Par de Pratos de
Massarelos, Motivo Alcântara, com estória
Descendentes de antigas pessoas,
provavelmente, da gerência ou proprietários da Fábrica de Massarelos venderam todo o recheio de uma antiga casa familiar existente
no Norte, incluindo faianças.
Entre essas faianças existiam dois pratos,
de fabrico de Massarelos, com o
motivo “Alcântara”, segundo nos
informaram trata-se de pratos de presentear, isto é pratos de coleção, para
oferecer e não circulados, para uso utilitário, doméstico.
Indicaram-nos que os poucos que foram efetuados,
foi em “homenagem à Fábrica de Alcântara”
e que teriam sido dados alguns aos então proprietários da Fábrica de Alcântara – teria sido assim?
Desconhecemos e provas não há.
Trata-se de pratos covos, motivo “Alcântara”, com decoração vegetalista,
triplica, estampada na aba, que se prolonga até ao fundo do prato, na cor
monocromática verde, com a qualidade e o requinte que caracteriza a louça de Massarelos.
Um deles possui defeito na estampagem
(falta uma pequena zona triangular, o que o torna uma raridade).
Trata-se de louça já com influência
inglesa, com aplicação de decalques, natural em função da respetiva gestão por
ingleses, em que a pasta era composta de barro inglês, caulino inglês, pedra de
Cornwall e pederneira de Dieppe moída na Inglaterra, pese embora
também se utilizasse barro de Barracão,
da zona de Leiria, caulino da Senhora da Hora e areia belga, conforme
conseguimos apurar em bibliografia (2).
É fabrico do período de CHAMBERS e WALL, dito 5º período, pois
possuem gravação na pasta “MASSARELOS”,
“PORTO” E “2” e carimbo, na cor verde, com as indicações “MASSARELOS”, “C e W” e “PORTO” e por baixo do mesmo o nome do
motivo “ALCANTARA” e ainda a letra “H”.
Corresponde pois ao período de fabrico de 1912
a 1920 em que a gestão foi inglesa composta por Archibald James, Charles Frederick Chambers e seu filho, Charles John Andresen Chambers, tendo sido
formada a sociedade Chambers & Wall,
constituída a 18 de Setembro de 1912; até ao incêndio da fábrica em 1920, a 11
de Março.
De referir que este motivo é muito
semelhante ao motivo “Peniche” da fábrica
de “Alcântara”, diferindo no remate
da composição vegetalista e na falta de base decorativa (trama) sob os motivos,
conforme as imagens seguintes evidenciam tal situação.
Mais uma vez, vemos a “interligação” ou “cruzamento”
entre as fábricas de Massarelos e de Alcântara e a “presença” ou “amizade”
dos Chambers.
Não nos
podemos esquecer que há louça fabricada em Alcântara que possui a gravação na
massa de “CHAMBERS e C.ª”, que ainda
não conseguimos desvendar, mas que presumimos ser da parte final do fabrico da
fábrica de Alcântara, por volta da década de 30, do século passado, sob a
administração da mesma família “Chambers”,
que foi proprietária e gestora da fábrica de Massarelos.
Após o incêndio da fábrica de Massarelos, a
firma “CHAMBERS e WALL” transferiu a
sua produção de louça para uma fábrica onde produziam grés em Roriz,
Quebrantões do Norte, freguesia do Bonfim a qual venderam em 1936 à Companhia
das Fábricas Lusitana, a 29 de Fevereiro.
O referido empresário inglês Charles John Andresen Chambers esteve “muito
ligado à fábrica de Massarelos e à indústria cerâmica”, que “ultrapassou duas
décadas” – só na de Massarelos foi sócio durante 21 anos.
Algumas destas constatações foram
confirmadas, anos mais tarde, por Charles A. Chambers, filho de Charles John Chambers.
Charles
Frederick Chambers,
nasceu a 28.05.1867 e faleceu a
04.04.1957, casou com Olinda de Brito Andresen, em 29.08.1889, tendo tido
quatro filhos, sendo varão Charles John Andresen Chambers, que nasceu em 29.06.1893
e viria a casar com Branca Lavínia Pankhurst Soares de Bulhão Pato.
(Charles Frederick Chambers, filho)
Os pais de Charles Frederick Chambers foram Charles Frederick Chambers, que
nasceu em 17.01.1830 e faleceu em 1900 e Maria Júlia Kelly de Aguillar da Cunha
Lima, que nasceu a 18.04.1949 e faleceu em 1932.
(Charles Frederick Chambers, pai)
De salientar que não se encontram
devidamente catalogadas muitas peças, de fabrico de Massarelos, em mãos de
colecionadores ou de simples cidadãos atentos e interessados pelo património
nacional, demonstrativo do interesse que este tipo de louça motiva perante os
mesmos.
Sabemos que há, pelo menos, um colecionador
particular que possui um ou dois pratos com o motivo semelhante ao que
apresentamos.
Em
várias épocas de fabrico se constata que fábricas distintas fabricaram louça
com motivos semelhantes.
Várias
situações destas já se detetaram nomeadamente entre as Fábricas de Massarelos e de Alcântara, com a utilização de estampagens de motivos muito
semelhantes, cada uma com o seu carimbo habitual, à exceção de algumas peças
(poucas) de Alcântara com a marca de
fabrico gravada na massa de “CHAMBERS
& C.ª”, tal como nós já referimos e também no blogue (4).
Algumas
peças produzidas entre 1912 e 1920 pela Fábrica de Massarelos, foram “repetidas” na fábrica de Alcântara, mas sem marca na pasta de “Lopes & C.ª”, mas sim de “CHAMBERS
& C.ª”.
Isto
leva-nos a equacionar que provavelmente alguns anos após o incêndio da Fábrica
de Massarelos em 1920 e à produção de
menor qualidade efetuada na fábrica de Roriz, um dos Chambers, eventualmente Charles
Frederick Chambers ou o seu filho, Charles John Andresen Chambers, com o espirito empreendedor que tinham e o
elevado gosto e dedicação à Cerâmica tenha administrado a Fábrica de Alcântara, eventualmente no final da
década de 20 ou início da década de 30, do século passado.
Fábrica
esta com um equipamento menos tecnológico que o de Massarelos e com processos produtivos menos industrializados e
profissionalizados, que conjuntamente com as dificuldades produtivas, dado as
dinâmicas operárias e relacionais serem muito diferentes entre as de Massarelos e de Alcântara, a produção não foi a prevista, com a qualidade desejada
e nem adequada às pretensões dos Chambers,
começando a fábrica a definhar e criando as condições para o seu encerramento.
Teria
sido assim? É uma hipótese! Faltam, ainda, evidencias ou provas!
FONTES:
2)
– “ A Fábrica de Louça de Massarelos – Contributos para a caraterização de uma
unidade fabril pioneira – Volume I, de Armando Octaviano Palma de Araújo;
Dissertação de Mestrado em Estudos do Património, Universidade Aberta –
Departamento de Ciências Sociais e de Gestão, Lisboa – 2012”