Nesta época
natalícia em que as prendinhas fazem parte da nossa vivência, para presentear
familiares e amigos, somos também levados por tal atitude a presentear os
seguidores do nosso blogue também com umas prendinhas.
Hoje apresentamos a primeira e
oportunamente outra mais.
A de hoje corresponde a uma rara travessa
oitavada, com o motivo “Rapariga”, como em Portugal foi generalizado, pois mais
não é que o motivo inglês “Minerva”, com uma interpretação livre e popular, através
de decoração monocromática, a vinoso (cinzento azulado – cor de amora) e ao que
presumimos ser uma Faiança de Alcobaça, fabrico de José dos Reis (dos Santos).
Por conseguinte uma peça fabricada,
provavelmente, entre 1875 e 1897, e que pelo seu motivo e decoração, se pode
considerar, como rara.
É uma faiança monocromática a vinoso
(cinzento azulado – cor de amora), com 33,3 x 25,5 x 3,8 cm, moldada, em forma
oitavada, a partir de um rectângulo, com covo acentuado e aba ligeiramente
côncava, decorada com motivos vegetalistas, em série repetitiva, pintados a
estampilha, com recurso a “chapa”, notando-se os “pontos” com falta de vidrado
ou danificado pelas trempes quando foi ao forno.
A reserva central é soberba e pouco vulgar,
pois possui uma paisagem, com duas deusas gregas, cujo motivo corresponde ao
conhecido “Rapariga” da Fábrica de Louça de Sacavém, mas mais não é que o motivo
inglês “Minerva”, (Deusa da Sabedoria e das Artes), intensamente produzido em
várias fábricas de Inglaterra, em meados do século XIX, mas com maior
incidência pela Podmore Walker & Co.,
e pela Wedgwood.
A Fábrica de Louça de Sacavém começou a
produzir faianças com esta estampa “Rapariga” ou “Minerva” a partir de 1870 e
com maior intensidade no período de 1886 a 1894 (período da Real Fábrica de Sacavém),
quando os seus proprietários eram ingleses, os Howorth.
O motivo desta travessa é efectuado, parte à
estampilha, possui bastantes esponjados e várias pinturas e retoques à mão
livre, para acentuar a decoração e vincar o sentido de profundidade da paisagem,
nas árvores, nas balaustradas e nas escadas.
O relevo no horizonte e as nuvens tem um
contorno mais escuro e o seu interior foi cheio a pincel – pintura manual,
cremos.
Trata-se de uma travessa não marcada, com
uma massa de textura fina, de esmaltado leitoso, mais ou menos homogéneo, mas
com falhas pontuais do mesmo, semelhante ao que à época se fazia em Coimbra,
sob o qual se denota uma massa cor de grão (acastanhada).
Mas pela análise da decoração, do tipo de
pintura realizada e da comparação efectuada com outras peças, atribuídas a José
dos Reis, apresentadas, nomeadamente no livro “ Cem anos de Louça em Alcobaça”,
de Jorge Pereira de Sampaio e Luís Peres Pereira (2008), leva-nos a considerar
ser uma peça de José dos Reis.
Mas também poderia (ou poderá) ser Coimbra,
como já nos disseram, mas cremos, pela decoração, pelos esponjados (que
começaram a ser produzidos do segundo lustre do século XIX, cremos), que será,
mais provável, Alcobaça (José dos Reis), do que Coimbra. Mas, certezas
absolutas, não há!
Possui uma falha antiga na bordadura da aba
e encontra-se gateada, transversalmente, com sete “gatos” recentes, sendo
perfeitamente visível o consequente “cabelo” que a atravessa de um lado ao
outro.
Mas, apesar de tudo isto não deixa de ser
uma bela peça, pelo menos para nós…..
Em suma, a raridade da peça, constitui uma
“prendinha” para os seguidores deste blogue.
FONTES:
1) – “ Cem anos de Louça em Alcobaça”, de
Jorge Pereira de Sampaio e Luís Peres Pereira, 2008;
2) – “Faiança de Alcobaça, de 1875 a 1950”,
de Jorge Pereira de Sampaio, Estar Editora, Colecção Fundamental, 1997 (?);
3) - “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao
presente: CeRamiCa PLUS” – Galeria de Exposições Temporárias – Mosteiro de
Alcobaça; 6 de Abril a 4 de Maio 2011; Município de Alcobaça, 2011.
4) – “Faiança Portuguesa Séculos
XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.
5) – “Cerâmica Portuguesa e Outros
Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda
Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial
Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.
6) – “Faiança Portuguesa – Séculos XVIII-XIX”,
de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.