sábado, 19 de julho de 2014

Motivos CACTOS e PRIMAVERA da Fábrica de Alcantara. Marca Figurativa por Identificar


Motivo CACTOS da Fábrica de Alcântara, estampagens diferentes. Marca figurativa por identificar.



Numa recente deslocação turística da nossa família a uma Vila Alentejana na raia de Espanha, encontramos mais uma feira de velharias, acantonada no jardim central à sombra fresca das frondosas árvores existentes.

Os vendedores não eram muitos, mas alguns já conhecidos, com os quais sempre trocamos algumas conversas…. E lá encontramos três pratos de fabrico de Alcântara.


Os dois primeiros sem qualquer identificação, mas com características inequívocas de serem de fabrico de Alcântara e um terceiro com outro motivo, esse sim com carimbo da fábrica de Alcântara: FABRICA D’ ALCANTARA – FAIANÇA FINA – L & C – LISBOA, e que pelas suas características confirmavam os outros dois.
 







Faiança grossa, pesada, com aspeto leitoso, em que o tardoz do fundo do prato possui um único círculo extremo saliente, para além de três locais com três pontos cada, no verso da aba do prato, marca do apoio, quando os mesmos iam cozer – característica esta que só encontramos nos pratos de Alcântara.






Tratam-se dois pratos rasos, com motivos vegetalistas, mono cromáticos, cor castanha escura, em que um dos ramos é uma silva, com frutos – amoras e o outro é um cardo, com bolbos, semiabertos, ainda não floridos.

 




















O vendedor assegurava-nos que eram pratos de fabrico de Alcântara, que faziam parte de um serviço que tinha comprado, em que as peças grandes (terrina e travessas) tinham o carimbo da fábrica de Alcântara e que os pratos poucos o tinham, os quais já tinha vendido, restando estes dois sem carimbo.

Pese embora os pratos sem carimbo de Alcântara, e como tal identificados, possuem uma gravação na massa, que agora conseguimos identificar por analogia em vários pratos (possuem uma marca em baixo relevo, quadrada na massa).

Eis a imagem da mesma:





Pese embora o vendedor nos assegurasse que os pratos eram iguais, isto é com a mesma estampagem, tal não correspondia à realidade. Após negócio fechado, indiquei a diferença das estampagens entre os dois pratos – um na gravura da silva, a mesma possuía seis amoras (frutos) e o outro só cinco – “Olha que engraçado, nunca tinha dado por isso!”



Tínhamos de memória que já tínhamos visto um blogue (1) em que tal motivo era descrito e lá fomos à procura do mesmo.




Na verdade a imagem do prato, que estava publicado (1), possuía na estampa da silva, a que possuía só cinco amoras, mas o carimbo no verso do prato não deixava dúvidas: para além do carimbo encontrado no prato, sob o mesmo estava identificado o motivo “CACTOS”: não restam dúvidas.


Finalmente o terceiro prato, mais pequeno, de sobremesa, possuía igualmente um motivo vegetalista, monocromático, castanho-escuro, em que a composição mais pequenoa era uma simples espiga de trigo, cujo caule possui três folhas e a maior um conjunto ornamental, com espigas de trigo, eventualmente papoilas e uma planta trepadeira que não conseguimos caracterizar. Que motivo será este?





Consultando mais uma vez um outro blogue (2) verificámos que se trata do motivo “Espigas de Trigo”,  ou “Trigo”,



Por posterior esclarecimento e através de consulta do blogue já citado (1), viemos a constatar que afinal o motivo se denomina "Primavera", sendo que no mesmo se encontram apresentadas as imagens que a seguir reproduzimos e que confirmam o nome do motivo indicado.




Tentando identificar o período de fabrico, segundo o livro Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987, a páginas 277, item 186; trata-se de fabrico de 1886 em diante – Fábrica fundada por Stringer, Silva e C.ª, cujos proprietários atuais (à data - 1907) são Lopes & C.ª – marca estampada Louça estampada).



Por outro lado, o sinal ou marca figurativa identificada nos pratos em apreço não nos permite ainda assegurar com rigor a data, sendo que o autor supra citado identificou um sinal (um circulo gravado na massa) – pagina 343, item 834, do livro atrás identificado, como fabrico de 1901, da época de Lopes & C.ª, mas para a “marca quadrada” ainda não conseguimos identificar o ano de fabrico, mas vamos tentando.



Em suma, todos os dias as peças de louça de fabrico de Alcântara nos continuam a surpreender e a criar-nos mais interrogações, que por sua vez nos motivam a pesquisa e procura de respostas.

FONTES:

1) http:// fabricadealcantara.blogspot.com;

2) http:// leriasrendasvelhariasdamaria.blogspot.com;

3) ,Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987

sábado, 12 de julho de 2014

MOTIVO FAISAO DA FABRICA DE ALCÂNTARA COM CARIMBO RARO


Motivo Faisão da Fábrica de Alcântara

Ao longo dos tempos vamos tendo fases em que nos inclinamos e nos entusiasmamos por um tipo de faiança ou por uma fábrica específica.

Estamos numa fase das Faianças da Fábrica de Alcântara (Lisboa), de cuja fábrica, exploração e motivos fabricados há pouca informação, a menos de poucas excepções (blogues - ver fontes indicadas).

Eis senão, quando recentemente encontramos numa banca de rua, algures numa das feiras de velharias, um vendedor já conhecido, que tinha à venda um prato com o motivo Faisão, sujo, partido, gateado e com uma esbeiçadela devido à antiga e tosca armação para pendurar o prato, pois o mesmo, ao longo da sua vida sempre serviu, exclusivamente para ornamentação.


