Provavelmente o
motivo mais reproduzido nas faianças em Portugal, foi o “Estátua”, vulgarmente
conhecido como “Cavalinho”, tenso tido a principal e preponderante produção na
Fábrica de Louças de Sacavém; mas muitas outras a imitaram ou com ela
concorreram, com decorações muitos semelhantes, umas mais trabalhadas, mais
ricas; outras mais singelas e pobres.
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(Figura 1 - A peça em apreciação) |
Quando
encontramos peças com esta decoração o principal interesse é a pesquisa de
diferentes decorações, para o mesmo motivo ou outros centros de produção.
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(Figura 2 - A decoração motivo da peça) |
Todos sabemos
que, por exemplo, o cavaleiro, ou cavaleiro, e o seu cavalo, possuem várias
exposições, olhares diferentes, acessórios de guerra ou honra diferentes;
pedestal e colunas variadas; lago, rio e castelos ou palácios muito diferentes
e diversificados, ou mesmo a decoração vegetalista, mais vasta ou mais rala, na
aba, que por vezes até se prolonga para o covo
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(Figura 3 - A soberba decoração vegetalista da aba) |
A diferença
nesta peça – um prato sopeiro, de acentuado covo, de generosas dimensões,
bastante superiores ao habitual, é a origem do seu fabrico ou centro de
produção: mais uma fábrica que rivalizou, ou tentou concorrer, aproveitando a
fama e o sucesso comercial, da Fábrica de Louças de Sacavém: a Fábrica de Louças
das Devesas, de José Pereira Valente.
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(Figura 4 - A decoração das cartelas na aba, com palácios e castelos) |
Para além das
suas anormais dimensões, bastante superiores às habituais, este prato covo,
possui uma intensa e rica decoração na aba, com três reservas, preenchidas por
palácios com torres de menagem e com duas pirâmides, no horizonte e mais uma
edificação acastelada, para além da habitual decoração no covo.
Decoração
monocromática, em cor-de-rosa.
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(Figura 5 - O tardoz do prtao) |
Prato robusto,
pesado, com covo acentuado de tardoz, com um frete exterior significativo e mais
dois interiores, mais esbatidos e no círculo central, o carimbo correspondente
ao fabrico; e identificando-se três conjuntos de três pontos, das trempes,
quando foi a vidrar, junto ao frete, para o seu interior.
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(Figura 6 - O carimbo na peça identificando o seu fabrico) |
Presume-se que o
seu período de fabrico deve ser por volta de 1900 (início do século XX).
Sendo, para nós,
o interesse deste prato a sua origem de produção, vamos pois, dedicar-nos um
pouco à sua unidade de produção – Fábrica de Louças das Devesas, de José
Pereira Valente, como a sua marca o identifica de forma inequívoca, com o nome
VALENTE, a encimar a marca.
Um pouco de história da Fábrica
Trata-se uma
fábrica pouco conhecida e que se confunde frequentemente com a Fábrica de
Cerâmica (e de Fundição) das Devesas, em Gaia, mais tarde, Companhia das
Cerâmicas das Devesas, esta fundada em 1865 por António Almeida da Costa, onde
José Pereira Valente trabalhou, até fundar a sua empresa; a qual laborou segundo
consta até 1946. Mas há quem a prolongue até à década de 60 (será ?)
.
A partir de
1884, a fábrica instala-se na Rua Dona Leonor, também em Vila Nova de Gaia e
nas imediações da fábrica de António Almeida da Costa.
José Pereira Valente
teve sempre a ajuda de António Almeida Valente, seu antigo patrão, no que
respeita ao escoamento dos produtos, o que o levou a adquirir, em 1891, uma
máquina que permitiu ampliar a produção, começando até a produzir
azulejo.
Na primeira
década do século XX a gerência amplia-se com a entrada de familiares.
Em 1904
esta empresa passou a adoptar a designação José Pereira Valente,
Filhos; sociedade que se veio a dissolver-se em 1915, aquando da retirada de
dois dos quatro herdeiros de José Pereira Valente, mais precisamente de José
Pereira Valente Júnior e Augusto Pereira Valente, os quais receberam o dinheiro
do investimento efectuado. Os outros dois irmãos, Júlio Pereira Valente e
Feliciano Pereira Valente assumem assim as responsabilidades da fábrica.
