domingo, 31 de maio de 2015

Faianças P.L. – Pereira e Lopes, Lda. – Valado de Frades – Louça de Alcobaça



A fábrica de Faianças Artísticas e Decorativas, Pereira e Lopes, Lda., que fabricou louça regional de Alcobaça, foi fundada em 1944, por três sócios: Álvaro Marques Pereira, José Pereira (genro de Álvaro Pereira) e Eduardo José da Silva Lopes e implantou-se na localidade de Valado de Frades.


(Publicidade à Fábrica no inicio da década de 50 - Fonte 1)
                                             
A louça decorativa que começou a fabricar possuía uma decoração da dita louça regional de Alcobaça, com fortes influências de duas fábricas do concelho vizinho de Alcobaça, a Fábrica de Raul da Bernarda e a OAL – Olaria de Alcobaça, principalmente na primeira década de produção.

(Da Fonte 1)
(Identificação na peça - da Fonte 1)

(Da Fonte 1)
(Identificação na Peça - Da Fonte 1)

(Da Fonte 1)
(Identificação na Peça - Da Fonte 1)

(Da Fonte 1)
(Identificação da Peça - da Fonte 1)

(Da Fonte 1)
(identificação da Peça - Da Fonte 1)

(Da Fonte 1)
(Identificação da Peça - Da Fonte 1)

(Da Fonte 1)
(Identificação na Peça - Da Fonte 1)

(Da Fonte 1)
(Identificação da Peça - Da Fonte 1)

O fundo em azul claro das peças, conjugado com a gramática decorativa característica da louça regional de Alcobaça, à base de arranjos florais policromáticos de cores fortes eram as suas principais características.

(Da Fonte 1)
(Da Fonte 1)

Era seu principal mentor, o sócio, Eduardo Lopes, pois tinha estudado na Escola Industrial, das Caldas da Rainha, cremos; vinha da fábrica Olaria de Alcobaça, onde tinha adquirido experiência e conhecimentos bastantes, pelo durante a sua permanência na fábrica, era ele que dirigia a produção, para além de ser também modelador de peças e pintor.

(Eduardo da Silva Lopes - Fonte 1)

Posteriormente, cremos no início da década de 50, do século passado, com a saída do sócio Eduardo Lopes, passou a chamar-se Pereiras, Lda., tendo vindo mais tarde, em 1969, a ser integrada na Fábrica Elias e Paiva, Lda., conhecida comercialmente como ELPA.

(Peça do inicio da laboração - meados anos 40 - Da Fonte 2)

A melhor decoração desta fábrica foi efectuada nas décadas de 40 e 50 do século passado, quando mão-de-obra era mais barata e se corria a jovens aprendizes, pelo que o tempo despendido com a decoração de cada peça era muito maior e logo a mesma era mais elaborada e intensa.

(Da Fonte 3)
(Identificação na Peça - Da Fonte 3)

Refira-se que na década de 60, já com a fábrica Pereiras, Lda., a decoração efectuada era muito semelhante.

(Da Fonte 2)

O fundo das peças em azul mais claro e as decorações em azul forte, para além das demais cores, amarelos-torrados, vermelhos escuros, verdes secos, denunciavam a cozedura das peças em fornos de lenha.

(Do OLX)
(Identificação na Peça - Do OLX)

(Do OLX)
(Identificação na Peça - Do OLX)

(Do OLX)
(Identificação na Peça - Do OLX)

(Do OLX)
(Identificação da Peça - Do OLX)


Na generalidade todas as peças tinham no seu fundo ou tardoz, a identificação da fábrica, inicialmente, “P.L. Lda.”, e depois “P.L.”, com uma imagem assemelhando-se a um pinheiro entre as iniciais; com a indicação do local da fábrica “VALADO”, tipo de louça ou proximidade geográfica “ALCOBAÇA”, bem assim como “MADE IN PORTUGAL”, as iniciais do pintor e o número da peça.

Os pintores foram vários e consequentemente as iniciais são diversas nas peças que se encontram:

- A.M.R. – Américo Ribeiro;
- A.J. – Alberto Toti (?);
- N.L. – Aníbal Lopes (?);
- J.T. – Jaime Torres;
- S. – António Elias da Silva (?);
- A.A. – (?);

Os pintores na fase inicial desta fábrica eram os seguintes:

- António Elias da Silva;
- Américo Ribeiro (vindo da fábrica de Sant’ Anna, de Lisboa);
- Jaime Torres (vindo da fábrica de Sant’ Anna, de Lisboa);

O forneiro era o João Elias e o modelador o já citado sócio Eduardo Lopes.