Logo nos informou, o vendedor, quando olhamos para o prato que era um prato inglês, mas quando vimos o verso do mesmo, pese embora com uma marca tipicamente inglesa com a legenda “Aeratis Phasants”, sim é esta que se encontra marcada e não “Asiatic Pheasants”,  mas sob a mesma as iniciais “F A” - (Fábrica de Alcântara) não deixavam dúvidas de que se tratava de um prato da Fábrica de Alcântara.


E lá compramos o prato por 5,00 euros, antes que o vendedor se apercebesse da marca circular gravada na massa, mesmo sob a outra marca, com a indicação “LOPES & C.ª – ALCANTARA – LISBOA”.


Não restavam dúvidas, tratava-se de um prato de fabrico de Alcântara, motivo Faisão, com uma variante de carimbo, não habitual.


Para além da legenda, também a composição floral é diferente das habituais: quer a composição floral sobre a legenda, quer a inferior, a qual possui duas rosáceas em vez da uma habitual, que aparecem frequentemente noutros pratos, nomeadamente em pratos de fabrico de Massarelos (a).


Ou mesmo de de outros pratos de fabrico de Alcântara (a)


Trata-se de um prato numa faiança grossa e pesada, em que o tardoz do fundo do prato possui um único círculo extremo saliente o que igualmente evidencia ser Alcântara, caso não tivesse a marca e o carimbo referidos.


O motivo Faisão, ou seja o “Asiatic Pheasants” é um dos padrões mais utilizados por todas as fábricas portuguesas, devido à influência inglesa, em especial porque a cerâmica, em Portugal, no século XIX e princípio do XX era propriedade e gerida por Ingleses, não tendo a Fábrica de Alcântara fugido à regra.


E o prato em apreciação, na tonalidade castanha, é um exemplo digno dessa influência, pese embora com a particularidade da marca.


A marca em causa, tipicamente inglesa, possui um "design" dito “scroll mark”, (a), mas o deste prato é diferente de todos os detectados até hoje, quer pela sua configuração, quer pela sua designação .


A decoração do prato é exuberante e vistosa, em que a estampagem da aba se prolonga até ao fundo do prato, sem deixar de apresentar de forma forte a decoração do motivo, no fundo do mesmo, sobressaindo da base branca.


Mais um prato, invulgar, para a história ou monografia da Fábrica de Alcântara que alguém, algum dia escreverá, certamente.

FONTES: (a)http://artelivrosevelharias.blogspot.pt/2011/10/o-motivo-faisao-ou-asiatic-pheasants-em.html;

genérica -  http:fabricadealcantara.blogspot.com/2011/02/07-motivo-estio?-marca de fabrico por catalogar- (Firma Chambers & C.ª)



domingo, 15 de junho de 2014

UM RARO PRATO DE SACAVÉM (?), SEM MARCA, DE FABRICO POR VOLTA DE 1860 (?)

O FASCINIO DE UM PRATO SEM MARCA: O ESTUDO E PESQUISA QUE O MESMO MOTIVA


Prato fundo, grande, em faiança de Sacavém (?) ou de Alcântara (?), motivo cerejas (?), decorada em tom monocromático a negro com padrão baseada em composições frutíferas, uma grande, duas médias e uma pequena, esta no centro do covo, as outras estão decalcadas na aba mas que atingem o covo, identificando-se ramos com cerejas.




Crê-se ser fabrico de Sacavém, da época da Real Fábrica e fabricado por volta de 1860, isto é, anterior ao período de 1886-1894.

Não possui qualquer marca no verso a menos de um pequeno círculo esverdeado, gravado na massa, mas pelos seus três círculos concêntricos salientes da massa, denunciam a base onde assentou, aquando do seu fabrico, presumindo-se por isso ser da Real Fábrica de Sacavém, anterior à aplicação de marcas ou de gravações na massa.


Diâmetro: 26,2 cm; altura: 4,5 cm.

No sítio JP Antiguidades e Velharias foi publicado, em Maio de 2012, uma taça/saladeira, redonda, bicromada com frutos, considerada “provavelmente Alcântara”, com a seguinte imagem:

Se analisarmos o verso da mesma, vemos que é diferente do verso da nossa:


esta apresenta os três pontos da trempe usada na cosedura, pese embora também tenha uma pequena marca circular verde, mas não possui os diversos anéis concêntricos que a nossa possui, marca da base onde foi rodada, possuindo somente o círculo periférico exterior da base da peça característica da louça de Alcântara.
Os pratos de fabrico de Alcântara, a partir do período de 1886 apresentam sempre o verso do seu fundo com a imagem que se segue, ou seja com um único círculo periférico saliente, o que mais uma vez nos leva a considerar que o nosso prato é de fabrico da Real Fábrica de Sacavém.



Se for fabrica de Massarelos a situação é identica, veja-se por exemplo o verso de um prato:


No sítio Mercado Antigo numa postagem sobre a Real Fábrica de Sacavém é exibido um prato antigo com o motivo Alcobaça, em verde-escuro e não possui qualquer marca a menos de um pequeno círculo verde, igual ao que exibe o nosso prato fundo, o qual obviamente é identificado como sendo de Sacavém.


Os versos dos fundos dos pratos de Sacavém apresentam vários círculos concentricos, o que mais uma vez evidencia e confirma a identificação dada ao nosso prato, senão vejamos:






Por outro lado, a imperfeição do vidrado e a rugosidade da massa e das suas imperfeições induzem ser do fabrico do início da fábrica de Sacavém, qual a mesma era gerida por Manuel Joaquim Afonso (período de 1850-1865) antes a vendar ao inglês John Stott Howorth.



Em suma, mais um prato de fabrico da já mítica fábrica: