quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

TRAVESSA DA FÁBRICA DE LOUÇA DE ALCÂNTARA, MOTIVO PRIMAVERA

A fim de desocupar a antiga casa senhorial da avó, distante, entretanto falecida, as suas netas venderam ao desbarato quase tudo o que lá existia – e lá foram as velhas peças de faiança…..


Foi uma venda discreta e rápida, a troco de alguns euros, a uma senhora também já idosa, muito querida e que se dedica ao negócio das velharias como forma de subsistência ou sobrevivência……


E lá conseguimos negociar uma antiga e interessante travessa “arredondada”, da Fábrica de Louça de Alcântara, com uma forma característica da faiança inglesa (rectangular de cantos arredondados).



Trata-se de uma peça com uma decoração simples, estampada, monocromática, cor verde-escura, com dois motivos florais diferentes, um maior, outro menor, mas sempre presentes as espigas, e na maior a papoila.


Trata-se de uma peça com carimbo verde da fábrica de Alcântara: FABRICA D’ ALCANTARA – FAIANÇA FINA – L & C – LISBOA, com indicação do motivo dentro duma raquete retangular: PRIMAVERA, possuindo ainda a marca gravada na pasta de LOPES & C.ª e a identificação alfanumérica L 7.


Tentando identificar o período de fabrico, pela marca circular gravada na pasta, segundo o livro “Cerâmica Portuguesa – Marcas da Cerâmica Portuguesa”, de José Queirós, 2ª Edição, II Volume, (1ª reedição em fac-simile), José Ribeiro – Editor e Livraria Estante Editora, Aveiro – 1987, a páginas 75, item 391; Faiança Feldspática Moderna (fabrico após 1850), fabrico de 1897 em diante – Fábrica fundada por Stringer, Silva e C.ª, proprietários atuais: Lopes & C.ª – marca gravada na pasta (marca da louça decorada à mão).

Por outro lado, pelo carimbo, segundo o livro Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987, a páginas 277, item 186; fabrico de 1886 em diante – Fábrica fundada por Stringer, Silva e C.ª, cujos proprietários atuais são Lopes & C.ª – marca estampada Louça estampada).


Em suma, trata-se de uma travessa de Fábrica de Louça de Alcântara de fabrico de 1897, em diante, com o motivo PRIMAVERA.

FONTES:



3) -Cerâmica Portuguesa – Marcas da Cerâmica Portuguesa”, de José Queirós, 2ª Edição, II Volume, (1ª reedição em fac-simile), José Ribeiro – Editor e Livraria Estante Editora, Aveiro – 1987;

4) - “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987;

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Saladeira em Faiança de Aveiro. Fabrico da Cerâmica Manuel Gonçalves?

As saladeiras em faiança, de Aveiro, das inúmeras fábricas que teve, são peças recorrentes nas feiras de velharias e nos sítios de venda na Internet.


O interesse que as mesmas têm, são as suas decorações e a identificação das respectivas fábricas, já que os motivos são recorrentes e foram-se repetindo de fábrica para fábrica.


Tudo isto a propósito de uma pequena saladeira (ou taça), com uma decoração estampilhada (parte – o cisne) e a restante pintada à mão, policromada, de cores fortes e com o rebordo aerografado na cor amarelo-torrado.


O motivo, recorrente, com a representação de aves, no presente caso – um imponente cisne, vermelho e o ambiente envolvente com vegetação: um lago azul (esponjado), com uma margem verdejante – verde-seco (também esponjada) com arbustos verdes, uma árvore de cada lado do lago, com os troncos castanhos e os ramos verdes; o céu, azul celeste, com um apontamento de nuvens escuras – riscos grenás e duas aves esvoaçando.


Fábricas como a de São Roque fabricaram peças como esta, com este tipo de decoração, no entanto a peça que apresentamos não possui a conhecida marca (carimbo azul) desta fábrica, com a cabaça envolvida no círculo interior à coroa circular com a identificação da fábrica.


Exibe um carimbo estampado, azul, semelhante ao da fábrica de São Roque, mas com as seguintes indicações: na coroa circular “FAIANÇAS” e “SALDAS” ?, esborratado,  provavelmente deve ser “ARADAS” - e no circulo interior o Monograma: “CMG”.


Será da Cerâmica de Manuel Gonçalves (Machado Vitória) que fundou em 1955, em Aradas ??,

Cremos que sim, mas não temos a certeza.

Aqui fica o carimbo, para que se consiga confirmar o seu fabrico!


Fontes:



SALADEIRA ROSA, MOTIVO "CANTÃO POPULAR", OU "PAÍS", OU "CASARIO" ? DE AVEIRO? - A DIFICULDADE DA CATALOGAÇÃO!


Nas feiras de velharias aparecem por vezes peças deveras interessantes, ainda não referenciadas e que fogem aos habituais padrões, havendo por conseguinte dificuldade acrescida em atribuir o seu fabrico e mesmo o seu motivo.


Isto a propósito de uma interessante saladeira de bordadura gomada, com decoração rosa sobre um vidrado branco, brilhante, sugerindo que seja fabrico do centro do país: Coimbra ou Aveiro – inclinamos-mos mais para Aveiro.

A decoração é deveras interessante com elementos decorativos, triangulares de bordadura, efectuados à base de traços ou linhas paralelas e sobrepostas, não esponjado, mas que mesmo assim nos relembram as decorações das faianças das olarias de Aveiro.


A decoração do fundo da saladeira é soberba, pintada à mão, eventualmente com recurso a “chapa” ou “stencil”, para estampilhar algumas partes da decoração (cúpula, vãos de fenestração, empena e telhado da igreja, parte do arvoredo) e induz-nos num “Cantão Popular” já tardio, em transição para o motivo “País” – será?

Os pormenores decorativos têm muitos aspectos similares com os do “Cantão Popular”: um conjunto de edifícios ladeados por árvores; um edifício alto, com cúpula e com uma bandeirola; outro edifício que dá a ideia de ser uma igreja, com a sua empena triangular e duas linhas de janelas; o enquadramento esponjado com linhas horizontais, reforçando a ideia de amplo espaço; as nuvens no horizonte – céu; e a soberba vegetação, variada (salgueiro? pessegueiro? outras?).


Mas também poderá ser considerado o motivo “Casario”, não nos parece, pese embora o mesmo, habitualmente, é apresentado na cor azul, e mais raramente em verde ervilha; em cor-de-rosa como a saladeira que estamos a apresentar não é habitual.


A bandeirola na cúpula do edifício mais alto assemelha-se às bandeirolas que se colocavam nas decorações de Vilar de Mouros, ou de tal ditas (sendo que neste caso, a cor predominante é o verde) ou mesmo nas decorações de “Casario” de José dos Reis (Alcobaça), aqui com os azuis, como cor predominante. Mas a decoração exibida, o traço o seu conjunto não nos indiciam qualquer um destes fabricos.


Trata-se de uma peça de faiança, fina, de barro branco (amarelado); "gateada" (com oito agrafos) de longa data e com marca gravada na massa – mais uma surpresa!


A marca gravada na massa é um “X”, ou um “+” – o que constitui mais um enigma!

 Consultando o livro referenciado na fonte 1, na sua secção III- Sinais e marcas figurativas, na página 137 e na referência 871, temos “P.M. – Vista Alegre (Aveiro). Fabrico de 1895 – Fábrica fundada em 1824 por José Ferreira Pinto Basto-Marca gravada na pasta (oleiro) ”.


Isto é, a marca figurativa identificada refere-se a porcelana recente (fabrico após 1850), e nesta caso da fábrica da Vista Alegre!

Ainda ficamos mais baralhados!

Certezas – nenhumas.

Ideias – algumas: faiança fina (?) do centro do país – provavelmente de Aveiro (fabrico desconhecido) do final do século XIX ou das primeiras décadas do século XX…… mas a marca figurativa na pasta?   

Vamos continuar a pesquisar… mas, alguém nos pode ajudar a desvendar este mistério?

Ficaríamos muito gratos.

Mais uma prova de como quão difícil é por vezes a catalogação de peças de cerâmica.

Fontes:

1) - Cerâmica Portuguesa – Marcas da Cerâmica Portuguesa”, de José Queirós, 2ª Edição, II Volume, (1ª reedição em fac-simile), José Ribeiro – Editor e Livraria Estante Editora, Aveiro – 1987;

domingo, 30 de novembro de 2014

CERAMICA PORTUGUEZA, PADROEIRAS DOS OLEIROS E OUTRAS HISTÓRIAS (JOSÉ DOS REIS - ALCOBAÇA)

Nestes dias cinzentos, frios e chuvosos, apanágio da severidade do Inverno, temos o tempo necessário para consultar alguns livros e relê-los.


