domingo, 15 de fevereiro de 2015

TAMPA DE TERRINA, EM FAIANÇA DE JOSÉ DOS REIS - ALCOBAÇA

“Vão-se os anéis, ficam os dedos”… vão-se as terrinas ficam as tampas!

Hoje apresentamos mais uma tampa de terrina, deveras interessante: pequena, monocromática, na cor vinoso (cor de amora).


Trata-se de uma tampa de terrina, de forma rectangular de cantos arredondados; peça moldada, de encaixe, em cúpula, com pega elevada, de interessante configuração.

A decoração é pintada por estampilhagem e esponjado a cor de amora (vinoso), sobre fundo branco, possuindo dos dois lados da pega uma paisagem tipo “Casario e Árvores”, com um conjunto de edifício, um deles com uma cúpula, possuindo este e outro à sua esquerda, uma mastro com uma bandeira.


O terceiro edifício, de menor porte, com telhados de duas águas, possui um
óculo na empena, estando todos enquadrados em vegetação luxuriante, em que os troncos foram efectuados por estampilhagem, com recurso a “stencil” (chapa recortada) e a folhagem a técnica de esponjado.


Na bordadura da tampa uma cercadura vegetalista estampilhada, assemelhando-se a uma grinalda, terminando junto ao bordo com a aplicação de um esponjado


Trata-se de uma tampa de travessa não marcada, com uma massa de textura fina, de esmaltado leitoso, mais ou menos homogéneo, mas com falhas pontuais do mesmo.


Peça interessante, que cativa o olhar de um qualquer – é o fascínio da Faiança de José dos Reis (dos Santos), de Alcobaça, que mesmo sem carimbo ou marca, permite-nos considerar que será desse fabrico, e do seu período de fabricação, provavelmente, entre 1875 e 1898.


Pela análise da decoração, do tipo de pintura realizada e da comparação efectuada com outras peças, atribuídas a José dos Reis, apresentadas, nomeadamente no livro “ Cem anos de Louça em Alcobaça”, de Jorge Pereira de Sampaio e Luís Peres Pereira (2008), leva-nos a considerar, sem quaisquer dúvidas, ser uma peça de José dos Reis.


FONTES:

1) – “ Cem anos de Louça em Alcobaça”, de Jorge Pereira de Sampaio e Luís Peres Pereira, 2008;

2) – “Faiança de Alcobaça, de 1875 a 1950”, de Jorge Pereira de Sampaio, Estar Editora, Coleção Fundamental, 1997 (?);


3) - “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente: CeRamiCa PLUS” – Galeria de Exposições Temporárias – Mosteiro de Alcobaça; 6 de Abril a 4 de Maio 2011; Município de Alcobaça, 2011.

4) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

5) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

6) – “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

7) – “A Loiça de Alcobaça”, de João da Bernarda, Edições ASA, 1ª Edição, Porto - Outubro de 2001.


8) – “A Faiança de Raul da Bernarda & F.os, Lda. – Fundada em 1875 – ALCOBAÇA”, de Jorge Pereira de Sampaio, Edição Particular da Fábrica Raul da Bernarda & F.os, Lda., Alcobaça, Outubro, 2000.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

PRATO COVO EM FAIANÇA DA CERÂMICA ALCOA INDUSTRIAL - ALCOBAÇA

Mais uma apresentação de um prato covo em faiança branca de uma fábrica da região de Alcobaça.


Trata-se de uma peça carimbada, com carimbo circular, na cor verde com a indicação, na coroa circular, de CERÂMICA – ALCOA – INDUSTRIAL e no círculo interior J. R. – Tel. 63165 - ?????????.


Trata-se na verdade de uma outra fábrica de faiança da região de Alcobaça, segundo cremos já extinta, e que se dedicou em meados e finais do século passado ao fabrico de faiança utilitária de uso doméstico, vidrada na cor branca e com decorações semelhantes a outras faianças de outras fábricas, nomeadamente da Fábrica de Loiça de Sacavém.


