domingo, 1 de janeiro de 2017

ESPLÊNDIDO PRATO EM FAIANÇA, DE COIMBRA? DE ALCOBAÇA?


Para começar o Ano de 2017 e após um prolongado interregno de colocação de postagens no blogue, eis que apresentamos um esplêndido prato em Faiança, que com uma interessante decoração, que o veio a tornar prato de pendurar ou de decoração, através do orifício efectuado com uma roca na aba, para tal.

(FIG. 1 - A nossa Peça - Fabrico de Coimbra ?)

Presumimos que tenha sido fabricado no final do século XIX, ou mais provavelmente na primeira metade do século XX, em… aí o grande mistério, e que torna a peça ainda mais interessante por tal incógnita, tal como a maioria das faianças não marcadas, que não se conseguem descobrir ou indicar com rigor a sua data de fabrico e onde foi fabricada.

Vamos então à peça.

Um prato covo ou sopeiro, de diâmetro mais pequeno que o habitual, mas perfeitamente identificado aos que faziam às épocas já indicadas.

(FIG. 2 - O Filete de bordadura e a decoração da Aba)

Vidrado na cor de grão, com um filete largo, na bordadura da aba, em cor-de-rosa esbatido, possuindo sete decorações monocromáticas, repetidas, efectuadas a chapa ou stencil, com as partes terminais sobrepostas ou desalinhadas, conforme a perícia do decorador deste prato.

No fundo do prato uma vistosa e elegante decoração policromática, ao gosto oriental mas com elementos vegetalistas da flora mediterrânica – o arranjo artístico ao gosto do decorador, certamente.

(FIG. 3 - A Beleza da decoração policromática do covo do prato)

Um pagode, com um chapéu chinês, com zimbório de remate, e sobre o mesmo várias aves sobrevoando, uma base de enquadramento, onde assenta o pagode e da qual desenvolve a vegetação arbustiva que encena a imagem, tornando a mesma harmoniosa, no formato e na cor.

A policromia usada: castanho-escuro, vermelho escuro, azul-marinho e verde-ervilha dão a beleza e a animação à cena apresentada, que preenche a quase totalidade do fundo do prato.

Na generalidade a técnica de decoração utilizada foi a chapa recortada ou stencil, somente com alguns apontamentos a pincel, nas folhas na cor verde-ervilha e nas flores na cor azul-marinho enquadradas na base castanha.

(FIG. 4 - O tardoz do prato)

No tardoz denotam-se algumas imperfeições na massa, aquando da moldagem da pasta, algumas imperfeições, faltas e arrepiados no vidrado, bem como as marcas das trempes que a peça voltou ao forno para cozer o vidrado.

(FIG. 5 - O Orifício para pendurar o trato)

Possui um único frete, na bordadura do fundo. Nada mais.

(FIG.6 - As imperfeições do vidrado)

Gostaríamos de completar esta postagem com a indicação da possível época de fabrico e do centro ou fábrica da sua execução, o que também não conseguimos.


1- ONDE E QUEM FABRICOU PEÇAS SEMELHANTES?

O centro Oleiro de Coimbra, com as suas diversas e anónimas fábricas, quer ao longo do século XIX, quer mesmo na primeira metade do Século XX produziram imensas peças semelhantes à que apresentamos, sem marcas e consequentemente não identificadas.

Mas as fábricas que surgiram no final do século XIX e nas primeiras três décadas do século XX no centro Oleiro de Alcobaça, também produziram peças muito semelhantes, pois que, afim e ao cabo, as produções copiavam-se, ou mesmos eram os artistas e decoradores que até mudavam de fábricas, para fábricas, o que ainda torna mais difícil indicar uma origem de fabrico, com algum rigor.

As mínimas diferenças que possam haver, ou as subtilezas que possam distinguir um fabrico de outro nem sempre são identificadas, por leigos como nós.
Vamos tentar sistematizar algumas ideias e identificar algumas particularidades dos vários fabricos.


