sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Prato de Massarelos, Motivo FENIANO


Prato de Massarelos, Motivo FENIANO

 
Apresentamos mais um prato de fabrico da Fábrica de Loiças de Massarelos, com o motivo “FENIANO”.



Trata-se de um prato com decoração vegetalista, estampada na aba, que se prolonga até ao limite do fundo do prato, em tons de cinzento, com decoração de cornucópias na bordadura da aba e vários filetes no limite do covo na mesma cor.
 


 
Possui florão hexagonal no fundo, com seis pequenas decorações periféricas.
 


Fabricado no período entre 1873 e 1878, sob a gerência de Sá Lima & Irmão (lá estão no circulo central do carimbo “S”, “L” e “I”), em função do carimbo exibido no tardoz do prato.


A estampagem encontra-se com algumas impressões de fabrico, situação recorrente à época atendendo ao tipo de estampa aplicada e da sua consequente dificuldade, conjugada com os poucos conhecimentos dos seus aplicadores.

O prato encontra-se furado no centro do florão no fundo e ainda com o arame para aplicação do mesmo em parede.

 
 

Desconhecemos quais as razões deste motivo, mas pensamos que esteja associado ao movimento feniano surgido a meados do século XIX, e que se tratava de um movimento político pró-separação da Irlanda, tendo-se posteriormente chamado aos irlandeses antibritânicos, fenianos.

Mais tarde, pessoas contestatárias aos respetivos regimes políticos governantes, foram também designados de fenianos.

No Porto e no segundo quartel do século XIX, liberais e republicanos e um grupo de personalidades tomou a iniciativa de se organizar para fundar uma associação para intervir cívica e culturalmente na vida da cidade, não esquecendo a ação recreativa e beneficente.

 

 
Reuniam-se no café-restaurante Águia d´Douro, mais tarde também cinema, na Praça da Batalha, os quais se viriam a constituir como o Clube Fenianos Portuenses, em 25 de Março de 1904.

Cremos ter sido um prato com o motivo alusivo a tal movimento e antes de se constituir como clube.

 
FONTES:


2) – “ A Fábrica de Louça de Massarelos – Contributos para a caraterização de uma unidade fabril pioneira – Volume I, de Armando Octaviano Palma de Araújo; Dissertação de Mestrado em Estudos do Património, Universidade Aberta – Departamento de Ciências Sociais e de Gestão, Lisboa – 2012” 


4)- http://www.novoperiscopio.blogspot.com/…/o-clube-fenianos-portuenses.html;

Prato de Massarelos, Motivo Beira


Prato de Massarelos, Motivo Beira

Apresentamos hoje mais um prato de fabrico da Fábrica de Massarelos, com o motivo “Beira” com decoração vegetalista, estampada na aba, que se prolonga até ao fundo do prato, em tons de azul.

 
Possui filetes na bordadura da aba e no limite do fundo em dourado, bem como uma bordadura decorativa no limite do covo.
 
 
Trata-se de fabrico do período entre 1873 e 1878, mais especificamete desde 08.09.1873 a 30.01.1878, sob a gerência de Sá Lima & Irmão em função do carimbo exibido no tardoz do prato (lá estão no circulo central do carimbo “S”, “L” e “I”).
 
 
Cremos tratar-se de um prato de fabrico reduzido, tentando fazer concorrência aos demais fabricos da época, de outras fabricas, as quais também possuíam o mesmo motivo, mas com decoração diferente, nomedamente da Fábrica de Louças de Sacavém.
 
Erradamente também há quem designe este prato com esta decoração, como sendo o motivo "Paz", mas na verdade não está correcto.
 
Encontravam-se à venda em dois sítios (OLX e COISAS) pratos com a mesma decoração, mas em verde, os quais possuiam a respectiva marca estampada, na cor verde, no tardoz,  não deixando assim dúvidas, pese embora sejam de fabrico posterior, do período de "Chambers & Wall", correspondente ao período de 18.09.1912 a 11.03.1920.  
 
 
 
 
 
FONTES:
 
2) – “ A Fábrica de Louça de Massarelos – Contributos para a caraterização de uma unidade fabril pioneira – Volume I, de Armando Octaviano Palma de Araújo; Dissertação de Mestrado em Estudos do Património, Universidade Aberta – Departamento de Ciências Sociais e de Gestão, Lisboa – 2012

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

TRAVESSA EM CANTÃO POPULAR NA COR AMARELO-OCRE – INVULGAR – FÁBRICA DE LOUÇAS PINHEIRA – AVEIRO


TRAVESSA EM CANTÃO POPULAR NA COR AMARELO-OCRE – INVULGAR – FÁBRICA DE LOUÇAS PINHEIRA – AVEIRO

As peças em Cantão Popular continuam a merecer a atenção de todos nós, quer pelo fascínio que nos causam, quer pelos mistérios que encerram, começando logo pelo desvendar da fábrica onde foram produzidas, pois a maioria das mesmas não possui qualquer marca ou carimbo.

