quarta-feira, 22 de outubro de 2014

PRATO MOTIVO “CHINOISERIE” DAS FAIANÇAS CESOL

Há já algum tempo que vínhamos pensando em colocar "postagens" sobre outras fábricas de faianças nacionais, muitas já extintas, infelizmente, mas que não deixaram de ter a sua importância e cujas peças merecem ser catalogadas e divulgadas.
Vamos pois começar pela CESOL, tudo a propósito de um interessantíssimo prato, com decoração ao gosto “chinoiserie” que faz parte no nosso acervo.
Prato com uma interessante decoração floral e de pequenas cartelas com decoração policromática em tons de amarelo, castanho, rosa e com alguns apontamentos a azul, rematado com um largo filete rosa na bordadura da aba.
No cento do fundo uma reserva com decoração e motivos orientais, com um casal de orientais, dois pagodes, um salgueiro, duas árvores de frutos, as colinas no horizonte e as nuvens no céu para enquadramento, tudo em tons de amarelo, castanho, rosa e azul.
Esta peça recorda-nos um motivo semelhante da Fábrica de Louças de Sacavém, o Motivo “Chinez”, pelo que pensamos que este motivo e peça da Cesol era uma tentativa comercial e de aproveitamento concorrencial ao da Fábrica de Louças de Sacavém, pelo seu sucesso a nível da população.

Esta peça no tardoz possui o carimbo verde, encordoado e com nó da marca "CESOL", não restando assim dúvidas quanto ao seu fabrico.


1. Um pouco de história

A CESOL – Cerâmica de Souselas (Coimbra), foi fundada em 1947, tendo tido uma actividade regular na produção de faianças, sendo que no início da década de 1990 foi integrada no grupo Apolo Cerâmicas e em 2004 as suas instalações foram deslocalizadas para Aguada de Baixo, no concelho de Águeda.

Em Fevereiro desse mesmo ano, a Apolo Cerâmicas foi integrada no grupo CeramicApolo, que por sua vez foi integrada na Aleluia Cerâmicas, em Janeiro de 2006.

No final de 2006 a Aleluia Cerâmicas, cresce com a integração da Fábrica Cerâmica Viúva Lamego (unidade de Sintra). No final de 2007 a Aleluia Cerâmicas fundiu-se com a Keratec- Indústria Cerâmica (Vagos) e inaugura o seu centro logístico em Ílhavo.

 Finalmente em 2012 a Aleluia Cerâmicas integrou o Grupo Prébuild.

Com estas integrações todas e com a reconversão da produção verificou-se o gradual abandono da produção de louça utilitária doméstica e a consolidação da produção industrial monoporosa de azulejos e ladrilhos de revestimento, não se ficando a saber quando realmente deixou de se fabricar a louça utilitária doméstica "CESOL".

2. Características das peças da CESOL

As peças da Cesol caracterizam-se, no seu primeiro período de fabrico, por peças pesadas, com pouca qualidade na decoração e pouco cuidado no acabamento.

A seguir assistiu-se a um período com um fabrico que apresenta mais qualidade na decoração e com acabamento superior, do qual o prato que apresentamos, pertence, provavelmente.

Muitas das peças que a Cesol fabricou foram aerografadas (feitas a aerógrafo), e cujos motivos, mono ou policromáticos, eram florais, de frutos ou motivos ao gosto popular, em certa medida semelhantes aos motivos e decoração de outras fábricas, pese embora de qualidade e acabamento inferiores.

Muitas das peças fabricadas tiveram uma decoração feita por estampilhagem, aplicada com stencil (chapa perfurada), igualmente mono ou policromática, por vezes com retoques de pintura posterior.

Assistiu-se depois a um período de melhor qualidade, com peças menos pesadas, com vidrado mais branco, menos leitoso, com motivos muito simples, ou simplesmente com filetes, mono ou policromáticos, tentando concorrer com as demais produções à época.


3. Marcas da CESOL

Conhecemos somente três marcas das Faianças Cesol.

A marca provavelmente mais antiga, generalizada e conhecida: apresenta a corda entrelaçada formando um círculo, com um nó e no interior do qual esta a designação CESOL. As cores poderiam variar entre o castanho mais claro ou mais escuro, o verde e o azul.







Cremos que há alguma semelhança com a marca da Fábrica de Louça de Sacavém, em que era representada por um cinto, fechado, com uma fivela, sendo que a informação correspondente era apresentada na coroa circular formada pelo cinto.

