quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Caneca de Massarelos – Período Lusitânia (1936 – 1945)

Para variar apresentamos hoje uma caneca, em faiança, da Fábrica de Massarelos – Porto, do período Lusitânia.

Caneca moldada, de forma tronco-cónica, de boca larga, com pequeno frete reentrante junto à base, mais larga, e asa lateral vertical em forma de aleta lisa, com decoração monocromática azul, sob fundo creme, por técnica de impressão, com um ramo de duas papoilas, uma de cada lado, e um filete fino, junto ao bordo e outro no frete da base.

Possui marca estampada, monocromática na cor azul, com as indicações MASSARELOS – LUSITANIA – PORTUGAL, encimada pela coroa real e com a coroa de louros, lateral.

A Fábrica de Massarelos, em Roriz, então propriedade da sociedade por quotas Chambers & Wall, Lda., foi vendida, em 1936, à Companhia das Fábricas Cerâmica Lusitânia, S.A.R.L., empresa de Lisboa que possuía um conjunto de fábricas e armazéns de distribuição de materiais de construção, nas principais cidades do país.

Mais tarde, em 1945 a marca CFCL, Companhia das Fábrica Cerâmica Lusitânia, é substituída por LUFAPO LUSITÂNIA PORTUGAL, pelo que, a partir de 1945, passou a ser usada a marca LUFAPO MASSARELOS

Por conseguinte, é desse período (1936 – 1945), a caneca que apresentamos.



FONTES:

1) – “ A Fábrica de Louça de Massarelos – Contributos para a caraterização de uma unidade fabril pioneira” – Volume I, de Armando Octaviano Palma de Araújo; Dissertação de Mestrado em Estudos do Património, Universidade Aberta – Departamento de Ciências Sociais e de Gestão, Lisboa – 2012” 

2) - “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987;

3) - Fábrica de Massarellos – Porto 1763 – 1936”, Exposição Fábrica de louça de Massarelos 1763 – 1936, Porto 1998; Coordenação de Mónica Baldaque, Teresa Pereira Viana e Margarida Rebelo Correia, Museu Nacional Soares dos Reis;


4) -Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987;

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

FAIANÇAS VESTAL – ALCOBAÇA: CATÁLOGOS

Uma fábrica fascinante foi a VESTAL – Fábrica de Faianças Artísticas, de Alcobaça, mais propriamente sediada na localidade de Vestiaria, empresa ícone na louça de Alcobaça, que infelizmente também já encerrou há alguns anos e cuja proprietária inicial era a empresa Batista & Almeida, Limitada.

A qualidade das suas peças, perfeitamente identificáveis, no conjunto das louças de Alcobaça, quer pelos elementos decorativos, quer pelas suas cores, evidenciavam a qualidade dos seus artesões, em especial dos seus decoradores.
A sua história é conhecida, e foi bastante bem retratada, através de uma interessante publicação (fonte 1), a qual aqui reproduzimos:

“A “Vestal” – ou “Vistal”, como também era denominada nos seus primeiros anos – foi fundada em Fevereiro de 1947 por António Branco, Joaquim Batista Branco, Veríssimo de Almeida e Acácio Bizarro.

A sua primeira fornada teve lugar em 11 de Julho do mesmo ano. Nessa data, eram pintores Leopoldo Machado, Noel Costa, Augusto Moreira, Joaquim Dias Marques e Mário Silva; Carlos Fernandes era oleiro rodista; Acácio Bizarro, o forneiro; Veríssimo de Almeida era fornista; o quador de barro era Manuel Clementino; eram aprendizes José Coelho e António Amado – onze pessoas, no início.

A sua produção destinava-se essencialmente ao mercado local e Lisboa. Entretanto, em 1948, a quota de Joaquim Batista Branco foi comprada por António Henriques Real. Uma vez que o novo sócio possuía já uma empresa de distribuição sediada na capital, a “Vestal” atingiu assim novos horizontes. Com efeito, após a I Feira das Indústrias, a fábrica projectou-se no mercado externo, tendo sido a Grã-Bretanha o primeiro foco. Até 1960, a “Vestal” desenvolveu-se atingindo cerca de cento e cinquenta funcionários.