2- FAIANÇA DE COIMBRA

A Faiança de Coimbra, para este tipo de peças, de uso quotidiano e utilitário, recorria com muito frequência ao motivo Casario, com predominância em policromia, com cores deslumbrantes.

Já usava o verde-ervilha ou o verde inventado por Vandelli.

A textura da peça era geralmente fina, leve e com uma pintura cuidada, sendo que a decoração tinha com frequência inspiração em motivos orientais.

A pasta, pelo que se consegue identificar era geralmente na cor de grão, ou alaranjada, em função da mistura de barros que faziam e o vidrado era geralmente amarelado (cor de grão).

(FIG 7 - A decoração do fundo do prato)


3- FAIANÇA DE ALCOBAÇA DE JOSÉ DOS REIS DOS SANTOS (1875-1898)

O motivo da decoração era predominantemente o Casario, o País e por vezes o Chalé, com pinturas monocromáticas, em tons de azul, rosa ou manganés.

As técnicas de decoração eram o estampilhado, o esponjado, mais o habitual pincel.

Quer em termos de decoração, pintura e vidrado, havia cuidado e dedicação no fabrico.


4- FAIANÇA DE ALCOBAÇA DE MANUEL FERREIRA DA BERNARDA JÚNIOR (1900-1930)

Fabrico percursor do anterior, tinha muitas semelhanças com o mesmo, pese embora com outros motivos de decoração, que não só o Casario, mas também como motivos zoomórficos.

A decoração era efectuada em policromia e em que os artistas e decoradores repetiam os mesmos temas, sem grandes variações e sem muita perfeição.

Tratava-se de uma louça com linhas (formas) e composições estéticas (motivos de decoração e cores) mais para as sociedades rurais.


5- FAIANÇA DE ALCOBAÇA DE RAUL DA BERNARDA (1931-2008)

Raúl da Bernarda era filho de Manuel Ferreira da Bernarda Júnior, e quando iniciou a sua actividade, independente do pai, pelo menos na sua fase inicial de produção repetiu os motivos e as decorações que eram realizadas na fábrica do pai, por vezes só identificadas, quando passaram a ser marcadas ou assinadas.


6- FAIANÇA DE ALCOBAÇA DE OLARIA DE ALCOBAÇA LDA. (OAL) (1927-1987)

Esta fábrica de produção foi fundada por Silvino Ferreira da Bernarda, também filho de Manuel Ferreira da Bernarda Júnior e por António Vieira Natividade e Joaquim Vieira Natividade e que também no seu início de fabrico produziu louça igual às anteriormente citadas.

Era uma produção de louça, na continuidade, do que o seu pai produzia, com o recurso aos habituais processos de estampilhagem, esponjado e a pincel, já com motivos vegetalistas incorporados, em policromia, pelo que se assemelhavam, facilmente, à louça de fabrico de Coimbra.


7- E ENTÃO?

Em suma, pode-se dizer, com alguma segurança, que as formas e os motivos decorativos usados eram copiados das peças que melhor se vendiam, por corresponderam aos gostos de quem as compravam ou de quem as podiam comprar e vários fabricavam igual ou semelhante e daí a impossibilidade de agora se indicar o seu provável fabrico e época de execução.

(FIG. 8 - O esplêndido prato, de Coimbra ? ou de Alcobaça?)


FONTES:

1) – “ Cem anos de Louça em Alcobaça”, de Jorge Pereira de Sampaio e Luís Peres Pereira, 2008;

2) – “Faiança de Alcobaça, de 1875 a 1950” – S. l. Jorge M. Rodrigues Ferreira, de Jorge Pereira de Sampaio, Estar Editora, Coleção Fundamental, 1997 ;

3) - “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente: CeRamiCa PLUS” – Galeria de Exposições Temporárias – Mosteiro de Alcobaça; 6 de Abril a 4 de Maio 2011; Município de Alcobaça, 2011.

4) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

5) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

6) – “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

7) – “A Loiça de Alcobaça”, de João da Bernarda, Edições ASA, 1ª Edição, Porto - Outubro de 2001.