No entanto, refira-se que muitas peças não eram assinadas pelos seus pintores, provavelmente, quando efectuadas pelos jovens aprendizes.

A numeração das peças iniciou-se pelo n.º 1 e prolongou-se até cerca das 9 centenas, já no período dos Pereiras, Lda., havendo muitas peças com numeração nas 8 centenas.


(Da Fonte 1)

(Identificação na peça - Da Fonte 1)

Também deveras interessante é outro tipo de decoração, desta fábrica, de forma inequívoca apresentada na fonte 3) citada, cujas imagens da mesma são as seguintes:

(Jarra -Da Fonte 3)
(Identificação na Peça - Da Fonte 3)

Sendo referido na mesma que “Esta decoração, com representações arquitectónicas organizadas em função da forma da peça, evoca claramente a decoração das bases de candeeiro, particularmente o modelo P955, que Ferreira da Silva (n. 1928) desenvolveu para a Secla durante a década de 1950.

O formato da jarra, contudo, assume-se como uma versão simplificada, visto que as peças de Ferreira da Silva surgem perfuradas e apresentam excrescências escultóricas.”

A peça que apresentamos é um jarro, com uma interessante e soberba decoração, característica do 1º período de fabrico da fábrica de Pereira e Lopes, Lda., provavelmente do final da década de 40 ou inicio da de 50, do século passado.





Sobre o fundo em vidrado azul mais claro, a intensa, harmoniosa e policromia decoração de toda a peça com vários filetes em azul forte, para fazer realçar a forma da peça, bem como para delimitar as bordaduras do pé da asa e da boca do jarro.



Possui na base a respectiva identificação: “P.L.”, “VALADO ALCOBAÇA”, “MADE IN PORTUGAL”, “HAND PAINTED” e o número da peça “450”.


Mais uma peça preservada e publicada para memorizar uma das muitas fábricas de faianças extintas em Portugal.


Fontes:






6) – “Cem anos da louça de Alcobaça”, de Jorge Pereira de Sampaio, Edição do Autor, 2008;

7) – “Faiança de Alcobaça, 1875 – 1950”, de Jorge Pereira de Sampaio, Editora Estar;



sábado, 30 de maio de 2015

CERAMICA ISLAMICA DE MERTOLA – LANÇAMENTO DE UM LIVRO


Integrado no Festival Islâmico de Mértola de 2015, no passado dia 23 de Maio foi apresentado no Centro de Estudos Islâmicos e do Mediterrâneo, o livro “Cerâmica Islâmica de Mértola”, de Susana Gómez Martinez, edição Mértola: Campo Arqueológico de Mértola, 2014.


Teve uma eloquente introdução feita pelo extraordinário arqueólogo Cláudio Torres e uma soberba apresentação pela autora – não fosse o calor que se fazia sentir na sala e muito mais tempo, todos estaríamos, deslumbrados a ouvi-la falar de cerâmica islâmica de forma arrebatada.



Não nos podemos esquecer que Mértola apresenta uma quantidade elevada de vestígios da ocupação islâmica, que têm vinda a ser descobertas, estudadas e catalogadas ao longo das últimas décadas, no sentido de identificar a islamização levada nesses tão longínquos séculos IX e XII.


O contributo muçulmano foi deveras significativo a diversos níveis e as suas marcas estão espalhadas por todo o lado. Por outro lado os vestígios encontrados, evidenciam os seus conhecimentos, as suas técnicas e os utensílios usados e entre eles os objectos de Cerâmica, peças utilitárias e de uso corrente.


Como sabemos, Portugal, possui provavelmente a maior colecção mundial de Cerâmica Islâmica existente e daí a importância que se reveste a publicação citada, que aborda as seguintes temáticas:

- Mértola e seu Território: o contexto histórico e geográfico;

- Os estudos de Cerâmica em Mértola;

- Técnicas de Fabricação da Cerâmica Islâmica de Mértola;

- Nome, forma e função na Cerâmica Islâmica de Mértola;

- Técnicas e motivos ornamentais;

- Produção e Comércio.

É inegável e reconhecido mundialmente a importância das Cerâmicas Islâmicas encontradas em Mértola, e soberbamente expostas, sendo que parte do seu acervo já esteve exposto no Museu do Louvre, em Paris.