As matérias primas utilizadas eram o barro dos Capuchos, chumbo proveniente da sucata, estanho de Belmonte e tintas importadas de Inglaterra e da Alemanha. A sua produção consistia em pratos de parede, jarras, fruteiras, bengaleiros, castiçais, galheteiros, entre outras variadíssimas peças. Além das decorações populares características desta louça, em que as flores são elemento dominante, a “Vestal” introduziu também temas históricos, pintados em talhas e pratos – desde efemérides como a Restauração de 1640 ou a Tomada de Lisboa aos Mouros. Outros motivos de sabor erudito figuram em algumas peças de faiança daquela fábrica: sonetos de Camões, poemas de Guerra Junqueiro e João de Deus, figuras como Vasco da Gama, António de Oliveira Salazar ou Chopin, foram retratados, tal como alguns pintores e seus quadros – Goya, Da Vinci. Também a visita da Rainha Isabel II de Inglaterra a Alcobaça, em 20 de Fevereiro de 1957 levou à elaboração de uma interessante talha. Todos estes motivos foram introduzidos por um funcionário que foi admitido na empresa em 1952 – Hélder Lopes – que veio a tornar-se sócio da “Vestal” em 1962.

Pela “Vestal” passaram destacados pintores, além dos que estavam na data da fundação: Almeida Ribeiro, António José, Luís Cipriano da Silva, Luís Ferreira da Silva e Joaquim Pereira Assunção (conhecido por Marcos).

Tal como a “Olaria de Alcobaça”, também a “Vestal” fez imitações da louça antiga do Juncal, bem como dos pratos conhecidos por “aranhões”. Nos dias de hoje ainda a “Vestal” continua a fabricar a louça típica de Alcobaça. No entanto, em 1968, os seus antigos fornos artesanais foram substituídos por outros eléctricos, que mecanizaram e aumentaram a produção – mas que tiraram de vez a cor genuína da louça regional.”

A Vestal encerrou as suas portas no início deste século, mais precisamente em 2002, pese embora só passados 9 anos foi considerada falida, a 9 de Setembro de 2011, a então denominada VESTAL – Faianças de Alcobaça, Lda.

Para caracterizar, identificar e catalogar as peças de uma fábrica, confirmando a veracidade das mesmas, nada melhor que ter os catálogos.

Que saibamos a Vestal durante os seus 54 anos de laboração teve dois catálogos, um na década de 50, que nem encadernado era, mas que possuía duas ilhoses para agrupar as páginas e outro posterior, cremos, na década de 70, em que todas as peças que produziam eram apresentadas, de forma temática e devidamente numeradas.










Há bastante tempo que porfiávamos pelo primeiro catálogo, pois sabíamos que o mesmo existia, mas não o tínhamos, o que finalmente conseguimos, mas não foi fácil….





É um fascínio e uma grande satisfação ter catálogos das peças de faiança artística, neste caso da VESTAL, o que facilita grandemente a identificação e inventariação das peças que surgindo.

Esta satisfação, distribua-a convosco, amantes das faianças.


FONTES:

1) - “Cerâmica de Alcobaça, Duas Gerações”, edição do Museu de Alcobaça, 1992, texto de Jorge A. F. Ferreira Sampaio e Raul J. Silveira da Bernarda.

2) – “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente”; exposição de 6 Abril a 4 de Maio 2011 – Catálogo da exposição, coordenador: Luís Afonso Peres Pereira.

3) – “História da Industria na Região de Leiria – Cerâmica”, Edição Jornal de Leiria, revista integrante da edição n.º 1558, do Jornal de Leiria, em 22.05.2014.



quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Jarra policromática da Estatuária Artística de Coimbra

Apresentamos uma jarra policromática, com pintura manual, da Estatuária Artística de Coimbra, peça rodada, marcada no tardoz, com a identificação do número de catálogo 587 e escrito manualmente “Estatuária”, “Coimbra”, “Portugal” e a assinatura do autor, cremos, indecifrável.

Trata-se de uma interessante jarra, baixa, bojuda, de boca larga, com decoração floral policromática: verde, azul, amarela, vermelho e castanho claro, com ornatos em curva. Possui dois filetes azuis junto à bordadura da boca, três na estrangulação entre a boca e o bojo, sendo a do meio larga, e mais duas junto à base, sendo a que está mesmo no limite da base, larga.

Presume-se que seja uma peça de fabrico no período entre 1943 e 1947 do século passado.

Mais uma peça referenciada, para caracterizar o fabrico da Estatuária Artística de Coimbra.




FONTES:


quarta-feira, 29 de outubro de 2014

JARRA COM DUAS ASAS, TIPO ANFORA, DA FABRICA DE CERÂMICA DE SOARES DOS REIS, GAIA

As faianças não são só pratos, travessas e terrinas, há muitas outras peças, quer utilitárias domésticas, quer utilitárias não domésticas, quer decorativas – vamos pois efectuar um percurso por essas outras peças.

Reportamos-nos já a uma interessante peça em faiança da “Fábrica de Cerâmica de Soares dos Reis”, em Gaia, assinada por um tal “José”.
Trata-se de uma jarra alongada com duas asas elípticas, gargalo não muito largo, assemelhando-se a uma ânfora, com uma cor de base tipo branco leitoso e uma exuberante decoração vegetalista policromática, pintada à mão, com largos filetes azuis e amarelos no bordo do gargalo e no limite da base, tendo aqui mais um filete de contas, na cor grená, sobre o vidrado.

As asas, lateralmente estão decoradas a azul forte e de frente com uma decoração amarela, com frisos acastanhados.

Peça partida no pé e mal colada, mas que mesmo assim não deixa de ter o seu valor, pela raridade da mesma – é inegável como logo se reconhece como sendo um fabrico de “Soares dos Reis”.

Nesta fábrica habitualmente consideram-se dois períodos distintos da sua fabricação, o primeiro de 1915 ou 1919 a 1941 e o segundo de 1941 a 1964.

Cremos que a peça que apresentamos se reporta ao segundo período de fabrico, provavelmente da década de 40 ou 50.

Aqui fica o registo e apresentação da peça.


FONTES:


2)Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987


3) “A Cerâmica Portuense – Evolução Empresarial e Estruturas Edificadas” – Teresa Soeiro, Jorge Fernandes Alves, Silvestre Lacerda e Joaquim Oliveira, Edição Portugália, Nova Série, Vol. XXI, 1995.

sábado, 25 de outubro de 2014

EXPOSIÇÃO DE PRATOS EM FAIANÇA E PORCELANA EM LISBOA

Está a decorrer em Lisboa, no Centro das Artes Culinárias, no Mercado de Santa Clara, no Campo de Santa Clara, em Lisboa, (onde decorre a Feira da Ladra, às terças e sábados) uma interessante e bem organizada exposição de pratos.

Trata-se de uma exposição intitulada. "VAMOS PÔR TUDO EM PRATOS LIMPOS", que percorre todo o percurso da evolução do prato, desde "quando não existia", até aos pratos de hoje "descartáveis", fazendo uma interessante retrospectiva pela fabricação do prato em Portugal.

Percorre e apresenta os vários fabricos, os mais relevantes, em cada época, os vários tipos de pratos, de decorações; passa pela faiança, pela porcelana e pelos outros materiais de que foram e são efectuados os pratos.

Apresenta uma introdução histórica ao prato, através de painéis informativos, sobre os quais, superiormente, são expostos, de forma apelativa e convidativa, conjuntos de 18 pratos.

Igualmente são apresentados apontamentos de comparação e enquadramento do fabrico dos pratos em Portugal.

Eventos destes são sempre bem recebidos, e de louvar. Só é pena não haver um catálogo desta exposição, com as imagens das peças expostas, nem que fosse só em PDF.

Recomendo a todos que façam uma visita a esta exposição. Aqui fica o cartaz  apelativo da exposição.


Estão de parabéns os promotores e organizadores desta exposição !

PRATOS DE ALCÂNTARA, MOTIVO BORBOLETA (?)

As faianças da fábrica de Alcântara continuam-nos a surpreender continuamente, com o surgimento de peças com motivos desconhecidos.

O presente prato raso, de motivo desconhecido até à data, é um espécime decorado em tons policromados, nas cores de rosa, verde, castanho, azul e amarelo com desenho baseado na representação de dois arranjos florais, um de menor dimensão e outro maior, com um insecto, uma borboleta com asas azuis celestes e amarelas.


Trata-se de uma interessante peça, com uma faiança mais fina do que habitualmente Alcântara apresenta, com um filete dourado na bordadura da aba e com os motivos policromados aplicados na bordadura mas que se prolongam até ao fundo do prato, constituindo um exemplar não muito vulgar, quer pela textura da pasta, quer pelo motivo e acima de tudo pela decoração policromada.


Possui gravada na massa a marca de “LOPES & C.ª”, pelo que o seu período de produção, segundo o livro Ceramica Portugueza, do autor José Queiroz, 1907,  pp. 356, item 284, deverá ter começado em 1897.

POST-SCRIPTUM:

Na verdade o elemento mais relevante e notório na decoração desta peça é a borboleta, quer pela sua apresentação, exposição ou mesmo pela sua policromia (azul celeste e amarelo vivo).

Em bom tempo, o caro Luís Y (Luís Montalvão do blogue http://velhariasdoluis.blogspot.pt) me alertou para a decoração deste prato e me indicou que “é muito semelhante a um motivo usado pela Vista Alegre entre 1870-80, de que mostrei uma peça no meu blog http://velhariasdoluis.blogspot.pt/2014/10/uma-borboleta-num-jarro-da-vista-alegre.html.”

Mais, disse que: “Julgo que estas decorações traduzem uma certa influência japonesa, que veio através de França, da fábrica de Haviland de Limoges.”

Presumimos que a peça que apresentamos, da fábrica de Alcântara, seria de fabrico posterior a 1897. A peça da Vista Alegre que o Luís Y apresentou é, conforme ele indicou, de fabrico entre 1870-80.

Tal como o Luís Y refere na sua postagem acima citada este tipo de decoração, com o reporte a borboletas, foi inspirado no Japão e um artista que se destacou, na fábrica de Haviland de Limoges foi Félix Bracquemond, havendo referências da mesma (decoração) como “Limoges 1876”.

Através de uma simples e rápida pesquisa na Internet lá encontramos um açucareiro Limoges 1876, com o motivo onde sobressai a borboleta:
Tal como, quando se reportam imagens a Félix Bracquemond, logo surgem peças de porcelana com borboletas
Digamos que foi um motivo recorrente à época,  em que as fábricas iam-se copiando umas às outras, nestas decorações, provavelmente mais ao gosto da época. 

FONTES:


2)Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987


sexta-feira, 24 de outubro de 2014

PRATO COM DECORAÇÃO AO GOSTO ORIENTAL DAS FAIANÇAS CAPÔA – ARADAS - AVEIRO

Continuando na análise, catalogação e divulgação de faianças de fábricas menos conhecidas, algumas já extintas, vamos com este post referenciar um prato de sopa das Faianças “CAPÔA”, Fábrica da localidade de Aradas, em Aveiro.

Trata-se de um prato com uma decoração simples: um vidrado branco, leitoso, com um filete, na cor azul claro, na bordadura da aba e uma interessante reserva no fundo.

Esta interessante reserva, no fundo do prato, monocromática, na cor azul-turquesa, com uma decoração ao gosto oriental, pintada sobre o vidrado, e evocando, através de uma interpretação livre, o célebre “Cantão Popular”.

Na decoração os elementos simbólicos do “Cantão Popular” estão presentes: um pagode, uma ponte, com dois orientais sobre a mesma, duas aves no céu, duas árvores de fruto, um salgueiro.


Trata-se de um motivo, pouco conhecido das Faianças “Capôa”, que cremos ter sido produzida nas décadas de 60 a 80.

Para além deste motivo as Faianças Capôa possui um outro motivo, ao gosto oriental, policromático, muito conhecido e largamente utilizado na restauração durante bastantes anos, desde o início dos anos 60, até aos finais dos anos 90 (ainda me recordo perfeitamente de comer em pratos destes, nos restaurantes de província).

Eram pratos de textura frágil, mas em contrapartida sobravam em decoração policromática, com cores de tons vivos.



Os carimbos não deixavam dúvidas, pois eram sempre estes que se viam nas costas do fundo dos pratos:


Nessa época, os mesmos cansavam-nos a visão, agora recordamos-os com nostalgia – a vida é assim, os anos vão passando e vamos recordando as coisas de épocas passadas, da nossa juventude…..