8) – “A Faiança de Raul da Bernarda & F.os, Lda. – Fundada em 1875 – ALCOBAÇA”, de Jorge Pereira de Sampaio, Edição Particular da Fábrica Raul da Bernarda & F.os, Lda., Alcobaça, Outubro, 2000.


terça-feira, 13 de dezembro de 2016

PRATO FUNDO EM FAIANÇA, DE COIMBRA (?)

PRATO FUNDO EM FAIANÇA, DE COIMBRA (?)

Hoje apresentamos mais um prato fundo, sopeiro ou covo, em Faiança com decoração policrómica, com recurso à chapa ou stencil.

FIG.01 - PRATO EM FAIANÇA POLICROMÁTICO

Trata-se de uma peça interessante, com uma decoração pouco comum: na aba uma decoração tipo grinalda, aplicada a stencil, na cor verde, com apresentações tipo pétalas, a vermelho; num fundo ou covo, uma decoração monocromática a cinzento-preto, dito manganés, igualmente executada com recurso a stencil (chapa recordada) e a esponjado, com uma temática recorrente.

FIG. 02 - PORMENOR DA DECORAÇÃO DO COVO

Um casario, com edificações de alturas diferentes, algumas, tipo torres, encimadas por cúpulas, à beira de um rio, no qual se vislumbram duas embarcações à vela e na zona anterior uma exuberante paisagem, com duas árvores de elevado portes, para além de vários arbustos.

FIG. 03 - PORMENOR DO CASARIO DA DECORAÇÃO

À primeira vista a decoração leva-nos logo para o motivo estátua ou o vulgar “Cavalinho”, tão vulgarizado no nosso país, parecendo ser um trecho dessa decoração, pese embora cremos que se trata de uma decoração resultante de uma interpretação livre desse motivo efectuado pelo artista que decorou e pintou este prato.

FIG. 04 - PORMENOR DA DECORAÇÃO POLICROMÁTICA DA ABA

A cor base do vidrado, ocre, do prato ajuda, a sobressair as decorações e suas cores, configurando assim um vistoso prato.

A nível do tardoz possui um único frete, no limite do fundo com o convexo do covo, identificando-se uma massa amarelado, com um vidrado na cor de grão, irregular, poroso e profundamente repleto de orifícios.

FIG. 05 - O TARDOZ DO PRATO

Pelo motivo da decoração, pelos métodos de pintura aplicados (Stencil, esponjado e eventualmente pincel), pelas cores aplicadas, pelo formato do preto, pelo frete do tardoz, pela cor do vidrado e pela irregularidade e porosidade deste crê-se ser uma peça fabricada, provavelmente, no início do século XX, por uma das imensas fábricas do centro do País, inclinando-nos para uma das existentes na zona de Coimbra.

Se não tivesse a decoração que tem na aba e a sua policromia, poderíamos eventualmente considerar como um fabrico dos inícios da fabricação em Alcobaça.

FIG.06 - PORMENOR DO VIDRADO NO TARDOZ DO PRATO

Se o vidrado fosse de outro tipo (branco leitoso) e o motivo e decoração do covo fosse outro talvez nos inclinássemos para fabrico de Aveiro.

FIG. 07 - A BELEZA DO PRATO

Mas estas indicações são suposições, não são certezas – é este enigma que nos motiva a efectuar mais pesquisa e uma procura continua no intuito de obter informações, através de comparações da origem das peças, já que as mesmas não têm qualquer informação do seu fabrico e vários fabricos, até de centos de produção diferentes se copiavam ou imitavam.

A peça fica apresentada, as dúvidas mantêm-se, mas a sua visualização continua…

FONTES:

1) – “ Cem anos de Louça em Alcobaça”, de Jorge Pereira de Sampaio e Luís Peres Pereira, 2008;

2) – “Faiança de Alcobaça, de 1875 a 1950” – S. l. Jorge M. Rodrigues Ferreira, de Jorge Pereira de Sampaio, Estar Editora, Coleção Fundamental, 1997 ;

3) - “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente: CeRamiCa PLUS” – Galeria de Exposições Temporárias – Mosteiro de Alcobaça; 6 de Abril a 4 de Maio 2011; Município de Alcobaça, 2011.

4) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

5) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

6) – “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

7) – “A Loiça de Alcobaça”, de João da Bernarda, Edições ASA, 1ª Edição, Porto - Outubro de 2001.


8) – “A Faiança de Raul da Bernarda & F.os, Lda. – Fundada em 1875 – ALCOBAÇA”, de Jorge Pereira de Sampaio, Edição Particular da Fábrica Raul da Bernarda & F.os, Lda., Alcobaça, Outubro, 2000.

domingo, 4 de dezembro de 2016

Prato em Faiança de Alcobaça, de José dos Reis (dos Santos)


Prato em faiança, com vidrado na cor de grão, com decoração interessante: um simples filete largo, na cor azul, a meio da aba e uma decoração a duas cores no fundo do prato, com traços ao gosto oriental.

FIG.1 - PRATO EM FAIANÇA DE ALCOBAÇA

Trata-se de uma decoração estampilhada, a nível do casario acastelado, com cúpulas e zimbórios de índole oriental e da vegetação com árvores também orientais, tudo em tons de cor-de-rosa; e esponjada, com o embasamento, na cor verde seco, esponjado.

FIG. 2 - PORMENOR DA DECORAÇÃO 

Pelo formato, pela decoração e motivo, e pelas cores poder-se-ia considerar, como sendo faiança de Coimbra, mas também se poderia atribuir a faiança de Alcobaça, dos seus primórdios, finais do século XIX ou início do século XX, do período de José dos Reis (dos Santos).
FIG. 3 -  MARCA IMPRESSA NO TARDOZ DO PRATO

Mas eis que pela análise detalhada do tardoz do prato se verifica que o mesmo se encontra marcado, com um carimbo oval, pese embora sumido, na cor manganés, onde se consegue ler “ALCOBAÇA” e o que presumimos ser, em letras borradas “JOSÉ DOS REIS”.

FIG. 5 - PORMENOR DA MARCA IMPRESSA "ALCOBAÇA", "JOSÉ DOS REIS" ?

Certezas? Dúvidas?

De pesquisa em pesquisa fomos até à fonte 2), em que a páginas 15, encontramos uma imagem de um prato semelhante ao nosso, também em tons de rosa, monocromático, enquanto o nosso é policromático.

FIG. 6 - IMAGEM DA PAG. 15 DA FONTE 2)

O motivo central (torre com cúpula) mais elaborado, é muito semelhante ao do nosso prato – digamos que o nosso com uma estampilhagem (“Stencil”) mais “naif”.

A legenda do mesmo indica “Prato pintada à estampa, “José dos Reis”…marca impressa, Colecção Coronel A. Bivar de Sousa”.

FIG. 7 - VISTA GERAL FRONTAL DO PRATO

Todas estas semelhanças, em especial, a decoração, motivo e cores, e a marca oval impressa, mais nos leva a considerar que se trata na verdade de um prato de faiança de Alcobaça, do período de José dos Reis.

Uma raridade, um prato em faiança com marca impressa, identificando o seu fabrico e consequentemente uma data aproximada do mesmo.

Um prato que passou, na verdade, por diversas mãos, que sem uma análise pormenorizada, foi considerado com menor valor, felizmente, e daí poder ter vindo às nossas mãos.

Na verdade, as peças antigas, entre elas as faianças, devem ser analisadas detalhadamente, com paixão e com descrição.

É essa análise despretensiosa de valor ou de lucro (para quem as comercializa), que permite, com tempo, técnica, ciência e muita paciência analisar todos os pormenores dessas peças e descobrir ou desvendar ínfimos detalhes, efectuar analogias e comparações com outras peças apresentadas em catálogos, livros ou em bibliografia recorrente e reconhecer a real importância da peça e o seu valor como peça de colecção, ou simplesmente identificar com mais certeza a sua origem.