Para quem gosta de Cerâmica, não pode de modo algum descorar ou desconhecer este tipo de peças existentes em Portugal, de elevado valor.


Para todos os que queiram saber mais ou adquirir conhecimentos sobre esta cerâmica, recomendamos, vivamente, o livro em apreço, bem assim como as fontes que indicamos.


Ao longo deste “post” fomos apresentando algumas fotos de peças em cerâmica islâmica, para evidenciar o seu tipo, forma, decoração e seus motivos ornamentais.


São pois, testemunhos de um período em que “muçulmanos e cristão viveram em relativa harmonia, tolerando-se mutuamente”; porque não colher estes ensinamentos, para os tempos presentes e tão conturbados que se vivem?



Fontes:






6) - http://comum.rcaap.pt/bitstream/123456789/2162/1/Cer%C3%A2mica_isl%C3%A2mica_M%C3%A9rtola_Museu_M%C3%A9rtola_Arte_Isl%C3%A2mica.pdf

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Prato Decorativo da Cerâmica Bombarralense – tipo Louça de Alcobaça


1. Introito

Existe uma faiança decorativa, “tipo Louça de Alcobaça”, com algumas semelhanças à produzida por Raul da Bernarda, na década de 30, do século passado, com interessante e intensa decoração policromática, com aplicação dos fortes azuis que tanto nos deslumbram.


Trata-se de faianças da C.B.L., ou seja da Cerâmica Bombarralense, Limitada, do Bombarral, que frequentemente é confundida com as faianças de Alcobaça, dada a sua semelhança.

Recentemente estivemos em casa de pessoa amiga que possui uma interessante colecção destas faianças, conseguida e organizada pelo seu falecido pai, pela qual ficámos deslumbrados e tecemos algumas considerações, quer em relação à decoração, quer em relação à tonalidade das cores.

E então não é que num gesto de puro afecto que somos presenteados com um prato decorativo, de asas, tipo prato de torradas
.


Logo pensamos, o reconhecimento deste gesto vai ser uma publicação no blogue acerca das Faianças produzidas pela C.B.L. – Bombarral.


2. Historiando: Cerâmica e Jorge Monteiro

A Cerâmica C.B.L., do Bombarral, foi uma das duas importantes cerâmicas desta localidade, mais propriamente a primeira a ser fundada.

A Cerâmica Bombarralense Limitada (C.B.L.) foi fundada em 1944, vindo a encerrar em 1954. Foi constituída por escritura de 18 de Fevereiro 1944, em que se declarava estar a C. B. L. "destinada ao fabrico de louça doméstica, artística e azulejos", e tinha como seu capital inicial a quantia de 60.000$00, cujo capital social estava distribuído por três parcelas de 20.000$00, em nome de José Luiz de Barros, Joaquim Amador Maurício e Jorge de Almeida Monteiro.


O grande impulsionador e dinamizador da fábrica foi Jorge de Almeida Monteiro, que nasceu em 1908, na citada localidade do Bombarral e que viria a falecer em 1983.

O mesmo exerceu as funções de director técnico cuja produção se centrava em modelos que evocavam elementos decorativos de outros séculos, bem como ao recorrente e intenso azul que se aplicava na faiança de Alcobaça.

A família de Jorge Monteiro dedicava-se ao pequeno comércio, sendo que seu pai, Custódio de Almeida Monteiro, possuía uma loja de vidros e louças.

Jorge Monteiro frequentou, nas Caldas da Rainha, a então denominada Escola Primária Superior e a Escola Industrial e Comercial. Começou por frequentar um curso comercial, que não chegou a concluir, tendo mais tarde optado por se matricular no curso de cerâmica.


Em 1938, com 30 anos, casou com a jovem Atalanta Judicibus, filha de um tal Evaristo Judicibus, que possuía uma tipografia, tendo ido o casal viver para a Nazaré.

Jorge Monteiro desenvolve o seu trabalho entre a loja do pai e a tipografia do sogro, fazendo ainda trabalhos de reparação de mobiliário, com o recurso ao cobre e à madeira, bem assim como desenvolvendo-se como artista, criando peças em cobre martelado.

Por volta de 1940 ou 1941, um reconhecido ceramista e escultor, à época, Alberto Morais do Vale, que era o director da Escola Caldense, organizou no Bombarral um curso de artes plásticas, no qual Jorge Monteiro participou.

