quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

PRATO BRASONADO EM FAIANÇA: D. JOÃO V – SECULO XVIII OU XIX? OU A FRUSTAÇÃO DA SUA NÃO IDENTIFICAÇÃO


O desafio que as cerâmicas nos proporcionam, e em particular as Faianças é deslumbrante.

É o tentar desvendar a origem do seu fabrico, a região ou a fábrica onde foram produzidas, a época, um pouco da sua história, tudo isto é interessantíssimo, mas por vezes também nos leva a becos sem saída e quase que nos criam frustrações.


(Prato Brasonado com as Armas de D. João V)

É o que se passa com o Prato Brasonado, com o escudo do rei D. João V, o rei Magnâmico, ladeado por duas palmas em verde seco e com uma grega em azul esbatido, inserido no covo do mesmo e na aba “VIVA D. JOÃO V”, na cor vinoso com separação e remate de cinco quinas.


(O tardoz do prato com a sua marca alfanumérica)

O tardoz apresenta uma pasta cor de grão, que se pode considerar algo semelhante à da louça dita “malagueira” e sobre a mesma um vidrado leitoso, escorrido com falhas, algo “primário”, mas curioso e interessante.

Para além do mais a peça encontra-se marcada com o fabrico!


(A marca assinalada no tardoz do prato)

Possui a marcação alfanumérica na cor vinoso “F. Cª”, “V. S.”, “22” (?) – serão provavelmente estes os caracteres que se encontram marcados – não temos a certeza.

Mas é aqui que reside a nossa, quase, frustração, pois não a conseguimos identificar.

Será “Fábrica de Cerâmica Viúva Lamego” em que o “L” escorreu e fez um “S”; e “22” – alguma numeração que não conseguimos decifrar, ou será “VV”, e tal já será outra coisa….


(Brasão com as Armas de D. João V)

Será uma peça de fabrico do século XVIII ou do século XIX – caso por ventura seja de fabrico atribuível à Fábrica de Cerâmica da Viúva Lamego, será obviamente do século XIX.

O prato está partido, com um cabelo e toscamente restaurado, mas não deixa de ser interessante e continuar a encerrar mistério.


(A beleza e o mistério da decoração do prato)

As pesquisas já efectuadas foram mais que muitas, mas não conseguimos obter conclusões.

Quem nos poderá ajudar? Muito gostaríamos – ficaríamos altamente gratos – o desafio está lançado!

Por nós, vamos continuar a pesquisar!


FONTES:




3) - …..;

domingo, 24 de janeiro de 2016

Prato formato “Espiga”, decoração “Espigas e Papoilas”, Faianças de S. Roque

(Prato da Fábrica de Faianças de S. Roque - Aveiro)

Foi intenso o fabrico de pratos com o formato “Espiga”, com uma multiplicidade de decorações, eventualmente com alguma influência dos governantes à época, mas que ganharam o gosto popular, pela sua generalização de uso, devido também ao seu baixo custo. Foram usados entre guerras e após a 2ª guerra, por conseguinte, início e meados do século XX.

(Pormenor da decoração estampilhada "Espigas e Papoilas")

A principal fábrica a fabricar os mesmos foi a Fábrica de Louça de Sacavém, mas outras mais, a imitaram em peças com este formato, à época ou anos mais tarde, devido à popularidade do mesmo.

(Prato com o Formato "Espiga" e decoração monocromática "Espigas e Papoilas")

Uma dessas fábricas foi a Fábrica de Faianças de S. Roque, Lda., em Aveiro, com produção de pratos do formato “Espiga”, com decoração “popularucha” de “Espigas e Papoilas” – um cesto estilizado com espigas e papoilas.

/Pormenor do formato "Espiga")

O prato que apresentamos é o exemplo cabal de tal situação. Neste prato foram usadas dois métodos distintos de decoração – decoração aerógrafada na aba, da bordadura para o covo, com degradação e a decoração estampilhada, com recurso a chapa recortada, no covo do prato, onde se encontra pintado o motivo.

Decoração monocromática, cor-de-rosa.

(Tardoz do prato - Carimbo Faianças de S. Roque)

No tardoz do prato o carimbo, na cor azul, carácter isto da fábrica de Faianças de S. Roque, Lda, Aveiro.

(Pormenor do carimbo das Faianças de S. Roque -Aveiro)

Trata-se de um fabrico, provavelmente das décadas de 50 ou 60 do século XX.
Aqui fica o registo de mais uma peça de faiança.


