Há
algum tempo atrás numa das feiras de velharias realizadas na Marginal, entre
Lisboa e Cascais, passava algum tempo conversando com pessoa amiga e conhecedor
destas “andanças” das faianças, trocando opiniões quanto à sua conservação,
estudo e divulgação.
Esse
meu amigo, dizia que “não valia a pena perder tempo” com faianças de menor
importância, de fabricação reduzida ou mesmo de “imitação”; estamos a falar de
reproduções livres em faianças decorativas baseadas em peças de reconhecido
valor de séculos anteriores.
Reforçava
que fabricos reduzidos, com simples implantação a nível regional, não tinham
interesse, e que em contrapartida nós, os apreciadores e coleccionadores, nos deveríamos
debruçar e despender o nosso tempo, conhecimento e dedicação às faianças mais
importantes e aos fabricos nacionais mais reconhecidos.
A
minha visão é diferente, mais ampla e abrangente, pois para se ter uma visão
adequada do património das artes decorativas, e especificamente, das faianças,
há que conhecer, dentro do possível, os fabricos e produções havidas em
Portugal, não descorando os do século XIX e XX, inventaria-los e divulga-los,
de modo a não ser perderem, irremediavelmente.
Considero
que um coleccionador pode obviamente optar por uma fábrica, um fabrico, um
motivo, um tema, etc. e não terá que ser abrangente, mas se possível for, o contribuir
para a divulgação do património produzido a nível de faianças, especialmente no
século passado é “um dever”.
Só
o registo e divulgação poderão manter vivo alguns fabricos, pois caso
contrário, de forma efémera, as frágeis peças produzidas serão consumidas pelo uso,
pelo tempo, em suma, pela evolução da sociedade.
Considero
que uma atitude abrangente, para além de se possuir e divulgar peças de
referencia de fabricos de qualidade e de valor indiscutíveis, que qualquer coleccionador gostaria de ter; também as peças modestas, de menor valor ou importância, sem
qualquer estatuto ou consagradas deverão ser conservadas, coleccionadas, conhecidas, inventarias e divulgadas, de modo que a sua produção e existência fiquem
registadas para a posteridade.
É
imprescindível, com a devida atenção e sem pretensiosismos dar valor às
faianças não consagradas, de menor valor ou divulgação; dar a conhecer as
mesmas a todos, pois são, sempre, peças com valor, produzidas com afecto, em condições
e em situações específicas e que no conjunto transmitem o valor humano
temporal.
A
força do seu fabrico, os afectos e as imagens que transmitem, as visões que nos
criam, os sentimentos que desenvolvemos por elas devem dar-nos a força
necessária, para as conhecer, conservar, coleccionar, inventariar e divulga-las,
de modo que a sua existência seja projectada para a eternidade.
Mesmo
que possam ser peças que transmitam um fabrico inábil, menos profissional, eventualmente
com motivos decorativos ou figurados menos adequados, ou mesmo de inferior
qualidade técnica, há que compreendê-las, contextualiza-las e mantê-las vivas.
Geralmente
as peças em faiança de uso utilitário comum, doméstico, possuem menor exigência
a nível do seu fabrico, com menor qualidade, e consequentemente mais efémeras,
mas são tão ou mais importantes que as de qualidade superior, pois trazem
consigo ou evidenciam realidades precárias ocorridas, vivências e modos de
estar muito diferentes dos actuais, por tudo isto é de superior valor e importância
o saber conservá-las, estudá-las e dar a conhecer as mesmas, de forma sensata e
com rigor.
Consideramos
de elevada importância a conservação, o estudo e a divulgação de peças em
faiança representativas das várias épocas, em especial do século XX, dos
estilos decorativos, dos centros de produção, das fábricas, dos autores e
oleiros ou decoradores, pois no seu conjunto constituem um lugar de encontro da
história da Faiança em Portugal e consequentemente um pouco da história de Portugal.
Assim
pensamos e assim tentamos proceder!
Conservando,
estudando e divulgando a Faiança “menor” do Século XX.
Nota:
As
imagens de Faiança que se exibem nesta postagem foram retiradas de vários sítios
de venda e de leilões, de modo a ilustrar um pouco o que se disse.