quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Bomboneira policromática da Estatuária Artística de Coimbra

As peças da Estatuária Artística de Coimbra continuam a deslumbrar-nos, quer pelo seu tipo, quer pela decoração.


A que agora apresentamos, em termos de decoração, e por uma simples visualização, não cuidada, leva-nos a opinar ser uma peça de Alcobaça de uma das suas muitas fábricas, mas na verdade trata-se de uma peça da Estatuária Artística de Coimbra, devidamente marcada e identificada.



A sua decoração, com monocromia azul, alternada com policromia em tons de azul, amarelo, rosa e verde, assemelham-se, sem dúvida, à decoração de Alcobaça.




Trata-se de um objecto utilitário: bomboneira circular com tampa, policromática, com pintura manual, peça moldada, com marca pintada no fundo da base, com a identificação do número de catálogo: 269 e com a pintura manual de “Estatuária”, “Coimbra”, “Portugal” e a assinatura do autor, cremos, “M”.


Trata-se de uma interessante peça com decoração floral policromática: verde, azul, amarela, vermelho e castanho claro, inserida em ornatos configurando ferraduras, quer na tampa, quer no bojo, sendo a base constituída por quatro pequenos pés cilíndricos.


A decoração está aplicada sobre uma base azulada, clara. Possui filetes azuis junto à aba da tampa e na bordadura do bojo, bem como no limite inferior do bojo.


A pega da tampa é cónica, com dois filetes grossos azuis e com uma decoração raiada alternada em amarelo largo e azul fino.

Presume-se que seja uma peça de fabrico no período entre 1943 e 1947 do século passado, antes da Fábrica das Lages.


Mais uma interessantíssima peça da Estatuária Artística de Coimbra, para contribuir para a identificação do diversificado fabrico desta fábrica.



FONTES:


2) – “Cerâmica – Artes Plásticas e Artes Decorativas – Normas de Inventário”, Museu Nacional do Azulejo, Ana  Anjos Mântua, Paulo Henriques, Teresa Campos, Instituto dos Museus e Conservação, 1ª Edição, Maio de 2007;


Caneca de Massarelos – Período Lusitânia (1936 – 1945)

Para variar apresentamos hoje uma caneca, em faiança, da Fábrica de Massarelos – Porto, do período Lusitânia.

Caneca moldada, de forma tronco-cónica, de boca larga, com pequeno frete reentrante junto à base, mais larga, e asa lateral vertical em forma de aleta lisa, com decoração monocromática azul, sob fundo creme, por técnica de impressão, com um ramo de duas papoilas, uma de cada lado, e um filete fino, junto ao bordo e outro no frete da base.

Possui marca estampada, monocromática na cor azul, com as indicações MASSARELOS – LUSITANIA – PORTUGAL, encimada pela coroa real e com a coroa de louros, lateral.

A Fábrica de Massarelos, em Roriz, então propriedade da sociedade por quotas Chambers & Wall, Lda., foi vendida, em 1936, à Companhia das Fábricas Cerâmica Lusitânia, S.A.R.L., empresa de Lisboa que possuía um conjunto de fábricas e armazéns de distribuição de materiais de construção, nas principais cidades do país.

Mais tarde, em 1945 a marca CFCL, Companhia das Fábrica Cerâmica Lusitânia, é substituída por LUFAPO LUSITÂNIA PORTUGAL, pelo que, a partir de 1945, passou a ser usada a marca LUFAPO MASSARELOS

Por conseguinte, é desse período (1936 – 1945), a caneca que apresentamos.



FONTES:

1) – “ A Fábrica de Louça de Massarelos – Contributos para a caraterização de uma unidade fabril pioneira” – Volume I, de Armando Octaviano Palma de Araújo; Dissertação de Mestrado em Estudos do Património, Universidade Aberta – Departamento de Ciências Sociais e de Gestão, Lisboa – 2012” 

2) - “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987;

3) - Fábrica de Massarellos – Porto 1763 – 1936”, Exposição Fábrica de louça de Massarelos 1763 – 1936, Porto 1998; Coordenação de Mónica Baldaque, Teresa Pereira Viana e Margarida Rebelo Correia, Museu Nacional Soares dos Reis;


4) -Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987;

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

FAIANÇAS VESTAL – ALCOBAÇA: CATÁLOGOS

Uma fábrica fascinante foi a VESTAL – Fábrica de Faianças Artísticas, de Alcobaça, mais propriamente sediada na localidade de Vestiaria, empresa ícone na louça de Alcobaça, que infelizmente também já encerrou há alguns anos e cuja proprietária inicial era a empresa Batista & Almeida, Limitada.