FONTES:

1) -  “150 Anos – 150 Peças – Fábrica de Loiça de Sacavém” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Março de 2006;

2) – “Porta aberta às memórias” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2008;

3) - “Porta aberta às memórias” – 2ª edição, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2009;

4) – “Primeiras peças da produção da Fábrica de Loiça de Sacavém: O Papel do Coleccionador”, de Ana Paula Assunção, Carlos Pereira e Eugénia Correia, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – 2003;



Encantadora terrina sopeira em Faiança, Século XIX

(A Sopeira vista de cima)

Há peças de faiança, que são encantadoras, pese embora a sobriedade da sua decoração, a rugosidade da sua execução ou a imperfeição do seu vidrado!

(Pormenor da decoração estampilhada)

Tudo a propósito de uma pequena sopeira (terrina redonda) – peça rodada, com decoração monocromática, azul, efectuada manualmente e com aplicação de chapa (stencil) – elementos vegetalistas decorativos do bojo da mesma e na aba da tampa.

(Pormenor da decoração do bojo)

Na tampa filete de bordadura largo, secundado por mais estreito e depois um largo, em tom amarelo, sobre o qual foi aplicada a decoração vegetalista, em tons de azul. Finalmente outro filete, mais pequeno, no colo para a pega da tampa, central, elevada, circular e decorada simplesmente com um filete azul de bordadura.

(Pormenor das asas)

A partir da boca da sopeira e em direcção ao bojo, dois filetes largos, monocromáticos, na cor azul, logo a seguir, um outro, largo, amarelo, e sobre o mesmo aplicada a decoração vegetalista a stencil (chapa), seguem-se mais três filetes, dois azuis e entre os mesmos, um outro, largo, na cor amarelo.

(Vista de perfil - pormenor das asas)

Finalmente junto à base, mais dois filetes, no mesmo tom, de azul.

Duas pequenas asas, laterais colocadas junto à boca da sopeira, mais propriamente, junto ao rebaixo do rebordo para assentamento da tampa – um simples “cordel, liso, colado”, com uma pincelada de azul.

Trata-se de uma atraente peça, com rugosidade de fabrico, de uma pasta amarelada, cor de grão, com decoração imperfeita, com falhas de pintura, dedadas, esborratadelas, e com elevadas falhas de vidrado – “pontos negros”, o picado.

O frete da base é espesso e robusto – talvez o segredo destas peças durarem tanto tempo.
(Vista do interior da sopeira)

O craquelê é intenso e notório no interior e no exterior da peça, demonstrando a significativa diferença entre o coeficiente de dilatação do vidrado e da chacota.

(Pormenor do craquelê interior da sopeira)

Peça fabricada provavelmente na segunda metade do século XIX, certamente após 1854, dada a aplicação de decoração com chapa recortada, para efectuar os motivos vegetalistas da tampa e do bojo da sopeira (decoração estampilhada).

Fabrico?  

Inclinamos-nos para ser fabrico do Norte em detrimento de Coimbra.

(Pormenor da forma e decoração da tampa da sopeira)

As peças que com alguma segurança se atribuem como fabrico de Coimbra, possuem uma pasta mais espessa, são mais robustas e mais pesadas e possuem uma decoração policromática, com recurso às cores, azul, verde ervilha, cor-de-rosa, amarelos acastanhados, ou mesmo cor de laranja.

Por outro lado, as asas do fabrico de Coimbra são mais elaboradas da que as do Norte, que são mais simples.

(Fabrico do Norte (?))

No que se refere às pegas da tampa, as do Norte, são geralmente circulares, as de Coimbra são mais “pegas” ou “laços”, efectuadas com os mesmos “cordões” das asas.

Em suma, a geometria e configuração volumétrica desta sopeira é mais característica do Norte do que de Coimbra; a sua decoração, também, será ?

(Decoração do Norte (?))

Aqui fica certeza da sopeira em faiança repleta de incertezas, quanto à proveniência do seu fabrico e período de fabrico.



FONTES:

1) - “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

2) – “Cerâmica Portuense – Evolução Empresarial e Estruturas Edificadas”, Teresa Soeiro, Jorge Fernandes Lacerda, Silvestre Lacerda, Joaquim Oliveira, Edição Portugália, Nova série, volume XVI, 1995.