Nada melhor que a primeira “Bíblia” da cerâmica – como não podia deixar de ser estamos a referir-nos à “CERAMICA PORTUGUEZA” de José Queiroz, edição de 1907 – Lisboa (1ª Edição), cujo depósito da mesma era na Livraria Coelho, na Rua Augusta, 151 e 153.

Livro que dispensa comentários e que todos já ouviram falar!

O possuir a 1ª edição deste livro é um superior prazer!


Desde logo a sua capa é interessantíssima, fazendo referencia às Padroeiras dos Oleiros Portugueses, as Santas Justa e Rufina.


Consta que Santa Justa e Santa Rufina, irmãs, naturais de Sevilha (Espanha), onde nasceram e faleceram, no ano de 287 (D.C.), pertenciam a um povo pagão, e não prestavam culto a ídolos impostos à época, já que tinham uma inabalável fé cristã.


Pertenciam a uma família pobre, o pai era um oleiro andaluz, cuja sobrevivência era a venda de louça de barro nas feiras.

Ao que consta, segundo a lenda, estando as mesmas uma vez na sua barraca de venda de louça, viram aproximar-se uma procissão que trazia muitos ídolos, que o povo venerava e respeitava, mas que se recusaram a idolatrar os mesmos. Sendo segundo a lenda, o deus Adónis e a deusa Vénus.


Quebraram-lhes as louças que vendiam e o governador, enfurecido com a postura das mesmas, deteve-as, submeteu-as a medonhos castigos e torturas, levando-as até à morte. Santa Justa foi morta sobre a roda e Santa Rufina estrangulada.

Em sinal da sua coragem e da fé cristã, que nunca renegaram, estas duas irmãs começaram a ser faladas, conhecidas e veneradas pelos oleiros, vindo mais tarde a ser consideradas as suas padroeiras.

Deixemos a lenda e voltemos ao livro:  trata-se de um grande trabalho publicado sobre a cerâmica portuguesa, com um caracter científico, histórico e de elevado impacte em todas as análises e estudos efectuados posteriormente, isto é, após 1907, mantendo ainda a sua fundamental importância e actualidade.

E porque não, mais uma vez rever o que foi escrito em 1907, com base em muitos textos, escritos e informações à época e das décadas anteriores, para tentar desvendar algo mais sobre o Ceramista José dos Reis (dos Santos) fundador de uma cerâmica em Alcobaça, em 1875 (?), após vir de Coimbra, onde era mercador de louça (?) – aqui a dúvida.


Mas vejamos o que nos diz à época (1907) José Queiroz:

“FÁBRICA DE ALCOBAÇA – 187…

            Fundada por José dos Reis, pouco mais ou menos n’esta data. Este Reis faleceu em 1897, tomando o seu lugar na fábrica Manuel ferreira Bernarda Júnior, que a alugou à filha do fundador, três anos depois da morte d’este industrial.

            Produz louça entre ordinária e fina – no género de Coimbra – pintada à mão e estampilhada. Usa, entre outros barros, o branco da localidade.

            Atualmente, dirige a fábrica Joaquim dos Santos (Pequeno). Pintor: Francisco Ferreira. Emprega oito operários.

            Fornece os mercados de Alcobaça e Praia da Nazaré.

            Na fábrica existe um prato datado 15-8-75 e em que se lê o nome da localidade por extenso: Alcobaça.
            Esta peça é pintada a azul, verde, amarelo e roxo, e o tipo de decoração é muito semelhante ao que, no século XVIII, ornamentava as louças Bica do Sapato e de Estremoz”.

Não há mais nenhuma referência a José dos Reis, nem ao período anterior em Coimbra quando era mercador de louça, segundo consta e muito menos como oleiro ou proprietário de uma fábrica de louça.