A outra marca, menos vulgar, na fase posterior da sua produção, a partir de 1978, apresenta um conjunto pentagonal de torres triangulares vazadas, que se podem assimilar a uma estilização de cinco pessoas, sob as mesmas o lettering CESOL, e sob este MADE IN PORTUGAL.

A “terceira” marca, identificada numa saladeira monocromática, na cor castanha, aerografada com motivos florais e frutos possui simples indicação de Cesol, tipo caligrafia. Será provavelmente a 1ª marca da Cesol, a qual teria sido somente usada nos primeiros anos de produção (1947 e 1948?). Não conseguimos confirmar tal hipótese. Ou terá sido uma marca de transição, entre as duas mais conhecidas? 

4. Curiosidades

Os C.C.T. de Souselas, aplicaram uma franquia postal em 06.10.78 em que apresentava a nova marca da Cesol para a Louça Doméstica, bem assim como para os azulejos e pavimentos decorativos, sobre envelope postal da própria Cerâmica de Souselas.
Por outro lado, em 1986 foi produzido e distribuído um calendário publicitário com 20,5 x 20,5 cm, com a decoração de todos os signos do Zodíaco ao longo do ano, o qual identificava as três marcas do fabrico da Cesol.


5. Peças de Referência

Apresentamos algumas peças de referência da Cesol:

a) Taça fruteira em faiança da Cesol, com cerca de 7,5 cm. de altura e 27 cm. de diâmetro, apresentando decoração floral estilizada, ao gosto Art Déco, aerografada sobre stencil (chapa recortada). A Cesol comercializou também decorações florais, dentro da gramática Art Déco e aplicadas a aerógrafo, que geralmente são mais associadas à produção da CFC Lusitânia e da FLS. (1):


(Imagens de: http://mfls.blogs.sapo.pt/tag/cesol) 
b) Prato com decoração estampada a preto, e posteriormente colorida, sob o vidrado. A cercadura a azul, que surge por cima de um rebordo com uma variante do formato espiga em relevo, foi aplicada sobre o vidrado.(2)
(Imagens de: http://mfls.blogs.sapo.pt/tag/cesol) 
c) Manteigueira com motivo floral, policromático, ao gosto Art Déco (6)
d) Travessa com motivo floral, rosa (6), do período pós 1978 (6)

e) Jarro alto, de cozinha, decoração bolas, nas cores verde, azul ou vermelha, presume-se que seja fabrico dos finais dos anos 50 ou década de 60 (6)




f) Chávenas de chá, com motivo floral policromático (6)
g) Chávena almoçadeira, com decoração floral, mono cromática, verde, provavelmente do final da década de 40 ou da década de 50 (6)

h) Louça utilitária com decoração simples, dois filetes no bordo da aba e na transição para o covo, com decoração floral policromática, fabrico provável da década de 60 ou primeira metade de 70  (6)

i) Louça utilitária com decoração minimalista- vários filetes em cores diversas: preto, laranja, castanho (6)

j) Louça utilitária com decoração minimalista- pintura total da aba em cores diversas: laranja, castanho-escuro (6)


l) Saladeira monocromática decorada com motivos florais aerografados com a “terceira” marca (6)



6. Conclusão

Efectuamos as pesquisas possíveis, a bibliografia àcerca desta Fábrica é muito escassa, tentamos sistematizar e dar indicações generalistas desta faiança; efectuamos algumas conjecturas e suposições que não temos a certeza, mas tentámos ser o mais credíveis possível.

No entanto se algo do que indicamos não estiver correcto, muito agradeciamos as indicações e os conhecimentos de quem mais saiba que nós.

FONTES:






6) – http://olx.pt;


8) – “Fábrica de Louça de Sacavém – Contribuição para o estudo da indústria cerâmica em Portugal 1856-1974” de Ana Paula Assunção, Colecção História da Arte – Edições INAPA – 1997;

9) – “150 Anos – 150 Peças – Fábrica de Loiça de Sacavém” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Março de 2006;

10) – “Dicionário de marcas de Faiança” de Filomena Simas e Sónia Isidro – Edição Estar Editora - Lisboa – 1996;

11) - “Porta aberta às memórias” – 2ª edição, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2009;

12) – “Porta aberta às memórias” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2008;

PRATO DECORATIVO DA FÁBRICA DE LOUÇA DE SACAVÉM, JOSÉ MAIO

A Fábrica de Louça de Sacavém, dedicou-se não só à fabricação de louça utilitária, doméstica ou de restauração, mas a uma grande panóplia de louças, desde a sanitária, à de utilização higiénica, à decorativa, ao azulejo, às peças decorativas, às…às…, a tanta coisa!

