AO
JEITO DE INTRODUÇÃO:
Na
senda da identificação do maior número possível de peças de loiça utilitária
doméstica produzida em Portugal, vamos agora referenciar uma fábrica da zona de
Leiria: a Cerâmica da Madalena, que produziu as louças de uso doméstico
MADALENA.
A
peça que catalogamos é um prato raso da fábrica Cerâmica da Madalena, de
faiança fina, com aba recortada e uma decoração simples, constituída por três filetes: um fino a meio da aba, na cor castanho claro, um mais grosso quase no limite da aba para o covo igualmente castanho claro e outro, mais largo, na cor azul marinho no limite da aba para o covo do prato, e com o
característico carimbo da fábrica, na cor castanho claro.
Trata-se
de uma peça cujo fabrico ocorreu, provavelmente, na segunda metade da década de
50 ou primeira da de 60 (até 1964).
UM
POUCO DE HISTÓRIA:
A
Fábrica Cerâmica da Madalena localizava-se em Leiria, mais propriamente junto à
Ponte da Madalena, e daí o nome da fábrica, a qual foi fundada a 31 de Julho de
1945, por Manuel António Pinto, então com 29 anos, aproveitando um dos momentos
marcantes na indústria cerâmica Nacional.
Tratava-se
do período pós 2.ª Guerra Mundial (1939-45), na altura em que o mercado
americano se abre ao consumo de produtos cerâmicos feitos na Europa e consequentemente
em Portugal e assim o comércio internacional traz um impulso à produção
nacional, nomeadamente das faianças e Manuel António Pinto soube aproveitar tal
oportunidade.
Por
outro lado, Portugal também saía de um período, economicamente, mais difícil e
consequentemente o consumo iria aumentar.
Um
desentendimento entre os sócios da Cerâmica Madalena, em 1951, provocou que a
mesma fosse arrendada a António Freitas, o qual se limitou a gerir a mesma,
produzindo, não a modernizando e consequentemente deixando-a ficar, quer a
nível de instalações, quer de equipamentos, desgastada e obsoleta.
Anos
depois, após cessar o arrendamento de António Freitas, a mesma foi gerida por
Manuel António Pinto, seu fundador e por Manuel Barbeiro Costa, até 1964, já
que em Setembro a sociedade dos mesmos foi dissolvida.
Passou
então a ser gerido por José Ferreira Dias, até 1970, sendo que a fábrica só
produziu louça doméstica até 1968, tendo nesse ano iniciado a produção de louça
sanitária e no ano seguinte a produção de azulejos e tijolo refractário.
Em
Abril de 1970, José Ferreira Dias constitui uma nova sociedade, a Nova Cerâmica
da Madalena, com sede em Queluz, que para além dele, passa
a ter mais três sócios, um deles a conhecida empresa J. Pimenta
(Empreendimentos Urbanos e Turísticos J. Pimenta, Lda.).
Anos
volvidos, mais precisamente em 1977, a sede da empresa passa novamente para
Leiria e um ano mais tarde passa a sociedade anónima.
Nesta
época a produção era muito deficiente: sem planeamento, sem controlo a todos os
níveis, com níveis de produção muito baixos, com o recurso a métodos retrógrados e sem medidas se protecção e segurança dos operários.
A
empresa passou por um período difícil e conturbado, estabilizando a partir de
1988, a partir da mesma ter sido adquirida, pela ROCA, S.A., (em 31/12/1987), e
cuja denominação MADALENA acabou quatro anos depois, passando a ROCA.
A
SUA PRODUÇÃO DE LOIÇA:
A
produção prevista inicialmente era a de loiça doméstica utilitária e decorativa
a partir do barro branco, mas acabou por adiar tal pretensão.
Tal
produção assemelhar-se-ia à que à época se produzia em Coimbra, Aveiro e na
Fábrica de louça de Sacavém, na região de Lisboa.
Começou
pois a produzir peças tradicionais em barro vermelho, com o recurso a um oleiro
da localidade da Bajouca, um dos principais centros oleiros da região, onde a actividade de olaria era intensa e importante, com especial relevo para a Olaria
da Bajouca.
Alguns
anos mais tarde iniciou então a produção de louça de barro branco, tendo Manuel
António Pinto contratado dois oleiros de Coimbra: Alexandre Soares e Luís
Ribeiro.
Dedicava-se
ao fabrico de loiça utilitária doméstica comum, em faiança, com maior consumo,
na zona da Maceira e na de Leiria, como seria óbvio, dada a proximidade, pese
embora não tenha deixado de chegar a grande parte de Portugal, concorrendo com
outras marcas à época.
Trata-se
de uma cerâmica de qualidade média, de custo acessível e com decorações ao
gosto da época pelo que rapidamente se tornou muito popular, em especial na
região.
A
produção desta fábrica assemelhava-se à da Companhia de Fábricas de Cerâmica
Lusitânia, em particular a Lusitânia de Coimbra.
OS
SEUS MOTIVOS:
As decorações da louça cerâmica doméstica da
fábrica Madalena eram ao gosto da época.
Os
motivos da loiça que produziu eram essencialmente florais, arranjos florais,
policromáticos, com bastante incidência nas rosas, quer fossem pratos, travessas
ou mesmos conjuntos de chá ou café.
Os
arranjos florais geralmente eram articulados com linhas geométricas e com
frequentes filetes dourados. Estas decorações assemelhavam-se ás utilizadas nas
peças da Companhia de Fábricas de Cerâmica Lusitânia, em particular a Lusitânia
de Coimbra e por vezes às da Fábrica de Massarelos.
Outro
motivo interessante, com algumas variantes, baseado em cenas bucólicas, com o
“Casal Romântico”, mais propriamente na década de 60, aproveitando a moda à
época, em que outras fábricas também produziam este motivo.
Este motivo fazia
lembrar os quadros do pintor francês Fragornard, o romantismo francês, ao
estilo Luís XVI, muito em voga na época
A
figuração da louça utilitária/decorativa, apoiava-se também em motivos regionais
nacionais, características das antigas províncias e dos seus trajes
característicos.
AS SUAS MARCAS CONHECIDAS:
Só
se conhecem duas marcas com que todas as peças da Fábrica da Madalena de Leiria
eram carimbadas.
A primeira, mais antiga e mais elaborada, tratava-se de um
carimbo, na cor castanho claro ou verde-claro, que possuía um escudo onde se
encontram inseridas as palavras MADALENA, LEIRIA que contornam um círculo, dentro do qual está desenhado uma
flor-de-lis (como registo do rio Lis, que passava junto à fábrica e em Leiria)
e sob o escudo encontra a palavra PORTUGAL.
Cremos
que esta marca foi usada desde a fundação, em 1945 e até 1964.
A segunda marca, posterior, era muito mais
simples, pois só possuía as palavras LEIRIA e MADALENA, geralmente na cor azul,
cinzenta ou preta.
Cremos que esta segunda marca foi usada
entre os anos de 1964 até 1968, ano em que se deixou de produzir esta marca de
loiça utilitária doméstica.
FONTES:
1) – “História da Industria na Região de
Leiria – Cerâmica”, Edição Jornal de Leiria, Edição n.º 1558, de 22.05.2014, Edição: Jorlis - Edições e
Publicações, Lda.
2) - “Cerâmica – Reflexo de uma cultura –
Catálogo de exposição”, (Exposição Representativa da Industria Cerâmica na
Região de Leiria) – Paulo Bártolo, Lina Durão e Telma Margarida Ferreira,
Editor IPL – Instituto Politécnico de Leiria, Leiria, Setembro de 2012.