O presente prato covo, possui no limite da aba e na concordância desta com o covo, um filete fino, a dourado.


A decoração policroma, com o motivo, dito “Pintassilgo”, assemelha-se a motivo idêntico largamente produzido nas décadas de 50 e 60 Pela Fábrica de Loiça de Sacavém.

 


A decoração policromática é constituída por um pintassilgo, com plumagem exuberante, pousado sobre um ramo, com flores rosas e folhas verdes e com outros dois motivos, diferentes, mas semelhantes, de um pequeno ramo com flor e folhas idênticas ao da decoração com o pintassilgo.


Constitui, sem dúvida, uma cópia de motivo e decoração semelhante ao que a Fábrica de Loiça de Sacavém produzia, pese embora com ligeira menos qualidade, mas que a “olho simples” se confundia com a mesma e assim beneficiava comercialmente da fama granjeada pela louça de Sacavém, permitindo a sua inserção no mercado, pese embora de âmbito regional – mais uma vez à volta de Alcobaça, Leiria e pouco mais.

No tardoz do prato, a marca a cor verde, é concludente – faiança da CERAMICA – ALCOA – INDUSTRIAL – J. R. – Tel. 63165 – sem dúvida uma outra Fábrica de Cerâmica de existiu na zona de Alcobaça, entretanto extinta.



Pelas pesquisas efectuadas, concluímos que tratava, provavelmente da Cerâmica Alcoa, Lda, que se dedicava à fabricação de artigos de uso doméstico de faiança, porcelana e grés fino (do seu título constitutivo), possuía o NIPC 500908532, mas que em 18-07-2012 já não existia, o que pressupõe o seu antecipado encerramento.

Mais não conseguimos, mas gostaríamos, pois trata-se de mais uma Fábrica de Cerâmica da zona de Alcobaça que existiu e que se torna relevante a sua inventariação e registo, pese embora de produção com âmbito restrito de comercialização, como cremos.

O motivo ”Pintassilgo” foi algo recorrente e imitado por outras fábricas de faiança, para além da Fábrica de Loiça de Sacavém, vejamos pois o mesmo motivo, desenvolvido quer por esta, qquer por outras:

1- Fábrica de Loiça de Sacavém:



2- Faianças da Pinheira –Aveiro:



Fontes:
1) - https://www.jornaldeleiria.pt/files/_Historia_da_Industria_Ceramica_537cc5fa24cb3.pdf

2) – “Faiança de Alcobaça, de 1875 a 1950”, de Jorge Pereira de Sampaio, Estar Editora, Coleção Fundamental, 1997 (?);

3) – “A Loiça de Alcobaça”, de João da Bernarda, Edições ASA, 1ª Edição, Porto - Outubro de 2001.



segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

PRATO COVO EM FAIANÇA DE ALCOBAÇA – OAL

Quando se fala em Faianças de Alcobaça logo se pensa em peças de decoração, na cor azul e raramente em peças utilitárias, de uso doméstico, em faiança branca.


Tudo a propósito da faiança utilitária de uso doméstico, vidrada na cor branca e com decorações semelhantes a tantas outras faianças de outras fábricas, nomeadamente da Fábrica de Loiça de Sacavém.


Apresentamos um prato covo, de covo acentuado, com aba recortada, reforçada com um filete grosso, a dourado. Possui igualmente outro filete a demarcar o limite da aba para o covo, igualmente a dourado, mais fino e interrompido pela decoração vegetalista da peça.


A decoração policroma com três arranjos vegetalistas diferentes e de tamanhos diversos, com malmequeres azuis e fenos ou parganas amarelas e castanhas, é interessante, e quase que se poderia confundir com algum tipo de faiança da citada Fábrica de Loiça de Sacavém.


Mas voltando ao prato, no seu tardoz, a marca, em tons de azul é inequívoca: OAL – o logotipo da Olaria de Alcobaça, Limitada; inserida numa coroa circular, igualmente azul, com as indicações: OLARIA ALCOBAÇA – ALCOBAÇA.