Vamos hoje apresentar um prato decorativo da Fábrica de Louça de Sacavém do período Gilman & Cta., correspondente ao intervalo de fabricação de 1921-1970, mas cremos que seja da década de 30, pelas razões que indicaremos.

Este prato decorativo, branco, com um filete de cor azul na bordadura da aba, possui uma reserva central no fundo do prato, dedicado JOSÉ MAIO – a figura central e o motivo deste prato decorativo, na cor vinhoso.

Figura imponente, homem forte, de “ossos largos”, tão rude como humilde, tão áspero como dócil, tão bruto como meigo, com o seu olhar penetrante, corpo firme, patilhas grandes, com o barrete na cabeça, a casaca de botões e as suas seis medalhas expostas e cremos que também o colar ao peito, mas que o desgaste da decoração não deixa confirmar.



Completa a decoração três arranjos florais, de dimensões diferentes, policromáticos, verde, amarelo, castanho claro e lilás (roxo), que se assemelham a lilases (vou pelo conselho do caro Manel).


Possui no tardoz do covo do prato a marca estampada, enrugada, na cor verde-claro, correspondente ao período Gilman & Cta., período de 1921-1970, com as gravações na pasta de “4FC”, e “.ACAVEM”.

Trata-se de um prato raro e de elevado valor estimativo, pela evocação a JOSÉ MAIO, provavelmente quando se completou o cinquentenário do seu falecimento.

Não podemos pois deixar de contar um pouco de história sobre quem foi JOSÉ MAIO e o significado desta evocação.

JOSÉ MAIO, mais propriamente José Rodrigues Maio, mais conhecido como Cego do Maio ou Ti' Maio  foi um pescador poveiro, salva-vidas e herói.

Natural de Póvoa de Varzim, nasceu a 8 de Outubro de 1817, na Rua dos Ferreiros e faleceu a 13 de Novembro de 1884, na Rua de Poça da Barca (expansão da Rua da Areia), actual Rua 31 de Janeiro.

Foi a figura mais representativa de Póvoa de Varzim, no século XIX e era visto como o herói local, razão pela qual quando faleceu, as Câmaras de Póvoa de Varzim e de Esposende, apresentaram publicamente os votos de pesar.

Era pescador de sardinha e a sua marca ou sigla era um meio-sarilho.
Foi condecorado com a mais alta distinção do Estado, o Colar de Cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito e a medalha de ouro da Real Sociedade Humanitária do Porto, as quais foram colocadas, pessoalmente, pelo Rei D. Luís I, pelas vidas que salvou no mar de Póvoa de Varzim.

Faz parte da lenda que quando o rei o condecorou, o Cego do Maio retribuiu o seu presente com um punhado de conchinhas, dizendo: "Tome lá ó Ti' Rei, uns beijinhos para as suas criancinhas brincarem!"

Deste modo aqui fica mais uma peça rara da Fábrica de louça de Sacavém inventariada.

FONTES:



3) – “Fábrica de Louça de Sacavém – Contribuição para o estudo da indústria cerâmica em Portugal 1856-1974” de Ana Paula Assunção, Coleção História da Arte – Edições INAPA – 1997;

4) – “150 Anos – 150 Peças – Fábrica de Loiça de Sacavém” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Março de 2006;

5) – “Dicionário de marcas de Faiança” de Filomena Simas e Sónia Isidro – Edição Estar Editora - Lisboa – 1996;

6) - “Porta aberta às memórias” – 2ª edição, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2009;

7) – “Porta aberta às memórias” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2008;


terça-feira, 21 de outubro de 2014

PRATO DA FÁBRICA DE LOUÇA DE SACAVÉM, MOTIVO 7

Mais uma vez regressamos às faianças da Fábrica de Louça de Sacavém, para efectuar a apresentação de um prato sopeiro, pouco conhecido e não muito corrente do “Motivo 7”.

Trata-se de um prato sopeiro com curiosa decoração estampada quer no fundo, quer na aba, decoração esta entre a filetagem da bordadura da aba e no limite entre esta e o fundo do prato.

Interessante prato com decoração monocromática, na cor azul, vegetalista, nas reservas da aba e entre estas a decoração é de motivos geométricos com algumas exibições florais simples.