FIG. 8 - PORMENOR DA DECORAÇÃO ESTAMPILHADA E ESPONJADA

É toda esta actividade de ócio que caracteriza um coleccionador, porque coleccionar por coleccionar, é-se um simples ajuntador ou guardador.

Concluindo, com alguma certeza, estamos perante um prato em Faiança de Alcobaça, do período e fabrico de José dos Reis, provavelmente entre 1875 e 1898.

FONTES:

1) – “ Cem anos de Louça em Alcobaça”, de Jorge Pereira de Sampaio e Luís Peres Pereira, 2008;

2) – “Faiança de Alcobaça, de 1875 a 1950” – S. l. Jorge M. Rodrigues Ferreira, de Jorge Pereira de Sampaio, Estar Editora, Coleção Fundamental, 1997 ;

3) - “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente: CeRamiCa PLUS” – Galeria de Exposições Temporárias – Mosteiro de Alcobaça; 6 de Abril a 4 de Maio 2011; Município de Alcobaça, 2011.

4) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

5) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

6) – “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

7) – “A Loiça de Alcobaça”, de João da Bernarda, Edições ASA, 1ª Edição, Porto - Outubro de 2001.

8) – “A Faiança de Raul da Bernarda & F.os, Lda. – Fundada em 1875 – ALCOBAÇA”, de Jorge Pereira de Sampaio, Edição Particular da Fábrica Raul da Bernarda & F.os, Lda., Alcobaça, Outubro, 2000.


Prato covo em Faiança Azul e Branca de aba recortada


A Faiança Azul e Branca é sempre um misto de contemplação e deslumbramento.
Figura 1 - A nossa peça em apresentação

O formato da peça, a sua decoração, a arte na pintura, a cor e os escorridos do vidrado, permitem-se tecer considerações, explanar conjecturas, mesmo sem saber quem a fabricou, qual a fábrica ou o simples local onde foi produzida, qual a localidade ou mesmo a região da sua manufactura e qual a época de produção.
Figura 2 - A exuberante decoração do fundo do prato com o motivo "Challet" ou "Roselle"

Independentemente de tudo isto, e não indo na fácil leviandade de conjecturar que é fabrico “daqui”, da fábrica “tal” e do período “x”, que se assemelha ao fabrico “y”, será muito mais correto, na nossa óptica, contemplar a e descrever a mesma.
Os segredos que a peça encerra, por si só, para que as aprecia, as gosta de ver ou mesmo coleccionar, cria uma auréola de encanto, de deslumbramento e de entusiasmo para tentar “ver ou ler”, para além da mesma e do seu encanto.
Em que condições foi efectuada? Qual o espírito e devoção de quem a fabricou e a pintou? Em que época, período ou tempo foi efectuada? Quem a teria adquirido? Em que casas andou? Como conseguiu sobreviver até ao presente? O que teria visto e apreciado em todo este tempo até ao presente?
Esta que exibimos hoje, após um longo período de interregno, não por falta de peças para apresentar, mas de tempo para as divulgar, constitui, sem dúvida, uma cativante e interessante peça, com soberba decoração.
Figura 3 - A beleza da decoração do prato

Trata-se de um prato covo, sopeiro, relativamente pequeno – antigamente os pratos, quando utilizados individualmente, eram mais pequenos em diâmetro, pois pratos maiores como malgas ou palanganas, eram usadas para toda a família – todos comiam da mesma “o caldo com a broa”, ou as “sopas”, já que o conduto era colocado sobre uma fatia de pão.
Figura 4 - A decoração da aba do parto