A qualidade das suas peças, perfeitamente identificáveis, no conjunto das louças de Alcobaça, quer pelos elementos decorativos, quer pelas suas cores, evidenciavam a qualidade dos seus artesões, em especial dos seus decoradores.
A sua história é conhecida, e foi bastante bem retratada, através de uma interessante publicação (fonte 1), a qual aqui reproduzimos:

“A “Vestal” – ou “Vistal”, como também era denominada nos seus primeiros anos – foi fundada em Fevereiro de 1947 por António Branco, Joaquim Batista Branco, Veríssimo de Almeida e Acácio Bizarro.

A sua primeira fornada teve lugar em 11 de Julho do mesmo ano. Nessa data, eram pintores Leopoldo Machado, Noel Costa, Augusto Moreira, Joaquim Dias Marques e Mário Silva; Carlos Fernandes era oleiro rodista; Acácio Bizarro, o forneiro; Veríssimo de Almeida era fornista; o quador de barro era Manuel Clementino; eram aprendizes José Coelho e António Amado – onze pessoas, no início.

A sua produção destinava-se essencialmente ao mercado local e Lisboa. Entretanto, em 1948, a quota de Joaquim Batista Branco foi comprada por António Henriques Real. Uma vez que o novo sócio possuía já uma empresa de distribuição sediada na capital, a “Vestal” atingiu assim novos horizontes. Com efeito, após a I Feira das Indústrias, a fábrica projectou-se no mercado externo, tendo sido a Grã-Bretanha o primeiro foco. Até 1960, a “Vestal” desenvolveu-se atingindo cerca de cento e cinquenta funcionários.

As matérias primas utilizadas eram o barro dos Capuchos, chumbo proveniente da sucata, estanho de Belmonte e tintas importadas de Inglaterra e da Alemanha. A sua produção consistia em pratos de parede, jarras, fruteiras, bengaleiros, castiçais, galheteiros, entre outras variadíssimas peças. Além das decorações populares características desta louça, em que as flores são elemento dominante, a “Vestal” introduziu também temas históricos, pintados em talhas e pratos – desde efemérides como a Restauração de 1640 ou a Tomada de Lisboa aos Mouros. Outros motivos de sabor erudito figuram em algumas peças de faiança daquela fábrica: sonetos de Camões, poemas de Guerra Junqueiro e João de Deus, figuras como Vasco da Gama, António de Oliveira Salazar ou Chopin, foram retratados, tal como alguns pintores e seus quadros – Goya, Da Vinci. Também a visita da Rainha Isabel II de Inglaterra a Alcobaça, em 20 de Fevereiro de 1957 levou à elaboração de uma interessante talha. Todos estes motivos foram introduzidos por um funcionário que foi admitido na empresa em 1952 – Hélder Lopes – que veio a tornar-se sócio da “Vestal” em 1962.

Pela “Vestal” passaram destacados pintores, além dos que estavam na data da fundação: Almeida Ribeiro, António José, Luís Cipriano da Silva, Luís Ferreira da Silva e Joaquim Pereira Assunção (conhecido por Marcos).

Tal como a “Olaria de Alcobaça”, também a “Vestal” fez imitações da louça antiga do Juncal, bem como dos pratos conhecidos por “aranhões”. Nos dias de hoje ainda a “Vestal” continua a fabricar a louça típica de Alcobaça. No entanto, em 1968, os seus antigos fornos artesanais foram substituídos por outros eléctricos, que mecanizaram e aumentaram a produção – mas que tiraram de vez a cor genuína da louça regional.”

A Vestal encerrou as suas portas no início deste século, mais precisamente em 2002, pese embora só passados 9 anos foi considerada falida, a 9 de Setembro de 2011, a então denominada VESTAL – Faianças de Alcobaça, Lda.

Para caracterizar, identificar e catalogar as peças de uma fábrica, confirmando a veracidade das mesmas, nada melhor que ter os catálogos.

Que saibamos a Vestal durante os seus 54 anos de laboração teve dois catálogos, um na década de 50, que nem encadernado era, mas que possuía duas ilhoses para agrupar as páginas e outro posterior, cremos, na década de 70, em que todas as peças que produziam eram apresentadas, de forma temática e devidamente numeradas.










Há bastante tempo que porfiávamos pelo primeiro catálogo, pois sabíamos que o mesmo existia, mas não o tínhamos, o que finalmente conseguimos, mas não foi fácil….





É um fascínio e uma grande satisfação ter catálogos das peças de faiança artística, neste caso da VESTAL, o que facilita grandemente a identificação e inventariação das peças que surgindo.

Esta satisfação, distribua-a convosco, amantes das faianças.


FONTES:

1) - “Cerâmica de Alcobaça, Duas Gerações”, edição do Museu de Alcobaça, 1992, texto de Jorge A. F. Ferreira Sampaio e Raul J. Silveira da Bernarda.

2) – “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente”; exposição de 6 Abril a 4 de Maio 2011 – Catálogo da exposição, coordenador: Luís Afonso Peres Pereira.

3) – “História da Industria na Região de Leiria – Cerâmica”, Edição Jornal de Leiria, revista integrante da edição n.º 1558, do Jornal de Leiria, em 22.05.2014.



quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Jarra policromática da Estatuária Artística de Coimbra

Apresentamos uma jarra policromática, com pintura manual, da Estatuária Artística de Coimbra, peça rodada, marcada no tardoz, com a identificação do número de catálogo 587 e escrito manualmente “Estatuária”, “Coimbra”, “Portugal” e a assinatura do autor, cremos, indecifrável.

Trata-se de uma interessante jarra, baixa, bojuda, de boca larga, com decoração floral policromática: verde, azul, amarela, vermelho e castanho claro, com ornatos em curva. Possui dois filetes azuis junto à bordadura da boca, três na estrangulação entre a boca e o bojo, sendo a do meio larga, e mais duas junto à base, sendo a que está mesmo no limite da base, larga.

Presume-se que seja uma peça de fabrico no período entre 1943 e 1947 do século passado.

Mais uma peça referenciada, para caracterizar o fabrico da Estatuária Artística de Coimbra.




FONTES:


quarta-feira, 29 de outubro de 2014

JARRA COM DUAS ASAS, TIPO ANFORA, DA FABRICA DE CERÂMICA DE SOARES DOS REIS, GAIA

As faianças não são só pratos, travessas e terrinas, há muitas outras peças, quer utilitárias domésticas, quer utilitárias não domésticas, quer decorativas – vamos pois efectuar um percurso por essas outras peças.

Reportamos-nos já a uma interessante peça em faiança da “Fábrica de Cerâmica de Soares dos Reis”, em Gaia, assinada por um tal “José”.
Trata-se de uma jarra alongada com duas asas elípticas, gargalo não muito largo, assemelhando-se a uma ânfora, com uma cor de base tipo branco leitoso e uma exuberante decoração vegetalista policromática, pintada à mão, com largos filetes azuis e amarelos no bordo do gargalo e no limite da base, tendo aqui mais um filete de contas, na cor grená, sobre o vidrado.

As asas, lateralmente estão decoradas a azul forte e de frente com uma decoração amarela, com frisos acastanhados.

Peça partida no pé e mal colada, mas que mesmo assim não deixa de ter o seu valor, pela raridade da mesma – é inegável como logo se reconhece como sendo um fabrico de “Soares dos Reis”.

Nesta fábrica habitualmente consideram-se dois períodos distintos da sua fabricação, o primeiro de 1915 ou 1919 a 1941 e o segundo de 1941 a 1964.

Cremos que a peça que apresentamos se reporta ao segundo período de fabrico, provavelmente da década de 40 ou 50.

Aqui fica o registo e apresentação da peça.


FONTES:


2)Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987


3) “A Cerâmica Portuense – Evolução Empresarial e Estruturas Edificadas” – Teresa Soeiro, Jorge Fernandes Alves, Silvestre Lacerda e Joaquim Oliveira, Edição Portugália, Nova Série, Vol. XXI, 1995.

sábado, 25 de outubro de 2014

EXPOSIÇÃO DE PRATOS EM FAIANÇA E PORCELANA EM LISBOA

Está a decorrer em Lisboa, no Centro das Artes Culinárias, no Mercado de Santa Clara, no Campo de Santa Clara, em Lisboa, (onde decorre a Feira da Ladra, às terças e sábados) uma interessante e bem organizada exposição de pratos.