Como resultado desta participação, Jorge Monteiro, obteve o estímulo para projectar a fundação de uma fábrica de cerâmica, o que viria a acontecer em 1944, com a C.B.L. – Cerâmica Bombarralense, Limitada, que se dedicou à produção de louça decorativa e azulejo, a qual viria a encerar em 1954, na sequência de um incêndio e quando já se encontrava descapitalizada.


No entanto, há relatos históricos de que a Cerâmica Bombarralense chegou a estabelecer durante algum tempo, um núcleo experimental de cerâmica contemporânea, onde alguns ceramistas, escultores e pintores, eventualmente, poderão ter criado, algumas peças.

Deste modo, esta fábrica teve um papel importante à época pois foi também e para além da sua fabricação foi um ponto de encontro artístico e político. Nomes das artes, como o pintor Júlio Pomar (n.1926), Alice Jorge (1924 – 2008), Hernâni Lopes, Stella de Brito, David de Sousa, a ceramista Maria Barreira (1910 – 2014) e Vasco Pereira da Conceição (1914 – 1992), foram alguns dos que o frequentam. O ambiente cultural e estético vivido era fortemente influenciado pelo neorrealismo.


Por outro lado no início da década de 50, António Dias Coelho faz experiências de cerâmica nesta Cerâmica. E foi em 1944, que o jovem pintor de cerâmica, Ferreira da Silva, vindo de Coimbra com 16 anos, principiou a sua carreira artística.

Evidenciando a importância desta fábrica e o seu mentor Jorge Monteiro há a referir que este esteve presente nas Exposições Gerais de Artes Plásticas da Sociedade Nacional de Belas Artes, entre 1949 e 1954, ou seja até ao ano de encerramento daquela.


3. Caracterização da Faiança da C.B.L.

A Faiança da C.B.L. – Bombarral integra-se perfeitamente no conjunto das louças denominadas como “Louça de Alcobaça”, quer pela sua composição, quer pela sua policromia, quer pela palete de cores aplicadas.

Na verdade, tratam-se de peças em que a cor de fundo é o azul claro e a decoração a azul-escuro, amarelo-torrado, vermelho, verde, castanho e violeta.


Cercaduras com filetes em azul-escuro, com filete em amarelo-torrado, intercalado; com cercadura de arranjos esquematizados, com azuis carregados e bem cozidos, que dão um reflexo notório à peça, enaltecendo a sua imagem.


A composição floral do fundo do prato tem uma forma e expressão mais simples de tratamento, com cor monocromática azul, menos fortes, mas mantendo os habituais tons.

As composições florais habitualmente exibidas apresentam interessantes arranjos florais com a interposição de arranjos geométricos com reservas de linhas vermelhas entre-cruzadas, em perfeita sintonia e com uma beleza abrangente e cativante em termos de decoração policromática.


As marcas no verso das peças, todas manuais, identificam o fabrico da peça “C.B.L.”, identificam o local “BOMBARRAL”, cultivam o marketing “MADE IN PORTUGAL” e identificam o pintor da mesma. Na nossa peça “A.L.”- quão gostaríamos de descobrir e depois dar a conhecer quem teria sido o pintor artístico desta peça de faiança.


Para uma melhor identificação da composição dos arranjos apresentados e da composição cromática da Cerâmica C.B.L, apresentamos algumas peças, cujas imagens foram recolhidas na NET e que ilustram tais referências.





4. Em jeito de conclusão

A faiança da C.B.L. – Cerâmica Bombarralense, Lda. teve um significativo relevo e importância na época em que laborou, sendo a fábrica mais a sul, da região de Alcobaça a fabricar a denominada “Louça de Alcobaça”, com padrões decorativos policromáticos bastante elaborados e com tonalidades de azul bastante fortes e outras cores também fortes que se assemelhavam a decorações da Vistal ou Vestal, bem assim como de Raul da Bernarda.

Oportunamente voltaremos a falar desta fábrica, com outras peças que temos por catalogar, bem assim como da eventual obtenção de informações referentes a esta fábrica e que andamos a pesquisar.


Fontes:


2) - Humberto Sousinha Macatrão, "Jorge de Almeida Monteiro".

3) - Jorge de Almeida Monteiro, 1908-1983. Catalogo das Exposições. Museu Municipal do Bombarral, 1997