A bordadura da aba é recortada, com uma pequena ondulação, que lhe confere logo uma singela beleza. São lóbulos pequenos e arredondados.
No entanto algo particular, interessante e relativamente raro é a concordância que há entre a aba e o covo, onde se cria uma coroa circular, plana, com um ligeiro relevo junto do covo, o qual por si, tem depois o desenvolvimento habitual até ao fundo do prato
Figura 5 - Pormenor da decoração da aba
.
A decoração também é interessante e intensa, preenchendo bem o prato. Começa com um filete espesso na bordadura a aba, de cor azul, e por outros dois filetes, mais finos, no limite interior da aba, antes de estabelecer a concordância com o covo.
A aba possui interessante decoração, entre os filetes referidos, com várias reservas em forma alongada, dentro das quais se insere uma espessa decoração em azul muito forte, que se pode identificar como um sol a pôr-se no horizonte, com uma sobreposição “areoglifica”, que não conseguimos identificar, nem contextualizar de outra forma. O espaço entre as cartelas é preenchido com ornato em quadrícula, também na cor azul, e irregular, ao jeito e “precisão” da mão do decorador.
Figura 6 - Pormenor da decoração das reservas da aba do prato

O fundo do prato começa também com um largo filete, que delimita a sua soberba e deslumbrante decoração, igualmente em tons de azul forte, o dito azul-manganês.
O motivo é recorrente, assemelhando-se ao dito motivo “Roselle”, ou “Challet”, em que a decoração exibe o alçado principal de uma edificação “apalaçada”, de cobertura com acentuada inclinação, exibindo dois níveis de fenestração, com uma torre, num dos lados, a qual possui vários vãos de fenestração.
Figura 7 - A decoração "Challet" ou "Roselle" no fundo do prato

O “Challlet” possui quatro mastros com bandeiras ou flamas (?), sendo o mesmo ladeado por intensa vegetação com duas frondosas árvores, uma de cada lado, que se iniciam num embasamento de enquadramento.
Figura 8 - Pormenor da Decoração no fundo do prato

Em termos de decoração parece-nos que foram usadas três técnicas, o ”stencil” ou chapa recortada, para efectuar as árvores e eventualmente o beirado do “challet”; o esponjado, para efectuar o embasamento de enquadramento do “challet”, bem como assim o sombreado de parte do mesmo e a vegetação no horizonte; finalmente o pincel, com a decoração manual, onde o decorador evidenciou os seus dotes e gostos, imprecisões e desalinho do pincel e da sua mão.
Figura 9 - Tardoz do prato

Em termos de materiais, denota-se que a pasta é ligeiramente cor de grão, espessa, e por isso, um prato pesado para o tamanho; o vidrado é leitoso, com alguns arrepiados e escorrências (no tardoz), para além de algumas esborratadelas a azul, das mãos ou do apoio quanto o decorador esteve a pintar o prato.
Figura 10 - Pormenor do tardoz do prato

Resumindo trata-se de uma interessante peça em faiança azul e branca, pouco vulgar em termos de formato, com decoração característica e identificada, já com muitos anos…., e digna de se apreciar.
Independentemente do que se disse inicialmente, e caso não indicássemos algo em relação ao fabrico, origem e época de peça, considerariam, eventualmente, uma postagem incompleta.
Figura 11 - Mais uma imagem do magnifico prato em apresentação

Sem mais delongas, alvitram-se as seguintes indicações: fabrico do Norte, de alguma das muitas fábricas existentes no Porto ou em Gaia, sugerir alguma, não nos atrevemos; do período que poderá variar entre o final do século XIX e inícios do século XX, será?

FONTES:

1) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

2) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

3) – “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

4) – “Cerâmica Artística Portuense dos Séculos XVIII e XIX”, Vasco Valente, Livraria Fernando Machado – Porto, 

5) – “Cerâmica Portuense – Evolução Empresarial e Estruturas Edificadas”, Teresa Soeiro, Jorge Fernandes Lacerda, Silvestre Lacerda, Joaquim Oliveira, Edição Portugália, Nova série, volume XVI, 1995.

6) – “Fábrica de Louça de Miragaia”, Museu Nacional Soares dos Reis, Edição IMC, Lisboa, 2008.