Esta fábrica laborou entre 1927 e 1984, crendo-se que este tipo de faiança deva ter sido produzido nas décadas de 60 e 70.


Tratava-se de uma faiança simples, para uso doméstico comum, de baixo valor comercial, concorrencial com as demais faianças existentes à época e de implantação regional, em redor de Alcobaça.

Apesar destes factos e dado que constitui um marco diferenciador no fabrico de faianças na região de Alcobaça, numa determinada época, consideramos de realce a sua inventariação e divulgação.


Fontes:

1) - “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente: CeRamiCa PLUS” – Galeria de Exposições Temporárias – Mosteiro de Alcobaça; 6 de Abril a 4 de Maio 2011; Município de Alcobaça, 2011.


3) – “ Cem anos de Louça em Alcobaça”, de Jorge Pereira de Sampaio e Luís Peres Pereira, 2008;

4) – “Faiança de Alcobaça, de 1875 a 1950”, de Jorge Pereira de Sampaio, Estar Editora, Coleção Fundamental, 1997 (?);

5) - – “A Loiça de Alcobaça”, de João da Bernarda, Edições ASA, 1ª Edição, Porto - Outubro de 2001.

6) – “A Faiança de Raul da Bernarda & F.os, Lda. – Fundada em 1875 – ALCOBAÇA”, de Jorge Pereira de Sampaio, Edição Particular da Fábrica Raul da Bernarda & F.os, Lda., Alcobaça, Outubro, 2000.


terça-feira, 27 de janeiro de 2015

TRAVESSA EM FAIANÇA, FABRICO DO NORTE (?); MOTIVO CANTÃO POPULAR, EM TONS DE DOURADO - INVULGAR

É do conhecimento geral o nosso fascínio pela faiança decorada com o motivo “Cantão Popular”, quer pela diversidade da decoração, quer pela incógnita do seu fabrico, quando não marcadas ou pelo desvendar de um novo fabrico, quando marcadas ou mesmo pela cromática aplicada.

Eis senão quando, muito recentemente, nos surgiu pela frente uma invulgar peça com este motivo, a qual passamos a descrever.

Uma travessa em faiança, de cantos arredondados, com aba recortada, em tons dourados – invulgar!

O mais frequente são os tons de azul, azul e preto ou amarelo-ocre e preto.

Cremos tratar-se de um fabrico do Norte, provavelmente do final do século XIX, assemelhando-se um pouco ao que se diz, fabrico “Miragaia”, mas sem certezas….


Os motivos básicos e repetentes deste motivo estão presentes: os dois edifícios (palácios-?) orientais com as suas cúpulas características; as duas ombreiras curvas sobre dois vãos de fenestração no da direita, o maior; a ponte de três arcos; os salgueiros – neste caso de sete ramos; a demais vegetação, as nuvens; os espelhos de água…


A característica cercadura da aba da travessa: um duplo filete, ladeando uma faixa larga, de espaçamento e afastamento irregular – demonstrando de forma indelével a mão e o traço não perfeita do seu artista; a seguinte cercadura com o espinhado pelo exterior, denotando-se, perfeitamente, onde o mesmo começou, com um traço mais grosso e curto e que conforme se iam desenvolvendo continuava por ser mais fino e mais comprido e com uma canelura ondulada pelo interior (no sentido do covo).


Finamente a cercadura da aba termina, já na transição para o covo igualmente com um duplo filete ladeando um faixa larga, tudo na cor dourada.


É na verdade a característica desta cercadura e a sua composição que nos leva a considerar ser uma peça de fabrico do Norte.


Por outro lado, a sua textura, o peso da peça, o traço, o cuidado aplicado no mesmo, conjugado com a imperfeição ou hesitação do artista, para além do tipo da pasta – cor de grão (visível numa das falhas que a travessa apresenta), o tipo de vidrado – leitoso e escorrido, com falhas que exibe, para além da configuração recortada da aba da travessa e da configuração do seu tardoz; no seu conjunto, leva-nos a induzir que o fabrico seja provavelmente do século XIX – será?