A decoração vegetalista no fundo do prato é constituída por quatro composições, uma maior, à esquerda, com um arvoredo com folhas e flores, uma sebe e a representação do solo, a segunda maior, à direita, com um conjunto vegetalista e floral, rasteiro, junto ao solo, e as duas restantes, uma pequena flor rasteira, com duas folhas largas rasteira, junto ao solo e finalmente, meia pétala com lóbulos alternados mais claros e mais escuros.

Parece-nos uma decoração ao gosto oriental, fazendo recordar as decorações das louças chinesas.

É perfeitamente notório o desencontro de decoração, quando do remate do acabamento da estampa, na aba.

Possui no tardoz da aba a marca estampada, na cor azul, correspondente ao período Gilman & Cta., período de 1921-1970, com as gravações na pasta de “4JQ”, e “…AVEM” e notam-se perfeitamente as triplas marcas com os três pontos correspondentes às trempes aplicadas aquando da vidragem do prato.


O motivo do prato não é identificado no mesmo, mas conseguimos saber que se trata do “Motivo 7”, através da fonte bibliográfica indicada em (6).

Identificamos no blog http://mfls.blogs.sapo.pt/tag/flow+blue, um bule com o formato Porto, estampado sob o vidrado com uma decoração semelhante, identificado igualmente como sendo o “Motivo 7”.

Saliente-se que frequentemente se identifica este motivo, erradamente, como sendo “Minton”. 

Corroborando esta indicação encontramos uma leiteira com uma decoração semelhante no blog http://mercadoantigo.weebly.com/leiteiras6.html, identificado como o “Motivo Minton”.

Deste modo aqui fica mais uma peça da Fábrica de louça de Sacavém apresentada, com um motivo não muito frequente: o “Motivo 7”.

FONTES:



3) – “Fábrica de Louça de Sacavém – Contribuição para o estudo da indústria cerâmica em Portugal 1856-1974” de Ana Paula Assunção, Coleção História da Arte – Edições INAPA – 1997;

4) – “150 Anos – 150 Peças – Fábrica de Loiça de Sacavém” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Março de 2006;


 5) – “Dicionário de marcas de Faiança” de Filomena Simas e Sónia Isidro – Edição Estar Editora - Lisboa – 1996;

6) - “Porta aberta às memórias” – 2ª edição, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2009;

7) – “Porta aberta às memórias” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2008;

TERRINA SOPEIRA EM FAIANÇA AZUL E BRANCA, “MIRAGAIA”? PORQUE NÃO !

Uma velha terrina em faiança esmaltada, com fundo branco e decoração monocromia azul, sopeira (por ser circular), sem tampa, com várias esbeiçadelas na bordadura, com a porosidade do vidrado e mesmo com falhas deste, no seu interior, não nos deixou de encantar.

Não sabemos concretamente o seu fabrico, mas do Norte será, provavelmente do Porto ou de Gaia, não sabemos; sendo do tipo de faianças conhecidas como de “Miragaia”, mas que nada tem a ver com o fabrico da Fábrica de Miragaia.

Trata-se de um terrina não muito grande, circular, e por isso, dita sopeira, com decoração vegetalista envolta em vastos esponjados, de tonalidade mais clara, continuando a cor azul como predominante. Na zona das asas o esponjado foi interrompido.

Possui em largo filete na sua bordadura, bem como dois largos na zona inferior ao bojo, estrangulada e alongada, cada um destes protegido, de cada um dos lados, por um filete fino, igualmente na cor azul, mas forte.


O vidrado é esbranquiçado, leitoso, com um acabamento exterior uniforme, mas interiormente bastante poroso e com falhas.

No tardoz do fundo, na coroa circular não vidrada, pode-se apreciar o tipo de argila utilizada: avermelhada e com textura fina, não arenosa, uniforme.

Trata-se de uma peça rodada, com duas asas moldadas e coladas, em que as mesmas evidenciam um entrançado, tipo corda, na qual, em parte, o vidrado já desapareceu.

Comparando com outras peças ditas de “Miragaia”, esta não possui decoração “País” de Miragaia, nem o dito “Cantão Popular”, fazendo parte de uma outra “variante”.


A decoração vegetalista aplicada, como que constituindo reservas e o envolvimento destas com esponjados, constituem um tipo de decoração não muito vulgar e consequentemente mais um enigma da produção de faiança nacional antiga, azul e branca.

Parece-nos que se trata de uma pintura efectuada com um traço manual livre, ao gosto do artista, mas com o recurso a outras duas técnicas, estampilha - o stencil (chapa recortada), para realizar as folhas, depois retocadas e o esponjado, para o envolvimento da restante parte da peça,

Cremos tratar-se de uma peça fabricada na segunda metade do século XIX, ou eventualmente no início do século XX, cuja origem de fabrico não conseguimos garantir, por não se encontrar marcada, mas que se trata de uma curiosa peça, não há dúvida.
De referir que o formato da base da terrina não é o habitual das ditas do tipo “Miragaia”, mas assemelha-se mais a outros fabricos do Norte, tais como a que foi exibida no blogue (1), ou uma que se encontra exposta no Museu Nacional de Soares dos Reis ou a que se encontra no Museu Abade de Baçal (Matriz Net, número de inventário 2632) – fonte (4).

Também no blogue referente à fonte (3) foi exibida uma terrina com o formato semelhante à nossa, pese embora com decoração diferente, com a decoração “Cantão Popular”,

Uma outra peça, com decoração semelhante, sem esponjado mas com motivos vegetalistas sobre reticulados está inventariada na Matriz Net e faz parte do acervo do Museu dos Biscainhos (número de inventário 995 MB) – fonte (4), possui autoria desconhecida, não sendo pois “Miragaia” !


Epílogo:

Nas feiras de velharias, e não só, toda a faiança que é azul e branca é “Miragaia”, seja a decoração do tipo “Cantão Popular” ou mesmo do dito “País” de “Miragaia”, ou qualquer outra… desde que seja azul e branca. (E de tanto “martelar”, quase que “vamos na onda”… mas há que separar o “trigo do joio”).

Este tipo de peças são encaminhadas para o 2º período de fabrico da Fábrica de Miragaia, fundada em 1775 por João Rocha, ou seja entre 1822 e 1850.

As peças produzidas neste período, em faiança com esmalte estanífero, caracterizam-se por uma produção mais industrial, com recurso à utilização da estampilha na decoração, isto é, a decoração deixa de ser exclusivamente pintada à mão, pese embora se continue a usar as cores de alto fogo – essencialmente o azul.

A pasta era bastante clara e as decorações deste período tinham influência inglesa, com a sua aplicação estampada, decorada na cor azul, e tendo como modelo as gravuras da época, em moda; tais como paisagens românticas, com castelos, palácios ou casas apalaçadas. Igualmente também continuava a haver as decorações orientais, que sempre estavam em voga.

Enquadradas nestas decorações surge a decoração “tipo País”, em que a marca era uma paisagem central, com edifícios, em que um termina em cúpula, tendo na outra extremidade uma torre, com remate de um crescente (um dos mais velhos símbolos da Humanidade) e na frente tendo um frontão triangular, sendo todo o conjunto rodeado por arvoredo.

É de especial importância ter em atenção que sendo a maioria das peças fabricadas pela Fábrica de Miragaia na cor azul, que esta cor se tornou sinónimo da produção de Miragaia ou na sua “justificação”.

Deste modo são atribuídas a fabrico de Miragaia todas as peças com decoração azul, pese embora com outros tipos de paisagens, estampilhadas, ou até mesmo esponjadas, pese embora nunca tenham surgido peças com essas decorações e com a marca de Miragaia, usada à época, ou então terem marca de outras fábricas da mesma época.

Em suma, o tipo de decoração a azul e branco, não é exclusivo, de Miragaia; logo à época outras fábricas suas contemporâneas o fizerem, como por exemplo a Fábrica Cavaco e a Fábrica de Santo António do Vale de Piedade.

Mas mais tarde, vários foram os fabricos que utilizaram, copiaram ou efectuaram variantes ao modelo de decoração azul e branco de Miragaia, sendo deveras difícil identifica-los, por não estarem marcados.

As peças de fabrico de Miragaia do período em causa encontram-se marcadas com marcas pintadas e estampilhadas que a seguir exibem (fonte 5), situação que confirma a sua origem, eliminando quaisquer dúvidas.

Concluindo, tanta indicação incorrecta ou irónica, atribuindo tudo o que é faiança azul e branca, seja que decoração for a “Miragaia” ou “tipo Miragaia”, quando nada tem a ver com esse fabrico.

Miragaia” sim !, mas com marca que o comprove !


Fontes:






5) – Fábrica de Louça de Miragaia, Museu Nacional Soares dos Reis, Museu Nacional do Azulejo, coordenação de Margarida Rebelo Correia, edição IMC, Lisboa, 2008;