Neste mesmo ano,
devido à necessidade de expansão e ao período de guerra, dá entrada um novo
sócio, Joaquim Moreira Gandra da Fonseca, constituindo-se a firma Valentes
& Moreira.
Apesar das
sucessivas alterações na constituição da sociedade, com a saída de Júlio
Pereira Valente, em 1918, e o falecimento de Feliciano Pereira Valente, em
1946, a empresa parece ter sobrevivido até à década de 1960.
A família
Pereira Valente esteve ainda ligada à Fábrica do Cavaco, pois em 1 de
Agosto de 1936 Luciano Pereira Valente constituiu sociedade com António
Augusto Fragateiro Júnior e Manuel Rodrigues Ferreira da Costa para adquirir a
fábrica, que ficou com um capital social de 15.000$00, equitativamente
repartido pelos sócios.
.
Cerca de dois
anos depois, em 28 de Novembro de 1938, Luciano Pereira Valente, que
desempenhava as funções de gerente técnico, adquiriu a António Augusto
Fragateiro Júnior a sua participação nessa empresa.
A decadência
desta fábrica dá-se em simultâneo com a das Devesas, reduzindo drasticamente a
sua produção, na segunda década do século XX e até ao seu encerramento.
No seu
progressivo declínio estão problemas relacionados com a estrutura familiar da
empresa.
Caracterização sumária da sua produção
desta
A Fábrica de
Louças das Devesas, de José Pereira Valente, produzia faiança com soberba
decoração e era considerada como uma das melhores fábricas de faiança do Norte,
rivalizando, em termos de qualidade com a Fábrica de Louças de Sacavém.
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(Figura 7 - Outra peça - prato semelhante ao nosso) |
Por outro lado, esta
fábrica, de Pereira Valente, foi uma fábrica imitadora, especialmente do estilo
da Fábrica de Cerâmica das Devesas, mas também da Fábrica de Louças de Sacavém.
Porém, conseguiu imitar com resultados, por vezes, melhores que os modelos
originais, com mais qualidade.
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(Figura 8 -O carimbo da peça anterior) |
A Fábrica
Pereira Valente foi sobretudo incontornável ao nível da produção de vasos,
pinhas e globos de remate, assim como estátuas para fachadas, rivalizando com
outras fábricas existentes à época, também no Norte (Gaia e Porto).
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(Figura 9 - Um carimbo variante da Fábrica de Pereira Valente) |
Aliás, a própria
fachada da fábrica era encimada por uma estátua, a qual terá sido retirada na
década de 1980 ou inícios da década seguinte, já depois de a fábrica ter
encerrado (há alguns anos atrás era uma oficina de automóveis).
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(Figura 10 - Outro carimbo da Fábrica de Pereira Valente)
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A fachada
subsistente da Fábrica Pereira Valente deverá datar da viragem do século XIX
para o século XX. Embora não seja totalmente revestida a azulejos e não possua
particulares qualidades arquitectónicas, ela apresenta artefactos de cerâmica
muito raros
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(Figura 11 - Outro carimbo da Fábrica de Pereira Valente)
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A Fábrica
Pereira Valente também produziu azulejaria, especialmente nos períodos Arte
Nova e Art Déco, embora tenha tido dificuldade em concorrer com outras fábricas
já mais implantadas no mercado
.
Concluindo
A Fábrica de
José Pereira Valente, das Devesas, é sem dúvida um marco histórico-documental
importante, já que foi uma das fábricas de maior qualidade na produção de
artefactos cerâmicos para decoração da arquitectura, bem assim como de louça em
faiança de uso doméstico corrente, com superior decoração.
FONTES:
2) – “A Cerâmica Portuense – Evolução
Empresarial e Estruturas Edificadas”, de Teresa Soeiro, Jorge Fernandes Alves,
Silvestre Lacerda e Joaquim Oliveira; Edição Portugália, Nova Série, Volume
XVI, 1995.
3) – “Dois séculos de Faiança
Portuguesa”, de Edgar Vigário, trabalho do autor, Setembro 2015,
8) - “Cerâmica Portuguesa e Outros
Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda
Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença
– 3ª Edição – 1987;