Motivo Fantasia, Período Chambres & Wall, Fabrico Massarelos

Nestes últimos tempos temos vindo a efectuar um aprofundamento do estudo das faianças fabricadas na Fábrica de Massarelos, quer pela sua importância no contexto das fábricas outrora existentes, quer pela qualidade das suas peças, quer pela diversidade da decoração aplicada, quer ainda pelos diversos períodos de fabrico, …, enfim por tudo o que é a mística da Fábrica de Massarelos.

(Saladeira de Massarelos - Motivo Fantasia)

Tínhamos efectuado há pouco tempo uma postagem sobre uma peça da Fábrica de Massarelos, motivo Fantasia, perfeitamente identificável, mas sem carimbo ou marca gravada na pasta, mas eis que nos surge uma peça que corrobora tudo o que dissemos.

(Pormenor da decoração - Motivo Fantasia)

Uma saladeira de pasta espessa, com vidrado leitoso, de decoração monocromática, cor castanho-claro, com trabalhada decoração vegetalista, repetida três vezes, ao longo da aba até ao covo.

(Pormenor da decoração - Motivo Fantasia)

Tardoz: carimbo monocromática cor castanho claro, da Fábrica de Massarelos, carimbo laureado e com a coroa real superior, tendo na coroa circular escrito: “MASSARELLOS”, “PORTO” e no círculo central “C & W”, e sob o mesmo o nome do motivo “FANTASIA”, “PO….AL” (Portugal). Possui ainda uma referência alfanumérica carimbada “G” – cujo significado desconhecemos e uma gravação na pasta “R”, que igualmente desconhecemos a justificação.

(Tardoz da Saladeira - Carimbos e marcas)

Trata-se pois de uma peça fabricada no período de Chambres & Wall, que corresponde ao período que medeia entre 18.09.1912 a 11.03.1920.

(Pormenor dos Carimbos e da marca na pasta "R")

(Carimbo de Massarelos - Período C & W - 1912-1920)

Uma peça atraente, com cerca de 100 anos, em muito bom estado de conservação.


FONTES:


2) – “Fábrica de Massarelos - Porto, 1763 – 1936”, Coordenação de Mónica Baldaque, Teresa Pereira Viana e Margarida Rebelo Correia, edição do Museu Nacional Soares dos Reis, 1998.

3) – “A Fábrica de Louça de Massarelos – Contributos para a caracterização de uma unidade fabril pioneira”. Volume 1, dissertação de Mestrado em Estudos do Património, de Armando Octaviano Palma de Araújo, Universidade Aberta, Lisboa, 2012.

4) – “Cerâmica Portuense – Evolução Empresarial e Estruturas Edificadas”, Teresa Soeiro, Jorge Fernandes Lacerda, Silvestre Lacerda, Joaquim Oliveira, Edição Portugália, Nova série, volume XVI, 1995.

5) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Prato de Massarelos, Motivo Fantasia, decoração assimétrica


As peças em faiança da Fábrica de Loiças Massarelos, em especial os pratos, são característicos, e pala sua decoração consegue-se logo identificar o fabrico.

(O nosso Prato de Massarelos, Motivo Fantasia)

Por outro lado, as decorações utilizadas pela Fábrica de Massarelos, pelo menos em parte dos seus períodos de fabricação, optou por decorações assimétricas que ajudaram a identificar a sua proveniência.

Em abono da verdade se diga, que também a Fábrica de Alcântara e a Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, fundada por Rafael Bordalo Pinheiro também usaram decorações assimétricas, mas as de Massarelos, têm algo de místico que permite a sua fácil identificação.

Uma das características das peças da Fábrica de Massarelos era também a espessura e robustez das peças, devido à pasta utilizada, mas que em fase posteriores tal situação veio a ser alterada, com a realização de peças com pasta mais fina, algumas assemelhando a pasta de pó de pedra.

(Pormenor do Motivo Fantasia)

Tudo isto a propósito de um interessante prato que conseguimos obter em mais das bancas “de chão” numa destas feiras de velharias de inverno que ocorrem por aí….

A decoração logo nos indiciou ser de Massarelos, mas cujo motivo desconhecíamos..., apreciamos o tardoz do prato e marcas e carimbos, nada, mas os fretes e a sua disposição indiciava-nos algo conhecido.

(Pormenor de outra decoração do Motivo Fantasia)

A decoração vegetalista, monocromática, cor-de-rosa, era interessantíssima, aplicada assimetricamente no prato, abrangendo a aba e quase todo o covo do prato, possuindo na parte oposta, uma pequena decoração similar, preenchendo parte da aba e do covo.

(Outro pormenor ainda do Motivo Fantasia)

Na bordadura da aba um filete cor-de-rosa, rematando a decoração do prato.

Trata-se na verdade um prato com uma decoração típica da Fábrica de Massarelos, cujo Motivo se denomina “FANTASIA”, decoração já aplicada no final do século XIX, em pratos e travessas desta fábrica, as quais possuíam a respectiva marca, carimbo e denominação do motivo (fonte 1), que nos permitiu assim identificar a nossa peça.

(Fonte 1 - Motivo Fantasia - marca finais do século XIX)

(Fonte 1 - Motivo Fantasia - marca finais do século XIX)

Esta peça possuía o carimbo de Maclaren & CH . PORTO, que permitiu a identificação temporal do seu fabrico.
     
Por outro lado, a organização e disposição dos círculos concêntricos conjuntamente com o frete do prato: dois círculos concêntricos largos no fundo do prato, um frete significativamente relevado na bordadura do fundo do prato e mais dois círculos concêntricos correspondentes à transição da aba para o covo, indiciam também ser fabrico de Massarelos.

(O tardoz do nosso prato)

No limite do tardoz identificam-se os “pontos” do tripé utilizado para colocar o prato “em descanso” quando foi vidrar.

(O frete e os círculos concêntricos do nosso prato)

Através de outros documentos consultados e sítios (fonte 5), (fonte 6),  tais elementos confirmam a nossa suposição.

(Fonte 5 - Pormenor do tardoz do prato - círculos concêntricos e fretes)
(Fonte 6 - Pormenor do tardoz do prato - círculos concêntricos e fretes)
Por outro lado, conhecem-se várias decorações, monocromáticas, assimétricas, com outros motivos e que são igualmente da Fábrica de Massarelos, que mais corroboram a nossa apreciação em relação ao presente prato.

Como exemplo apresentamos, prato vegetalista, monocromático, cor verde, com lago e cisne (fonte 2), ou na cor grená, em que a decoração é mais interessante (fonte 3).
 
(Fonte 2 - Motivo Cisne (?) - cor verde)
(Fonte 3 - Motivo Cisne (?) - cor grená)

Igualmente interessantes foram as decorações assimétricas com os motivos de “Papoula” ou “Borboleta”, a cita fábrica também produziu e cujas imagens das mesmas reproduzimos (fonte 1), (fonte 4).
 
(Fonte 1 - Motivo Papoula)

(Fonte 1 - Motivo Borboleta)

(Fonte 4 .- Terrina com o Motivo Papoula)

(Fonte 4 - Carimbo da Terrina - marca do período de 1904-1912)

Ou outras ainda (fonte 6)

(Fonte 6 - Motivo desconhecido)
(Fonte 6 - Motivo desconhecido)
(Fonte 6 - Motivo desconhecido)
Uma bela decoração desta fábrica e que se poderá enquadrar nesta temática de decorações não simétricas (mas também não totalmente assimétricas) é a do motivo “Torre de Belém”, do qual apresentamos cópia de belos exemplares (fonte 1), (fonte 6).



Outros  ainda da fonte 12:

(Fonte 12 - Motivo Torre de Belém - cor sépia)

(Fonte 12 - Motivo Torre de Belém - cor castanha)
Outra decoração também interessante, de prato anunciado no OLX, é o que se apresente de imediato e que se reporta, cremos ao Motivo Leques, também fabricado pela Fábrica de Alcântara.

(Foto do OLX - Motivo Leques (?))

Presume-se que o presente prato seja fabrico do início do século XX, pós 1912.




FONTES:








8) – “Fábrica de Massarelos - Porto, 1763 – 1936”, Coordenação de Mónica Baldaque, Teresa Pereira Viana e Margarida Rebelo Correia, edição do Museu Nacional Soares dos Reis, 1998.

9) – “A Fábrica de Louça de Massarelos – Contributos para a caracterização de uma unidade fabril pioneira”. Volume 1, dissertação de Mestrado em Estudos do Património, de Armando Octaviano Palma de Araújo, Universidade Aberta, Lisboa, 2012.

10) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.


11) – “Cerâmica Portuense – Evolução Empresarial e Estruturas Edificadas”, Teresa Soeiro, Jorge Fernandes Lacerda, Silvestre Lacerda, Joaquim Oliveira, Edição Portugália, Nova série, volume XVI, 1995.

12) – www.jmarques.pt;