Noutra passagem, importante, deste livro, é feita uma resenha das fábricas contemporâneas (1800-1900) de Coimbra, em que são referidas, nomeadamente as seguintes:

“ 1800-1889 – José Augusto da Fonseca & Filho – Retiro das Lages. Louça branca.
1810 – 1873 – José António dos Santos – Rua da Moeda. Louça branca.
1810 – 1867 – João Augusto da Fonseca – Rua de João Cabreiro. Louça branca.
1820 – 1870 – Leonardo António Veiga – Rua de Simão de Évora. Louça branca.
1820 – 1887 – Virgílio Marão Pessoa – Terreiro de Santo António. Louça branca.
1835 – 1887 – António Gonçalves de Campos – Rua da Moeda. Louça vermelha.
1840 – 1867 – Adriano Augusto Pessoa – Terreiro de Santo António. Louça vermelha.
1845 – 1903 – Adelino da Cunha Moura – Rua Direita. Louça vermelha.
1863 – 1875 – João António da Cunha – Largo das Olarias. Louça vermelha.
1890 – Adriano Augusto Pessoa – Rua da Moeda. Louça vermelha.
1898 – Cardoso de Ladeiro – Rua de João Cabreiro. Louça vermelha.
1899 – Serrano da Fonseca – Estrada da Beira. Louça Vermelha.”

Concluímos assim não haver qualquer informação, neste livro tão importante, que refira, identifique ou indicie qualquer actividade de José dos Reis, em Coimbra com uma fábrica de louça.


Na verdade até hoje só conseguimos identificar a fabricação de José dos Reis (dos Santos) em Alcobaça e no período entre 1875 e 1897 – (ano do seu falecimento).

Fontes:

1) - “Cerâmica Portuguesa”, de José Queiroz, Depósito: Livraria Coelho, 1ª Edição, Lisboa, 1907;




terça-feira, 18 de novembro de 2014

Prato da Fábrica Cerâmica da Madalena – Leiria


AO JEITO DE INTRODUÇÃO:

Na senda da identificação do maior número possível de peças de loiça utilitária doméstica produzida em Portugal, vamos agora referenciar uma fábrica da zona de Leiria: a Cerâmica da Madalena, que produziu as louças de uso doméstico MADALENA.


A peça que catalogamos é um prato raso da fábrica Cerâmica da Madalena, de faiança fina, com aba recortada e uma decoração simples, constituída por três filetes: um fino a meio da aba, na cor castanho claro, um mais grosso quase no limite da aba para o covo igualmente castanho claro e outro, mais largo, na cor azul marinho no limite da aba para o covo do prato, e com o característico carimbo da fábrica, na cor castanho claro.


Trata-se de uma peça cujo fabrico ocorreu, provavelmente, na segunda metade da década de 50 ou primeira da de 60 (até 1964).



UM POUCO DE HISTÓRIA:

A Fábrica Cerâmica da Madalena localizava-se em Leiria, mais propriamente junto à Ponte da Madalena, e daí o nome da fábrica, a qual foi fundada a 31 de Julho de 1945, por Manuel António Pinto, então com 29 anos, aproveitando um dos momentos marcantes na indústria cerâmica Nacional.

Tratava-se do período pós 2.ª Guerra Mundial (1939-45), na altura em que o mercado americano se abre ao consumo de produtos cerâmicos feitos na Europa e consequentemente em Portugal e assim o comércio internacional traz um impulso à produção nacional, nomeadamente das faianças e Manuel António Pinto soube aproveitar tal oportunidade.

Por outro lado, Portugal também saía de um período, economicamente, mais difícil e consequentemente o consumo iria aumentar.

Um desentendimento entre os sócios da Cerâmica Madalena, em 1951, provocou que a mesma fosse arrendada a António Freitas, o qual se limitou a gerir a mesma, produzindo, não a modernizando e consequentemente deixando-a ficar, quer a nível de instalações, quer de equipamentos, desgastada e obsoleta.

Anos depois, após cessar o arrendamento de António Freitas, a mesma foi gerida por Manuel António Pinto, seu fundador e por Manuel Barbeiro Costa, até 1964, já que em Setembro a sociedade dos mesmos foi dissolvida.

Passou então a ser gerido por José Ferreira Dias, até 1970, sendo que a fábrica só produziu louça doméstica até 1968, tendo nesse ano iniciado a produção de louça sanitária e no ano seguinte a produção de azulejos e tijolo refractário.

Em Abril de 1970, José Ferreira Dias constitui uma nova sociedade, a Nova Cerâmica da Madalena, com sede em Queluz, que para além dele, passa a ter mais três sócios, um deles a conhecida empresa J. Pimenta (Empreendimentos Urbanos e Turísticos J. Pimenta, Lda.).




Anos volvidos, mais precisamente em 1977, a sede da empresa passa novamente para Leiria e um ano mais tarde passa a sociedade anónima.