7)- https:// velhariastralhasetraquitanas.blogspot.pt/2015/04/travessa-em-faiança-azul-e-branca-motivo-“roselle”-fabrico-do-norte-?-imitação-de-miragaia-?.html;

8) - https://velhariastralhasetraquitanas.blogspot.pt/2015/03/travessa-em-faianca-motivo-casario-de.html;


9) - https://velhariastralhasetraquitanas.blogspot.pt/search/label/Motivo%20%22ROSELLE%22.html;

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

PRATO DA FÁBRICA DE LOUÇAS DE SACAVÉM – MOTIVO PERIQUITOS (?)


As peças em faiança da Fábrica de Louças de Sacavém, continuam de deslumbrar-nos.


(Fig. 1 - O Prato da FLS - Motivo Periquitos?)

Ao longo dos tempos, lá surge uma nova peça, pouco conhecida ou mesmo desconhecida, que nos cativa e cria expectativas no sentido de a conhecer melhor, de procurar desvendar o seu motivo, o seu período de fabrico, a particularidade das suas marcas e carimbo.

Hoje apresentamos um prato sopeiro, prato covo, pronunciado, com aba elevada, com um filete azul no limite da mesma e com uma exuberante decoração triplica, policromática, que se desenvolve desde o limite da aba até ao limite do covo.


(Fig. 2 - Pormenor da triplica Decoração)

Prato com vidrado branco, sobre o qual foram aplicadas três estampas, policromáticas, com um motivo vegetalista: interessantes flores em rosáceas amarelas com a coroa em cor de largam; ornamentada com gavinhas azuis.
Numa delas, um casal de periquitos (?) com plumagem verde e amarela e o macho com uma plumagem alaranjada/avermelhada no peito e na cabeça e na poupa da cabeça.

Peça utilitária de uso doméstico, um prato sopeiro, pouco comum, com interessante decoração, em que e por tal motivo, foi tornada como peça de decoração, em detrimento de peça de uso comum.

A aranha de um pendurar, já ferrugenta e carcomida pelo peso dos anos já passados ainda continua na peça, o que lhe dá mais elam.


(Fig. 3 - A tardoz do Prato)

No tardoz, no único frete que possui, lá se identifica o carimbo verde estampado, de “GILMAN & Cta” e “SACAVÉM”, conjuntamente com um símbolo igualmente a verde (trevo de quatro folhas)? e as marcas alfanuméricas gravadas na pasta “SACAVÉM” e “52 H”?.


(Fig. 4 - O Carimbo da Peça e a marca "Trevo"?)


(Fig. 5 - A gravação na pasta - 52 H)


(Fig. 6 - A gravação na pasta SACAVEM)

Crê-se ser uma peça cujo fabrico remonta às décadas de 40 ou 50 do século passado, cuja configuração da fivela do cinto do carimbo e o número de “casas” ou “buracos” no sinto à esquerda da fivela (duas) tal indiciam.


(Fig. 7 - O Carimbo Gilman & Cta, . variante 2 furos no cinto)

Aqui fica a apresentação de mais um interessante prato da Fábrica de Louça de Sacavém.
 

(Fig. 8 - O prato e a sua decoração policromática)

FONTES:

1) – “Fábrica de Louça de Sacavém – Contribuição para o estudo da indústria cerâmica em Portugal 1856-1974” de Ana Paula Assunção, Coleção História da Arte – Edições INAPA – 1997;

2) – “150 Anos – 150 Peças – Fábrica de Loiça de Sacavém” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Março de 2006;

3) – “Porta aberta às memórias” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2008;

4) - “Porta aberta às memórias” – 2ª edição, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2009;

5) Primeiras peças da produção da Fábrica de Loiça de Sacavém: O Papel do Coleccionador”, de Ana Paula Assunção, Carlos Pereira e Eugénia Correia, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – 2003;

6) – “História da Fábrica de Loiça de Sacavém”, de Ana Paula Assunção e Jorge Vasconcelos Aniceto, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Julho de 2000;

7) – “Roteiro das Reservas”, de Ana Paula Assunção, Carlos Pereira e Joana Pinto, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – 2000 (?);