Um dos motivos de decoração em
faiança que me fascina é o motivo “ROSELLE”, razão pela qual não decorei a
oportunidade de adquirir uma interessante caneca com soberba decoração,
fabricada na Fábrica de Louça de Massarelos.
A estampagem sob o vidrado é
verde, possuindo duas, diametralmente opostas na calote exterior desta tijela
almoçadeira.
Por outro lado também possui uma interessante
decoração no rebordo interior, com uma grinalda de cornucópias, com motivos
florais.
A decoração exterior é interessantíssima
e repleta de motivos e contextos: à esquerda um soberbo bosque com árvores
altaneiras vislumbrando-se mais ao longo, entre elas e o horizonte algumas
edificações, que nos parecem habitacionais, mas com elevadas chaminés.
Ao centro um espelho de água,
qual lago ou rio, com dois pequenos barcos, quase à margem, barcos estes que
aparentam ter carga e pessoas dentro dos mesmos e a água perde-se no horizonte,
encimado por um conjunto de nuvens.
E à direita lá surge o chalé, com
telhados de elevada inclinação e fenestração saliente, qual bowed window, com trapeiras e pequenas
janelas na empena do sótão e pináculos decorativos nas fileiras da cobertura e
chaminé com interessante capelo cilíndrico e em cúpula, integrado em exuberante
vegetação e arvoredo – cá está o motivo “Roselle”
Na base da tijela o impecável
carimbo da Fábrica de Louça de Massarelos, monocromático, estampada a verde com
a coroa real, as duas palmas laterais entrelaçados e sob o carimbo a
identificação do motivo “Roselle”, para esclarecer, caso houvesse dúvidas.
Na calote exterior do carimbo
constam as palavras “MASSARELOS” e “PORTO” e no interior do circulo central o
anagrama do período de fabrico “ECP“, correspondente à época da sua posse por
João Regis de Lima com uma sociedade, composta na sua maioria por ingleses, que
se chamava Empresa Cerâmica Portuense, Ldª., no período que medeia entre 1904 e 1912 (cremos estar perfeitamente correto
este período temporal)
A pasta possui ainda uma gravação,
em baixo revelo, alfanumérica “G” - ?, não conseguimos conjeturar a mesma.
Em suma uma
tijela, já “idosa” com uma idade, no mínimo de 103 anos e no máximo de 111 anos!
FONTES:
1) – “Faiança
Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.
2) – “Cerâmica
Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas
e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial
Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.
3) – “Faiança
Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º
Volume, Barcelos, 1985.
4) – “Cerâmica
Artística Portuense dos Séculos XVIII e XIX”, Vasco Valente, Livraria Fernando Machado
– Porto,
5) – “Cerâmica
Portuense – Evolução Empresarial e Estruturas Edificadas”, Teresa Soeiro, Jorge
Fernandes Lacerda, Silvestre Lacerda, Joaquim Oliveira, Edição Portugália, Nova
série, volume XVI, 1995.
6) - https:// velhariastralhasetraquitanas.blogspot.pt/2015/04/travessa-em-faiança-azul-e-branca-motivo-“roselle”-fabrico-do-norte-?-imitação-de-miragaia-?.html;
7) -
http://velhariastralhasetraquitanas.blogspot.pt/2015/03/travessa-em-faianca-motivo-casario-de.html;
8) -
http://velhariasdoluis.blogspot.pt/2011/02/o-grand-tour-ou-caneca-inglesa-da-john.html;
9) -
http://velhariasdoluis.blogspot.pt/2009/11/faianca-de-vilar-de-mouros.html;
10) -
http://fabricadealcantara.blogspot.pt/search/label/Motivo%20Roselle;
11) – “Fábrica de
Massarelos - Porto, 1763 – 1936”, Coordenação de Mónica Baldaque, Teresa Pereira
Viana e Margarida Rebelo Correia, edição do Museu Nacional Soares dos Reis,
1998.
12)
http://mercadoantigo.weebly.com/uploads/1/1/8/4/11849532/1400431998.png;
13) -
http://www.olx.pt/nf/coleccoes-antiguidades-cat-214/roselle;
14) – “A Fábrica de
Louça de Massarelos – Contributos para a caracterização de uma unidade fabril
pioneira”. Volume 1, dissertação de Mestrado em Estudos do Património, de
Armando Octaviano Palma de Araújo, Universidade Aberta, Lisboa, 2012.
Muito engraçada esta versão do Roselle. É muito curioso observar as diferentes formas com este padrão inglês foi adaptado cá em Portugal. Não há dúvida que correspondeu a um gosto nacional e tornou-se um dos motivos populares da faiança portuguesa.
ResponderEliminarUm abraço
Caro Luis Montalvao,
EliminarObrigada pelo comentário e por mais uma visita ao meu blog.
Concordo totalmente consigo: trata-se de um padrão decorativo muito interessante e amplamente utilizado na nossa Faiança.
Um abraço.
Jorge Gomes