Nesta época a produção era muito deficiente: sem planeamento, sem controlo a todos os níveis, com níveis de produção muito baixos, com o recurso a métodos retrógrados e sem medidas se protecção e segurança dos operários.

A empresa passou por um período difícil e conturbado, estabilizando a partir de 1988, a partir da mesma ter sido adquirida, pela ROCA, S.A., (em 31/12/1987), e cuja denominação MADALENA acabou quatro anos depois, passando a ROCA.


A SUA PRODUÇÃO DE LOIÇA:

A produção prevista inicialmente era a de loiça doméstica utilitária e decorativa a partir do barro branco, mas acabou por adiar tal pretensão.

Tal produção assemelhar-se-ia à que à época se produzia em Coimbra, Aveiro e na Fábrica de louça de Sacavém, na região de Lisboa.

Começou pois a produzir peças tradicionais em barro vermelho, com o recurso a um oleiro da localidade da Bajouca, um dos principais centros oleiros da região, onde a actividade de olaria era intensa e importante, com especial relevo para a Olaria da Bajouca.

Alguns anos mais tarde iniciou então a produção de louça de barro branco, tendo Manuel António Pinto contratado dois oleiros de Coimbra: Alexandre Soares e Luís Ribeiro.

Dedicava-se ao fabrico de loiça utilitária doméstica comum, em faiança, com maior consumo, na zona da Maceira e na de Leiria, como seria óbvio, dada a proximidade, pese embora não tenha deixado de chegar a grande parte de Portugal, concorrendo com outras marcas à época.

Trata-se de uma cerâmica de qualidade média, de custo acessível e com decorações ao gosto da época pelo que rapidamente se tornou muito popular, em especial na região.

A produção desta fábrica assemelhava-se à da Companhia de Fábricas de Cerâmica Lusitânia, em particular a Lusitânia de Coimbra.


OS SEUS MOTIVOS:

 As decorações da louça cerâmica doméstica da fábrica Madalena eram ao gosto da época.

Os motivos da loiça que produziu eram essencialmente florais, arranjos florais, policromáticos, com bastante incidência nas rosas, quer fossem pratos, travessas ou mesmos conjuntos de chá ou café.







Os arranjos florais geralmente eram articulados com linhas geométricas e com frequentes filetes dourados. Estas decorações assemelhavam-se ás utilizadas nas peças da Companhia de Fábricas de Cerâmica Lusitânia, em particular a Lusitânia de Coimbra e por vezes às da Fábrica de Massarelos.



Outro motivo interessante, com algumas variantes, baseado em cenas bucólicas, com o “Casal Romântico”, mais propriamente na década de 60, aproveitando a moda à época, em que outras fábricas também produziam este motivo. 





Este motivo fazia lembrar os quadros do pintor francês Fragornard, o romantismo francês, ao estilo Luís XVI, muito em voga na época





A figuração da louça utilitária/decorativa, apoiava-se também em motivos regionais nacionais, características das antigas províncias e dos seus trajes característicos. 




AS SUAS MARCAS CONHECIDAS:

Só se conhecem duas marcas com que todas as peças da Fábrica da Madalena de Leiria eram carimbadas.

A primeira, mais antiga e mais elaborada, tratava-se de um carimbo, na cor castanho claro ou verde-claro, que possuía um escudo onde se encontram inseridas as palavras MADALENA, LEIRIA  que contornam um círculo, dentro do qual está desenhado uma flor-de-lis (como registo do rio Lis, que passava junto à fábrica e em Leiria)   e sob o escudo encontra a palavra PORTUGAL.

Cremos que esta marca foi usada desde a fundação, em 1945 e até 1964.




A segunda marca, posterior, era muito mais simples, pois só possuía as palavras LEIRIA e MADALENA, geralmente na cor azul, cinzenta ou preta.

Cremos que esta segunda marca foi usada entre os anos de 1964 até 1968, ano em que se deixou de produzir esta marca de loiça utilitária doméstica.




FONTES:

1) – “História da Industria na Região de Leiria – Cerâmica”, Edição Jornal de Leiria, Edição n.º 1558, de 22.05.2014, Edição: Jorlis - Edições e Publicações, Lda.

2) - “Cerâmica – Reflexo de uma cultura – Catálogo de exposição”, (Exposição Representativa da Industria Cerâmica na Região de Leiria) – Paulo Bártolo, Lina Durão e Telma Margarida Ferreira, Editor IPL – Instituto Politécnico de Leiria, Leiria, Setembro de 2012.