Quando se fala em Cantão Popular, na generalidade todos associam a cor azul das peças, azul mais forte, menos forte ou mesmo debotado e sempre a ingenuidade na decoração, na maioria ao gosto oriental.

Mas falar de peças de Cantão Popular em amarelo-ocre ou mesmo cor-de-rosa velho é algo não habitual, podendo-se considerar mesmo raro.


Tudo isto a propósito de uma travessa oval, com decoração de Cantão Popular, na cor amarelo-ocre e com carimbo!

Algo invulgar – pois quando vemos qualquer peça de Cantão Popular, mesmo identificando ou presumindo a sua origem de fabrico não resistimos a ver a sua base, tentando desvendar alguma marca ou carimbo, para certificação da sua origem de fabrico.

Com a presente, adotamos procedimento idêntico e logo nos disseram que era de Aveiro, o que também já tínhamos presumido pela sua decoração e composição; mais reforçaram, perante um carimbo na cor azul, que era “Aradas” – ao que nada dissemos, como que aceitando a informação.

 
Na verdade, com a análise detalhada efetuada, à posteriori, facilmente identificamos o carimbo da mesma, como sendo de fabrico da “Louças Pinheira – Aveiro”, quer pelo conhecimento do mesmo, quer por comparação com outras peças.

A decoração, com motivos orientais habituais lá possui a ponte com os três arcos, mas sem figurantes; o Palácio do Mandarim e o Pagode, mais os lagos que envolvem os mesmos e os salgueiros e demais vegetação, alguma bastante estilizada, na cor amarelo-ocre e preto, envolta num largo filete no limite do covo com a aba da travessa, em amarelo-ocre; e num fino filete preto.

 

A decoração da aba da travessa também é rica e intensa, preenchendo na totalidade a mesma, com alternância de motivos: cobertura do pagode, salgueiros, outros motivos vegetalistas, apontamentos de lagos, etc., ora na cor amarelo-ocre, ora pretos; rematando a aba um filete de largura mediana na cor amarelo-ocre. 


Há faianças em Cantão Popular carimbadas e por conseguinte, identificando de forma inequívoca a sua origem de fabrico, por exemplo as que apresentamos a seguir, tentendo contribuir para a identificação dos vários fabricos conhecidos.

1.Lusitânia (Coimbra) (1):




- em tons de azul claro;

- com filete triplo de bordadura da aba, dois finos e o central mais largo;

- com o espinhado pelo exterior da aba e a bordadura em ziguezague pelo interior;

 
2. Cavaco (Gaia) (1):



 
- em tons de azul escuro, muito forte;

- com filete duplo de bordadura da aba, um largo pelo exterior e um fino pelo interior;

- com o espinhado pelo exterior da aba e a bordadura em ziguezague pelo interior;

 

2.1 outro prato de fabrico Cavaco – Gaia (2):



 

Características marcantes que se mantêm:

- em tons de azul escuro, muito forte;

- com filete duplo de bordadura da aba, um largo pelo exterior e um fino pelo interior;

- com o espinhado pelo exterior da aba e a bordadura em ziguezague pelo interior;

Características diferenciadoras:

- decoração do covo com edifício com arquitetura mais ocidental;


2.2 outro prato de fabrico Cavaco – Gaia:



Características marcantes que se mantêm:

- em tons de azul escuro, muito forte;

- com filete duplo de bordadura da aba, um largo pelo exterior e um fino pelo interior;

- com o espinhado pelo exterior da aba e a bordadura em ziguezague (canelura) pelo interior;


2.3 travessa oval de fabrico Cavaco – Gaia:


 
Características marcantes que se mantêm:

- em tons de azul escuro, muito forte;

- com filete duplo de bordadura da aba, um largo pelo exterior e um fino pelo interior;

- com o espinhado pelo exterior da aba e a bordadura em ziguezague (canelura) pelo interior;
 

2.3 travessa oitavada de fabrico Cavaco – Gaia:

 
Características marcantes que se mantêm:

- em tons de azul escuro, muito forte;

- com filete duplo de bordadura da aba, um largo pelo exterior e um fino pelo interior;

- com o espinhado pelo exterior da aba e a bordadura em ziguezague (canelura) pelo interior;
 

3. Fábrica da Pinheira  (Louças Pinheira) – Aveiro (1):

 

 
- em tons de azul escuro;

- com filete duplo de bordadura da aba, um largo pelo exterior e um fino pelo interior;

- com o espinhado pelo interior da aba e a bordadura em ziguezague pelo exterior; (a principal diferença entre os fabricos do Norte e do Sul – sendo uma característica específica do fabrico de Aveiro).