Não temos certezas, mas a travessa fascinou-nos!


É a primeira vez que encontramos uma peça em Faiança, com o motivo “Cantão Popular”, na cor dourada.


Aqui fica o seu registo.

FONTES:

1) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

2) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

3) – “Faiança Portuguesa – Séculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

4) – “Cerâmica Artística Portuense dos Séculos XVIII e XIX”, Vasco Valente, Livraria Fernando Machado – Porto,

5) – “Cerâmica Portuense – Evolução Empresarial e Estruturas Edificadas”, Teresa Soeiro, Jorge Fernandes Lacerda, Silvestre Lacerda, Joaquim Oliveira, Edição Portugália, Nova série, volume XVI, 1995.

6) – “Fábrica de Louça de Miragaia”, Museu Nacional Soares dos Reis, Edição IMC, Lisboa, 2008.


7) - http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/75570/3/72863.1.pdf; (A Fábrica de Louça de Santo António de Vale de Piedade, em Gaia: arquitetura, espaços e produção semi-industrial oitocentista; LAURA CRISTINA PEIXOTO DE SOUSA, 2013).

domingo, 25 de janeiro de 2015

PRATO EM FAIANÇA, DE COIMBRA, SÉCULO XIX, MOTIVO “CASARIO” DOS BRASILEIROS “TORNA-VIAGEM” (?)

Para começar o novo ano, após um interregno forçado, apresentamos um interessante prato, pequeno, em faiança, que presumimos ser de Coimbra, do século XIX, com a decoração “Casario”.


Prato pequeno, mas deveras interessante; com uma reserva central, monocromática, na cor vinoso (cor de amora).

A decoração é pintada por estampilhagem e esponjado na cor de amora (vinoso), sobre fundo branco, possuindo uma paisagem tipo “Casario”, com um conjunto de três edifícios e árvores e elementos vegetalistas a ladear os mesmos.


Os edifícios, os troncos das árvores e o elemento vegetalista foram aplicados por estampilhagem (chapa recortada) e os ramos das árvores e o solo/paisagem de enquadramento foram aplicadas por esponjado.

O conjunto de edifícios, em número de três, ao gosto da época, com dois e três níveis de fenestração, exibem dois, coberturas piramidais e outro uma cúpula.


Estes edifícios eram característicos à época, meados a final do século XIX, existindo vários em Vilas em torno de Coimbra, bem como em diversas Vilas das Beiras, para além das do Norte e Nordeste do País, os quais eram mandados edificar pelos “Torna-Viagem”…

Isto era, os portugueses que regressavam do Brasil, abastados, com características de homem burguês e moderno e que queriam demonstrar essa situação, entre outras exibições, através das edificações que faziam, geralmente mais altas que as existem, com telhados com coberturas piramidais ou em cúpulas.

A estes “torna-viagem”, também lhe chamavam “Brasileiros”, e a sua influência, a nível do edificado em Portugal, também influenciou a cerâmica, e ficou registado para a posteridade, como é o caso do presente pequeno prato.

A arquitectura das edificações destes Brasileiros “torna-viagem” era elegante, inspirada nas casas coloniais vitorianas, com soluções afrancesadas e com alguma influência italiana.

Tal como caracteriza Miguel Monteiro:

A casa do "Brasileiro" de "Torna - Viagem" constituiu uma das representações mais evidentes desse retorno, quer na estrutura e fachada das edificações, quer nas novas demarcações internas, dividindo espaços e pessoas, evidenciando novas hierarquias e novas fronteiras sociais.

As inovações arquitectónicas e decorativas da casa do Brasileiros representam, na maior parte dos casos, uma reprodução ‘desfocada’ de soluções formais de uma arquitectura ‘elegante’ adoptada na construção residencial brasileira a partir de meados do século XIX mercê da actividade de arquitectos e companhias de construção europeias: um modelo onde pontuam influências da casa colonial vitoriana, soluções formais afrancesadas, misturadas com algum revivalismo de cariz italiano".

Nesta perspectiva, as edificações remetem para um quadro de leitura urbana da “Casa” que poderá ser categorizadas em três tipos: o palácio, a casa apalaçada e o palacete.”

Estes Brasileiros “torna-viagem” foram vastamente retratados por Eça de Queiroz, bem como por Camilo Castelo Branco.

São exemplos disso, o “torna-viagem” em “O primo Basílio” (1878), de Eça de Queiroz; o “retornado” Eusébio Seabra em “A Morgadinha dos Canaviais” (1868) de Júlio Dinis; e os vários “brasileiros” em “Eusébio Macário” (1879), em “A Brasileira de Prazins” (1883), “A Corja” (1880), “Os diamantes do Brasileiro” (1869), entre muitos outros romances, todos de Camilo Castelo Branco.

Voltando à peça: trata-se de um pequeno prato não marcado, com uma massa de textura fina, de esmaltado leitoso, mais ou menos homogéneo, mas com alguns escorridos, sob o qual se denota uma massa na cor de grão.


Peça interessante, com decoração relevante, que pelas suas características, nos permite considerar que será fabrico de Coimbra, desconhecendo-se, como sempre, a respectiva fábrica ou cerâmica, e , provavelmente, fabricada entre 1850 e 1890.

Mas certezas absolutas, não as há.


Quer no covo, quer no tardoz deste prato notam-se os três pontos de falhas de vidrado, decorrentes da colocação do mesmo nas trempes, para a vidragem.

Não possui qualquer filete, nem qualquer decoração vegetalista ou geométrica na bordadura do mesmo.

Pelo tipo de decoração, do esponjado e do “casario”, consideramos que não será Alcobaça, fabrico de José dos Reis, mas Coimbra.


Na Fonte 7) encontramos uma tigela com tampa, com uma decoração semelhante, com a indicação:  ”TIJELA COM TAMPA EM FAIANÇA DE FABRICO DO SÉC XIX OU ANTERIOR QUE PODERÁ  SER DE ALCOBAÇA QUE USOU INICIALMENTE ESTE MOTIVO DO CASARIO MONOCROMADO. ALGUMAS FÁBRICAS DO NORTE TAMBÉM USARAM ESTE MOTIVO”.

No entanto, pelo motivo continuamos a considerar como sendo de Coimbra.


FONTES:

1) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

2) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

3) – “Faiança Portuguesa – Séculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.




segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Prato Grande em Faiança de Aradas (Aveiro). Fabrico da Cerâmica Manuel Gonçalves (Vitória)?


Apresentamos mais uma peça em Faiança, um prato grande, ou dito de cozinha, de Aveiro, mais propriamente de uma das Fábricas de Aradas.


Trata-se de um prato grande, covo acentuado com decoração estampilhada monocroma azul, com uma aplicação aerografada na bordadura da aba, em degradação para o interior do covo, na mesma cor.


Possui na aba uma decoração com motivo vegetalista repetido: dez rosas aplicadas a estampilha, com recurso a chapa, monocromas na cor azul.


No limite do covo há dois filetes, o exterior fino e o interior mais espesso, possuindo o covo uma reserva central e circundando a mesma, mais cinco motivos vegetalistas monocromos, iguais aos aplicados na aba, igualmente na cor azul.


A reserva central é também um motivo vegetalista, interessante composição floral, intensamente preenchida e igualmente estampilhada através de stencil (chapa recortada), monocroma, em tom de azul mais forte.


No tardoz do prato, sobre um vidrado esbranquiçado, leitoso somente uma marca monocroma azul circular, tendo na coroa circular exterior as palavras “FAIANÇAS” e “ARADAS” e no círculo interior o Monograma: “CMG”, pensamos estar correcta a nossa leitura.


Presumimos que seja fabrico da Cerâmica de Manuel Gonçalves (Machado Vitória), fábrica que fundou em 1955, em Aradas.

Cremos ser assim, mas não temos a certeza.



Enquadramento desta Fábrica, um pouco de história:

Em 1922,  Manuel Gonçalves da Vitória,   João Gonçalves Vitória Machado, o “Jarreto” e Anunciação de Jesus Gomes, esposa de Manuel Gonçalves da Vitória, fundam a primeira fábrica de louça branca e começam a fabricar louça de "barro branco churro", em 1923, em Aradas.

Consta que o oleiro Manuel da Vitória, trabalhou antes em Coimbra e Viseu, em fábrica de barro branco, quanto ao irmão, João Vitória Machado, também oleiro, desconhecemos os seus antecedentes.

Segundo consta a matéria-prima para esta fábrica, “o barro branco churro”, vinha de Coimbra, de comboio, e era transportada desde o mesmo até à fábrica em carros de bois, nos limites de Aradas, mais propriamente em Leirinhas, numa propriedade de ambas e onde construíram a fábrica.

Manuel Vitória, o irmão mais velho, ficou como gerente da fábrica e o irmão mais novo, João Vitória Machado ficou como responsável da “escrituração”.

Entretanto vieram a surgir divergências entre ambos, que culminaram com a dissolução da empresa em meados de 1930 (Julho).

Consta que em 1931 João Vitória Machado fundou nova fábrica em Aradas, a “Fábrica do Jarreto” e Manuel Vitória veio a fundar outra em 1955.

No entanto há a salientar que a única família de oleiros que perdurou ao longo dos anos, em Aradas, e quase até à actualidade foi a família Vitória.

Os filhos de ambos, Licínio Gonçalves Vitória, Ilídio Gonçalves Vitória e António Gonçalves Vitória Machado, primos entre si, vieram a fundar em Outubro de 1970 a Cerâmica Primos Vitória

Aqui fica o carimbo, para que se consiga confirmar o seu fabrico!


Fontes:


domingo, 28 de dezembro de 2014

Bule de chá, modernista, da Fábrica de Loiça de Sacavém, com recuperação kirsch

Há peças de loiça utilitária, em faiança, de valor decorativo menor, mas que por diversas razões ou motivos nos cativam também.


Tal é o caso de um Bule, de faiança moldada, sem qualquer decoração, na cor verde seco, de forma globular/cónica, formato “PORTO”, com uma pega lateral em forma de “C” e bico levemente contra-curvado, com rebordo superior circular para encaixe da tampa, mas sem a mesma.


No fundo da base possui a marca estampada a preto, da Fábrica de Loiça de Sacavém correspondente ao período de fabrico de 1902-1970, isto é, da administração Gilman & Cta., com as indicações “SACAVÉM” e “PORTUGAL” e um símbolo ou marca figurativa, igualmente estampado a preto, um trevo de três folhas, para além de uma gravação na massa “C”.
 
 Presumimos que seja dos anos 50/60 do século passado.



A recuperação kirsch deste bule foi a aplicação e utilização de uma tampa metálica, de perfeito encaixe no rebordo do mesmo. Tampa pesada, com pega circular central e com um padrão alegórico de decoração vegetalista, em baixo relevo, na coroa circular da mesma e entre dois espinhados, um junto ao bordo e outro junto à pega, com traça da Média Ásia ou mesmo Oriental.


Foi, sem dúvida, que esta recuperação kirsch de um bule em faiança da Fábrica de Louça de Sacavém que nos encantou.


Não está em causa o valor da peça, quer em termos de decoração ou de coleccionismo, mas o facto de até onde chega a imaginação para a recuperação de uma peça utilitária em faiança e o sentido de comercialização da mesma!



FONTES:

1) – “150 Anos – 150 Peças – Fábrica de Loiça de Sacavém” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Março de 2006;


2) - “Dicionário de marcas de Faiança” de Filomena Simas e Sónia Isidro – Edição Estar Editora - Lisboa – 1996;