Trata-se de uma exposição intitulada. "VAMOS PÔR TUDO EM PRATOS LIMPOS", que percorre todo o percurso da evolução do prato, desde "quando não existia", até aos pratos de hoje "descartáveis", fazendo uma interessante retrospectiva pela fabricação do prato em Portugal.

Percorre e apresenta os vários fabricos, os mais relevantes, em cada época, os vários tipos de pratos, de decorações; passa pela faiança, pela porcelana e pelos outros materiais de que foram e são efectuados os pratos.

Apresenta uma introdução histórica ao prato, através de painéis informativos, sobre os quais, superiormente, são expostos, de forma apelativa e convidativa, conjuntos de 18 pratos.

Igualmente são apresentados apontamentos de comparação e enquadramento do fabrico dos pratos em Portugal.

Eventos destes são sempre bem recebidos, e de louvar. Só é pena não haver um catálogo desta exposição, com as imagens das peças expostas, nem que fosse só em PDF.

Recomendo a todos que façam uma visita a esta exposição. Aqui fica o cartaz  apelativo da exposição.


Estão de parabéns os promotores e organizadores desta exposição !

PRATOS DE ALCÂNTARA, MOTIVO BORBOLETA (?)

As faianças da fábrica de Alcântara continuam-nos a surpreender continuamente, com o surgimento de peças com motivos desconhecidos.

O presente prato raso, de motivo desconhecido até à data, é um espécime decorado em tons policromados, nas cores de rosa, verde, castanho, azul e amarelo com desenho baseado na representação de dois arranjos florais, um de menor dimensão e outro maior, com um insecto, uma borboleta com asas azuis celestes e amarelas.


Trata-se de uma interessante peça, com uma faiança mais fina do que habitualmente Alcântara apresenta, com um filete dourado na bordadura da aba e com os motivos policromados aplicados na bordadura mas que se prolongam até ao fundo do prato, constituindo um exemplar não muito vulgar, quer pela textura da pasta, quer pelo motivo e acima de tudo pela decoração policromada.


Possui gravada na massa a marca de “LOPES & C.ª”, pelo que o seu período de produção, segundo o livro Ceramica Portugueza, do autor José Queiroz, 1907,  pp. 356, item 284, deverá ter começado em 1897.

POST-SCRIPTUM:

Na verdade o elemento mais relevante e notório na decoração desta peça é a borboleta, quer pela sua apresentação, exposição ou mesmo pela sua policromia (azul celeste e amarelo vivo).

Em bom tempo, o caro Luís Y (Luís Montalvão do blogue http://velhariasdoluis.blogspot.pt) me alertou para a decoração deste prato e me indicou que “é muito semelhante a um motivo usado pela Vista Alegre entre 1870-80, de que mostrei uma peça no meu blog http://velhariasdoluis.blogspot.pt/2014/10/uma-borboleta-num-jarro-da-vista-alegre.html.”

Mais, disse que: “Julgo que estas decorações traduzem uma certa influência japonesa, que veio através de França, da fábrica de Haviland de Limoges.”

Presumimos que a peça que apresentamos, da fábrica de Alcântara, seria de fabrico posterior a 1897. A peça da Vista Alegre que o Luís Y apresentou é, conforme ele indicou, de fabrico entre 1870-80.

Tal como o Luís Y refere na sua postagem acima citada este tipo de decoração, com o reporte a borboletas, foi inspirado no Japão e um artista que se destacou, na fábrica de Haviland de Limoges foi Félix Bracquemond, havendo referências da mesma (decoração) como “Limoges 1876”.

Através de uma simples e rápida pesquisa na Internet lá encontramos um açucareiro Limoges 1876, com o motivo onde sobressai a borboleta:
Tal como, quando se reportam imagens a Félix Bracquemond, logo surgem peças de porcelana com borboletas
Digamos que foi um motivo recorrente à época,  em que as fábricas iam-se copiando umas às outras, nestas decorações, provavelmente mais ao gosto da época. 

FONTES:


2)Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987