Como início neste novo ano apresento um
interessante prato de faiança, pequeno, de covo acentuado, com uma decoração vegetalista
policromada na aba, não muito frequente, provavelmente do final do século XIX
ou inicio do século XX….. e já lá vão mais de 100 anos!
(Prato covo em faiança, decoração vegetalista policromada) |
Possui um filete na cor azul-escuro a
delimitar a aba do covo e três decorações florais, manuais, efectuadas a pincel,
uma delas maior que ocupa toda da aba e se prolonga até ao covo, interrompendo
o filete, nas cores verde-escuro, verde-ervilha, amarelo-torrado e cor-de-rosa
e outras duas, semelhantes mas diferentes, com as mesmas cores e que se
desenvolvem exclusivamente na aba.
(Pormenor da decoração maior, ocupando a aba e o covo) |
Trata-se de um interessante prato, analisado
pelo seu tardoz, com dois fretes, um exterior, pronunciado e outro, interior,
mais modesto. Exibe uma pasta cor de grão, "ariada", com um vidrado leitoso,
onde se vislumbram perfeitamente os círculos da moldagem.
Sem dúvida que nos recorda os tempos em
que só se usava um prato, pequeno, pois a comida não era em demasia, e em que
se punha a mesma no prato, comendo-se primeiro o “conduto” e depois o “caldo”
sempre acompanhado com pão, simplesmente com uma colher e com a ajuda da “naifa”…outros
tempos, comidas saudáveis,…
(Pormenor dos fretes do prato) |
A configuração deste prato e a sua composição
leva-nos a pensar que seja, eventualmente, fabrico de Coimbra; no entanto a
configuração e as cores aplicadas, não são as habituais de Coimbra¸ mas também
não conseguimos identificar, com segurança, como fabrico de Aveiro – o mistério
das faianças mantém-se e é esse mistério, que continuamente nos entusiasma e
nos faz procurar, pesquisar e tentar desvendar.
(Pormenor da decoração da aba) |
A ausência de qualquer filete ou
decoração em bicos na bordadura da aba, leva-nos a considerar como não sendo
fabrico de Aveiro, para ser fabrico do Norte, as cores seriam mais fortes, com
a presença do azul, o que não se verifica no presente prato.
(Enquadramento da decoração na aba e covo do prato) |
Em suma, um prato antigo, em faiança, muito
pouco corrente, deslumbrante pela sua singeleza e pelas cores das decorações,
cujo origem de fabrico é um mistério e consequentemente de valor em termos de
inventariação e colecção, e logo motivo para a sua apresentação e dar a
conhecer.
(A nossa peça) |
FONTES:
1) - –
“Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização,
Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da
Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.
2) –
“Faiança Portuguesa – Séculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria
Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.
3) - “Faiança
Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.
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