva-nos a considerar que seja fabrico de José dos Reis (dos Santos), do período de Alcobaça, pese embora nos tivessem dito que era fabrico do “Norte”.

A comparação com outras peças semelhantes divulgadas na net (em locais de venda e em blogues) permitiu-nos ajudar na decisão e tornar a mesma mais consistente.

Mas ainda nos persiste uma dúvida, quanto a data do fabrico: se será de meados do século XIX, no período em que José dos Reis era mercador em Coimbra, ou de finais desse século, a partir de 1875, quando foi trabalhar para Alcobaça.

Mas pela cor do barro e respectivo vidrado do tardoz, inclinamos-nos para dizer que será de José dos Reis –  Alcobaça.

Da fonte (3) registamos a imagem que a seguir apresentamos e em que as semelhanças da decoração são enormes com a do prato, que inventariamos: casario de vários pisos, a torre com cúpula por trás do ultimo telhado à direita e o enquadramento de gracioso arvoredo.

Igualmente da fonte (3) registámos outro prato, em que as evidências são bastantes: o casario com telhados de duas águas, a cúpula da torre, as árvores de enquadramento, tudo isto no centro do covo, e em especial, a estampilhagem na aba do prato, semelhante à do prato em apreço, confirmando assim a nossa opinião.


Da fonte (6) registamos a imagem de um prato da colecção de Luís Pereira Sampaio, embora em tons de azul, mas em que o casario era semelhante, o que nos ajudou a consubstanciar a nossa opinião, quanto ao fabrico.


Da fonte (2) recolhemos a imagem que a seguir se apresenta, embora com motivo semelhante, mas com diferencias perfeitamente notórias e atribuído o seu fabrico a Manuel Ferreira da Bernarda, continuador no fabrico de peças “semelhantes” às de José dos Reis, após a sua morte em 1898.

Em suma, uma interessante peça de faiança da primeira fábrica de faianças de Alcobaça, localizada junto à Ponte D. Elias, fundada em 1875, por José dos Reis dos Santos, anteriormente com fabrico em Coimbra.

As características das peças produzidas em Alcobaça, neste período (1875-1898) assemelhavam-se às de Coimbra, nomeadamente na estampilhagem das abas com características da produção da ultima metade de Oitocentos, bem assim como na decoração da reserva central, com casario, paisagem de enquadramento, com estampilhas e esponjados, monocromáticos, azul ou cor-de-rosa.

FONTES:





6) - “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente: CeRamiCa PLUS” – Galeria de Exposições Temporárias – Mosteiro de Alcobaça; 6 de Abril a 4 de Maio 2011; Município de Alcobaça, 2011.


7) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

8) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

9) – “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

PEQUENO PRATO DA OAL – OLARIA DE ALCOBAÇA LIMITADA


Às pequenas peças de faiança, por vezes, não lhe é dada a devida atenção, e são amontoadas no chão, sobre o pano, ou então colocadas a um canto da banca e vendidas a 1,00 Euro.

Da paciência com a pesquisa e sempre no intuito do alcance de alguma de interesse, por vezes surgem, e é uma satisfação, pese embora a aquisição se faça de forma simples e sem evidenciar tal.

Mais uma pequena aquisição dessas: um pequeno prato em faiança, da OAL – Olaria de Alcobaça Limitada, policromático, com decoração rural, interessante.



Uma camponesa de blusa azul, saia acastanhada, e lenço grená sobre o pescoço, sentada de lado sobre a albarda de um burro, que penosamente fazia o seu trajeto, provavelmente, a caminho de casa, vendo-se a paisagem ao fundo, onde são evidentes as silhuetas de dois montes.


Para enaltecer o prato, dois filetes de bordadura, o exterior, mais largo, acastanhado e o interior, menos largo e na cor amarelada.



Atendendo à natureza de pasta utilizada, ao motivo da decoração e ao tipo de pintura realizada, bem como ao vidrado, leva-nos a considerar que será uma peça fabricada na segunda metade dos anos quarenta ou primeiros anos da década de cinquenta, do século passado.




No tardoz do prato o carimbo, monocromático, na cor castanha, com a Indicação de *Olaria Alcobaça *Alcobaça* e no círculo interior, o logotipo OAL.




Trata-se de uma peça utilitária com uma decoração ao gosto nacional, bastante cultivado na época da sua fabricação e que é uma referencia de uma época do fabrico da OAL, na qual recorria a uma decoração evocando a ruralidade do país e utilizando cores do gosto popular.


Fontes:






6) – “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente: CeRamiCa PLUS” – Galeria de Exposições Temporárias – Mosteiro de Alcobaça; 6 de Abril a 4 de Maio 2011; Município de Alcobaça, 2011.

 

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Prato de Alcântara, Motivo “Estátua” ou “Cavalinho”, pintura a stencil, relevada, marca CHAMBERS & C.ª – 3 em 1!


Surgem-nos do nada verdadeiras peças de faiança, de elevado interesse e fora dos padrões habituais, que nos criam forte mistério e nos obrigam a reescrever sobre o fabrico ou sobre a história que presumimos das antigas fábricas de faiança portuguesas.


Apresentamos um prato em que as suas características não são as habituais da faiança de Alcântara, mas que possui marcado na pasta o carimbo circular de ALCANTARA, LISBOA e CHAMBERS & C.a – o que não deixa dúvidas.


Trata-se de um prato de faiança fina e não pesada; parece de pó de pedra; no tardoz do fundo do prato possui não um único círculo externo saliente, mas mais três círculos internos, sendo que no terceiro, mais pequeno é onde se insere a marca na pasta.


Contudo, continua a apresentar os três locais com três pontos cada, no verso da aba do prato, marca do apoio, das trempes, quando os mesmos iam cozer.


A consistência, textura e círculos no tardoz do fundo do prato são uma novidade! – 1ª Situação não corrente na Faiança de Alcântara!

A exibição da marca na pasta de CHAMBERS & C.ª, trata-se de uma marca não muito habitual, crendo-se que corresponde ao período de fabrico de meados da década de trinta do século passado, antes da fábrica encerrar – 2ª Situação não habitual na Faiança de Alcântara!

A exibição do motivo “Estátua” ou “Cavalinho”, na cor grená, esbatida, relevada, já que foi pintada, com stencil, evidenciando toda a piquetagem, nos sombreados ou nas decorações correspondentes ao motivo são uma novidade! Tal nunca tínhamos visto, pois o habitual são as estampagens  – 3ª Situação não identificada na Faiança de Alcântara!




 
Em suma, uma peça rara!

Trata-se de um prato raso, com o motivo citado, aplicado com o recurso a stencil, pintura relevada, com exuberante preenchimento e decoração, quer da aba quer do fundo do prato.

 O cavaleiro e o seu pedestal e as colunas de enquadramento assemelham-se às que habitualmente outras fábricas produziram, por exemplo, a Fábrica de Louças de Sacavém.

 A paisagem de enquadramento e a torre exibida já não são muito habituais neste motivo.

O preenchimento da aba é interessante: possui uma grinalda de elementos geométricos curvos no seu filete, seguem-se intervalos ou registos sombreados até à decoração vegetalista, na qual se criam três quadros de enquadramento, preenchidos com conjuntos edificados, nobres ou senhoriais, intervalados por menores arranjos vegetalistas nos quais se inserem jarrões com flores, apoiados em sólidas bases.

Toda esta decoração da aba termina com arranjos vegetalistas, já no covo do prato, constituindo uma moldura para a decoração do fundo do prato.

Em suma uma raridade de prato, que nos cria algumas dúvidas e incertezas sobre os habituais padrões de fabrico, decoração e marcas da Fábrica de Louça de Alcântara.

Não podemos contudo deixar de referir e com base na fonte (1), que esta fábrica produziu pratos do motivo “CAVALLINHO”, mas no período de “LOPES & C.a”, daí a referencia “L & C”, no carimbo estampado e em que a decoração estampada era igual à do prato que apresentamos, como a imagem seguinte evidencia.



Cremos tratar-se de uma iniciativa comercial, de mais valia, acompanhando a proliferação do motivo, desenvolvido pela Fábrica de Louça de Sacavém e, a Norte, pela Fábrica de Massarelos, com enorme aceitação nos consumidores, tentando assim ter um melhor mercado, pese embora a louça utilitária de Alcântara, ser mais “grosseira”, menos cuidada na execução, de menor qualidade.


Aqui fica o registo, para que conste e seja tomado em consideração.

FONTES:






6) -Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987;