A Fábrica de Louça de Sacavém continua
a ser um mistério devido ao incontável número de peças que fabricou,
continuando-se a descobrir peças ainda não inventariadas ou conhecidas.
O prato em apresentação |
Tudo isto a propósito de um pequeno
prato que encontramos recentemente numa banca, que um adolescente estava a
vender.
Prato de reduzidas dimensões, 21,0 cm
de diâmetro, de covo acentuado, com 3,5 cm com curiosa e interessante
decoração, aplicada a aerógrafo sobre stencil
(chapa recortada), a duas cores, verde seco e rosa pálido, com motivos florais
e abstractos na aba do prato.
´ A intrigante decoração do prato |
Peça de formato liso, cor
monocromática, creme, sobre a qual foi aplicada a decoração na aba, já
referida.
Nada nos indiciava que fosse um prato
da FLS, antes pelo contrário, inclinávamos-mos mais para uma peça de fabrico de
uma das Fábricas de Aveiro e como sendo mais uma “cópia ao gosto do artista” de
outra de outra Fábrica.
Mas eis senão o nosso espanto quando
verificamos o tardoz do pequeno prato e nos deparamos com os três anéis do
frete, com organização habitualmente atribuível à FLS – Fábrica de Louça de
Sacavém.
O tardoz do prato e a inequívoca fábrica e período de fabrico |
Mas não havia dúvidas, tinha gravado
na pasta a marca COROA, sob a mesma a palavra “SACAVÉM” e o número “7” –
desvenda-se o fabrico, cria-se o mistério sobre a peça!
A irrefutável marca e o mistério do símbolo numérico "7" |
Esta marca (COROA SACAVEM), como
sabemos corresponde ao período de fabrico entre 1886 e 1902). As marcas da
trempe quando o prato foi vidrar são perfeitamente visíveis, o que também ajuda
a comprovar que o mesmo foi efectuado à muito.
As marcas da trempe no acto da cozedura do vidrado |
Este tipo de decoração foi
característica dos anos 20, 30 e 40 do século passado, pelo que este prato
representa, certamente os primórdios de tal processo: a técnica da aerografia
aplicada sobre stencil (chapa
recortada).
Em suma, provavelmente, uma das
primeiras peças da Fábrica de Louça de Sacavém a ser aerógrafada, com o recurso
a uma chapa recortada e com uma decoração floral. Uma produção mais fácil, a
custo mais baixo e com decorações simples e apelativas, com base nas novas
tendências à época.
A curiosa decoração aerógrafada com stencil |
Que poderá ser do final do século XIX
ou início do século XX e por conseguinte já com mais de 110 anos!
Não nos cansamos de exibir a estranha decoração da peça em função da época do seu fabrico |
Um prato com uma decoração “muito à
frente” em relação à época em que foi produzido!
Seria um prato existente, que décadas depois, foi aerógrafado sobre chapa recortada? |
Será mesmo assim? E o n.º 7, o que
significará?
Mais um mistério do fabrico da Fábrica
de Louça de Sacavém.
FONTES:
1) -
“150 Anos – 150 Peças – Fábrica de Loiça de Sacavém” – Museu de
Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Março de 2006;
2) –
“Fábrica de Louça de Sacavém – Contribuição para o estudo da indústria
cerâmica em Portugal 1856-1974” de Ana Paula
Assunção, Colecção História da Arte – Edições INAPA – 1997;
3) –
“Porta aberta às memórias” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara
Municipal de Loures – Setembro de 2008;
4) -
“Porta aberta às memórias” – 2ª edição, Museu de Cerâmica de Sacavém –
Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2009;
5) –
“Primeiras peças da produção da Fábrica de Loiça de Sacavém: O Papel do
Coleccionador”, de Ana Paula Assunção, Carlos Pereira e Eugénia Correia, Museu
de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – 2003;
6) –
“História da Fábrica de Loiça de Sacavém”, de Ana Paula Assunção e Jorge
Vasconcelos Aniceto, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures
– Julho de 2000;
7) –
“Roteiro das Reservas”, de Ana Paula Assunção, Carlos Pereira e Joana
Pinto, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – 2000 (?);