 
3.1 Outro prato, em amarelo-ocre e preto de “Aveiro”, com características da Fábrica da Pinheira (4):


 
Características marcantes que se mantêm:

- com filete duplo de bordadura da aba, um largo pelo exterior (em amarelo ocre) e um fino pelo interior (preto);

- com o espinhado pelo interior da aba e a bordadura em ziguezague pelo exterior;

- decoração habitual, ao gosto oriental, (aqui nas cores amarelo ocre e preto);

 
3.2 A nossa travessa oval, em amarelo-ocre e preto de “Aveiro”, com características da Fábrica da Pinheira:




Características diferenciadoras:

- soberba decoração na aba, mas sem o espinhado e a bordadura em ziguezague, mas com um filete fino na bordadura da aba e um largo na base da aba, na separação com o covo.

 

3.3 Outra peça (azeitoneira), de “Aveiro”, fabrico das Louças da Pinheira, com marca diferente (5):



Características diferenciadoras:

- abrangente decoração na aba, sem os habituais espinhado e bordadura em ziguezague, mas com um filete fino na bordadura da aba e um, mais largo, na base da aba, na separação com o covo.

- a decoração da aba é um alternativo de zonas ziguezagueadas, separadas por pontos, de outras zonas com as nuvens e os lagos.

 

4. Fábrica de Aradas – Aveiro (2):

 
 
- em tons de azul claro;

- com uma decoração mais fina, mais industrializada, menos popular;

- sem recurso ao espinhado e à bordadura em ziguezague na aba, mas com uma decoração cruzada;

 
5. Lusitânia – Lisboa (3):




- em tons de azul escuro e claro;

- com filete triplo de bordadura da aba, dois finos e o central mais largo;

- com o espinhado pelo exterior da aba e a bordadura em ziguezague pelo interior, secundada interiormente por um xadrez com círculos;


6. Fábrica de São Roque – Aveiro (3):


 
- em tons de azul médio e claro;

- com três filetes finos na aba, um bordadura, e dois finos na separação entre a aba  e o covo, com elementos decorativos a xadrez, violas e outros, entre os mesmos;

- com uma  canelura (bordadura em ziguezague) pelo interior da aba;

Características diferenciadoras:

- Decoração do covo com edifício com arquitetura mais ocidental, com três pisos;


6.1 Outra Peça de São Roque (Aveiro):



 
 

7. Montargila – Algés – Lisboa (5):

 

 

- em tons de azul médio;

- com dois filetes no limite da aba, um largo pelo exterior e outro fino pelo interior, no separação entre a aba e o covo, igualmente dois filetes, um fino pelo exterior, num azul mais claro e um mais largo, num azul mais escuro.

- entre os dois conjuntos de filetes e pelo limite interior dos da bordadura da aba, um espinhado duplo;

- decoração ao gosto oriental, trabalhada, com motivos com pormenores cuidados, mas também já com alguns edifícios desenhados com traça ocidental;

 
8. Faianças Vitória -Aveiro (1): 


 
 

Características marcantes que se mantêm:

- os habituais elementos decorativos: a ponte, o palácio, as nuvens, os lagos (a água);


9. Faiança de Gaia (???) – Cantão em tons de rosa (6):


Características marcantes que se mantêm:

- os habituais elementos decorativos: a ponte, o palácio, o salgueiro, as nuvens, os lagos (a água);
 
- com dois filetes no limite da base, um largo pelo exterior  (inferior) e outro fino pelo interior (superior), e igualmente dois filetes, um fino e outro mais largo, no limite do bojo.


10. Fábrica de Carritos e Caceira – Figueira da Foz (2):



 
Nota: Só se conhece esta caneca quadrilobada (2) do Museu Municipal Santos Rocha, da Figueira da Foz, cuja respetiva ficha identificativa aponta para a Fábrica de Carritos (localidade), sucessora da Fábrica de Caceira (localidade próxima de da Carritos), dos mesmos proprietários.

Características marcantes que se mantêm:

- os habituais elementos decorativos: a ponte, o palácio, o salgueiro, as nuvens, os lagos (a água);



Em suma, o motivo Cantão Popular reveste-se de características ímpares, quer pela quantidade de fábricas que produziram o mesmo e que ficarão incógnitas para sempre; quer pela diversidade de variantes e estilos adotados; quer mesmo, pela menos usual, aplicação de outras cores que não o azul, tal como o amarelo-ocre da peça apresentada ou mesmo o rosa, de outra peça identificada.

Será que alguma vez se conseguirá efetuar um estudo que sistematize e identifique, de forma mais ou menos concreta, os vários fabricos de Cantão Popular, existente, de Norte a Sul?  


FONTES: