É do conhecimento geral o nosso
fascínio pela faiança decorada com o motivo “Cantão Popular”, quer pela
diversidade da decoração, quer pela incógnita do seu fabrico, quando não
marcadas ou pelo desvendar de um novo fabrico, quando marcadas ou mesmo pela
cromática aplicada.
Eis senão quando, muito
recentemente, nos surgiu pela frente uma invulgar peça com este motivo, a qual
passamos a descrever.
Uma travessa em faiança, de cantos
arredondados, com aba recortada, em tons dourados – invulgar!
O mais frequente são os tons de
azul, azul e preto ou amarelo-ocre e preto.
Cremos tratar-se de um fabrico do
Norte, provavelmente do final do século XIX, assemelhando-se um pouco ao que se
diz, fabrico “Miragaia”, mas sem certezas….
Os motivos básicos e repetentes
deste motivo estão presentes: os dois edifícios (palácios-?) orientais com as
suas cúpulas características; as duas ombreiras curvas sobre dois vãos de
fenestração no da direita, o maior; a ponte de três arcos; os salgueiros –
neste caso de sete ramos; a demais vegetação, as nuvens; os espelhos de água…
A característica cercadura da aba da
travessa: um duplo filete, ladeando uma faixa larga, de espaçamento e afastamento
irregular – demonstrando de forma indelével a mão e o traço não perfeita do seu
artista; a seguinte cercadura com o espinhado pelo exterior, denotando-se,
perfeitamente, onde o mesmo começou, com um traço mais grosso e curto e que
conforme se iam desenvolvendo continuava por ser mais fino e mais comprido e
com uma canelura ondulada pelo interior (no sentido do covo).
Finamente a cercadura da aba
termina, já na transição para o covo igualmente com um duplo filete ladeando um
faixa larga, tudo na cor dourada.
É na verdade a característica desta
cercadura e a sua composição que nos leva a considerar ser uma peça de fabrico
do Norte.
Por outro lado, a sua textura, o
peso da peça, o traço, o cuidado aplicado no mesmo, conjugado com a imperfeição
ou hesitação do artista, para além do tipo da pasta – cor de grão (visível numa
das falhas que a travessa apresenta), o tipo de vidrado – leitoso e escorrido,
com falhas que exibe, para além da configuração recortada da aba da travessa e
da configuração do seu tardoz; no seu conjunto, leva-nos a induzir que o
fabrico seja provavelmente do século XIX – será?
Não temos certezas, mas a travessa fascinou-nos!
É a primeira vez que encontramos uma
peça em Faiança, com o motivo “Cantão Popular”, na cor dourada.
Aqui fica o seu registo.
FONTES:
1) – “Faiança Portuguesa Séculos
XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.
2) – “Cerâmica Portuguesa e Outros
Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda
Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial
Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.
3) – “Faiança Portuguesa – Séculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos,
1985.
4) – “Cerâmica Artística Portuense dos
Séculos XVIII e XIX”, Vasco Valente, Livraria Fernando Machado – Porto,
5) – “Cerâmica Portuense – Evolução
Empresarial e Estruturas Edificadas”, Teresa Soeiro, Jorge Fernandes Lacerda,
Silvestre Lacerda, Joaquim Oliveira, Edição Portugália, Nova série, volume XVI,
1995.
6) – “Fábrica de Louça de Miragaia”, Museu
Nacional Soares dos Reis, Edição IMC, Lisboa, 2008.
7) - http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/75570/3/72863.1.pdf;
(A Fábrica de Louça de Santo António de Vale de Piedade, em Gaia: arquitetura,
espaços e produção semi-industrial oitocentista; LAURA CRISTINA PEIXOTO DE
SOUSA, 2013).
Que ela seja do século XIX, bem, a mim parece-me que sim, mas é só uma opinião. Não tenho nada em concreto para corroborar esta opinião. É só pelo aspeto do prato, mas já sabe que isto de vaticinar sobre "aspetos" não é muito fiável :-(
ResponderEliminarA cor é muito invulgar. Já tinha encontrado à venda, mas sempre cego pelo azuis e brancos, acabo por não enveredar por outros cromatismos, e creio que faço mal, pois esta sua peça é lindíssima.
Os parabéns pela aquisição
Manel
Caro Manel,
ResponderEliminarNa verdade, e tal como sempre, em faianças não marcadas nunca conseguimos avaliá-las de forma concreta: quer em termos de fabrico, de mais a mais que as fábricas se copiavam; quer em termos temporais, e mais difícil quando é um motivo que se repetiu ao longo de muitos anos...
Foi na verdade a cor da decoração que me cativou desde logo...
Obrigado.
Até breve, com outra postagem.
Jorge Gomes